Love me Harder escrita por Grind


Capítulo 14
Capítulo 14 - Você é




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Love me Harder / Capítulo 14 – Você é

É claro que paranoias eram uma coisa normal dentro de mim, era algo que eu sabia que sempre iria acontecer. Situações serias, como grandes responsabilidades me deixavam nervosa, e se eu perdesse o rumo de o que poderia o não fazer minha mente conspirava contra mim.

Parte de mim queria se manter calma, estável, achando que ao alcançar a plenitude eu não teria esses tipos de problemas, no entanto eu mal conseguia respirar.

— Gosto do cheiro que a sua casa tem – Ele comentou casualmente, incrivelmente tranquilo para quem chegara de visita um pouco depois do horário normal.

— Cheiro? – Eu fechei a porta da rua com cautela.

— Deve ser algum perfume que você costuma passar – Ele moveu a caminhada de sala para corredor – Ou um sabonete.

— O que está procurando?

— O banheiro – Quando acertou na porta ele se fechou la dentro.

Eu corri para o celular, o único aparelho que fazia contato com o mundo exterior. Meus dedos se atropelaram sobre o teclado, e um quase código foi enviado para Sthella.

Manteve-se belamente calado durante todo o tempo que zanzou pela casa. Quando procurou algo de comer na cozinha, quando saiu para ir ao banheiro e quando se acomodou no sofá da sala, quase como se fizesse parte, investigando os canais da televisão.

Ele se sentia em casa? Sentia que fazia parte dela ou coisa assim? Então o que exatamente toda essa demonstração de conforto significava?

Quando mostrou não se importar com as minhas olhadas frequentes no celular, tentei me socorrer mandando mensagens as meninas.

“Ele só chegou, e ficou?”

“Parecem até namorados”

“Namorados?”

Escondi o celular entre as pernas com a possibilidade dele de usar seus super poderes e descobrir a circulação daquela palavra.

Não não eramos namorados. Não estávamos namorando certo? Bom eu não teria coragem de pedir Dr. Dantas em namoro, e duvidava que essa fosse uma de suas preocupações. Então não era namoro.

“Eles frequentam a casa um do outro, mesma roda de amigos, e transam(?), com certeza é namoro”.

— Você parece preocupada, aconteceu algo? - Ele ergueu uma das sobrancelhas grossas sobre o desenho do óculos.

Meu coração disparou no peito. Eu deveria perguntar o que eramos? O que estávamos fazendo? Eu podia acabar soando desesperada e ele podia resolver levantar e simplesmente ir embora. Eu podia parecer a maluca dos relacionamentos que alega esperar pelo cara certo a vida inteira e perde a cabeça quando um relacionamento começa a dar sinais de progresso.

Relacionamento com sinais de progresso? Progresso para onde exatamente?

— Manu? - Ele diminuiu o som da TV.

— O que nós somos? - Vomitei a pergunta que se instalou na minha garganta com tantas outras.

Arrumou a armação do óculos sobre o rosto, vasculhou as tatuagens no braço e então fixou os olhos claros em mim.

— Essa é uma pergunta enigmática, o que quer dizer exatamente?

— Não estou falando com Dr. Dantas agora – Ralhei, sentindo o nervosismo correr nas minhas veias. Talvez ele não tivesse dito nada até então porque não se importava, porque não era importante. O que tínhamos não era algo que acabaria por ser oficializado ou afirmado entre as outras pessoas, talvez pra ele fosse apenas eu e ele. Assim, sem nada, que se gosta as vezes e usa isso a favor pra satisfazer dos próprios desejos, e que eventualmente eramos amigos pra socializar, que não tinha nada muito além desse lance frio e sem graça.

Eu não nos considerava frio e sem graça.

O silêncio perdurou por mais alguns segundos, como um vírus que se espalha pelo ar.

— Perdão – Ele pareceu reconhecer que usar palavras como “enigmático” não facilitava com minhas paranoias. - Por que esta pensando nisso agora?

— O que esta fazendo aqui?

Umedeceu os lábios, talvez reconhecendo o modo como tinha agido até então, pensando em todo seu jeito largado de ser.

— Eu vim te ver.

— Veio mesmo?

Ou era apenas uma transa conveniente? Eu estava sem nada para fazer, ele também, opa, por que não?

Deixou a cabeça pender para o lado, correndo os olhos sobre meu rosto, lendo meus pensamentos.

— Não me faça parecer um lixo. Eu não sou o Carlos.

É claro que não era.

— Eu sou ansiosa, sua presença me deixa nervosa – Eu me coloquei de pé – Tudo em você me deixa nervosa, e apesar de eu adorar estar com você e adorar tudo o que temos feito até agora, ainda é novo pra mim. Você ainda é o garoto do colégio que eu estudei, e isso me perturba.

Ele respirou fundo.

— Eu não sou o garoto do colégio que estudou com você, não mais. Esqueça o menino que você idealizou na juventude, e olhe pra mim agora.

Mantinha-se sentado no sofá, iluminado pelos comerciais da TV, uma perna sobre a outra, o pijama folgado no corpo, os braços tatuados cruzados diante do peito e os olhos apreensivos atrás das lentes de grau. Claro ele tinha mudado uns cem por cento em aparência desde o uniforme azul e branco, mas eu conhecia o menino ou o homem?

Meu coração estava prestes a rasgar o peito.

— Fica mais fácil esclarecer isso tudo se você gostar de mim ao invés do carinha do colegial – Ficou sério, meu prognóstico era a morte – Esse assunto é tão delicado pra mim quanto pra você.

— Não tem como – Eu neguei fielmente enquanto caminhava pelo tapete.

— Por que quis me contar que gostou de mim no passado?

— Eu achei que você deveria saber.

— Por que?

— Como assim meu Deus? - Eu passei as mãos no cabelo e ele se ergueu.

Mais alto, e incrivelmente perto.

— Ter gostado de mim antes influencia em alguma coisa agora? Você está tentando achar o garoto calado e sem muitos amigos em mim?

— Sem muitos amigos? O seu nome estava diretamente ligado a popularidade! Todo mundo gostava de você!

— O seu nome estava ligado a beleza.  - Manteve-se calmo – Sempre foi bonita, e ainda assim não usava isso a seu favor. Como também não usa agora, você ainda é a mesma garota do colégio?

— Mas é claro que não.

Talvez. Apenas talvez, eu ainda fosse. Eu não estava reagindo de forma muito adulta não é mesmo? Declarando paixonites, tendo acesso de crise de identidade e querendo impor namoro.

— Então, que diferença faz se você gostou de mim antes, porque resolveu me contar? O que esperava que eu fizesse com essa informação?

— Contei porque ainda gosto de você. - Eu vi minha voz sumir e ele apenas fechou os olhos.

— Não, não desse jeito, assim eu não quero. - Deu as costas e procurou pelo par de chinelos perdido ao lado da poltrona.

— O que? Como assim?

— Se você ainda gosta do garoto do colégio então sinto lhe informar que preciso ir embora.

Meu peito apertou, sufocou. Quando foi que a culpa foi jogada sobre meus ombros? A tela do celular brilhou de onde eu estava sentada, mensagens acumuladas. Pegou o prato e copo que havia sujado e caminhou em direção a cozinha.

Ele estava indo embora? Como assim embora? Por quanto tempo exatamente? Que tipo de despedida era essa?

— Quando você olha pra mim, o que você vê? – Eu senti o peso de lagrimas se formando sobre meus olhos.

Manu, você não pode chorar agora.

— Porque realmente espero que não seja a mesma garota que você conheceu no Ensino Médio, muita coisa aconteceu de lá pra cá, e eu não to pra ser conquistada por um moleque igual a você – Eu comecei a soluçar, todas as tentativas de me conter falhas – Eu com certeza tenho coisas melhores pra fazer.

— Exatamente! - bateu as mãos sobre a pia quando terminou de colocar a louça limpa no escorredor. - Por que não pensa o mesmo sobre mim? Eu preciso que você reconheça que eu também mudei, que eu não sou uma mera paixão que você teve, porque se você quer saber o que temos, preciso ter certeza do que você sente antes.

Eu tinha idealizado ele esse tempo todo?

Quando não ganhou resposta sua frustração foi clara, quase desesperado.

— Já chega – Ergueu os braços, as mãos abertas na minha frente, sério - Eu já ouvi o suficiente. Você fica ai no seu pedestal julgando e apontando, me impedindo de me aproximar. Você se recusa a admitir o que sente e espera que eu adivinhe, mas surpresa Manuela – Abriu os braços – Eu não tenho esse poder. Então não venha com acusações pra cima de mim sem perguntar primeiro, não faça parecer que estou jogando com você, que tudo isso é mero sexo gratuito.

— O que você quer de mim droga! – Eu esbravejei, inconformada que ele ainda me respondesse.

— Que você ame quem eu sou agora – Esbravejou a plenos pulmões, prendendo as mãos em meus ombros.

Eu me sentia arrebentada. Eu esperava qualquer coisa, menos que me dissesse isso, não era a primeira vez, também não imaginei que fosse a última. Sthella já tinha me alertado, comentado diversas vezes como que por mais que me conhecesse bem, às vezes não tinha real certeza se eu estava contente por alguma coisa, gostando de algo ou de alguém.

As emoções se acumulavam no meu peito, transbordavam até, e eu as reprimia. Mantinha-as dentro de mim porque qual seria a certa a se soltar? Tinha medo da reação das pessoas, porque eu as amo demais para chateá-las com alguma tolice que eu pudesse fazer me exaltando além da conta.

Eu não o culpava, não duvidava nada que durante todos os momentos que tivéssemos passados juntos e eu estivesse nas minhas paranoias internas sobre como me comportar que eu estivesse mega neutra por fora.

Maldição.

Cobriu o rosto com as mãos.

— As vezes eu sinto que, só eu estou tentando fazer isso funcionar. Eu fico pensando em você quando vou te ver, e o que vamos fazer, e quando a gente finalmente se encontra você parece tão tranquila, tão passiva como se não fizesse diferença alguma se eu estivesse aqui ou não.

— Eu não tenho culpa, não tenho essa capacidade – As palavras não me vinham – De expressar tão bem como eu me sinto, eu não sou a única inexpressiva aqui.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Agora eu sou o problema?

— Você está sempre ai, bem vestido, sorriso camarada no rosto, simpatia transbordando a sua volta. Eu fico toda nervosa quando estou perto de você, preocupada em não estragar tudo enquanto você se comporta que nem um tonto.

— Isso não tá acontecendo – Sentou-se na ponta do sofá do outro lado, revirando os olhos.

Eu deixei o corpo escorregar pela parede fria, sentando no chão, eu já estava cansada de chorar e pensar demais.

— Me desculpe não ser aquilo que você queria – Abracei os joelhos, decidida a ficar quieta o resto da noite, não me restava força alguma.

Ele riu.

— Ai Manu – Suspirou de forma pesada – Você com certeza não é como eu queria que fosse – Fez uma pausa – É com toda certeza bem melhor. Eu só não vou te fazer nenhuma promessa sobre o que somos ou o que podemos ser até que você tenha certeza do que quer.


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