O único som ouvido era o dos talheres subindo e descendo, dos pratos e tigelas a boca. Steve dá um – leve – chute na perna da esposa por baixo da mesa, fazendo Natasha lhe lançar um olhar fulminante. Ele ignora isso e inclina levemente a cabeça em direção aos gêmeos, que tomavam o café da manhã completamente alheios ao que acontecia ao redor.

  Natasha ergue um pouco os ombros como se dissesse: “você quer que eu diga o quê?” Steve revira os olhos. Já haviam se passado duas semanas desde a chegada dos gêmeos e nenhum progresso havia sido feito. Natasha até tentara uma reaproximação e aparentemente estava conseguindo algum avanço com o irmão caçula, mas bastou uma olhada torta de Wanda e o garoto voltou a se afastar.

“Ela não está cumprindo com a parte dela no acordo!” Natasha havia reclamado para Steve na noite anterior. Steve não discordara, contudo, deixou claro que era tudo novo e muito mais difícil para a cunhada.

“Então...” Steve começa “... tudo pronto para o segundo semestre?”.

“Acho que sim.” Pietro responde olhando a irmã que faz cara de pensativa.

“Provavelmente estaremos atrasados em relação aos outros alunos, mas acho que a gente consegue acompanhar.” Wanda completa.

Natasha fuzila Steve novamente. Com ele, Wanda conversava sem ressalvas.

“Vocês preferem ir de carro ou...?”

“Vamos de metrô. Quanto antes aprendermos a nos virar aqui, melhor.” Pietro concorda com a irmã.

“Então melhor vocês irem andando.” Natasha sugere olhando para o relógio que estava na parede. Steve arregala os olhos e faz cara feia. “O que?” ela pergunta confusa.

Ele balança a cabeça diante da falta de tato da mulher.

“Melhor mesmo.” Wanda concorda e lança um olhar nada amistoso para a irmã.

Os gêmeos se levantam rapidamente e vão em direção ao seu quarto.

“Por que você disse isso?” Steve questiona.

“Você quer que eles cheguem atrasados no primeiro dia?” retruca.

“Não! Mas você podia ter aproveitado para entrar na conversa. Dar umas dicas, acalma-los, sei lá!” Steve responde como se fosse obvio.

“Desculpe okay?” Nat pede num misto de frustração e irritação. Steve apenas suspira e se levanta, recolhendo os pratos da mesa. Natasha o ajuda.

“Bom, desejem-nos sorte!” Wanda diz ao chegar à cozinha.

“Vai dar tudo certo!” Steve afirma, abraçando a cunhada e dando um tapinha no cunhado.

“Vocês vão se sair muito bem.” Natasha diz, de forma nada convincente, quando o marido lhe lança um olhar de incentivo.

“Obrigada.” Ambos respondem. Pietro dá um sorriso de lado para a irmã mais velha, que devolve sem hesitar. Pelo menos Pietro gostava dela.

“Estou vendo um pequeno progresso?” Steve pergunta fingindo surpresa. Nat revira os olhos.

“Não adianta conquistar o Pietro se a Wanda continuar me odiando. Ele nunca ficaria ao meu lado se ela estiver contra mim.”

“Ela não te odeia.” Steve afirma.

“Como você pode ter tanta certeza?”

“Ela só está magoada.”

“Boa tentativa.”

“É sério!” Steve se aproxima da esposa “eu conversei com ela há alguns dias e ela disse que quando a mãe dela morreu, ela achou que você voltaria. Voltaria para ficar com eles.”.

Natasha encara os olhos azuis do marido... Ela devia ter voltado.

“Agora é um pouco tarde para me arrepender, não?”

“Infelizmente sim.” O loiro tira o avental. “Mas você vai conseguir. Sei que vai.” Ele dá um beijo rápido na esposa e sai.

Não havia muito que Natasha pudesse fazer naquele momento. Sua vida parecia uma montanha russa, onde constantemente ela entrava em looping.

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Brockarrastava a mala atrás de si, com passos largos em direção à mulher que esperava na fila de embarque com uma revista na mão. Ela virava distraidamente as paginas, sem parecer vê-las realmente.

“Tudo o que você pediu está aqui.” Ele informa e põe a mala entre ele e a mulher que ergue o rosto lentamente e o observa.

“Assim espero.” Sua voz soa cansada.

Brock engole sua imensa vontade de estrangula-la ali mesmo.

“Não adianta me olhar assim querido, você sabe de toda a pressão pela qual estou passando. Eu não posso admitir falhas.”

“E quando foi que eu falhei?” retruca.

“Você tem sido muito útil e prestativo mesmo. Isso tenho de admitir.” Ela sorri docemente.

“Melhor ir, antes que perca seu voo.” Ele avisa, quando ouve a chamada para o embarque.

“Até mais querido.” Ela sorri brevemente para o homem que com a mesma rapidez com a qual surgiu, desaparece no imenso saguão lotado.

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“Eu tô começando a me sentir em casa aqui.” Clint comenta se esparramando no sofá do escritório de Natasha. Ele põe os pés sobre a mesinha no centro displicentemente.

“Tira as patas querido.” Pepper fala dando alguns tapinhas nas pernas dele, que faz cara de ofendido.

“Afinal, que diabos você tá fazendo aqui? Pensei que a Nat tivesse dito que quando soubesse de algo te chamaria.”

“Verdade, mas até agora ela não entrou em contato. Achei que ela estivesse me ignorando.”

“Ou talvez só não tenha nenhuma novidade. Essa possibilidade passou pela sua cabeça?” Sugere a loira.

“Na verdade, passou sim. Mas eu realmente gosto daqui.” Ele ignora a revirada de olhos de Pepper. “Gosto de vocês!” exclama.

“Humrum.”

“Bom dia Pepper!” Maria e Natasha cumprimentam a loira em uníssono. “e o que essa coisa tá fazendo aqui?” Nat questiona.

“Bom dia para você também.” Clint diz ignorando a cara feia de Natasha. “Vim te contar as novidades...”.

“Eu te disse que quando tivesse alguma novidade eu...” a ruiva para quando percebe o que Clint havia dito. “Você tem novidades?” pergunta incrédula.

“Sua confiança em mim me emociona.” Devolve irônico. “sim, eu tenho algumas informações que acho que devem ser bastante uteis.”

“E tá esperando o que para começar a contar?” quem pergunta dessa vez é Pepper.

“Certo, certo!” ele se inclina para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Natasha e Pepper automaticamente se inclinam para frente também, ansiosas, Maria permanece em pé. “acho melhor você sentar também.” Sugere olhando para Maria.

“Estou ótima em pé. Obrigada.” Retruca.

“Como desejar.” Ele suspira. “como ainda não sabemos nada sobre a tal Harrison, quem é ela, onde mora, o que ela quer, eu decidi seguir a única pessoa que poderia nos levar a ela, uma vez que o Jeremy não foi muito útil.” ele respira fundo. “no começo não deu muito resultado, ele não fazia nada suspeito. Mas na semana passada, ele se encontrou com uma pessoa, num barzinho de quinta.”

As três mulheres permaneciam impassíveis.

“Infelizmente, nós fomos parceiros em algumas missões da CIA, então eu não podia me aproximar sem correr o risco de ser reconhecido. Mas consegui isso.” Ele retira um envelope de dentro da mochila e o abre, depositando sobre a mesa seu conteúdo.

 As fotos se espalham e Natasha e Pepper começam a analisa-las cuidadosamente.

“Espera!” Pepper exclama assustada. “O que você estava fazendo com o Brock?!” Natasha e Clint encaram Maria, que continuava impassível diante da pergunta de Pepper.

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“Eu realmente não sei mais o que fazer para aproximar aqueles três!” Steve parecia querer descontar sua frustração nos nabos a sua frente.

“Que tal parar de interferir e deixá-los tentarem por si só?” Bucky sugere inocentemente.

Steve lhe fuzila com os olhos. Para Bucky tudo era sempre muito simples.

“Você não entende...” ele suspira “a Nat não consegue ser... legal, com irmãos. Cada comentário dela sugere que a presença deles é indesejada e mesmo eu sabendo que não é intencional, os gêmeos não sabem.”

“Humm...”

“Você não dá a mínima né?”

“Não é isso cara, mas eu só conheço a Nat, fica meio difícil opinar sem conhecer os outros envolvidos.” Defende-se.

“Mas eu já te contei tudo sobre eles.”

“Você contar é uma coisa, eu conhecer outra.” Bucky diz o óbvio. “gosto de tirar minhas próprias conclusões.”

“Eu bem sei.”

“Não me venha com indiretas.”

“Não foi uma indireta.” Agora quem se defende é Steve. “enfim, você pode ir lá em casa.” Steve convida.

“Não.” Bucky pensa um pouco. “Talvez o problema seja esse. Na sua casa, a conversa fica limitada, o melhor é tira-los de casa. Um programa entre irmãos, descontraído. Por que você não os traz para jantar aqui?” sugere.

O semblante de Steve se ilumina com a sugestão. Até aquele momento, os gêmeos ainda não tinham saído de casa para explorar a cidade. Primeiro foram os dias de luto, depois toda a burocracia envolvendo as questões judiciais, da mudança de cidade, escola. Seria uma excelente oportunidade de aproximação para os irmãos Romanoff.

“E a melhor parte, você não vai poder ficar dando palpite ou se metendo o tempo todo.” Bucky comenta e Steve engole o elogio que estava prestes a fazer ao amigo.

“Ha HaHa, muito engraçado.” Debocha Steve “de qualquer forma, obrigada pela ideia.”.

“Estou aqui para isso.”

“Bom dia!” Sharon cumprimenta educada, se aproximando.

“Bom dia.” Os dois cumprimentam em uníssono.

“O Sam pediu que você revisasse o cardápio para hoje à noite. Parece que não encontraram salmão de qualidade.” Ela confidencia para os dois num sussurro.

“Nessa época é meio difícil encontrar mesmo.” Steve divaga.

“O ideal seria você planejar, ainda que por cima, o prato especial da semana toda.”

“Você tem razão Sharon, obrigada.” Steve agradece ainda analisando os pratos sugeridos por Sam.

“Hum, gostei desse.” Bucky comenta apontando para um nome esquisito no cardápio. “acho que seus cunhados poderiam gostar.”

“É, pode ser. A Nat gosta bastante desse.” Concorda Steve.

“Então teremos clientes especiais hoje?” Sharon questiona curiosa.

“Não, hoje não.” Steve responde.

“Hum... certo. Avise-me quando então, para reservar um lugar legal no restaurante.” Avisa solícita.

“Obrigada Sharon.” Steve agradece dessa vez olhando a garota.

“Só estou fazendo o meu trabalho.” Dá de ombros e se retira, levando o cardápio com as alterações de Steve para Sam.

“Só estou fazendo o meu trabalho.” Bucky repete numa falha imitação da voz de Sharon. Steve ri sem querer.

“Não seja assim.”

“Assim como?”

“Assim, tão rabugento.”

Bucky revira os olhos e ignora o amigo. Ele havia prometido a si mesmo não mais se meter, mas Sharon definitivamente lhe tirava do sério.

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“Maria, o que é isso?” Natasha pergunta.

Maria continuava encarando os outros três. Seus olhos pousam sobre Clint quando ela fala.

“Você é muito escroto!” exclama. 

“Eu?! Você se encontra com o cara que está tramando contra sua amiga e eu sou o escroto?” bufa incrédulo.

“Ridículo!” Maria treme de irritação. “você sabia a todo o momento que era eu e ao invés de vim até mim, preferiu me incriminar na frente das minhas amigas!”

“Eu gosto de preto no branco. Se você não tem nada a temer, por que suas amigas não podem saber do seu encontro?”

“Pro inferno você!” ela praticamente cospe as palavras. “Eu realmente me encontrei com o Brock. Tentei tirar alguma informação dele, mas... não tinha como conseguir muita coisa sem mostrar que eu sei no que ele está envolvido.” Admite.

“Eu não estou entendendo.” Pepper comenta.

“Quando eu descobri que o Brock estava envolvido, me perguntei se ele não sabia que a Nat é minha colega de trabalho. Fiquei com isso martelando algum tempo e decidi que a única forma de saber, seria ir diretamente à fonte.” Ela se senta na poltrona. “marquei um encontro com ele e bom, não foi nada do que eu esperava. Ele achou que eu estava indo atrás de uma reconciliação e quando eu fiz algumas perguntas sobre o que ele tem feito, ele simplesmente me disse que não era dá minha conta e que eu devia parar de me meter onde não me convinha.”

“Isso não quer dizer que ele não saiba que você e a Nat são colegas.”

“Ele ainda acha que eu sou da CIA.” Admite “ele foi categórico em demonstrar sua repulsa pela sua ex agencia.”.

“Então ele não faz ideia de que você sabe no que ele está metido?” Pepper continua a fazer as perguntas enquanto Natasha e Clint continuavam apenas absorvendo as informações.

“Ao que me parece, eles focaram tanto em descobrir se a Nat ainda está trabalhando, que não se preocuparam em saber com quem ela trabalha. Acho que eles não fazem a mínima ideia sobre nós.” Completa.

“Isso é bom.” Pepper afirma. “Nos dá alguma vantagem.”

“Na verdade” Clint se intromete pela primeira vez “Ele sabe de vocês sim.”.

“O quê?!” Maria retruca entre irritada e surpresa.

“Tinha mais alguém vigiando vocês, além de mim.” Ele abre um segundo envelope e de dentro tira uma fotografia. A resolução não era muito boa, mas todos sabiam quem era a pessoa que estava nela.

“Então essa é a Harrison?” Natasha pergunta, memorizando cada detalhe do rosto que aparecia naquela foto.