It's such a shame for us to part

Nobody said it was easy

No one ever said it would be so hard

A vida de Sakura girava em torno de rotinas e aparências.

Ela acordava todos os dias sentindo a mesma coisa: nada. Se levantava, se despia, se vestia, não se reconhecia. Sua casa, seu corpo, seu mundo era um eterno borrão preto e branco que ela mal notava.

Vivia de fingir sorrisos e sentimentos que não lhe eram familiares. Não mais.

Ela passava por pessoas, lugares, recebia saudações e permanecia focada no que estava a sua frente. No que ela também não era capaz de enxergar. E nem de querer enxergar.

Sakura só reconhecia uma única coisa em sua vida. O buraco enorme e profundo que havia em seu peito. Aquela sensação de vazio que ameaçava engolir sua existência até que ela não quisesse nem mesmo respirar.

Ninguém poderia acusa-la de não tentar seguir em frente. De não conseguir ignorar o que acontecera. Porque ela tentara, e Deus sabia o quanto. Até que num momento de epifania ela percebera, e rira em desgraça, não dava para continuar. Só dava para parar.

Ela era forte, sem dúvida alguma, mas ela não queria ser.

Doía demais.

E tudo o que ela queria era continuar se sentindo anestesiada o suficiente.

Uchiha Sasuke fora embora e levara com ele tudo o que ela tinha, tudo o que ela era, tudo o que ela queria ser. Não sobrara nada.

Ela se lembrava muito bem do dia que ele partiu. Bem demais. Se lembrava da dor, das lágrimas, do seu coração que se apertava e parecia bater mais devagar a cada minuto que ele afastava mais e mais da sua vida.

Sakura só queria gritar. Gritar até perder a voz, até que seu corpo parasse de responder. Ela não aguentava mais. Parecia um pesadelo interminável. Ela só queria parar de sentir.

Amor era a força motriz de sua vida. Para o bem ou para o mal. Ele era o que lhe dava forças e ao mesmo tempo o que lhe deixava no chão, parecendo um boneco sem vida. Era a coisa mais nociva de sua vida.

Ela se perguntava como as pessoas conseguiam ser felizes com um sentimento desses.

Em um dia ela percebeu que não conseguia mais chorar. Não conseguia se importar. Não doía mais porque não tinha mais como doer. Entorpecida, ela se maravilhava. Ou o mais próximo disso que conseguia. Acabou.

Sakura era médica, sabia muito bem que isso era depressão.

Ela só não conseguia se importar.

Ela se olhava no espelho. Olhava para as fotos espalhadas em sua casa. Estranhava. Quem era Haruno Sakura, a garota feliz que lhe encarava por todos os lugares ou a mulher angustiada que não tinha brilho algum nos olhos?

Tirou então todos os espelhos e fotografias de sua casa. Ela não sabia a resposta e isso lhe ameaçava de alguma forma.

Demorou anos, mas finalmente construiu uma muralha protegendo seu coração. Se acostumou a não sentir nada. E começou a gostar da sensação. De olhar para o nada, ver o nada e sentir o nada.

Ela achou, sinceramente, que nada mais poderia lhe alcançar.

Era um ser ininteligível num mundo de sensações.

Mas ela se enganara. Como se enganara.

Era um dia qualquer. Sakura estava apenas pegando uma roupa qualquer em seu armário quando um movimento qualquer lhe chamou a atenção. Ela não entendeu como e porque lhe chamara a atenção. Anos depois ela culparia a vida, mexendo seus pauzinhos a seu favor.

Era um papel caindo e rodopiando até finalmente alcançar o chão.

Era uma foto, na verdade.

Sakura encarou o objeto sentindo absolutamente nada, demonstrando um total de zero sensações. Se abaixou para pegar a fotografia, segurou-a firmemente e continuou encarando-a.

E, então, ela começou a sentir demais.

Tudo lhe atingiu de forma surreal, como mil socos na barriga. Era quase físico.

Ela se assustou quando percebeu que estava chorando. Ela se desesperou. E começou a soluçar. Não.

Era muita coisa ao mesmo tempo. Ela poderia ter se afogado com todos os sentimentos que lhe tomaram. Toda a voracidade dos mesmos. Mágoa, saudade, nostalgia. Amor.

Doeu demais. E ela já tinha se esquecido de como era sentir a dor.

Ela perdeu as forças nas pernas e se deixou cair no chão, as mãos na boca e as lágrimas a escorrerem.

Haruno Sakura se sentiu viva depois de muito tempo.

A foto. Aquela foto. A única que eles já tinham tirado.

Ela só conseguia sentir. Muita coisa, muito intensamente.

Ela sentiu felicidade. Deus, felicidade. Ela achou que nunca mais sentiria isso na vida.

Sakura percebeu que conseguia pensar. Pensar no que ela quisesse, não só no vazio. Percebeu que estava fazendo a pior coisa de sua vida. Tomando as piores decisões. Sendo o que ela não queria.

Ela entendia que não dava para seguir em frente. Para continuar.

Ela só percebeu que não era isso o que precisava fazer.

Voltar para o começo. Era esse o ponto.

Ver aquela foto, aquele momento, a sua felicidade escancarada, o sorriso dele, lhe deu uma nova perspectiva.

Ela queria tentar de novo.

Tentar de novo. E de novo. Quantas vezes fossem necessárias.

Porque ela precisava de Uchiha Sasuke na sua vida.

I'm going back to the start