" Estava em uma floresta que me parecia familiar demais. Era noite e nenhum som era emitido, apenas do vento. Algo dentro de mim me fez ficar alerta. E uma sensação de claustrofobia me atingiu.
– Olá? - chamei por alguém. Mas não fui respondido.
Comecei a andar para fora daquele lugar, eu sentia a magia forte em minhas mãos, pronto para atacar qualquer coisa que fosse suspeita.
Mais a frente eu avistei uma cidade, uma cidade um tanto conhecida... Era Mystic Falls. Mas... Cadê os carros? As pessoas? Animais ou até mesmo barulho?
Eu comecei a arfar... Procurei em cada lugar a minha frente por ao menos uma alma viva. Mas não havia ninguém. Não havia nada. Apenas eu novamente.
Somente eu.
Preso de novo.
Por mais 20 anos... Talvez pela eternidade inteira.
Eu não podia ter voltado! Como eu havia voltado?
Eu estava bem em Mystic Falls, estava com a minha vida finalmente feita... Como?!
Corri até minha casa, vazia... Sem ninguém. Antes tão cheia de vida... Música, vozes, risadas...
– Não... Não... NÃOOOO! "
– Kai! Kai, acorda!
Abri meus olhos assustado, as lágrimas saindo dos meus olhos e minha respiração acelerada. Olhei em volta e fiquei um pouco mais aliviado. Estava em meu quarto, seguro, havia um barulho de cachorro latindo, pessoas falando na rua. Olhei para o lado e a vi. Então todo o medo e desespero desapareceu. A puxei para um abraço apertado e beijei sua testa, fazia isso como se minha vida dependesse disso.
– Kai, meu amor. Aquele pesadelo de novo? - a voz dela era música para meus ouvidos. Ela se desvencilhou de meu abraço e tocou meu rosto.
– Foi. Aquele maldito pesadelo de novo. - falei de olhos fechados aproveitando o calor e a maciez de sua mão.
– Está tudo bem. Estou aqui com você. Você não está mais sozinho.
Ela me abraçou e eu fiquei mais calmo. Apenas ela tinha esse poder de me fazer acreditar que tudo estava realmente bem.
– Bonnie, estou com medo. - confessei.
– De quê? - ela mexia em meus cabelos e beijava minha testa.
– E se tudo isso é só um sonho? E se nada do que estou vivendo é real? E se no final eu só estou preso naquele lugar e estou finalmente enlouquecendo de vez?
– Você está bem aqui. Comigo. Seguro e não está sozinho. Você sempre será louco - ela riu e eu revirei os olhos -, mas acredite em mim. Tudo aqui é real.
Eu me virei de frente à ela e vi seu sorriso que era apenas para mim.
Eu jamais iria cansar de receber esses sorrisos. Mas algo clicou em minha cabeça.
– Sheilla...
– Ela está bem e no quarto dela. - falou sorrindo.
Me levantei correndo e fui ao quarto ao lado. Abri a porta e suspirei aliviado. Lá estava minha garotinha. Me aproximei lentamente até a cama onde dormia uma linda menininha de 4 anos. Sentei em sua cama e ela se remexeu. Coloquei a mão em seu ombro e ela despertou.
– Papai? - ela chamou com a voz arrastada de sono.
Eu sorri ao ouvir minha filha. Minha filha... Sheilla Bennett Parker. Minha filha com a mulher da minha vida.
– Estou aqui. - falei e ela se virou. Aqueles olhos verdes como os da mãe. As bochechas rosadas e a pele clara como a minha. Mas os cabelos longos e cacheados como os de Bonnie também.
– Está tudo bem papai? - ela perguntou e se soltou de Mr. Cuddles para me abraçar.
– Está sim princesa. Volta a dormir okay? - a apertei e depois ela se deitou de novo. Ajeitei sua coberta e beijei sua testa. Só sai quando tive certeza de que estava dormindo de novo.
Voltei para meu quarto e fui recebido por um abraço apertado e um corpo pequeno se chocar com o meu. A levantei pela cintura e ela enlaçou minha cintura com suas pernas. Ela me olhava calada.
– O que foi? - perguntei mexendo em seu cabelo agora longo.
– Nada. Só estou procurando algum motivo que tenha feito eu me apaixonar por você.
– Hmm, meu charme, minhas piadas...
– Que são péssimas e apenas você e Sheilla riem.
– Ela tem senso de humor. O que posso fazer se a mãe dela não tem? - ela me bateu e eu ri.
– Você está tão diferente do que era. - Bonnie me olhava orgulhosa.
– Graças a você. Se não fosse por você eu nunca teria motivos para mudar. - confessei e a beijei.
– Eu te odiava...
– Nunca consegui te odiar... Nem mesmo quando me deixou lá. Eu ficava todos os dias tentando te odiar. Mas eu só conseguia me lembrar dos seus olhos, sua voz, seu rosto... E pensar em como você é linda. O quão arrependido eu me sentia, culpado por tudo o que te fiz... Eu cheguei a chorar uma vez por causa disso. - revirei os olhos - Você me transformou em um maricas.
– Não estrague o clima. - ela esbravejou - Continua.
– Mas é verdade. Eu poderia muito bem deixar os sentimentos de Luke de lado. Poderia ser o que sempre fui, mas era só eu pensar em você que tudo desmoronou. Eu me vi querendo ser alguém melhor por você. Para conseguir seu perdão. Para de alguma forma, ter você.
– Eu me senti culpada por te deixar lá. Puxa! Eu te odiava demais! - ela estava eufórica e eu ri - Mas... Eu me lembrava todos os dias do seu desespero. Das suas palavras. Até que eu fui te buscar.
– E eu nunca me senti tão feliz até aquele momento. Mas era só a primeira felicidade que você me daria. - encostei minha testa na dela e ela fechou os olhos - Saímos de lá e eu estava disposto a tudo para te conquistar.
– Aos poucos conseguiu.
– Aos poucos consegui. Mas bem aos poucos. Primeiro o seu perdão, depois sua amizade, depois sua confiança, depois sua paixão e finalmente seu amor.
– Quando você falou que estava apaixonado por mim eu quase infartei!
– Eu quis falar desde o momento em que você foi lá para me tirar se lá. Mas eu não podia te assustar. Mas quando eu te vi... Era como se eu sentisse em cada célula que você seria minha salvação, algo muito além do que eu jamais mereci.
– Acabei me apaixonando por você mesmo não querendo. E te amei, e te amo e sei que vou te amar para sempre! - ela me beijou e afundou as mãos em meus cabelos.
– Eu amo você. - falei e ela me olhou emocionada - Que foi?
– Nada, é que...
– Eu quase não falo não é? - ela assentiu - Eu sei, mas eu te amo Bonnie, você e Sheilla são minha vida. Sabe disso não é? Eu jamais vou deixar nada de ruim acontecer com vocês, as protegerei para sempre. Eu sou o Demônio em pessoa lembra? - pisquei e ela estremeceu.
– Não gosto quando fala assim de você.
Sorri de lado e ela relaxou. Mesmo sendo apaixonado por minha esposa e minha filha, mesmo elas tendo despertados sentimentos e coisas boas em mim, me tornado bom... Eu ainda era o mesmo Kai para quem ameaçasse perigo a elas. Eu era bom agora. Mas sempre teria um lado mau, mesmo que pequeno, mas ainda sim mortal.
Deitei novamente na cama com minha bruxinha deitada em mim e me permiti relaxar. Ela entrelaçou nosso dedos, beijei sua testa e apertei meu abraço em sua cintura. Aos poucos eu ia adormecendo com a certeza de que nenhum pesadelo iria me atormentar por mais um tempo, eu sabia disso pelo simples motivo. Bonnie estava lá para e por mim. Assim como eu sempre estaria por ela.