Love me Harder escrita por Grind


Capítulo 8
Capítulo 8 - Ressaca


Notas iniciais do capítulo

Mega perdões pelo atraso, meu pc ficou quebrado um bom tempo, mas to de volta ♥



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Love me Harder / Capítulo 8 - Ressaca

— É só isso que vamos fazer na próxima hora?

Ok, eu tinha dito aquilo mesmo?

Ele franziu o cenho abrindo a boca pra falar até eu interrompe-lo.

— Eu não estava falando de sexo. – Eu atropelei as palavras, sentido a necessidade em me explicar e quando notou o meu desembaraço sorriu.

— Se fossemos fazer sexo, eu ia precisar de mais de uma hora.

— Muito bem bonzão, já está tarde e nós dois temos de trabalhar amanhã – Ignorei a tontura que tive quando levantei.

— Você fala como se  - Ele fechou os olhos quando ficou segurando na corrente do balanço com firmeza – Merda, eu acho que bebi demais.

— Você acha? – Encarei a garrafa vazia, que apesar de ser uma garrafa os poucos goles que tomei pareciam ter rasgado a minha garganta -  Consegue andar?

— Claro – Ele deu um passo convincente e  depois parou, erguendo os olhos pra mim assustado – Tenho quase certeza.

Eu me contive pra não rir quando começamos a nos rastejar até minha casa.

— Eu já te contei quais são os danos causados pelo álcool no organismo humano?

Eu inspirei fundo.

— Dificuldades para caminhar, retardo de resposta, visão borrada, fala arrastada e danos a memória.

— Surpreendente, você precisou estudar medicina para descobrir?

Ele sorriu.

— Não, descobri sozinho depois da formatura do Ensino Médio. Quando Davi encheu a cara pra fazer discurso de ódio da turma.

Por que aquilo não me surpreendia? Davi era só mais um garoto irritado com a vida e com o mundo, que descontava ódio alheio em quem não se rastejasse aos seus pés.

— Vocês ainda são amigos?

Por favor diga que não, diga que não, diga que não.

— Não tanto quanto antes, ele encontrou com Gabrielle sabia?

Gabrielle era outra garota irritada com a vida mas que sabia ser gentil as vezes.

— Deixa eu adivinhar eles estão juntos?

Ele gargalhou alto.

— Sim, isso não é incrível?

— Talvez – Paramos diante da porta e eu comecei a procurar a chave certa.

— Mas onde eu tinha parado? É mesmo! O álcool também gera outras duas síndromes. O transtorno amnésio alcoólico e síndrome de Wernicke-Korsakoff. A primeira é a tão conhecida branco da manhã seguinte, e a segunda que já é um pouco mais grave pode ser dividida em dois – Finalmente conseguimos entrar – Causa confusão mental,  paralisia dos nervos dos olhos e dificuldades na coordenação motora, mas não se preocupe – Ele se apoiou na parede logo que acendi a luz – Essa vem mais pela falta de vitamina B1 dos alcoólatras.

— Impressionante Dr. – Encostei na parede do outro lado do corredor, sentindo minhas pernas protestarem em busca de descanso.

Não soube por quanto tempo ficamos assim, escorados e bêbados.

— Já está na minha hora. – Ele fez uma careta enquanto fechava os olhos – Você ainda gosta de mim?

— Só quando está sóbrio.

Ele sorriu de lábios fechados.

— Vou procurar me lembrar disso.

 - Vou pegar uns travesseiros e um cobertor pra você, não posso deixar você dirigir nesse estado, eu me culparia se alguma coisa acontecesse.

— Está certíssima – Ele deu meia volta e caminhou com dificuldade pela sala, relaxando o corpo sobre o sofá.

Betinho Dantas está na minha casa, ele vai dormir no meu sofá.

Corri até meu guarda roupa no quarto, pulando para alcançar os edredons e travesseiros dobrados cuidadosamente na parte de cima, ignorando o mundo girar toda vez que eu voltava ao chão.

— Precisa de ajuda? – Ele surgiu sereno, sorrindo outra vez apenas com os lábios. Entrou na minha frente sem muita dificuldade e puxou dois travesseiros para baixo que eu segurei contra o peito. Ele puxou o edredom azul e fechou as portas.

— É um quarto bonito.

Betinho Dantas está no meu quarto e estamos sozinhos e bêbados.

— Obrigada.

— Certo, está ficado um pouco constrangedor ficar aqui, vou voltar para o meu sofá. Boa noite – Sorriu uma última vez e fechou a porta quando saiu.

No automático eu troquei de roupa deitei e me encolhi debaixo do edredom.

Beto Dantas está na minha casa, bêbado e vulnerável.

O celular que eu tinha abandonado sobre o criado mudo vibrou me tirando dos meus pensamentos perversos e deslizei o dedo pela tela com rapidez.

— Ah – Sthella bufou chateada – Não esperava que você atendesse.

— Então por que ligou?

— Pra ter o prazer de suspeitar que vocês estivessem transando.

— Não estamos, e já está tarde – Senti um frio na barriga ao perceber que a casa estava num silêncio mortal, e se ele estivesse do outro lado da porta e conseguisse ouvi-la? – Pra fazer esses tipos de perguntas, por que não liga amanhã?

— Você está me dispensando por estar acompanhada ou só por estar mais chata do que o comum?

— Fique curiosa quanto a isso, boa noite Sthella.

— Boa noite somadora.

Colocando o celular de volta ao lugar, dormir foi mais fácil do que eu imaginei.

Quando acordei o meu corpo parecia relaxado apesar da minha cabeça estar latejando. A luz do sol parecia queimar minha retina e escondi o rosto como pude.

Beto Dantas está dormindo no sofá da minha casa.

Sentei-me num pulo, sentindo minhas mãos esfriarem com a ideia de que ele estivesse acordado, ou talvez fugido no meio da noite.

Minha cabeça ainda doía quando me arrastei até o banheiro no maior silencio possível, e escovei os dentes e penteei o cabelo da melhor maneira que deu, voltei para o quarto pra trocar de roupa numa vigília constante da porta e depois de pronta quis ficar por ali mesmo.

Ele sabia o caminho para a saída, ele não tinha motivos pra me esperar acordar, talvez eu só devesse ficar ali sentada esperando ouvir o som da porta bater e poder começar o meu dia normalmente.

Não sei quanto tempo fiquei sentada na cama vendo os minutos passarem na tela do celular, mas eu tinha que sair dali.

Era a minha casa no final das contas.

Apesar de eu saber que era só impressão minha, o celular parecia morno na minha mão. O final do corredor dava para a sala que não tinha parede a separando da cozinha.

Ele estava apagado.

Apagado porque ele se quer parecia estar dormindo, não tinha aquela tranquilidade de quem estava recuperando as energias, tinha o maxilar travado e os olhos cerrados, como se tentasse evitar algum tipo de pensamento.

Ele tinha tirado a camisa.

Por que meu Deus?

Engoli em seco tentando me manter sã, era a segunda vez que eu o pegava sem nu sempre numa situação desconfortável. Por que ele tinha tirado? Só Deus sabe, mas o cobertor estava metade no chão e a outra metade da cobrindo da cintura pra baixo.

Talvez eu ainda estivesse dormindo e a qualquer momento ele fosse pular em cima de mim e eu então acordaria. Eu me belisquei, doeu, e as coisas permaneceram as mesmas.

Eu me controlei pra não rir com meu próprio nervosismo, tentando ignorar as pontadas de dor na cabeça, e eu um ato de criancice abri a câmera do celular, me posicionando bem sei que Sthella pagaria por aquela foto.

Cobri a boca com a mão no susto que levei com o tilintar da foto tirada, sentindo meu coração bater dez vezes mais rápido no peito, certa de que ia ser pega.

Ele se quer se mexeu.

Dei risada de mim mesma baixinho enquanto me empertigava até a cozinha e procurava alguma coisa decente pra comer. Depois ter revirado os armários pelo menos umas duas vezes conclui que era hora de fazer compras.

O celular vibrou sobre o balcão e ignorei o nome de Sthella a procura de qualquer coisa saudável que pudesse fazer minha cabeça parar de doer.  Lembrei de alguma coisa sobre um chá que Duda me recomendara fazer, e hesitei enquanto olhava para as folhas verdes no fundo da geladeira.

Talvez ela tivesse passado um veneno e estivesse só esperando o momento perfeito.

Por a cabeça pra pensar se tornou um desafio, e resolvi usar os últimos tomates da geladeira, quatro tomates, duas colheres de salsa e uma folha de louro. Quando tudo começou a bater no liquidificador fechei os olhos com força sentindo que tinha me condenado quando comecei tudo aquilo.

Houve um reboliço na sala.

— Puta merda – Estava sentado de costas pra mim, o cabelo uma completa zona enquanto massageava a cabeça.

Pelo menos eu não era a única com dores.

Vê-lo acordado fez passar uma reprise da noite anterior diante dos meus olhos, e quis desesperadamente correr de volta pro meu quarto e me trancar por lá até que ele fosse embora.

Eu desliguei o liquidificador, pensando quanto tempo levaria pra que eu chegasse ao quarto sem ser vista ou ouvida.

Com o silêncio ele jogou a cabeça para trás em alivio.

Beto Dantas está suspirando de alivio no meu sofá.

O celular vibrou outra vez e nunca desejei tanto que Sthella tomasse vergonha na cara e deixasse de me perseguir, e no silêncio precioso ele pareceu muito mais barulhento do que deveria ser.

Ele girou o corpo, o cenho franzido, os olhos semi abertos, a cara lindamente amassada.

— Bom dia flor do dia – Eu provavelmente dei o melhor dos meus sorrisos enquanto tentava evitar a tremedeira nas mãos.

Ele piscou uma serie de vezes, acho que com a mente mais lerda que a minha, até fechar os olhos sonolento e abrir aquele sorriso.

— Bom dia.

O tremor passou pelas minhas pernas.

Foco Manu, pelo amor de Deus.

Soltei a jarra do liquidificador, e cacei dois copos. Escutei ele se erguer, e me controlei pra agir o mais normalmente possível enquanto servia meu suco vermelho que faria nossos estômagos se contorcerem.

Meus pés criaram raízes no chão quando dei meia volta e ele já estava de pé, na minha frente os olhos escuros me analisando com curiosidade.

Por que ele não colocou a maldita camiseta?

— O que você está fazendo?

Eu fechei os olhos, ciente de que o homem a minha frente não fazia bem aos meus nervos, e de que ele perceberia se eu fizesse uma pesquisa minuciosa sobre as tatuagens no peito dele.

Eu estendi o copo.

— Pode beber, vai dar uma melhorada na ressaca.

Ele aceitou o copo com receio, encarando a gororoba vermelha nos copos transparentes.

— Primeiro você.

Como se eu estivesse tentando droga-lo.

Dei de ombros enquanto respirava fundo, virava garganta a baixo e fazia uma careta. Ele riu.

— Você está tentando me envenenar?

— Se não quiser beber não bebe – Resmunguei pensando se a grama no liquidificador teria um gosto melhor. – Só estou tentando ajudar.

Ele fez uma careta como se eu tivesse pego pesado e virou o seu. Fechou os olhos com força e colocou o copo vazio sobre a pia enquanto colocava a língua pra fora uma serie de vezes.

— Muito bom mesmo, você serve isso de café da manhã no restaurante?

Eu gargalhei alto, sentindo o nervosismo diminuir e o clima tenso que eu achei que tivesse se desfazer no ar. Ele não achou tão engraçado quanto eu, mas permaneceu sorrindo até que eu voltasse a uma expressão aceitável e não cômica e encarou o relógio na parede.

— Eu estou atrasado, vou entrar em uma hora e não passei na minha casa pra tomar banho ainda. - Ele estava se convidando pra tomar banho no meu chuveiro?! – Eu tenho que ir.

Afastou-se mais rápido do que meu cérebro foi capaz de processar, colocando a camiseta amarrotada escondida debaixo de uma das almofadas, deixando parte de mim infeliz e colocando os tênis com rapidez.

— Certo – Foi a coisa mais inteligente que eu consegui dizer enquanto juntava cobertor e travesseiro na poltrona pra lhe dar espaço.

Ele ficou de pé num pulo.

— Foi divertido – Mandou O sorriso – Acho que devemos fazer de novo. Na próxima vamos a um lugar mais agitado, pra passarmos despercebidos. Porque acho que tenho certeza que um ou dois vizinhos seus ficaram nos encarando pela janela ontem a noite.

— Meu Deus essa frase tem tantos duplos sentidos que eu não sei o que te dizer.

Ele riu.

— Verdade, é que eu ainda to meio grogue pra formular frases corretamente.

Formular frases corretamente, você não existe.

Ele balançou a cabeça e tomou rumo a porta da rua, sei que eu deveria ter ido na frente, aberto a porta e ter desejado uma boa tarde, mas ele estava mais rápido, tinha passos mais largos, e tomar a iniciativa dava a sensação de que éramos algum tipo de casal de longa data.

Arrumou a camiseta no corpo uma ultima vez com uma das mãos enquanto abria a porta com a outra até ficarmos presos no lugar.

Sthella tinha o punho fechado erguido no ar, o pé que batia insistente no chão parou e ela ergueu o olhar vagarosamente do chão pra nós. Eduardo estava atrás dela, os braços cruzados, como se também esperasse por alguma coisa.

Quis que o chão se abrisse debaixo dos meus pés.

Sthella abriu o maior sorriso já registrado no mundo, e seus olhos faiscaram na minha direção. Ela não estava só surpresa, ela estava contente, satisfeita, animada, e louca. Eu tinha assinado meu atestado de óbito.

Soube que ela percebeu todos os mínimos detalhes, a camiseta amassada, o cabelo zoneado, a minha cara lavada e a roupa simplória.

Eu fechei os olhos e torci a Deus que eu ainda estivesse sonhando, e quando voltei a abri-los e as coisas permaneceram as mesmas foi a carta final. Eu estava definitivamente acordada.

— Bom dia – Sthella vidrou o olhar em mim uma serie de segundos antes de erguer o rosto para olha-lo nos olhos.

Ele meneou a cabeça, a mão ainda presa a maçaneta.

— Bom dia - Betinho endireitou a postura, talvez tão confuso quanto Sthella, parecendo não entender que a grande questão era o que ele estava fazendo ali. - O que você está fazendo aqui? – A pergunta foi diretamente para Eduardo, que ergueu as sobrancelhas como se não acreditasse.

— Bom dia Dr. você dormiu bem?

A ficha dele caiu e então sorriu.

— Você é um maldito imprestável Carlos, mas eu já me atrasei o suficiente hoje.

Carlos sorriu pela primeira vez, cafajestemente como já era de se esperar, erguendo braços e levando as mãos até a nuca, como se fosse rendido.

— Ela conseguiu atrasar você?

Sthella conteve uma risada, que escapou em parte mesmo assim, e talvez por estar no meio da linha de fogo ela tomou a iniciativa de interromper.

— Encontrei Carlos no caminho pra cá, nenhum de vocês atendia o telefone.

Houve um minuto perturbador, como se nós dois tentássemos procurar respostas que fossem aceitas. Ele procurou o celular nos bolsos e ergueu depois de apertar um botão qualquer.

— Acabou a bateria.

Eu tinha toda certeza que estava desligado, e fiquei internamente satisfeita que ele não tivesse entrado na onda de Sthella sugerido uma porção de coisas e ido embora deixando as perguntas inconvenientes pra mim.

— Ninguém disse nada. – Eduardo deu de ombros.

Beto revirou os olhos, pisou do lado de fora, incomodado com a luz, acenou na minha e na direção de Sthella ignorando a presença do amigo enquanto se afastava.

— Eu vou atrás dele – Eduardo piscou e se afastou.

Sthella deu o melhor dos suspiros quando entrou e fechou a porta.


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