My name is Max escrita por Pamisa Chan


Capítulo 1
Meu nome é Max


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Se tiver algum furo, é porque ainda não terminei de ver o quarto episódio.Pode conter spoilers sobre os quatro primeiros episódios do jogo.Boa leitura. Digam o que acharam!



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"Se você está lendo isso agora, é porque meu plano deu certo. Você não sabe quem sou eu. Mas vou me apresentar."

Chloe lia a carta, sem entender. A verdadeira Chloe, aquela, de cabelos azuis. Aquela, durona. Aquela, revoltada pela morte do pai e por ter um padrasto horrível. A Chloe que pode andar, respirar e se alimentar por conta própria. Voltou seus olhos novamente às trêmulas letras manuscritas.

"Meu nome é Maxine Caulfield. Eu seria sua melhor amiga. Eu pararia de falar com você por muito tempo, mandando só alguma carta de vez em quando. Como esta. Não, bem menos elaborada que esta. Mas, depois de muito tempo, depois de você seguir sua vida, com novas pessoas, um novo estilo de vida, eu voltaria para Arcadia Bay, pra te ver de novo. Nós voltaríamos a ser melhores amigas, depois de sua melhor amiga, que você amava mais que tudo ser sequestrada. Veríamos o pôr do sol juntas. Eu te contaria sobre meus poderes. Sim, eu tenho poderes. Você amaria eles. Mas não antes de me exigir muitas e muitas provas. Você tentaria abusar desses poderes. Se irritaria comigo se eu não fizesse as coisas como você quer. Você é assim, não é... Chloe Price?"

A moça dos cabelos azuis arregalou os olhos ao ler aquilo. Estava confusa. Sentia algum tipo de aperto no coração. Não entendia porquê. Não entendia o que estava se passando. Deu uma tragada em seu cigarro e voltou a ler.

"Agora você deve estar fumando, não é mesmo? É o que você faz quando está sozinha no seu quarto, no segundo andar. Eu poderia estar aí com você. Seu padrasto subiria até seu quarto, reclamando da música alta. Eu poderia me esconder no seu armário. Ou poderia ficar ao seu lado. Você tentaria dizer que a erva em cima da mesa é minha. E eu provavelmente confirmaria, tudo para não te prejudicar. Ele me ameaçaria de contar sobre o caso para o diretor do colégio onde eu faço faculdade de fotografia, Academia Blackwell. Onde, aliás, ele trabalha como segurança."

Chloe se sentia aterrorizada com as informações contidas na carta. Todas eram muito verídicas, como a localização de seu quarto, o fato de ela estar fumando e seu cigarro de cannabis estar sobre a mesa do quarto, o fato de seu padrasto ser segurança na Academia Blackwell. Ela não compreendia o que estava acontecendo. Todas aquelas descrições. O tempo verbal. "Seria", "Voltaríamos", "Amaria". Histórias tão detalhadas e vívidas, e que lhe davam, bem no fundo, de forma obscura, uma sensação de déjà vu. Chloe resolveu ligar o rádio. Ouvia música quando se sentia tensa. Antes de fazer qualquer movimento, porém, lembrou-se do que lera na carta sobre David subir ao quarto e reclamar da música. Hesitou. Em questão de segundos, escutou o carro de seu padrasto entrando na garagem. Sequer saiu da cama. Deitou-se num travesseiro velho e voltou a ler.

"Aliás, deixe-me te contar novamente sobre meu poder. Eu descobri ele por sua causa, aliás. Mas explico isso depois. Quem garante que você vai acreditar em mim agora?

Bom, basicamente, eu tenho o poder de voltar no tempo. Sim. Você exigiria muitas provas. Não é todo dia que alguém diz que pode voltar no tempo, né? Eu poderia salvar sua vida muitas vezes com esse poder. Eu poderia impedir que um garoto atirasse em você, poderia impedir que fosse pega por um trem, poderia impedir que você levasse um tiro por acidente durante uma brincadeira estúpida com armas, que aliás, você ama. Devolva a arma do David, antes que ele suba para reclamar."

Chloe novamente se assustou. Das falas indiretas dadas por Maxine, essa foi diferente. Foi um pedido, ou uma ordem. A garota punk não sabia se devia confiar nas palavras da carta. Mas era tão surreal que ela teve medo de ser verdade. Entretanto, não tomou nenhuma atitude quanto àquilo. Virou-se um pouco na cama e voltou a ler.

"Chloe. Você não tem ideia de quantas vezes eu te salvei. Quantas vezes já te vi morrer bem na minha frente. Eu já te vi ser atropelada por um trem. Já te vi tomar três tiros de pessoas diferentes. Já te vi morrer mais vezes do que você jamais conseguiria imaginar. De jeitos que você sequer poderia pensar. Todo momento que acontecia isso, eu voltava no tempo. A primeira vez que voltei no tempo, aliás, foi quando você tomou um tiro. Nathan Prescott. Por mexer com drogas."

Percebeu, então, que o tempo verbal havia mudado. De possibilidades sobre coisas que poderiam ter acontecido entre ela e a garota misteriosa, mudou para coisas que de fato aconteceram. Pelo menos, era o que a carta dava a entender. "Vi", "voltei", "salvei". Como ela sabia sobre Nathan Prescott? Não podia ser só coincidência. Pelo seu corpo, uma descarga de emoções indescritíveis passava.

"Você deve estar surpresa com tudo que estou dizendo. Será que isso é suficiente pra você confiar em mim, Chloe? Será que você acredita que tenho poderes? Será que você me chamaria de SuperMax? Veja a foto que veio com esta carta. Talvez você já tenha visto. Mas se não, veja. Você sabe quem são as pessoas dessa foto? Você sente algo como borboletas no estômago quando vê a imagem?"

Chloe pegou o envelope jogado num canto qualquer da cama. Era um envelope branco, comum. Percebeu que havia uma coisa ali dentro que não tinha percebido ao pegar a carta. Tirou o item de dentro do envelope. Um papel plastificado. Uma fotografia. Pegou-a.

A imagem continha duas garotas. Uma sentada ao lado de uma cama, que parecia um leito de hospital. A garota tinha cabelos castanhos escuros e curtos. Ela esboçava um sorriso visivelmente forçado. Seus olhos pareciam tristes. Ao seu lado, deitada na cama, uma garota cheia de aparelhos no rosto e pescoço. Ao enxergar direito, Chloe percebeu que aquela garota era ela mesma.
Começou a tremer. Algumas lágrimas começaram a descer por seu rosto rosado, borrando levemente sua maquiagem preta dos olhos. Com a visão embaçada e um nó forte na garganta, tornou os olhos à carta novamente.

"Essa sou eu, Chloe. Max. Lembra dessa foto? Claro que não. Você não tirou ela na verdade, não é mesmo? Você teria a tirado. Teria.
Lembra-se do acidente de seu pai? Você reclamaria muito de sua vida por isso. Chegaria até a culpar outras pessoas, inclusive eu, por causa daquilo. Até que, de tanto ver seu sofrimento, eu voltaria no tempo. Voltaria na sua casa, na sua cozinha. No dia do acidente. E impediria seu pai de entrar naquele carro. E você, Chloe... Você sofreria o acidente no lugar dele, anos depois. Quebraria a coluna. Ficaria tetraplégica. Chloe... meu coração repuxaria cada vez que eu pensasse sobre você. Que visse você naquela maldita cadeira, com aqueles tubos e aparelhos ao seu redor, implorando pra que eu não tivesse pena de você. Eu gritaria todas as noites antes de dormir, socaria os meus travesseiros, choraria até pegar no sono."

Uma imagem vívida daquela cena correu pela mente de Chloe por um milésimo de segundo, enquanto olhava para a foto. Ainda não entendia nada, mas sentia que tudo aquilo era estranhamente real.

"E se eu dissesse que isso de fato aconteceu? E... foi culpa minha, Chloe. Minha!

E eu... eu precisava fazer algo. Não podia simplesmente tentar evitar aquele acidente. Eu tentei. Eu voltei um milhão de vezes no passado pra impedir de alguma forma que algo acontecesse com você, Chloe. Mais do que eu possa contar. E numa tentativa frustrada de te salvar de uma vez por todas, eu simplesmente destruí sua vida. E não conseguia me perdoar por isso. Até que eu percebi. Por mais que eu tentasse, você continuava morrendo, Chloe. O universo não queria que você vivesse. Você havia nascido pra morrer. Só pra isso.

E por perceber isso, eu descobri o que fazer. Eu não tive outra escolha. Na verdade, tive. Mas não suportei. Eu fui forte? Fui forte por ter desistido de tudo por você? Fui fraca? Fraca por ter desistido de tudo... pois não aguentava mais ver sua situação? Será que fui altruísta demais? Ou fui egoísta demais? Eu nunca faria algo assim se não fosse por um motivo justo. Eu não pude evitar a morte de Kate Marsh, aquela garota católica da Blackwell. Mas eu fiz o que pude. Eu parei o tempo por ela. Infelizmente foi tudo em vão. Nada adianta mais. Eu jamais teria coragem de fazer o mesmo que ela. Me suicidar? Se você se lembrasse de mim, se você me conhecesse, saberia disso.

Eu parei o tempo por ela. Mas por você, Chloe... Por você eu desistiria do tempo. E foi o que fiz."

Os olhos marejados de Chloe a uma altura dessas já haviam molhado toda a carta. Seu cigarro já estava jogado no chão, seu lençol xadrez, todo amassado e revirado, de tanto se mexer na cama. Parou novamente para ler o último parágrafo.

"Às vezes, uma vida precisa morrer para outra nascer. Comecei a escrever. Juntei todas as forças que tinha. Ao seu lado, naquele leito, comecei. Comecei a voltar no tempo. Voltei, voltei mais do que nunca. Minha cabeça começou a doer. Meu nariz começou a sangrar. Comecei a sentir cada parte do meu corpo ser forçada de uma forma absurda, como se algo estivesse me puxando. Fui desaparecendo aos poucos, outras partes do meu corpo começaram a sangrar, até que meu corpo foi coberto por um vermelho vivo. E então, cheguei. Cheguei novamente no dia do acidente. Observei você, com meus últimos suspiros. Você não me via ali. Eu já não estava mais ali. Te vi abraçar William pela última vez. Depois disso nunca mais vi mais nada. Eu deixei de existir. Para que você pudesse viver. Você não me conhece mais. Mas eu desisti de tudo. Por você.

Eu te amo, Chloe Price."

Várias imagens se passaram pela mente de Chloe. Um aperto no coração e uma terrível sensação nostálgica a perturbavam. Ela desceu as escadas, foi até a cozinha. Olhou para o balcão, onde esteve com seu pai pela última vez. Em cima dele, havia uma câmera antiga. E uma foto dentro dela. Tirou a foto negra de dentro da máquina e chacoalhou. Quando a imagem se tornou nítida, lágrimas caíram dos olhos de Chloe.

A foto continha ela, mais nova, seu pai, e uma garota de cabelos castanhos e rabo de cavalo. Atrás da foto, estava escrito "Max, Chloe e William, 2008".


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Notas finais do capítulo

E aí, pessoal? Gostaram?Por favor, me deem suas opiniões! Eu realmente não sei se a história está boa, pois como escrevi ela inteira, enxergo-a de maneira totalmente diferente dos leitores.Qualquer dica, crítica, correção, elogio, enfim... Podem deixar aí nos comentários, por favor ♥A cena do final, enquanto Max voltava no tempo foi baseada na cena da morte da Lisa, em Silent Hill 1. Tive algumas inspirações em Mahou Shoujo Madoka Magika também. xD