Dramione - Start a Fire escrita por Anne Bridgerton


Capítulo 24
I'll always fight... For you


Notas iniciais do capítulo

E aí dramioners do meu coração!! Prontos pra continuação? (ó, rimou!).
Penúltimo capítulo - :'( -, aproveitem!!



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Certo, qual era a piada? Não, porque TINHA que ser uma piada. Aquilo não tinha a mínima possibilidade de ser real. Aquela Hannah que me olhava com tanto ódio nos olhos não podia ser real! Eu a tinha visto morrer, bem na minha frente! Seu corpo tinha sido enterrado, sendo presenciado por centenas de alunos. Como ela estaria ali?

Eu acabaria enlouquecendo.

– Hannah? – perguntei em um sopro.

Ela começou a rir, secamente. Uma risada sem alegria, sem vida, como se ainda estivesse morta. Fingiu secar lágrimas dos olhos.

– Ah, me desculpe, mas sua reação foi linda! Não sabe como está hilária com esse olhar para mim! O que significa? Porque vejo uma pontada de pavor. – perguntou curiosa, como se estivesse me perguntando sobre o tempo.

Eu piscava, descontroladamente.

– Hannah? – balbuciei novamente.

Em resposta, seu sorriso sumiu, abandonando completamente a máscara.

– AH, Hannah, Hannah, Hannah... Sim, sou eu! Vai dizer alguma coisa inteligente ou continuar balbuciando igual a uma idiota?

Dei um passo para trás, como se ela tivesse me dado um tapa, me trazendo de volta a realidade de supetão.

– Que “coisa inteligente” você quer que eu diga? Você é louca?

Ela deu de ombros.

– Apenas achei que a Grande Hermione Granger reagiria de forma mais digna.

Levantei a sobrancelha, irônica.

– E o que você sabe sobre dignidade? Passou todos esses meses tentando me matar; manipulou, mentiu, matou... O que diabos você sabe sobre dignidade? – cuspi, finalmente me dando conta do que estava acontecendo.

Hannah era uma maníaca desgraçada.

– Ah Mione... Argh, não, Granger é melhor. Sempre odiei esse seu apelidinho nojento. – torceu o nariz. – Acho que o problema é a sua mente limitada. Sua mente é tão estupidamente dividida entre bem e mal que não percebe quando alguém faz coisas ruins por uma causa nobre.

Franzi a testa.

– Ah, me desculpe se interpretei suas ações erroneamente. É que não estou acostumada a quase ser assassinada sem ter feito nada. Acho que o problema é comigo sim, você tem toda razão. – ironizei, com tanta raiva que não sei como não lhe dei um tapa na cara.

– Não dissimule as palavras desse jeito Granger. Não lhe cai bem.

– Como se eu me importasse! – joguei os braços, exasperada. – Só não acredito que tem a cara de pau de “justificar” suas loucuras. Você é uma lunática ou só se faz? Porque eu nunca lhe fiz NADA pra merecer NADA disso! – gritei.

– Nada? NADA? – Hannah respondeu, o olhar escurecendo. – VOCÊ ROUBOU MINHAS CHANCES! ROUBOU MINHA FELICIDADE, MINHA VONTADE DE CONTINUAR! VOCÊ ROUBOU A MINHA CRENÇA NO AMOR! VOCÊ ROUBOU DRACO DE MIM! - berrou, o rosto completamente vermelho. Pela raiva.

A qual agora também corria em minhas veias.

– Como disse? – sussurrei, perigosamente.

Ela pareceu não se intimidar.

– Como OUSA dizer que roubei Draco de você? Como OUSA envolve-lo nisso?

– Do mesmo jeito que você ousou olhar para ele de outra forma que não fosse com ódio! Você sempre o desprezou! Sei que nunca o amou, nem o ama agora. Deveria ser eu a estar do lado dele! EU deveria ser aquela que ele ama, e não você! – sacou a varinha, se aproximando de mim em dois passos.

Antes que pudesse reagir, já estava presa entre a parede e ela, a ponta de sua varinha pressionado minha têmpora.

Ficou ali, me observando por um tempo, me esmagando contra a parede. De repente, soltou outra risada.

– Ah... Você é uma piada Granger. Ainda não sei como foi parar na Grifinória: tem tanta coragem quanto um rato. – voltou a me encarar, o desprezo presente tanto em sua voz quanto no olhar apesar da “aparente” graça.

Ri pelo nariz.

– Até porque você é muito corajosa, não é? – instiguei. - Se escondendo por trás de Gilderoy, por trás de uma máscara de boa amiga, poções Polissuco, dementadores, maldições, e sabe-se lá por trás de mais o que! Você é pior do que covarde. Eu sinto vontade de vomitar olhando pra você! – cuspi aos seus pés, enojada.

Ela riu, como se tivesse acabado de contar uma piada e, por incrível que pareça, se afastou.

– Ah Granger... Fico feliz em dizer que o sentimento é recíproco. Mas uma coisa me intrigou agora: parece que sabe mais do que deveria saber. Tenho certeza que não conseguiu isso por esforço próprio, então quem lhe contou?

Continuei em silêncio.

Ela balançou a cabeça lentamente, como se compreendesse algo que só ela sabia.

– Certo, depois cuidarei de Gilderoy. Sabe, eu realmente queria apenas que você entrasse aqui, eu a matasse e pronto, tudo ficaria bem. Mas você provavelmente tem algumas dúvidas, e eu odiaria deixa-la morrer sem mostrar meu intelecto. – fez uma leve reverência. – Vamos ver, por onde começo... – começou a andar de um lado para o outro.

– Eu sinceramente não... – tentei, mas fui interrompida.

– CALE A BOCA! – gritou, se virando para mim com a varinha em riste. - Você VAI ouvir! Quero que saiba exatamente toda a atrocidade que fez, tudo o que ME fez fazer! Quero que morra com o peso da culpa. Que morra sabendo que foi você quem causou tudo isso.

Voltei a encostar a cabeça na parede, vencida. Com o olhar cansado, estiquei o braço, pedindo que continuasse.

Hannah assentiu com a cabeça, ainda me apontando sua varinha.

– Muito bem. – passou a mão pelo cabelo. – Ah Granger, você poderia ter saído ilesa, sabia? Podia só ter ficado longe de Draco e ninguém teria que se machucar. Mas não! Você tinha que entrar no caminho. É uma pena. – suspirou. – Sempre o amei. Sim, desde o primeiro momento que coloquei meus olhos nele, quando éramos apenas crianças de 11 anos, naquela escadaria antes de entrarmos para o Salão Principal... – sorriu genuinamente. Parecia focada no passado, em uma memória distante, se esquecendo da minha existência, ou até mesmo da situação em que nos encontrávamos.

– Eu fui uma idiota por todos os malditos anos em que estudei nessa escola. Todos os dias eu acordava, jurando para mim mesma que tomaria uma atitude. Que ficaria olhando para ele até que me notasse, que iria conversar com ele, pedir suas anotações emprestada, qualquer coisa! Mas eu sempre voltava para a cama do mesmo jeito: sem progresso nenhum, me xingando de todos os nomes possíveis. E a coisa só piorou quando ele começou a ficar com aquela nojenta da Parkison. Sentia vontade de tortura-la até a morte toda vez que chegava perto dele.

Ela contava enquanto olhava para o chão, o sorriso desaparecendo, com lágrimas nos olhos, e eu conseguia apenas ficar lá, encostada na parede, não sentindo a mínima pena ou empatia por ela. Não conseguia.

– Eu estava tão cansada de sentir pena de mim mesma, de ser ridicularizada, que nesse ano resolvi agir: eu iria conquista-lo. Não importava o que eu teria que fazer, Draco seria meu. Faria o que fosse preciso pra que ele percebesse que eu era sua alma gêmea. Então, fui procurar Lockhart. Eu precisava de alguém que me ajudasse, sempre estivesse de olho em tudo, criasse as condições perfeitas, como se o castelo estivesse a meu favor. E ele era o único que vinha á minha cabeça. O que é mais fácil do que manipular alguém que está sem memória? – deu de ombros. – Fiz o voto perpétuo com ele. Mas eu sabia que havia sido quase expulso do castelo, então teria que mexer alguns pauzinhos.

– Fez ele afastar Minerva. Sim, eu sei disso. – revirei os olhos. – Mas o que fizeram com o diretor substituto que ela mandou? Sei que o enfeitiçaram com a Imperius e utilizaram a Poção Polissuco trezentas vezes nele. Mas como ele morreu?

Hannah ficou me olhando, incrédula.

– Merlin, você é tão burra assim?

Comecei a forçar a memória, focando em tentar descobrir como o dito cujo havia morrido para não avançar em cima daquela vaca. De repente, quis avançar em MIM ao lembrar do que Gilderoy havia dito. Merlin, como era burra!

... “A morte da pequena Hannah marcou o fim e o início, o início e o fim”...

... “Ele era como um substituto fantasma. Quando eu estava transformado em outra pessoa, ele se transformava em mim, e se transformava em... Quando... estava transformado em outra pessoa”...

... “Só posso dizer... Que ele morreu no mesmo dia que a pequena Hannah”...

Não acredito.

– Você mandou Gilderoy matar um homem inocente. Me fez chorar pela sua morte. Achei que minha amiga tinha me deixado. Achei que era a sua mão que estava segurando quando vi seu corpo deitado no chão frio. Achei que era o seu corpo que tinha sido enterrado esta tarde. Mas não, era um completo estranho. VOCÊ é uma completa estranha. - dizia cada vez mais indignada. Como fui capaz de conviver com um mostro daqueles?

Abbott simplesmente deu de ombros.

– Ele foi um dano colateral. E não finja que está triste pela morte dele. Nem o conhecia, pode deixar essa pose de perfeitinha de lado que não tem nada que eu odeie mais do que isso. – dispensou com a mão, voltando a andar de um lado para o outro, se aproximando ligeiramente de mim.

– Agora, voltando a onde estava... Assim que sumimos com Minerva e infiltrei Lockhart aqui, passei a trabalhar meu emocional pra conseguir conversar com Draco sem ficar sem fala ou gaguejar coisas sem nexo. Não fui bem sucedida no início. Mas eu achava que você seria minha amiga. Realmente achei. Naquele dia em que ficamos conversando, passei até a cogitar a ideia de inclui-la no meu plano... Até que você começou a agir de forma estranha. Em uma de nossas rondas, quando criei coragem pra te contar meus sentimentos, ou pelo menos tentar, você começou a ataca-lo. A falar que ele era apenas um egoísta, interesseiro, e que não valia a pena sofrer por causa dele. Isso não é coisa que uma amiga fala, caso não saiba! – gritou, levantando o olhar. Eu continuava neutra.

Logo abaixou novamente a cabeça, continuando a andar, ainda mais próxima dessa vez. – Fiquei com muita raiva ao ouvir aquilo, ainda mais vindo de quem dizia querer ser minha amiga. Então armei aquele episódio com o dementador. Minha intenção era apenas te dar um susto, faze-la engolir o que tinha dito. Mas então, ele foi te salvar. E eu vi cada.segundo.daquele.beijo. E você sabe como doeu? Não, você não sabe como doeu! VOCÊ NÃO TEM NOÇÃO DE COMO DOEU VER A MINHA”AMIGA” BEIJANDO QUEM EU AMAVA! NÃO.TEM!

Ela gritava, com ódio. Seus olhos quase pegavam fogo, tão vermelhos como se todo o seu sangue tivesse fluído para as íris. Achei melhor não mencionar que já sabia sim, como era aquela sensação. Não valia a pena.

Fez uma pausa, tomando fôlego. E, sem aviso, diminuiu a distância entre nós, dando um soco na parede milímetros de onde minha cabeça estava. Prendi a respiração, assustada, como se isso fosse acalmá-la.

Abbott continuava respirando rapidamente, o maxilar travado. Quase sussurrando, voltou a narrar.

– Não sei o que esperava conseguir com isso. Só sei que no outro dia, soltei que vocês estavam juntos. Quem sabe não acontecia, não sei, uma rebelião? - ironizou - Comecei a imaginar um jeito de fazer você sumir. Porque se você saísse de cena, Draco finalmente se voltaria para mim, e eu o receberia de braços abertos. – sorriu doentiamente, os olhos arregalados. – Tentei de tudo, mas você nunca se afastava. Fiquei tão desnorteada e tão irritada que cheguei à conclusão óbvia: você tinha que morrer! Era tão óbvio! Claro, Gilderoy foi contra no início – jogou a cabeça para o lado, impaciente - mas nada que a maldição Cruciatos somada ao medo que aquele covarde tem de morrer não resolvessem.

Ouvia ela batucar os dedos na parede, o som cada vez mais próximo.

– Forjei minha morte e joguei a culpa em cima dele. Fiz parecer que ele era o maníaco assassino, matando Hannah Abbott, a pobre lufana. – fez um biquinho, que me deu nojo – Tirei todas as possíveis suspeitas de cima de mim. Certo, era quase impossível que alguém COGITASSE pensar que eu estava envolvida, mas era melhor prevenir. Não se pode acusar um morto, não é? – piscou o olho. O som das batucadas se aproximavam mais e mais. – Enfeiticei Blásio e Minerva. Precisava transmitir meu recado de alguma forma, e essa era a mais fácil. Eles nem viram o que os atingiu, acredita nisso? E agora, aqui está você, completamente desprotegida! - senti sua mão encostar na minha cabeça. – E você vai pagar por tudo o que fez... Sujeitinha de sangue-ruim.

Sua mão encontrou o caminho para a minha nuca e, com uma força descomunal, agarrou meu cabelo. Ignorando meu grito de dor, me arrastou para longe da parede em direção à área iluminada pela Lua. Me jogou no chão com violência, e assim que me vi livre, procurei minha varinha nas vestes, cambaleando. Porém, minhas mãos não foram rápidas o suficiente.

– ESTUPEFAÇA! – Hannah gritou. Senti o feitiço me atingir com brutalidade no peito, sendo lançada para trás rapidamente. Parei apenas ao atingir a grade da janela, o que me impediu de cair da Torre, o chão quilômetros abaixo. Mal me equilibrei, a ouvi pronunciar novamente.

– ESTUPEFAÇA!

Dessa vez, pulei para o lado, bem a tempo de ouvir o feitiço atingir a grade, explodindo-a em diversos pedaços. Um deles atingiu meu rosto enquanto procurava minha varinha, as mãos tremendo. Finalmente a achei, logo a apontando para Hannah, a dois passos de distância.

Ela riu, provocativa. Balançou os dedos, me chamando.

– Venha.

Respirando pesadamente, cega pela raiva, gritei.

– SECTUMSEMPRA!

Mal a vi desviando do feitiço, senti suas mãos novamente em meu pescoço, apertando tão forte que o ar pareceu sumir da minha cabeça. Suas unhas perfuravam a pele, e eu me debatia inutilmente. Ela estalou a língua.

– Não se preocupe Granger. – se aproximou ainda mais, o nariz a centímetros do meu. – Não vai ser tão fácil assim.

Me jogou para o outro lado. Respirava pela boca, lufadas de ar entrando e saindo, o sangue voltando a fluir. Cambaleava, os joelhos logo cedendo, minha visão um pouco embaçada. Foquei no borrão que era Hannah e debilmente tentei enfeitiça-la.

– Expelli...

Senti a ponta de seu sapato atingir meu queixo. O gosto de sangue se espalhou pela minha boca enquanto sentia o chão gelado cobrir minhas costas. Não conseguia focar, meus olhos completamente embaçados. Tentei me levantar novamente, segurando minha varinha com todas as forças que tinha, mas senti o pé de Hannah esmagar meu pulso.

Gritei, deixando minha única chance de defesa rolar para longe da minha mão. Seu peso esmagava meu braço, até que o senti sumir. Não fazia ideia de onde Abbott estava, mas tinha que tentar me levantar. Tinha que revidar.

Isso é, antes de ouvi-la pronunciar calmamente, como se fosse uma cantiga de ninar.

– Crucio.

A mão em que estava apoiada escorregou, me fazendo bater a cabeça no chão. Mas isso não chegava nem perto da dor que começava a se espalhar pelo meu corpo, me cegando completamente. Gritava no chão, enquanto sentia cada osso se partir, cada veia estourar, cada pedaço de pele ser retalhado repetidamente. Era insuportável. Minha mente estava nublada, sem controle sobre meu próprio corpo.

De repente, a tortura cessou. Rangendo os dentes, abri os olhos. Sentia a dor penetrar até a minha alma, mas me recusava a desistir. Me recusava a admitir a derrota, a morrer daquele jeito humilhante. Não conseguia me aguentar em pé, mas não morreria como uma covarde.

Mais uma vez, tentei me levantar, sentindo cada parte do meu corpo queimar, e mais uma vez fui barrada, dessa vez pelo corpo de Hannah, que se empoleirou sobre mim. Depois de me fazer voltar ao chão, colocou uma mão ao lado da minha cabeça, que tinha um filete de sangue escorrendo perto do olho, e mais uma poça de sangue abaixo da boca, devido ao chute que havia me dado. A outra mão segurava sua varinha, apoiada com força sobre meu peito.

– Fiquei meses pensando em como seria ver a vida deixar seus olhos. – divagou – Como está se sentindo? Sabendo que foi derrotada tão facilmente? Sabendo que vai morrer aqui, sem ninguém para ouvi-la, ou tentar protege-la? Sentir sua falta?

Olhei em seus olhos, tão ironicamente inquisitivos que quase senti ódio de mim mesma por estar naquela posição.

Mas então, pensei em sua pergunta. Claro, eu me sentia indignada, mas bem no fundo... Me sentia tranquila. Eu não seria esquecida. Era amada. Tinha o amor da minha família, minha mãe, meu pai... Tinha o amor dos meus amigos, Harry, Rony, Gina, Luna, Neville, Simas... Tinha o amor da pessoa que amava... Tinha o amor de Draco. Nada mais importava.

Destruiria o coração deles, e me sentia péssima por isso, mas eu continuaria os amando. Seja lá para onde fosse, continuaria pensando em todos eles, ao lado deles. Não tinha o que temer. Ao contrário de Hannah, eu reconhecia que tinha amor. E não seria ela que me faria morrer com a consciência pesada.

Sem ironia, sem escárnio, zombaria ou raiva, sorri. Mesmo sentindo o gosto amargo de sangue em meus dentes, ou a ponta de sua varinha próxima de meu coração, não sentia medo. Apenas sussurrei.

– Estou em paz.

Minha resposta pareceu enfurecê-la ainda mais. Sua mão, que estava apoiada no chão, acertou meu rosto com força. Meu rosto queimava quando ela rosnou.

– Resposta errada. – afundou a varinha com ainda mais força. – Avada...

Continuava sorrindo, esperando minha vida passar diante de meus olhos, do jeito que todos dizem que acontece.

No entanto, não foi o que vi. Foi o que ouvi.

Interrompendo a maldição de morte, ouvimos o disparo de um feitiço, seguido da explosão do telescópio da Torre, logo atrás de Abbott. Dessa vez, pedaços de aço voaram por cima de nossas cabeças, a fumaça nos cegando levemente. Mas não tanto a ponto de não ver o aglomerado de pessoas que se amontoavam no início das escadas. Não sabia quem eram. Isso é, até ouvir a voz dele.

– O próximo disparo não será de aviso.

Draco estava lá. Ah Merlin, ele estava lá! Certo, ele tinha acabado de fazer exatamente o contrário do que tinha dito pra fazer, mas quem estava ligando?

A fumaça logo abaixou, e o vi, seguido de Blásio, Luna, Gina, Harry e Ron. Hannah, acima de mim, desviou o olhar para o grupo, parecendo tanto surpresa quanto raivosa.

Aproveitando sua momentânea distração, e ignorando as pontadas de dor, empurrei-a pra longe. Livre de seu peso, me levantei rapidamente, pegando a minha varinha jogada no canto.

– PARE AÍ MESMO GRANGER! – Hannah gritou de algum lugar, mas eu já tinha minha arma em mãos. Me virei para ela, imitando sua posição de ataque.

– Você é surda Abbott? – Draco gritou de onde estava, passando a andar em direção a ela. Os outros ficaram ás suas costas, mas também com as varinhas levantadas. – Abaixe isso.

– Não se aproxime Malfoy. Eu o amo, mas não me preocuparei em machuca-lo caso chegue mais perto. – rosnou.

Draco arregalou os olhos, estupefato. Luna soltou um “o quê?”, enquanto os outros alternavam os olhares entre mim, ele e Hannah. A situação seria engraçada se não estivéssemos enfrentando uma psicopata.

– Agora dê um passo para trás. – ordenou. Draco continuou no mesmo lugar. Ela riu. – Vocês ainda não entenderam? Sei que não vão me matar. Posso reagir a qualquer feitiço que me lancem. E mesmo que algum dos covardes aí criem coragem de se manifestar, não me importo em morrer. Mas acreditem: eu a levarei comigo. – balançou a varinha em minha direção.

Do lugar onde estava, soltei uma risada seca, chamando sua atenção.

– E o que VOCÊ não entendeu... É que eu não pretendo ir a lugar nenhum. ESTUPEFAÇA! – gritei, seguida dos outros.

Hannah mal teve tempo de se proteger. A varinha voou da sua mão ao ser atingida por meu feitiço, sendo lançada cada vez mais para trás à medida que os outros feitiços a encontravam.

No entanto, percebi que ela ia em direção á janela... Que ela tinha explodido a grade.

– PAREM! – gritei, logo correndo em direção a Hannah. Ela continuava cambaleando para trás, enquanto os outros cessavam a chuva de feitiços, sem entender meu surto. Nem mesmo eu entendia porque queria salvá-la, mas não podia deixa-la morrer daquele jeito. Era cruel demais.

Com o coração na mão, vi quando ela pôs o pé para trás e, não encontrando o chão para se firmar, escorregou em direção ao nada. Sem saber o que fazer, dei um salto em sua direção, atingindo o chão com força ao cair, mas a tempo de agarrar seu braço, Hannah já com o corpo completamente pendurado.

Sentia seu desespero. Alternando o olhar em direção ao chão e a mim, se agarrava cada vez mais ao meu braço, tentando subir. Seu olhar estava suplicante.

– Por favor, não me deixe cair! – pedia, apavorada. Seus pés balançavam inutilmente, tentando achar algum lugar para se apoiar.

– Não vou! – disse, com a voz entrecortada pelo esforço de segurar seu peso com uma mão. A outra se agarrava ao que restava da grade, impedindo que nós caíssemos. – Draco, me ajude! – gritei. Não conseguiria içar seu peso sozinha.

– NÃO! – ela gritou, ainda mais apavorada. – Não chame ele. Eu não... Eu não entendo! Por que você quer me salvar? Eu tentei mata-la minutos atrás! Não pode querer me salvar.

Tentei rir.

– Sei que não. Mas até você merece morrer dignamente. E, se meus cálculos estiverem corretos, este dia está bem longe. – pressionei os lábios, contendo a dor. – Olha, eu não te odeio Hannah! Só estou realmente desapontada com você, e talvez com uma pontada de medo, mas não conseguiria deixa-la cair. Não funciona desse jeito.

Ela jogou a cabeça para o lado, curiosa. Parou de debater as pernas.

– Sabe... Sua bondade ás vezes me irrita. Mas fico feliz que a tenha.

E, pela primeira vez no dia, me dirigiu um sorriso verdadeiro, sem ódio ou raiva. Retribui o melhor que pude.

– Ótimo. Agora posso chamar alguém pra me ajudar? Não precisa ser Draco, se o problema é ele.

Ela negou com a cabeça, calmamente.

– Não será preciso. Eu reconheço a gravidade de meus atos. Machuquei muita gente, não serei perdoada tão facilmente. Perdi a chance de ter amor, perdi meus amigos, perdi a minha vida. Eles me acharão, o Ministério. E devo dizer que não pretendo passar o resto da minha vida em Azkaban. – continuava sorrindo, mas dessa vez com lágrimas nos olhos. Parou de se agarrar desesperadamente ao meu braço, e isso me deu ainda mais medo. – Nunca realmente te odiei também Hermione. Não odeio a sua pessoa. Pra ser sincera, até a admiro. Apenas enlouqueci quando vi que havia perdido Malfoy para outra.

Soltou uma mão. Comecei a respirar mais rápido.

– Hannah... Por favor...

– Não estou feliz por estar sem ele, mas pelo menos posso ficar tranquila por ter achado alguém tão boa como você. Espero que o faça feliz, ou acredite, problemas voltarão a aparecer pra você. – piscou o olho.

– HANNAH... – gritei, tomada pelo medo.

Sua mão foi escorregando pela minha, cada vez mais até que não sentia mais sua pele. Apavorada, assisti seu corpo cair em câmera lenta, os cabelos loiros flutuando ao redor do rosto, novamente angelical. Os olhos se fecharam, e ela abriu os braços, aguardando o momento que atingiria o chão.

Não percebi que gritava até que minha voz falhou. Ouvi passos atrás de mim, seguido de um abraço. Me virei e encontrei o peito de Draco, no qual afundei o rosto. Agarrei sua camisa, fechando os olhos com força. Me recusava a ver aquilo, não importava o quão mal ela tivesse me feito.

– Shhhh, calma... Está tudo bem agora, tudo bem... – Draco sussurrava, enquanto afagava minha cabeça. Senti os outros se aproximarem, um deles chegando perto da beirada para ver o que tinha acontecido. Descobri quem era ao ouvi Gina balbuciar em algum canto “Luna, saia daí”.

Segundos depois, ouvi mais passos, estes mais apressados, seguidos da voz desesperada de Minerva.

– O que houve?

Levantei o rosto, os olhos provavelmente vermelhos. Encontrei a diretora parada no meio da Torre, completamente perdida, a varinha em suas mãos. Atrás dela estava Lockhart.

– Hannah está morta. – soltei, sem muita vontade, logo voltando ao conforto dos braços de Draco.

– De novo? – inquiriu. – Digo, Gilderoy me explicou brevemente o que aconteceu. Dessa vez ela está...

– Morta de verdade? Sim. – respondi, já enjoada daquele assunto. Harry, ao nosso lado, percebeu.

– Hã, diretora McGonagall, poderia... Me acompanhar? Eu a explico o que nós presenciamos. Pode conversar com Hermione depois. – convidou a diretora, que concordou, seguindo-o até um canto em que não pudesse escutar o que falavam.

Voltei minha atenção para Draco.

– Eu tentei salva-la. Eu a tinha segurado, ela poderia estar viva agora. – choraminguei, debilmente.

Ele me assentiu, me abraçando ainda mais forte. Apoiou o queixo em minha cabeça.

– Eu sei Herms, eu sei. Mas isso foi o que ela quis, não tinha nada que você pudesse fazer. – depositou um beijo em minha testa. – Estou orgulhoso de você.

Afrouxei o aperto em seu peito ao ouvir aquilo, já controlando o choro. Seus braços e suas palavras me traziam tamanho conforto que sentia a vontade me levantar retornando. Sentia como se nada pudesse me atingir contanto que estivesse com ele. Que nada pudesse me assustar, contanto que o tivesse para me proteger. E eu estaria sempre ali para ele também. Sempre o defenderia, mesmo que isso custasse minha vida. Tudo o que precisava era de seu amor, nada mais. E aquilo me daria forças para seguir em frente, sempre.

Desenterrei a cabeça, olhando em seus olhos.

– Eu amo você. Sabe disso, não é?

Ele sorriu. Percebia o misto de sensações estampado em seu rosto, entre elas o alívio e ainda resquícios de medo e desespero. Mas sua voz estava tranquila quando respondeu.

– Nunca mais me dê um susto desses. Não sei o que faria se a perdesse. Eu a amo demais pra isso.

– Não se preocupe. Com sorte cairemos no esquecimento pelos próximos anos. – segurei sua mão. – Vamos. Acho que não vou aguentar ficar aqui por muito mais tempo.

– Certo. – fez um sinal de cabeça para alguém atrás de mim, que logo constatei ser Gina. Isso me lembrou de uma pergunta.

– Como vocês chegaram aqui?

Draco corou um pouco. Sim, co-rou!

– Booom... Depois que você me enxotou do seu quarto e me disse para não me meter na confusão, eu fiquei procurando um jeito de me meter na confusão.

– O quê?! – dei um tapa em seu ombro, incrédula, mas grata. Merlin sabe o que teria acontecido se não fosse a teimosia dele.

– Ei, calma! – riu, se defendendo. – Foi útil no final, não foi? Só tive que ferir meu orgulho um pouco, sabe?

– Como assim? – olhei para Rony, que deu de ombros.

– Ele esperou até você sair do dormitório pra nos procurar desesperado, pedindo ajuda. Parecia até uma garotinha, pulando de um lado pro outro. – falou rindo, começando realmente a pular de um lado pro outro como uma garotinha, arrancando risos de todos. Nem Draco conseguiu se controlar, estalando a língua.

– Vá procurar o que fazer, Weasley! – se levantou, comicamente tentando se manter sério. – Vamos Herms. Você tem que descansar um pouco. Já chega de bancar a heroína por hoje.

Levantei com a sua ajuda. Ele estava certo. Tudo o que eu precisava era de uma cama, e depois poderia cuidar dos problemas que apareceriam. Mas antes...

– Professora Minerva. – fui até a diretora, que conversava em baixo tom com Harry. – O que... O que será feito com Hannah?

McGonagall olhou para Lockhart, que até aquele momento apenas observava. Ele logo se prontificou a responder.

– Cuidaremos para que ela seja enterrada, não se preocupe. – assentiu com cabeça. – Claro, sem que ninguém saiba.

Minerva concordou.

– Sei que tentou salvá-la senhorita Granger. Foi algo muito nobre de sua parte. Apesar de já saber que faria algo do tipo.

Dei de ombros.

– Poderia tê-la deixado cair sem tentar ajudar.

– Não poderia não. Você sabe que não.

– E por quê?

Foi a vez de Minerva dar de ombros.

– Não foi selecionada para a Grifinória à toa.

Ela piscou o olho, me fazendo sorrir. Sabia que o que tinha dito era verdade. Isso porque eu sempre lutaria, sempre teria algo pelo que lutar, mesmo nos momentos mais sombrios. Ali, mesmo com toda a memória recente da morte de Hannah e da minha quase morte, me senti melhor do que jamais havia me sentido. Porque estava junto de quem amava. Tinha minha família ali comigo. Não aquela de sangue, mas a que construí ao longo de minha vida. Tinha Draco ali comigo. E, segurando sua mão, sentindo todo o calor, amor e segurança que sua mera presença me passavam, percebi que, de fato, tudo aquilo valia a pena. E seria sempre assim.

– É, eu sei diretora. – apertei ainda mais a mão de Draco. – Eu sei.


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Notas finais do capítulo

:)
Comentem o que acharam!!
Vejo vocês no último capítulo ;)



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