Ele tem 18 anos escrita por Hanna Martins


Capítulo 3
Vagalumes em uma noite sem luz


Notas iniciais do capítulo

Mais uma capítulo. Agora temos um pouquinho da visão do Peeta ;)



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Peeta olhou impaciente para o relógio. Quando Katniss chegaria do trabalho? Já passava das oitos da noite. Desse jeito a sopa iria esfriar.

Ele não falara com ela desde a noite anterior, quando aparecera na porta do seu apartamento, pedindo um lugar para ficar. Quando acordara, Katniss já havia saído para trabalhar.

Peeta experimentou a sopa de legumes com galinha. Estava até com um bom sabor. Era o que pudera fazer com os alimentos que encontrara na cozinha de Katniss. Ela parecia ser daquele tipo de pessoa que não gostava muito de fazer suas próprias refeições, pois havia uma imensa quantidade de comida congelada na geladeira e comida de fácil preparo no armário. Se alguém visse o armário de Katniss, a consideraria uma fã incondicional de macarrão instantâneo, já que havia uma verdadeira coleção de sabores diferentes. Já ele era um bom cozinheiro. Desde os dez anos fazia suas próprias refeições.

Mais alguns minutos e a sopa estaria fria. Escutou o som da porta sendo aberta. Era ela.

— Que cheiro é esse? — ouviu a voz de Katniss indagar. — Ei, por que minhas coisas não estão aqui? — reclamou, enquanto andava pela sala.

— Venha comer! — disse. — A sopa vai esfriar!

O apartamento era pequeno, por isso não precisava gritar para se comunicar com a pessoa que estava em outro cômodo.

Katniss foi para a cozinha. Ela parecia um tanto surpresa.

— Você fez isso? — apontou para o prato de sopa que Peeta colocava na mesa.

Ele apenas assentiu.

— E as minhas coisas?

— Não se preocupe, eu não joguei nada! Eu apenas organizei e limpei. Seu apartamento estava precisando de... um pouco de organização.

Um pouco de organização? Katniss era uma bagunceira nata. Se perguntou como ela conseguia se organizar em meio àquela bagunça.

— Não estava bagunçado! — protestou. — Eu poderia perfeitamente encontrar tudo! Aquele é meu jeito de organizar! Tudo estava completamente em ordem... — parecia que estava tentando se convencer mais a si mesma do que a ele.

— Sei... de qualquer modo, fiz uma faxina...

Katniss o olhou com uma expressão engraçada. Parecia estar se decidindo entre lhe dar uma bronca ou lhe agradecer. Ele não pode evitar um leve sorriso no rosto. Por fim, ela se decidiu por nenhuma dessas opções.

— Vou lavar minhas mãos! — disse Katniss, saindo da cozinha.

— Venha rápido! — advertiu. — A sopa está quase fria!

Katniss logo voltou para a cozinha. Os dois começaram a comer em silêncio. Queria fazer um milhão de perguntas para ela. No entanto, se conteve.

— Por que você está me olhando assim? — perguntou Katniss, após o flagrar em meio a mais um dos olhares furtivos que lançava a ela.

— Gosto de olhar você — respondeu simplesmente.

— Já te adverti, Peeta! — rebateu, levando o prato até a pia. — Tive um longo e cansativo dia, não quero ter essa conversa agora com você!

Pensou em contestá-la, em mil respostas distintas. Porém, se conteve. Aquele não era o momento de declarar seus sentimentos por Katniss novamente. Precisava provar que ele não era um menino como ela pensava. Poxa, ele poderia ter 18 anos, mas isso não significava absolutamente nada. Ele era um homem! Será que conseguiria fazer Katniss compreender isso? Ele tinha que conseguir.

— A sopa estava boa? — perguntou.

— Sim... estava... — respondeu sem o olhar.

Peeta sorriu.

— Deixa que eu lavo a louça — falou, indo até a pia.

Katniss o olhou. Ele se aproximou dela e pegou a esponja de sua mão.

— Tudo bem! Vou... para meu quarto... preciso estudar — saiu rapidamente de perto dele.

Isso o deixou frustrado. No entanto, resolveu não se importar com o ato.

Começou a lavar as louças. E seu pensamento voou até aquela noite.

Nem acreditara quando vira Katniss na festa do noivado de seu irmão. Desde os seus 14 anos, ele gostava dela. Katniss... como poderia explicar o que sentia por ela? Ele não sabia. Ela fora como uma brisa de verão em um dia quente nos tempos mais nebulosos de sua vida. Talvez, ela nunca soubera disso, mas tinha sido Katniss a responsável por lhe dar forças no momento que mais se sentia frágil.

Acompanhou os movimentos de Katniss durante toda a festa. Algo parecia a incomodar.

— Gostando da festa, irmãozinho? — perguntou Gale, dando tapinhas em suas costas.

Peeta controlou seus instintos de deter o irmão. Gale o tratava como se ainda fosse um garotinho de 7 anos.

— Claro! — respondeu, enquanto bebia um gole de vinho.

— Não beba demais, irmãozinho! Mamãe não vai gostar!

Peeta apenas deu os ombros e deu outro gole no vinho.

— Vocês brigaram de novo? — indagou Gale, franzindo a testa com ar responsável de irmão mais velho.

— Não é nada... mamãe quer que eu faça coisas que eu não quero...

— Peeta — Gale o olhou. — Você sabe que ela só quer o melhor para você... nossa mãe... ela ainda não se perdoou... pelo que aconteceu... Você sabe... ela apenas quer de alguma forma consertar isso...

Peeta terminou com seu vinho. Não gostava de falar sobre o assunto.

— Deixa isso de lado, Gale! — sorriu. — Hoje é o seu dia! Você precisa aproveitar!

— Verdade! Amanhã, eu vou para Madri! — disse com um imenso sorriso na face.

— Sua noiva está te procurando! — indicou com a cabeça Madge.

— Melhor eu ir... Madge pode ser bem geniosa, melhor não despertar sua fúria — piscou para Peeta. — E você já bebeu demais por hoje, hein! Controle-se!

Ele riu, enquanto via o irmão ir ao encontro de Madge.

Seus olhos se focaram totalmente em Katniss novamente. Nem por um segundo, havia deixado de acompanhar seus movimentos.

A festa já estava no fim. Os convidados começavam a se despedir dos noivos. Viu quando Katniss cumprimentou Gale e Madge rapidamente e depois saiu do salão de festa. Não hesitou em a seguir.

Katniss foi para o bar do hotel, como muitos dos convidados da festa. Sentou-se sozinha e pediu uma bebida. A observou durante vários minutos.

Pediu um copo de whisky. Ele iria ficar bêbado, em breve, constatou após dar o terceiro gole em seu whisky. Não costumava beber com frequência. E possuía uma resistência muito baixa ao álcool.

Mas naquele momento, ele apenas queria ficar observando Katniss, que as vezes fazia umas caretas engraçadas.

Deveria estar ébrio quando se aproximou dela. Sim, bastante bêbado. E depois, o beijo. Quando ela o beijou, imaginou que estava tendo uma alucinação. Porém, o sabor de seus lábios era bem real. O toque de sua pele não mentia, aquilo realmente estava acontecendo.

Ficou completamente embriagado com os beijos e carícias trocadas. Quando os dois subiram para o quarto, em que ele estava hospedado, tudo o que podia pensar era que aquela noite seria recordada para sempre.

Katniss, sua Katniss. A garota que ele gostava desde os seus 14 anos estava com ele. Ela seria dele, e ele seria dela.

No entanto, quando o dia seguinte veio, ele acordou sozinho. Apenas sobrara os lençóis bagunçados na cama e a leve fragrância de Katniss no travesseiro, como indícios de que aquilo realmente acontecera, de que não fora um sonho de um bêbado.

E Peeta tinha apenas uma certeza, ele não desistiria sem lutar. Ele não era alguém que desistia facilmente do que queria. Não podia perder Katniss.

Sua mãe não gostara nenhum um pouco da notícia dele permanecer naquela cidade, não voltar para a casa. Mas ele não se importou com as recriminações de sua mãe, há bastante tempo que estava cansado de ela o tratar como um garotinho desprotegido. Ele não era nenhum menino. Era um homem. Um homem que sabia muito bem o que queria para sua vida. No entanto, sua mãe não partilhava da mesma ideia. Para ela, era apenas um garotinho que não sabia o que estava fazendo...

Fora fácil convencer Gale a lhe passar o endereço de Katniss. Ele precisava de um lugar para ficar e seu irmão, sempre com o instinto protetor de irmão mais velho, acreditou que Katniss seria uma ótima alternativa. Às vezes, ter um irmão, que pensa que você tem sete anos de idade e não pode se virar sozinho, não é um mau negócio.

Peeta teve uma decepção grande, quando constatou que Katniss tinha ido para a cama com ele, sem o reconhecer. Ele pensara que ela conhecia sua identidade. Mas, no final, reconheceu que estava sendo tolo. E resolveu não deixar se abater por isso. Seu espírito era lutador. Não iria recuar.

— Peeta, o que são esses desenhos? — indagou Katniss, o fazendo voltar a realidade.

Ela estava na cozinha, bebia um copo de água e segurava em sua mão várias folhas de papel com alguns esboços seus. Não havia percebido, quando ela chegara.

— São meus desenhos...

— Você desenha bem... — disse, analisando um desenho.

— Obrigado... — respondeu um tanto desconcertado.

— Realmente é um bom desenho.

— Você acha?

Ela assentiu, sem desviar os olhos do esboço.

— Então, eu poderia me tornar um profissional?

— Acho que sim, com o seu talento...

Peeta sorriu.

— Obrigado, Katniss!

Ela o olhou interrogativa, com a testa franzida.

— Quero me tornar um desenhista de quadrinhos. Minha mãe não quer que eu siga esse caminho. Ela acha que é apenas um sonho bobo. “Sonhos não trazem comida à mesa” — imitou sua mãe falando. — Mas os sonhos podem ser bem reais... — ele lançou um olhar para ela.

— Foi por isso que você brigou com sua mãe?

— Sim, eu decidi seguir os meus sonhos... ela não concordou muito com isso... na verdade, ela detestou. Ela acha que estou fazendo a maior burrada de minha vida.

Katniss apenas analisou seu desenho por uns longos segundos silenciosos.

— Você também acha que estou fazendo uma burrada, Katniss?

Ela o encarou.

— Talvez — deu os ombros. — Mas você nunca saberá se foi ou não uma grande burrada se não tentar, não é mesmo?

Peeta sorriu. Essa era Katniss. Ela via o mundo com os olhos diferentes.

— O que você vai fazer, Peeta? — ela perguntou, enquanto o analisava.

— Eu não desisto facilmente do que quero... E mesmo quando tudo conspira contra mim, eu não vou deixar de lutar. Você me ensinou isso, Katniss.

— Eu? — falou, claramente, surpresa.

— Você não lembra das palavras que me disse uma vez? Elas foram... especiais para mim... “Siga em frente, enfrente a cada dia mesmo que queira morrer a cada segundo, porque chegará o dia em que você vai querer viver. Tudo isso vai valer a pena um dia” — recitou as palavras que ela lhe disse um dia. As palavras que recordava a cada dia.

Katniss o fitou um tanto perplexa.

— Você... lembra disso?

— Como eu poderia esquecer? Essas palavras me motivaram a seguir em frente... Talvez, foi naquele dia que passei a gostar de você, depois que você disse essas palavras para mim.

Ela pareceu um tanto perturbada.

— Peeta! — o reprendeu.

— Ok! — fez sinal de rendição com as mãos. — Sei que não gosta que eu declare meus sentimentos por você, mas isso não vai fazer que eles sumam!

Ela virou as costas para ele, impaciente e saiu da cozinha, resmungando algo como ele deveria parar de ser tão impulsivo.

Peeta sorriu. Katniss não era indiferente a ele, sentia. Só precisava provar que não era um garoto, era um homem. Se ela lhe desse uma chance...

Encontrou-a na sala, trocando os canais de TV de um modo impaciente. Sentou-se perto dela. Katniss apenas resmungou alguma coisa. Porém, ele a ignorou e permaneceu sentado no sofá.

Ele ficou a observando. Katniss tentava o ignorar, mas parecia não estar conseguindo se sair muito bem nessa tarefa. Sorriu.

— Peeta!

— O que foi? — falou inocentemente.

— Argh! Você...

Sorriu ainda mais e se aproximou dela. Estavam muito próximos. Ela lhe lançou um olhar de advertência do tipo “não se atreva, ou... a próxima geração Mellark corre sérios riscos”. Sorriu ainda mais.

— Só estou assistindo... a TV... Interessante essa cena, não?

Katniss voltou seus olhos para a tela da TV e se deu conta que estava passando uma cena adequada somente para maiores de 18 anos.

Ele sorriu maliciosamente. Ela tratou de mudar de canal.

— Ei, por que mudou de canal? — protestou ainda sorrindo.

— Não gosto desse filme!

— Sei...

Era divertido provocar Katniss, concluiu. Muito divertido.

— Isso é bem mais interessante! — disse, colocando em um canal de TV que mostrava um documentário qualquer.

— Desistiu de estudar por hoje?

— Estou cansada... não estou conseguindo me concentrar — explicou sem tirar os olhos da tela da TV.

Peeta assentiu. Pegou um papel e começou a rabiscar algo. Deu-se conta que sua mão automaticamente fazia um desenho de Katniss. Até mesmo seu inconsciente o levava a ela.

Após alguns minutos, notou que estava silencioso demais. Ela dormia, sentada no sofá, de um modo um tanto desconfortável. Sua cabeça pendia para um lado e para o outro. Delicadamente, para não acordá-la, apoiou a cabeça dela em seu ombro. Afastou uma mecha de cabelo que caia na testa de Katniss e deteve sua mão por alguns segundos na face dela, em uma suave carícia.

— Obrigado, Katniss — murmurou. — Você foi como um pequeno vagalume em uma noite sem lua, nem estrelas.

Certo, estava sendo um pouquinho dramático demais. Era melhorar parar por ali. Sorriu de si mesmo e seus lábios pousaram na testa de Katniss, roubando um beijo furtivo. Ela suspirou e se aconchegou em seu ombro.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? O que será que aconteceu no passado de Peeta para ele ser tão grato a Katniss? E quem gostaria de ser recebido depois de um dia cansativo pela sopinha do Peeta rsrsrsrs?