Susan of Narnia escrita por SpaceSounds


Capítulo 5
Perdão


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Sem muita demora, aqui está o capítulo.

Antes de ler, aqui vai uma breve explicação relevante para esse capítulo:
A Abadia de Westminster é uma igreja que fica em Westminster, Londres, Inglaterra. Nela aconteceram vários casamentos da família real inglesa. Além de ser linda, já foi considerada uma das igrejas mais importantes da Inglaterra. Ela aqui só é citada e, apesar de para nós brasileiros não tem o mesmo impacto, para os ingleses ela tem certa importância. Então quando for citada, você já sabe.

Boa leitura!



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O escritório estava vazio, já que a maioria dos funcionários voltava para casa às 20h. Em sua sala Susana lia tudo que havia “deixado para depois”. Em meio a tantas festas e eventos ela havia acumulado muito trabalho. Depois de terminar, o que levou por volta de três horas, ela guardava suas coisas calmamente, pensando no que pediria para comer quando encontrasse com Dick e o seu irmão.

Apagando o abajur em sua mesa Susana viu a data de seu casamento circulada em seu calendário. Já era Abril. Faltavam apenas duas semanas para o grande dia e Susana sabia que deveria estar mais animada.

— É real... Vai acontecer... – Susana falava consigo mesma um tanto incrédula.

—-

— Como vão os negócios, Johnny? – Susana perguntou enquanto bebia seu chá gelado.

— Vão bem. Papai quer que eu me mude para Nova York, como vocês depois que se casarem. A empresa vai precisar de mais de um Showell para funcionar excelentemente.

John, ou Johnny, como todos o chamavam, era o irmão dois anos mais novo de Dick. Como o irmão mais velho, ele seguia os passos do pai. Era gentil e em geral calmo, principalmente quando comparado a Dick.

— E você? – Johnny tragou seu cigarro. – Como seus colegas de trabalho estão lidando com sua eminente partida?

— Susana avisou que sairia meses antes, Johnny. – Dick respondeu.

— Eles irão organizar uma festa de despedida. Vai ser divertido. – Susana respondeu.

— Deve ser estressante. – Johnny comentou. – Estar tão próximo do casamento.

Susana não chamava aquilo de estressante, somente um pouco desapontador. As memórias de Nárnia ainda estavam vivas em sua mente, entretanto ela tentava se conformar com o fato de que ela não poderia voltar. Então tudo parecia um pouco sem sentido. Nárnia parecia chamá-la, mas ela não poderia voltar.

— Susana aguenta muita coisa, não é baby? – Dick sorriu para a noiva.

Susana sorriu de volta e ele beijou seu rosto.

—-

Uma semana se passou e Susana encontrava-se cada vez menos focada nas coisas que normalmente prendiam sua atenção. Seus encontros com Dick eram menos frequentes, ela havia faltado festas e não estava tão interessada nos últimos detalhes de seu casamento.

Naquela tarde ela tomava chá com sua futura sogra, na casa dos Showell, que não escondia sua insatisfação com o comportamento da jovem. Estava achando que ela estava pensativa ao ponto de irritar, além de indiferente a coisas “importantes”. Como quem deveria sentar em qual mesa.

— Susana! – ela gritou, quando notou que a futura nora não prestava atenção.

— Ah... Perdoe-me. – Susana ficou extremamente constrangida.

— O que está acontecendo?

— O que quer dizer?

— Você sabe muito bem. De repente você nem parece a mesma menina que eu conheci. O que faz você ficar tão indiferente com algo tão importante quanto seu casamento?

— Indiferente?

— Sim. – Gertrude revirou os olhos, irritada.

— Sinto muitíssimo, senhora Showell. Eu só... Tive uma semana cansativa.

— Cansativa? Cansativa ao ponto de tirar toda sua atenção?

Susana queria ir embora. Estava cansada das expectativas de Gertrude, mas seria rude simplesmente levantar e ir embora. Além disso, ela seria parte daquela família em breve, não poderia prejudicar seu relacionamento com a mãe de seu noivo daquela maneira.

— Não acontecerá novamente. Vamos passar pela organização das mesas mais uma vez. – Susana insistiu com um sorriso.

—-

Ainda na última semana antes do o casamento, Susana visitou a igreja em que se casaria, para ver o local de perto pela primeira vez. Era uma grande igreja em Londres, não como a Abadia de Westminster, mas era maior que muitas outras.

Do lado de dentro tinha um teto extremamente alto e lindos detalhes no mesmo. Haviam também vitrais distribuídos por todo o local. Eles eram a parte favorita de Susana. Imagens e mais imagens coloridas iluminando o local e dando um ar belíssimo.

Susana sentou em um dos bancos de madeira. Olhou para o altar, onde ela estaria com Dick em alguns dias. Ela se imaginou com seu vestido branco com detalhes em renda nos ombros, as lindas jóias que havia escolhido com Gertrude e seu batom vermelho. Dick em seu lindo smoking e cabelo perfeitamente alinhado. Nem aquilo animou Susana, ela estava triste demais.

Normalmente, quando ficava chateada, ela falaria com os irmãos. Edmundo, por exemplo, apesar de algumas vezes não ser extremamente paciente, sempre parecia ter um conselho sincero. Ou iria para sua mãe, que ouvia tudo calmamente e sempre fazia com que ela se sentisse melhor.

— Olá, senhorita. – disse uma voz desconhecida.

— Oh, olá. – ela levou um susto.

Quando Susana olhou para o dono da voz viu um garoto que parecia um ministro, vestido com roupas de igreja escuras, óculos um tanto antiquados e um olhar alegre. Parecia ter a idade de Susana.

— O culto começa somente às seis. – ele avisou. – Mas... Eu diria que sua visita tem outro motivo.

— Sim, eu vim olhar o local. Irei me casar aqui semana que vem. – ela disse, tentando soar orgulhosa e percebendo que falhara.

— Então a senhorita é a jovem do casamento.

— O que faz aqui? – ela perguntou por curiosidade. – O senhor acabou de me dizer que o culto será somente às seis.

— Eu limpo a igreja. – ele disse mostrando a vassoura em sua mão.

— Ah, eu estou atrapalhando?

— Não, claro que não. Eu estava limpando desde que a senhorita chegou.

— Desculpe. Não notei sua presença.

O garoto deixou a vassoura de lado por um tempo, apoiando num banco.

— Notei que a senhorita parece triste.

— Pareço? Isso é indelicado, não acha...

— Isaac. Meu nome é Isaac. E sim a senhorita está certa. Eu poderia ser mais educado às vezes.

Susana riu.

— Você se importaria de me ouvir? Somente um minuto?

— Ah... Não. Já terminei de varrer. – ele sentou-se ao lado dela, mantendo certa distância.

Susana sorriu brevemente para o jovem. Ele não era exatamente bonito. Tinha um nariz meio torto e dentes grandes demais.

— Eu só preciso dizer isso, quer dizer... Para alguém que não sou eu.

Isaac a olhou confuso.

— Não quero passar o resto da minha vida sabendo que eu não sou feliz e nem poderei mais ser.

— Não poderá mais?

— Não.

— Como sabe disso?

— Eu fui avisada de que não voltaria a um lugar muito importante pra mim. – ela segurou o choro. – Seria impossível.

— Pode ser impossível para você. Mas nem tudo que é impossível para alguém é impossível como um todo, entende?

Susana fez que não.

— E se a pessoa que me disse isso tivesse o poder para determinar isso?

— Então ela teria poder para desfazer também. Peça para voltar. – Isaac disse um tanto preocupado com Susana.

— E se eu errei? Errei e magoei a pessoa que me dá permissão de voltar para lá?

— Basta pedir perdão. – ele sorriu de maneira confortante. – Se for para você retornar essa pessoa levará isso em consideração. Mas se não for bom para você voltar então pelo menos você se reconciliou.

Susana o olhou como se ouvisse o relato de um milagre.

— O que? – ele perguntou confuso.

— Isaac. Muito obrigada. – ela sorriu e beijou o rosto dele saindo.

Susana correu para casa. Estava com pressa então simplesmente pegou um ônibus. O que Isaac havia dito parecia fazer todo sentido do mundo, e ela se perguntou como não pensara nisso sozinha.

Uma vez sozinho de novo, Isaac pegou sua vassoura e sorriu, entrando pela porta de onde tinha saído.

Pensando em Aslam, Susana sentiu lágrimas escorrerem nas suas bochechas, apesar de lutar ao máximo para que aquilo não acontecesse. O vento fresco de Abril soprava forte, entrando pelas janelas do ônibus, bagunçando seu cabelo e mexendo suas roupas.

— Aslam... – ela disse baixo. – Talvez você não possa me ouvir, mas se pode... Desculpe. Eu errei.

O vento estava tão forte que ela pode falar um pouco mais alto.

— Eu errei. Mas me arrependi. Desculpe.

Susana fechou os olhos e sentiu o vento bater contra seu rosto. Um sorriso se estampou em sua face, pois toda a tristeza que ela sentia foi embora. Mesmo sabendo que não voltaria a Nárnia. Mesmo sabendo que seus irmãos morreram sem poder contar com ela. Não importava. Ela sabia que se Aslam a ouvisse lhe perdoaria. Sabia que se seus irmãos pudessem a ouvir, lhe perdoariam. E ela também se perdoava.

E aquilo foi o bastante.


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Notas finais do capítulo

Estamos chegando ao fim...

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