Em família escrita por Hikari Mondo


Capítulo 2
Shika Siblings


Notas iniciais do capítulo

Uma pequena interação Nara family e Sand Siblings



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Yoshino passou correndo pela sala carregando uma sacola em seu ombro esquerdo, e outra na mão direita. Vendo sua mãe correr, com pressa, sem se preocupar com nada da casa, fez Shikamaru se mexer levemente de sua confortável posição no sofá para fitá-la.

– Você tem algum compromisso para tanta pressa?

– Eles estão aqui! – Ela parecia se conter para não gritar. – Eles estão aqui, bem perto de casa. Eu não posso perder essa oportunidade! Não perderei nenhum deles.

Ela se virou e saiu, sem dar qualquer outra explicação, e Shikamaru ficou observando a porta pela qual ela acabara de passar.

Os três pares de olhos que estiveram olhando sua mãe se viraram para ele após alguns segundos, todos lhe dirigindo a mesma pergunta silenciosa.

– Os cervos. Temos três filhotes que perderam a mãe logo depois de nascerem, e eles não nos deixam nos aproximar. Algo bem incomum no nosso clã.

Com essa resposta, o rosto de Gaara relaxou, voltando a sua usual expressão inexpressiva, Temari abriu um sorriso amável e algo infantil, e Kankurou levantou as sombrancelhas por breves instantes.

Reunindo forças, Shikamaru levantou do sofá para seguir sua mãe. O Kagemane no Jutsu foi originalemente desenvolvido para a captura de cervos, e talvez sua mãe precisasse disso agora. Ele nem se deu o trabalho de olhar se os irmãos o seguiriam, ele sabia que sim. Ele estava acostumado com Temari, a quem ele poderia dar apenas poucas informações e ela deduziria o resto. Convivendo mais com a família dela, ele podia perceber que esta era uma característica que os irmãos tinham em comum.

Eles andaram em silêncio, até encontrar Yoshino, alguns passos dentro da floresta.

– Ei, aqui, vem cá... É comida. Nós não vamos machucar vocês... – Sua mãe falava com uma voz tão calma, que Shikamaru se perguntava porque ele nunca fora tratado assim.

Os três gamos estavam a uns 35 passos de distância deles, ele calculou, e sem intenção de se aproximarem. Eles, na verdade, estavam preparados para correr a qualquer instante. O menorzinho estava terrivelmente assustado, enquanto os dois maiores pareciam protegê-lo, irritados e preparados para briga.

Embora de fato o Kagemane tivesse sido criado para capturar cervos, os membros do clã Nara não costumavam capturá-los quando estavam com tamanho receio. Seu clã passara gerações naquela floresta, e criara uma relação amigável e de cooperação mútua com os cervos que viviam dentro dela, então a captura destes se tornara apenas para evitar que eles se movimentassem ou se machucassem quando eles fossem trabalhar com suas galhadas.

– O pequeno está machucado. Ele está menor que os outros dois, está assustado, eles também devem estar com dificuldade para se alimentarem sozinhos já que são jovens e perderam a mãe tão cedo. Talvez por isso eles vieram para cá, eles sabem que podemos ajudar.

– Mãe, não me parece que eles vieram pela nossa ajuda. Me parece mais provável que eles vieram simplesmente porque aqui é menos movimentado e competido por outros cervos, já que é mais perto de pessoas. - Eles podiam ter uma boa relação com os cervos, mas eles ainda eram animais ariscos e bastante independentes. Eles também pareciam aceitar algumas pessoas melhor do que outras.

Shikamaru fez uma avaliação rápida de suas possibilidades. Agora que sua mãe comentou, ele podia ver que o menor estava com um pata machucada, talvez ele tropeçara ou a prendera em algum lugar, já que ela estava dobrada em um ângulo inapropriado, possivelmente quebrada. Eles não sabiam quando o pequeno teria se machucado. Se fora a alguns dias atrás, a fratura estaria se recuperando agora. Quando a cicatrização estivesse completa, não seria possível colocar o membro no lugar sem uma nova fratura, o que causaria mais dor ao filhote. Ele provavelmente conseguiria capturar esse pequeno sem riscos, no entanto a coisa não seria tão simples com os outros dois. Eles estavam em uma postura bem protetiva e tensos, eles não seriam tão fáceis de capturar, e poderiam se ferir em sua investida – Shikamaru tinha certeza que eles tentariam um ataque. O problema com cervos era que eles eram mais rápidos que pessoas, já que possuiam pernas mais longas proporcionalmente, e ainda quatro delas, além de músculos mais preparados. Shikamaru poderia usar sua sombra para capturá-los, e ainda aproveitar as sombras da floresta a seu favor, e poderia tirar vantagem se os dois maiores viessem em sua direção. O risco, além de se acidentarem, seria se eles resolvessem atacar outra pessoa, algum dos irmãos da areia ou, mais provavelmente, sua mãe que estava agachada a frente.

– Seria bom se pudessemos ganhar a confiança deles, nem que fosse só um pouco, para que possamos tratar o menor.

– E o que você acha que eu estou fazendo, Shikamaru? – Bem, aquela voz gentil devia ser exclusividade dos cervos. Mesmo assim, Shikamaru não estava chateado. Ele ficava feliz que sua mãe se preocupasse com os compromissos da sua família.

– Eu não acho que eles virão até aqui. – Os irmãos da Suna estiveram assistindo silenciosamente o que se passava, até Temari se manifestar. Ambos os Nara se viraram para ela. Ela baixou levemente os olhos em um gesto de desculpa, mas prosseguiu com seu pensamento. – Eles estão com medo. Eles não virão aqui. Eles precisam comer de qualquer forma, não precisam?

Yoshino concordou com a cabeça. – O que você tem em mente?

– Me permite? – Temari estendeu a mão em direção a uma pequena sacola com folhas, líquens e pequenos brotos e rebentos. Yoshino assentiu e entregou a sacola a Temari.

Yoshino não gostava de ser contrariada, mas Shikamaru observou que ela parecia muito satisfeita com a interferência de Temari. Quem poderia entender as mulheres?

Temari pegou a sacola e começou a andar cerca de 30° a esquerda da direção que levaria ela direto até os gamos. Isso fazia com que ela se aproximasse deles, mas não diretamente, o que poderia evitar que eles se sentissem ameaçados. No entanto, facilitava muito a fuga se eles resolvessem fugir. Os três observavam ela avançar, atentos, assim como Shikamaru e os outros. Depois de uns 18 passos, o maior da direita se moveu como quem iria atacar. Temari parou de avançar e estendeu a mão.

– Calma! Calma... – ela se abaixou levemente, e tirou algumas folhas jovens da sacola – É comida, só isso. Viu? Eu não vou chegar perto de vocês. – Ela fez um movimento bem devagar para dar um passo. Ao ver que nenhum dos filhotes se moveu, ela voltou a andar, bem mais lentamente agora e levemente abaixada.

Sem que ele fosse consciente, Shikamaru abriu um pequeno sorriso orgulhoso. Parecia que Temari estava conseguindo ganhar alguma confiança deles.

Inesperadamente, o filhote maior da esquerda abaixou a cabeça. Isso era bom. Ele estava baixando um pouco sua guarda. O da direita deu um passo a frente, se posicionando na frente do pequeno e ficando ainda mais ereto. Isso era mau.

Temari diminuiu ainda mais a velocidade, os filhotes encarando-a fixamente agora. Eles não estavam mais preocupados com Shikamaru e os outros, que estavam mais distantes e não se moviam. Se ela conseguisse fazer com que o outro relaxasse também, ele poderia facilmente capturar os três.

Quando Temari atingiu em torno de 25 passos, o da esquerda deu um passo em direção a ela ainda com a cabeça baixa. Shikamaru teria ficado extremamente orgulhoso se o outro não tivesse se preparado para atacar, encarando Temari com raiva. Isso era muito mau. Ele poderia se machucar e ainda machucar Temari. Ele não podia permitir que isso acontecesse.

No entanto, Temari parece ter observado isso também, e parou de avançar. Ela se agachou bem lentamente, abriu a sacola e falou com uma voz bem calma. – É só comida. Pode pegar, eu não vou machucar vocês.

Muito calmamente, Temari começou a se levantar. Ao ver as escápulas do sobre-protetor se moverem com a tensão dos músculos, ela parou novamente. Depois de alguns segundos, ela só esticou a perna direita para trás, desistindo de se levantar mais e começando a retroceder. Depois que ela deu três passos para trás, o da esquerda deu um passo a mais em direção a sacola, e o outro ainda posicionado na frente do pequeno voltou a sua posição ereta e soltou um breve grunhido. O que avançou virou apenas a cabeça para ele, depois virou-se para a sacola de novo e começou a andar vagarosamente, com Temari ainda recuando.

Quando ele finalmente alcançou a sacola, Temari parou de se mover e deu um sorriso. Não era um sorriso orgulhoso ou convencido, era um sorriso de felicidade genuíno. Ela estava feliz pelo filhote. Shikamaru percebeu que ele também estava sorrindo, mas não soube dizer quando isso tinha acontecido.

Foi só então que Yoshino se manifestou. – Mas só ele vai comer. Precisamos dar para os outros. Especialmente o pequeno, que deve estar fraco.

– Ele vai levar lá – respondeu Temari.

Como se fosse para obedecer Temari, o que estava na sacola tinha cheirado, comido um pequeno broto e começara a puxar a sacola em direção aos outros dois. Yoshino também estava sorrindo agora.

– Precisamos que eles nos deixem chegar lá de qualquer forma, por causa do pequeno. – Adicionou Shikamaru. – Você acha que vamos conseguir agora?

– Pfff. Esquece. O Kankurou ali não vai deixar ninguém chegar perto, não. Pelos próximos anos. – Todos se viraram para o próprio Kankurou quando ele disse essas palavras. – Kankurou. O irritado ali. – Ele adicionou em explicação. – Temari é desconfiada das pessoas, não se aproxima facilmente, mas ela é corajosa suficiente para continuar tentando se isso for algo bom para os outros. – Ele disse, apontando para o que tinha buscado a sacola. – Kankurou por outro lado não confia em ninguém. Ele vai desmaiar de fome antes de deixar alguém se aproximar deles.

– Você acabou de dar nossos nomes aos gamos? – Temari falou incrédula.

– Isso faz de mim o pequeno machucado que precisa ser salvo? – Gaara perguntou em seguida.

– ... ãhnn... não… bem, é… ãhn… - Shikamaru sorriu de lado com a hesitação de Kankurou, mesmo que Gaara não parecesse ofendido como Temari soara incrédula. Ela, por sinal, parecia estar se segurando para não rir do seu irmão. Esse era um bom momento para ganhar pontos com o irmão mais desconfiado, e salvá-lo de uma situação constrangedora.

– Mesmo aqueles pequenos filhotes que precisam ser salvos podem se tornar grandes líderes no futuro. Olhe Rikumaru por exemplo. Ele estava dentro de um buraco que era o dobro de sua altura quando meu pai o salvou. Ele estava mal-nutrido, com sede, coberto de lesões, não conseguia nem chorar para pedir ajuda mais. Meu velho só o encontrou porque naquele dia estava chovendo muito, e ele ouviu um som incomum. Era o barro, muito aguado, caindo no buraco. Caso meu pai não estivesse o encontrado, ele possivelmente teria morrido soterrado, já que ele estava com as pernas enterradas. Hoje ele é um líder de manada, grande e forte. ... Ou pelo menos foi isso que me contaram.

– É verdade. – sua mãe confirmou – Shikaku me trouxe aquele filhote no colo, ambos completamente sujos de barro. Eu tive que dar mamadeira para ele por vários dias, e depois tratar a pele. Mesmo depois de cicatrizada, o pelo não crescia, e ele chorava. Ele se apegou ao Shikamaru depois disso.

Gaara abriu um pequeno sorriso olhando novamente para o pequeno gamo. Kankurou soltou o ar em alívio. Mas Temari foi quem trouxe a atenção do grupo de volta ao assunto principal.

– E então, o que vamos fazer com eles? Não podemos deixá-los assim, não é?

– Você acha que conseguiremos nos aproximar deles?

– Bem, eu acho que consigo fazer... ‘Temari’ se aproximar de mim. Já ‘Kankurou’ não acho que vá colaborar. Kankurou geralmente não colabora mesmo. – Céus, ela estava definitivamente implicando com o irmão.

Kankurou só suspirou. – Você acha que consegue segurar Temari se eu capturar Kankurou a força?

– Você pode machucar ele. – Shikamaru comentou.

– Tenho uma marionete própria para capturas. Consigo movê-la rapidamente, desmembrá-la e aprisionar alguém ou algo facilmente. Posso fazer sem ferí-lo, mas apenas um.

– Eu poderia usar minha areia também para ajudar.

Shikamaru pensou suas opções. Mas antes que pudesse comunicá-las, sua mãe tomou a frente.

– Certo. Temari-chan vai usar essa sacola com comidas para segurar Temari. – Elas sorriram uma para a outra – Kankurou-san irá pegar o pequeno Kankurou. Você, Shikamaru, vai pegar o pequeno e trazê-lo para mim, e vamos cuidar dele. Gaara-sama, se algum dos seus irmãos não for bem sucedido com sua captura, ajude eles. Tentem não machucar nenhum dos gamos, entendido?

Ao ver Temari se aproximando novamente dos filhotes, usando a mesma estratégia, e sua mãe um pouco atrás dela lhe ensinando a fazer os sons para atrair os cervos, Shikamaru pensou que as palavras de seu pai não poderiam ser mais verdadeiras. Não existiria nenhum homem se não fossem as mulheres. Homens não são bons sem mulheres por perto. Mais uma característica para a coleção de coisas que ele herdara de seu pai: o gosto por mulheres poderosas e bonitas. Não só isso, elas eram ainda mais lindas porque eram poderosas. E com que mulher ele fora se envolver. Que problemático.


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