A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 18
Último Capítulo


Notas iniciais do capítulo

Hey!!LEIAM AS NOTAS!!!

✧Então, eu preciso confessar que embora percebesse que havia sido muito tempo desde a última vez em que havia atualizado essa fic, não havia percebido o quanto exatamente. Quando vim ver a última data de postagem fiquei triste, por que para completar a pausa foi logo antes do último capítulo, capítulo este que eu praticamente já havia finalizado.

✧Eu peço desculpas pelo atraso, mas confesso que tem sido difícil fazer o mínimo no atual cenário que vivemos, mas estou tentando. Aproveito para dizer que eu espero que todos estejam se cuidando e que estejam bem, que se mantenham assim. Para aqueles que possam ser vacinados, por Deus, vacinem-se. Seja qual for. Cuidem-se por vocês, pelos seus familiares e por todos os outros.

✧Sobre a fic, eu tenho receio quando demoro tanto assim que as expectativas de quem ainda acompanha estejam muito altas e que os capítulos não estejam a altura, mas eu realmente espero que esteja. Eu cheguei a publicar em meu canal do youtube a música tema desse capítulo, vou deixar o link em algum lugar aqui, ou na citação (deixarei o link no nome da música) ou notas finais.

✧Agradeço a todos que acompanharam até o fim e deixo aqui o recado de que ainda há o epílogo.

Não vou segurar mais vocês, espero que gostem!!
Boa leitura.



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Dizemos que não é a última vez

Mas sabemos que é a última vez

Se eu pudesse retroceder

Sempre pensei que passaria minha vida com você

Garota, eu gostaria de não saber

Agora é hora de deixar você ir

Girl I Wish I Didn't Know (Seafret)

 

FELICITY SMOAK

Apertei meus braços em volta do corpo que me era mais do que familiar, era o verdadeiro significado de lar, por anos foi, e sempre seria. Minha mãe murmurava palavras desconexas, perguntas aleatórias que eu mal conseguia registrar enquanto absorvia seu calor, seu carinho. Dizia que havia sentido minha falta, e mesmo enquanto ainda me abraçava, ela também me repreendia. Era a primeira vez que ficávamos tanto tempo afastada e com tão pouca comunicação. Eu era ciente de que a última parte era tão somente culpa minha, como não bastasse, fui evasiva em meus telefonemas.

— Você está voltando para ficar? – Sua pergunta soou em meu ouvido e fez com que meu corpo ficasse tenso.

Ficar.

Havia sido para isso que voltei, e ainda assim, era mais difícil do que eu havia imaginado. Eu não esperava por isso. Esperava que minha volta fosse acompanhada de grande alívio, saudades e felicidade, não esperava esse peso em meu coração apenas em escutar a palavra. Afastei meu corpo do seu, relutante em solta-a, mas precisando. Encarei seu rosto, seu sorriso esperançoso, sua felicidade em me ver, então, embora minha mente estivesse uma tormenta, e meu coração tivesse sua lealdade dividida, foi mais fácil do que pensei murmurar a resposta.

— É claro. – Sorri. – É claro que vou ficar.

— E seu emprego? – Perguntou me puxando para o sofá. – E a família para quem você trabalhava? Já não precisam de você?  - Helena cruzou os braços e me observou enquanto tomava meu tempo para responder. Percebi que estava na defensiva, parecia curiosa, mas também exibia certo receio. Só então me dei conta que Helena temia que eu mudasse minha mente, que eu não fosse resistente o suficiente em deixar Oliver, Thea e as crianças.

— Eles ficarão bem. – Dei de ombros.  Não havia muito mais o que dizer, não nesse momento. Minha mãe me encarou com olhos estreitos.

— Por que você voltou assim de repente? Sem aviso? – Estranhou. – Você não é assim, Felicity.

— Eu queria fazer uma surpresa. – Menti.  Eu realmente pensei que teríamos um bate papo bobo antes dela me cercar com perguntas das quais eu precisava fugir.  – Como você está? Sei que começou uma nova etapa do tratamento...

— Eu estou ótima, não mude de assunto. – Cortou-me.

— Mãe, eu acho que mereço saber como vai sua saúde antes de ser interrogada. – A critiquei.

— Basta saber que se eu não tivesse bem, eu não estaria a interrogando. – Retrucou.

— Mãe...

— Veja. – Se ergueu e colocou a mão na cintura, escutei uma risada vindo de Helena quando minha mãe girou mostrou seu corpo magro, mas saudável, ao menos tão saudável quanto poderia estar. – Eu estou ótima, tenho momentos ruins, mas estou convivendo com a doença,  Felicity, eu vou viver com ela, até que eu não viva mais, mas o ponto chave é: Eu vou viver. – Brincou. Então voltou a se sentar. – Sei que as coisas estiveram ruins por algum tempo, o primeiro tratamento foi brutal, mas agora está tudo se encaminhando. Antes não tínhamos dinheiro o suficiente, e negligenciei minha saúde, mas agora eu estou bem. Então pare de mudar de assunto...

— Eu não estou...

— Como era lá? – Minha mãe apertou minha mão chamando minha atenção. – Você não falou muito, sei que trabalhava para um viúvo e seus filhos, eles a tratavam bem? As crianças eram boas, ou eram pequenos demônios? E seu patrão? – Perguntou preocupada. - Pelo o dinheiro que mandou parecia ser um patrão generoso, mas você parece tão distante quando fala deles, querida, aconteceu algo? Você fugiu? Por que essa vinda surpresa? E que tipo de emprego como empregada paga tão bem assim? – Sondou.

— Era bom. – Respondi sem poder mais ignora-la.  – Eles me trataram muito bem, as crianças são maravilhosas.  – Sorri. – Acho que você se apaixonaria por Alexia, ela tem aquele tipo de carisma que faz você gostar de crianças, mesmo quando não gosta. Ela é travessa, mas tem essa inocência que me fazia perdoar cada pequena transgressão, ela também é muito carinhosa, e Will é típico garoto calado que faz com que você deseje conquistar sua confiança, porque você sabe que ele é especial assim.

Senti o olhar atento da minha mãe ir de encontro ao de Helena por alguns segundos, então me endireitei.

— Você parece gostar muito deles. – Comentou por fim. Dei de ombros.

— São crianças especiais.   –Limitei-me a dizer. Sentindo que qualquer coisa que falasse, apenas ia me colocar em apuros.  Minha mãe é claro, não deixou eu sair facilmente dessa conversa.

— E seu patrão? – Eu tinha decidido falar sobre Oliver com minha mãe. Não ele como meu patrão, mas como algo... Meu. Só não queria trazer esse assunto  tão cedo, não mal chegando em casa, e não com ela já me encarando desconfiada.

— Ele é bom também. – Murmurei me levantando. – Eu acho que vou tomar um banho. – Falei tentando escapar das  próximas perguntas. Foi muito tardiamente que percebi que aquela forma de fugir foi a mais idiota possível, porque minha mãe olhou em volta. Procurando.

— Por que você não trouxe sua mala? – Oh merda. Eu supostamente devia visitar ela no hospital, não ia levar nenhuma mala para lá.

— É... Eu...Vai chegar mais tarde. – Falei por fim. – Melhor eu ir beber minha água. – Comecei a me afastar.

— Você não ia beber água. – Helena falou. A censurei com um olhar. Eu poderia perdoa-la se ela tivesse tentando me alertar do deslize em tom baixo, direcionado apenas para mim. Talvez tentando me cortar com um sinal de cabeça, mas ela não havia feito isso. Helena parecia muito confortável me encurralando junto a minha mãe.

Notei uma vez mais, o olhar das duas cruzarem.

Então minha mãe suspirou, como se cansada daquilo.

— O que você está escondendo, Felicity?- Ela pegou minha mão esquerda e a ergueu. -  E por que você tem a marca de uma aliança em seu dedo, neste dedo?  - Parei em brusco diante a pergunta da minha mãe.

 Fodida aliança.

Sempre a fodida marca de aliança.

Clara demais para dizer a Oliver que não passei dois anos a usando. Escura o suficiente para fazer minha mãe suspeitar que eu fugi e casei. Porque sim, minha mãe iria ignorar todo meu histórico que comprovava que nunca faria algo assim e pularia logo para essa conclusão. As vezes, era difícil acompanhar minha mãe.

— O quê? – Virei-me tentando parecer inocente.

— Felicity Smoak, você se casou e escondeu isso de mim? – Minha mãe perguntou se erguendo.

— Isso se tornou interessante. – Helena murmurou.

— Você não tem nenhum outro lugar para ir? – Perguntei irritada.

Realmente irritada.

Isso fez que Helena diminuísse o sorriso em seu rosto. Percebendo que meu desconforto agora não era tópico de suas costumeiras provocações.

— Ela vai ficar. – Minha mãe me interrompeu. Seu dedo apontou para Helena. – Eu a conheço o suficiente para saber que qualquer coisa que Felicity tenha escondido, não escondeu de você. Você sabe e omitiu, e eu a criei como minha se fosse minha Helena Bertinelli, como se fosse minha própria carne e sangue, você me devia mais!

Eu tenho que dizer, foi gratificante ver Helena perder toda a postura confiante.

— Mas... Eu... O quê... Ela se casou!! – Protestou tentando desviar a atenção.

— Eu não me casei. – Neguei.

— Garotas...

— Eu não me importo, a culpa de repente virou minha. – Helena reclamou. E apenas com aquela frase eu senti que voltava no tempo, revirei meus olhos para Helena e pude notar que ela resistiu não responder a isso.

— Garotas, expliquem-se! – Minha mãe exigiu. Seu olhar caiu em mim. Eu poderia estar enganada, mas havia um brilho de esperança em seus olhos? – Você se casou, querida? É isso? Essas crianças são suas agora? Eu virei vovó?

Como que é?

Escutei a risada de Helena, mas não perdi tempo a repreendendo dessa vez. Minha mãe havia se superado. Já esperava que ela fosse direto para o caminho errado, ou não tão errado assim, só não esperava que gostasse tanto daquilo.

— O quê? Não! – A cortei. – Eu não me casei, eu só usei um anel para parecer que era. – Não chegava  a ser uma mentira.

— Não? – Donna Smoak murmurou confusa.

— Não. – Murmurei mais firme. – Eu coloquei um anel de casada quando cheguei na mansão Queen, porque eu não conhecia meu patrão e senti que precisava de uma barreira de proteção, preferi fingir que era casada. – Menti descaradamente. E mais uma vez, eu não estava mentindo de todo. Pequenas mentiras, as chamadas meias verdades eram as piores, por que o fato de ter um fundo de verdade as pessoas tendiam a ignorar que o restante era formado por mentiras. Minha mãe aceitaria essa desculpa, porque era algo que ela mesmo já havia feito, como eu e até mesmo Helena fez isso por um tempo no hotel, demorou dois dias para ela perceber que homens que assediam empregadas não se importam com seu estado civil, então ela deixou a ideia de lado.

— Não? – Repetiu parecendo realmente decepcionada. Mais uma reação que eu não esperava. Por mais estranha e louca que minha mãe fosse às vezes. Eu certamente não esperava por esse ar decepcionado.

— Não. – Voltei a dizer agora lançando um olhar interrogativo para Helena. Minha melhor amiga apenas deu de ombros, compreendendo tanto quanto eu.

— Isso é triste. – Minha mãe suspirou. – Eu não queria morrer sem antes conhecer algum neto meu.  A encarei com choque.

— Você acabou de dizer que estava bem.  – Murmurei exasperada.

— Eu não vou viver para sempre, Felicity. – Retrucou. – E com certeza não o suficiente para esperar você se casar. – Não pude evitar ficar ofendida com a forma que disse a última frase.

— Oh Donna, se você ao menos soubesse. – Helena deixou escapar. A fuzilei com o olhar mais uma vez.

— Podemos voltar a sentar, e talvez ter uma conversa normal? – Indaguei precisando dessa trégua. – Eu quero saber o que tenho perdido.

— Eu acho que esse é o momento em que eu saio. – Helena murmurou com um sorriso. Oh agora ela quer sair. – Vou deixar vocês duas terem um momento só para vocês. – Explicou me encarando com uma centelha de desculpas em seus olhos. Então encarou minha mãe. – Eu só queria ver o reencontro e também ver como você estava.

— Eu estou ótima, querida. – Minha mãe sorriu pegando sua mão.  – Você pode ficar...

— Nope. – Negou. – Você merece Felicity só para você por agora.  – Piscou. Então se voltou para mim. – E você, não deixe-me de me ligar, podemos combinar algo depois. – Sugeriu. Assenti concordando, percebi que precisa do meu tempo a sós com Helena também, só nós duas, sem esperar que Oliver chegue a qualquer momento, como foi a noite anterior.

Tão logo Helena saiu minha mãe voltou a me bombardear com mais perguntas. Algumas novas, outras que eu não tinha respondido. O humor ficou leve, ela me inteirou de todas as fofocas que ela julgava eu precisava saber. Chegou a comentar que Joe havia a visitado em um dia que ficou internada, que falaram sobre Barry e que ele estava agora morando em outra cidade, devido a uma oportunidade de trabalho, Joe havia perguntado por mim, pois parecia que Barry estava interessado em saber onde eu estava e que andava fazendo. Não demorei a chegar a conclusão de que Barry atônito por ter me visto em uma festa em Starling City, mas sem saber exatamente do que tratava, tentou buscar informações sem fazer alarde a minha mãe.

Acenei vagamente e prometi entrar em contato com Barry assim que tivesse tempo.  Notei que embora pulasse de assunto com estrema rapidez e facilidade minha mãe sempre me lançava olhares de lado, como se querendo ter certeza que eu estava a acompanhando, se realmente prestava atenção, infelizmente nem sempre eu estava, meus pensamentos iam e voltavam para Oliver.

— Felicity? – Como agora. Encarei minha mãe, notando seu tom preocupado. – O que aconteceu, querida? – Abri minha boca pronta para negar. – E não diga nada.

— Eu...

— Eu a conheço, você é minha filha. – Falou. Eu era? – Eu sei quando minha filha está preocupada com algo. O que aconteceu quando você trabalhava fora?

A encarei incerta de como responder sua pergunta. Milhares de respostas vieram para a ponta da minha língua, mas de todas as mentiras que poderia contado, a surpreendi e a mim mesma, com uma verdade.

— Eu me apaixonei. – Murmurei sem encara-la. E quando o fiz notei seu olhar de receio. Sua hesitação. Ela estava certa, ela é minha mãe e sabia quando algo me preocupava, e apenas com essa frase revelei mais do que poderia, de fato eu estava apaixonada, mas meu tom a forma que soltei, com todo o peso em cada palavra, ela percebeu que não era uma história com final feliz.

— Quem? – Perguntou por fim.

— Oliver. – Murmurei deixando ela fazer todas as ligações.

— Eu não vejo qual é o problema, querida. – Falou confusa. – Se envolver com o patrão não é algo que eu aconselharia, mas Deus sabe que eu já fiz escolhas erradas o suficiente para não julgá-la por isso. Ele é solteiro, certo? O viúvo?

— Eu menti. – Confessei e me senti como uma criança novamente quando recebi seu olhar. O olhar.  – Ele é casado, era. – Corrigi-me. – A mãe das crianças, a primeira mulher, ela morreu, mas quando eu fui para lá ele estava casado com sua segunda esposa.  – Murmurei fracamente, não podia revelar muito, não sem trazer o motivo pelo qual eu fui em primeiro lugar, não sem me aprofundar em Megan. – Ele está se separando... – Minha mãe soltou um som de escarnio.

— Eu tenho certeza que ele disse isso. – A encarei sem saber se deveria continuar falando algo mais. Quando comecei a falar, não pensei em como ia seguir.

— Nos envolvemos. – Falei. – Aconteceu. E ele é incrível, ele é bom, o casamento dele era horrível...

— Oh  querida...

— Não. – A cortei. – Eu sei como parece, sei que pareço ingênua, e que essas são desculpas usadas tantas e vezes pelos hospedes daquele hotel quando tentam entrar na minha cama, não foi assim. – Murmurei. – Oliver não é assim. Ele estava sendo enganado, o casamento dele foi assim desde o começo, e nós dois... Eu tentei evitar. – Falei. – Eu tentei não me envolver assim, tentei não me apaixonar.  – Minha mãe me lançou um olhar avaliativo. Havia pena ali, ainda, mas também havia um pouco de dureza lá, não chegava a ser julgamento, mas havia algo.

— E ele? – Perguntou séria.  – O que ele sente?

— Ele me ama. – Falei. – Ou ao menos acha que sim. – Dei de ombros. – Eu sei que seus sentimentos são genuínos, mas...

— Mas?

— Seria também temporário? Ou existem pelas razões erradas? – Questionei por fim. – Eu tenho uma vida, aqui, eu tenho responsabilidades e ele...

— Eu não gosto da ideia de você se envolvendo com um homem que aparentemente ainda está casado com outra. – Cortou-me com sinceridade. – E não pelo julgamento, pelo certo e errado, pelas normas que a sociedade impõe, por moralidade, ou ausência desta. Querida.... – Suspirou. – Se fosse outra pessoa, talvez eu conseguisse pensar assim, mas é você, minha filha, é claro que serei tendenciosa. – Sorriu. – Eu temo por seu coração. – Esclareceu. – Temo por seus sentimentos, de verdade, e por mais que não goste desse tipo de envolvimento, por favor, não me use como razão para não ficar com ele. Você é minha filha. – Repetiu. - Não minha cuidadora, suas responsabilidades como filha não deveriam limitar suas experiências como mulher. Amar estando entre elas.

— Ele tem uma família, mãe. – Murmurei. – Uma família que eu amo, exceto talvez por sua mãe. – Acrescentei rapidamente. – Mas que eu não estou pronta para ter, eu não estou pronta para ser mãe, para casar, para ter uma família. Eu tive minha vida interrompida antes de ir para lá, eu preciso continuar de onde parei.

— Você consegue?

— O quê? – Perguntei confusa.

— Você consegue atravessar a linha de chegada e então olhar para trás e voltar todo o caminho? – Pisquei lembrando-me da minha conversa com Oliver, na qual eu tinha feito uma comparação similar. – Consegue refazer seus passos apenas para no fim, ir atravessar aquela linha novamente?

— Eu não sei. – Dei de ombros. – Mas sinto que devo, a mim mesma.

— Eu sempre a apoiarei. – Falou. – Você sabe disso, e estou curiosa para saber mais sobre o homem que por fim foi capaz de conquistar algo tão preciso como seu coração. – Sorriu. – Pense bem antes de tomar uma grande decisão, eu vi o brilho em seus olhos só em falar seu nome, vi como se retesou pronta para defendê-lo. Refazer seus passos pode te guiar por um caminho completamente diferente, e que no fim, não a levará para a mesma linha de chegada, ou se sim, ele talvez não estará mais do outro lado a esperando. – Ela segurou minha mão. – Passei toda minha vida procurando por alguém que estivesse me esperando do outro lado apenas para perceber que não tinha. – Confessou. – Não quero o mesmo para você.

— Você fala como se estar com ele fosse o prêmio.   – Brinquei.

— Não. – Negou. – Ele não é o prêmio, nem você é, ele é quem você quer dividir isso, comemorar as vitórias, lamentar as derrotas, aquele quem você quer se apoiar após um longa, intensa e extenuante jornada.

— Você sempre foi a romântica. – Meneei a cabeça e escondi um sorriso. – Você merecia um final feliz.

— Você é meu final feliz querida. – Murmurou me puxando para seus braços, cedi aquele gesto de carinho e fiquei ali, sentindo seu alento. – E não fale como se eu já estivesse morrido. Eu mereço um, eu já tenho um que é você, e posso muito bem arranjar outro, dessa vez em forma de um homem alto, bonito e rico.

— Rico? – Questionei sem segurar meu riso.

— Claro, se for para quebrar a cara novamente que seja no luxo. – Brincou.

— Você quer conhecê-lo?  - Perguntei após alguns bons segundos em silêncio.

— Meu homem alto, bonito e rico? Ou o seu? – Retrucou. – Seja qual for a resposta, saiba que estou pronta para os dois.  – Afastei-me de seus braços para encara-la.

— Oliver. – Falei. – Eu gostaria que o conhecesse. Ele está aqui.

— Aqui? – Repetiu como se temesse que Oliver entrasse a qualquer momento pela porta. Seu olhar indo com desespero para a sala, conhecia minha o suficiente para saber que ela estava memorizando cada pequena coisa que estava fora do lugar.

— Na cidade. – Esclareci. – Ele me trouxe e agora está hospedado no hotel. – A informei.

— Eu adoraria. – Assentiu. – Mas é isso que você quer? Mesmo talvez não ficando com ele depois de tudo?

— Eu quero. – Assenti. Eu queria que Oliver conhecesse minha mãe, porque parte de mim ainda buscava seu perdão. Por tê-lo enganado, por ter feito parte do plano de Megan, ter deixado ir tão longe, não ter revelado a verdade antes, apenas depois de já descoberta. Queria que ele compreendesse por quem fiz isso, por ela. E eu queria que ela o conhecesse, porque... Porque era Oliver, por que ela estava certa, eu o amava, e provavelmente não faria nada com relação a isso, mas queria que ela visse por quem eu me apaixonei.

— Certo. – Concordou. – Então traga-o aqui, farei um jantar para ele. – A encarei com receio. – Ok, eu vou encomendar a comida e dizer que eu que fiz. – Prometeu. – E você ficará calada sobre isso.

— Certo. – Sorri concordando. E então a encarei, incerta sobre o que dizer, com meus pensamentos agora indo para outra questão, que embora eu tenha jogado de lado, a ignorado e fingido que jamais tocaria nesse assunto, me vi tentada em trazer a tona.

Megan.

Queria perguntar a minha mãe se o nome significava algo.

Queria saber como tudo aconteceu.

Mas tinha medo.

Parte de mim pensava que minha mãe não tinha ideia da existência de Megan, implorava por isso até. Porquê de todas as alternativas que existiam para essa história eu não conseguia lidar com o fato de que minha mãe havia ignorado de propósito a existência de outra filha, ou mentido para mim sobre eu ser sua filha. Então fiquei calada, porquê de todas as coisas que mais temia, era chegar a julgar e odiar minha mãe, mesmo que por um momento.

— Algo mais a incomoda, querida? – Perguntou percebendo minha hesitação.

— Não. – Neguei prontamente. – Eu só... – Interrompi minha desculpa pela metade quando escutei o som do meu celular vibrando na mesa ao lado. Agradecendo internamente a interrupção, avancei até pega-lo e li a mensagem.

“Venha para fora.”

— Felicity? – Franzi o cenho enquanto encarava a mensagem sem remetente.

“Saia, antes que eu mate de susto sua mãe.”

O que diabos?!

 - Felicity? -  Minha mãe repetiu.  A encarei confusa. Mas então o celular voltou a vibrar.

“A paciência pode ser uma virtude, minha querida, mas não minha.”

Suspirei e resisti a vontade de revirar os olhos.

Maldita Megan.

“Estou indo.” Respondi, antes de voltar a encarar minha mãe.

— Eu preciso ir. – Murmurei. – Mas volto mais tarde, com Oliver. – Prometi.

— Você acabou de chegar. – Reclamou. – Oliver não está caindo em minhas graças desse jeito.

— Não é Oliver. – Falei. – É do hotel. – Menti. – Estou tentando voltar para meu antigo emprego.

— Não gosto daquele hotel. – Meneou a cabeça em negativa. – Tente algo novo.

— Eu vou. – Prometi. – Só não quero descartar a possibilidade de algo certo. – Murmurei me apressando para beija-la no rosto. – Mantenha seu celular carregado, até mais tarde.

— Avise-me se seu Oliver tiver alguma alergia. – Falou por cima do meu ombro. – Eu tenho certeza que o restaurante vai querer saber.

— Tchau. – Ignorei a última provocação e fechei a porta atrás de mim.  Precisei dar apenas mais alguns passos antes de vê-la. Encostada em seu carro de luxo, vestida em um de seus elegantes vestidos e segurando um cigarro entre os dedos. Megan estava entre aquelas pessoas que fazia o cigarro parecer atraente, e ela exatamente igual a mim, mas eu tinha certeza, que se eu ousasse segurar um ia mais parecer uma propaganda anti cigarros. 

E ela estava assim, na rua da minha mãe, para todo mundo ver.

A encarei irritada e me aproximei.

— Como posso nem ter aberto minha boca e já ter te irritado? – Perguntou quando fiquei em sua frente.

— Óculos escuro não é um disfarce. – Falei entredentes. – Minha mãe pode muito bem estar na janela agora mesmo.

— Você fala como se eu me visse na obrigação de me esconder. – Sorriu antes de levar o cigarro aos lábios. – Entre no carro, minha querida. Se teme tanto assim ser vista comigo.

— Entre você no carro. – Argumentei. – Tenho mais medo de levar a fama de fumante.

Megan me encarou com diversão, mas fez o que falei, apagou o cigarro e entrou no carro o jogando em um compartimento próprio. Eu ainda estava parada ao lado da porta aberta quando ela me lançou um olhar com uma pergunta.

— Você vai entrar ou não? – Perguntou sem paciência.

— Quais as chances de eu ser sequestrada? – Perguntei franzindo o cenho. – De novo.

— Você quer realmente ficar aí parada em frente ao meu carro nessa rua de merda? – Retrucou. – Sinto muito dizer, mas mesmo se eu não quisesse, eu destaco aqui. O que sempre é minha intenção. E você não foi sequestrada. Você tinha terminado sua parte e Alex a levou para o hotel, ia receber o restante do dinheiro no dia seguinte e eu planejava até mesmo uma despedida dramática. Mas você precisava agir como a donzela em perigo com sua própria cavalaria indo em resgate. Agora, entre. – Ordenou.

Olhei em volta, como se tudo aquilo já não fosse suspeito o suficiente e rodeei o carro até sentar no banco de carona.

— Eu realmente me arrependo do dia em que resolvi substituir uma colega e encontrei você. – Murmurei com amargura após alguns minutos em silêncio.

— Eu não sei por quê. – Retrucou mordaz. – Aparentemente você é muto boa em ocupar lugares. E ganhou muito dinheiro para isso.

— Para onde estamos indo? – Perguntei a ignorando. – E por quê?

— Medo que eu exija meu dinheiro de volta agora que você não sou falhou em sua tarefa, como provocou meu divórcio e roubou meu marido? – Sorriu.

— Eu provoquei seu divórcio? – Perguntei incrédula.

— Você certamente não o defendeu.  – Argumentou.

— Eu fui para uma maldita terapia de casais! – Isso provocou uma risada.

— Eu adoraria ter visto isto. – A encarei sem humor. – Particularmente, eu acho a visão de Oliver sentado tentando compreender o que há de errado com sua esposa interessante. Como foi?

— Megan...

— Estamos indo para meu hotel. – Murmurou. – Não se preocupe, seu amado também foi convidado, então ele deve ter ativado o modo protetor, provavelmente chegará em um cavalo branco e tudo.

Preferi me manter em silêncio.

— Eu preciso conversar com você, e duvido que quisesse fazer isso em frente a sua mãe. – Completou. – Tendo em vista que a confusão que poderia gerar, preferi não ficar no mesmo hotel que vocês.

— Como se você se preocupasse em ocasionar confusão. – Murmurei entredentes.

— Tenho me sentindo um pouco altruísta. – Limitou-se a responder. Segurei uma resposta sarcástica e fiquei em silêncio, Megan para minha surpresa, não insistiu em um diálogo e após colocar uma música de sua preferência ficou cantarolando até que paramos em frente ao hotel. Eu conhecia, é claro, assim como o que estava hospedada com Oliver, este estava entre os melhores e mais movimentado de Las Vegas, talvez mais.

— Vamos para o bar. – Murmurou após entregar a chave ao funcionário na entrada, suspirei gostando cada vez menos de toda a situação, principalmente porque fora uma pequena bolsa que devia conter apenas o necessário, ela carregava um envelope grosso e ao que parecia pesado. Centenas de alarmes ascenderam em minha cabeça, uma suspeita principal se formando. Megan parou em frente ao bar e um sorriso de flerte se fez presente em seus lábios vermelhos, o bartender logo correspondeu seu sorriso, seu olhar indo até mim, apenas brevemente.

Eu não poderia culpa-lo.

Megan vestia-se de acordo com o hotel. Eu tinha colocados roupas simples, tendo em vista que ia encontrar minha mãe, então, eu parecia que deveria estar do outro lado do balcão.

— Dois...

— Um. – A interrompi. Ela fez careta.

— Um bourbon. – Corrigiu-se a contra gosto. – Puro. -  Ela me lançou um olhar esperando.

— Uma soda. – Murmurei forçadamente. Megan suspirou.

— Decore o copo o suficiente para que pensem que ela está tomando uma bebida de adultos. – Megan pediu fazendo com que o rapaz me encarasse com diversão.

— Gostariam que eu indicasse uma mesa? – Perguntou solicito.

— Não. – Negou. – Estamos esperando meu marido e namorado dela chegar. Então iremos querer uma mesa para três.

Mordi minha língua para não responder sua provocação.

—Quatro. – O bartender que parecia desapontando com seu status a corrigiu automaticamente.

— Três. Meu marido é o namorado dela – Repetiu com um sorriso de quem sabia o impacto que suas palavras iam trazer. – É como um shampoo dois em um. – Piscou.

— Minha soda. – Murmurei precisando que ele se afastasse.  Estava determinada a não deixar ser levada pelas provocações de Megan, mas me vi me apoiando no balcão e gritando para suas costas enquanto ele se afastava. – Ela só está o provocando.

O rapaz olhou para nós duas, um olhar ido de uma à outra confuso. Meneando a cabeça ele se concentrou em nos servir. Seu semblante fechado mudou quando ao entregar a bebida ela fez questão de tocar sua mão com deliberada lentidão, em seus olhos um convite.

Seduzido, simples assim.

Esperei que ele voltasse a se afastar e só então a questionei com o olhar.

— Não me encare assim. – Disse.

— Vá direto ao assunto. – Exigi.

— Tem certeza que não quer esperar por Oliver? – Sondou, parecendo hesitante.

— Por que você quer envolver Oliver nesse encontro? – Perguntei irritada.

— Eu não quero. – Respondeu me surpreendendo. – Mas desde que vocês estão envolvidos, ele é sua atual muleta emocional. Presumo que precise dele hoje.

— E você se importa por quê...

— Eu não me importo. – Cortou-me. Por algum motivo relutei em acreditar. – Mas como disse, estou me sentindo altruísta ultimamente. E nada me diverte mais do que provocar Oliver. – Sorriu levando o copo aos lábios.

Estreitei meus olhos.

— O que você disse em sua mensagem? – Perguntei bebendo minha soda.

— Que eu estava com você. E que estávamos o esperando. – Seu sorriso cresceu. – Só esqueci de dizer onde.

— Eu não vou mais participar de seus jogos Megan. – Falei entredentes e me ergui. – Principalmente se o objetivo é fazer de Oliver um tolo.

— Fazer Oliver tolo não é o objetivo hoje, talvez apenas uma consequência.  – Interrompeu minha saída ao segurar meu pulso.  Seu sorriso se esvaiu e seu semblante ficou subitamente sério. – Eu tenho os resultados.

— Resultados? – Questionei confusa.

— DNA. – Entregou-me o envelope. O encarei como se fosse uma cobra.  – Obviamente somos irmãs, não chega a ser um spoiler. – Adiantou revirando os olhos.  – O teste não é entre nós duas. – Senti uma emoção profunda se espalhando dentro de mim, não era bonita, era instável e negativa. Porque eu já sabia qual seria sua frase seguinte. – A questão aqui é de quem somos filhas.

— Eu nunca quis saber sobre isso. – Falei.

— Mas eu quis. – Retrucou.

— Então guarde a informação para si.  – Falei na intenção de me levantar mais uma vez, mas ela tornou a me impedir.

— Para alguém que se comprometeu passar seis meses enganando uma família rica em nome da mãe, você parece julgar o amor que possuí por ela muito frágil. – Encarou-me avaliando minha expressão. – Teme tanto assim a resposta? Seus sentimentos pela mulher que a criou mudariam tão facilmente assim? Eu confesso que estou intrigada, minha querida irmã.

— É claro que não. – Neguei rapidamente, mas me faltou convicção. Não porque eu fosse deixar de amar Donna Smoak, independentemente de qualquer resultado, mas porque não tinha como ter certeza de como eu reagiria tendo aquela nova informação, qualquer fosse ela. – Então, qual é a história? – Perguntei após alguns segundos.

— Realmente não prefere esperar sua muleta? – Ergueu uma sobrancelha.

— Se Oliver é minha “muleta”, qual é a sua? – Perguntei a estudando. Ela sorriu e girou o dedo abrangendo o local.

— Começa aqui. – Murmurou se referindo ao bar, e ergueu o copo. – Passa por aqui, e termina onde quer que ele leve suas garotas. – Apontou para o bartender que agora sorria para uma outra cliente. Megan levou a bebida aos lábios vermelhos.

— Isso é triste. – Falei sincera. Ela meneou a cabeça em negativa.

— Não se eu não deixar que seja. – Negou. – Não tenha pena de mim, Felicity. Tenha pena deles.

— Você realmente nunca se importou? Com nenhum deles? – Questionei.

— Você quer dizer com Oliver? – Retrucou avaliando-me. Hesitei, mas então assenti. – Não da forma que todo mundo parece exigir que eu me importe. Eu o traí inúmeras vezes, e continuaria alegremente se não fosse descoberta, nem eu seria capaz de mentir a este ponto e dizer que o respeitava, não nunca o fiz, não como marido. Mas o admiro, o homem que ele é. – Deu de ombros. – Acho que é mais do que posso dizer de que qualquer outro.

— Nunca se apaixonou. – Deduzi. – Nem pensou estar apaixonada? Por qualquer um. – Megan me lançou um olhar cínico. Eu já sabia a resposta antes mesmo dela proferir a negativa.

— Não. Claro que não. – Falou, e nem por um segundo duvidei. – Deveria?

— Não. – Falei sincera. – Só estou curiosa.

— E enrolando. Pois teme nossa verdadeira conversa. – Sorriu. – Ou talvez tente alguma conexão agora que sabe, ao menos sem ter como fingir ou negar, que de fato sou sua irmã. – Ela sondou-me. – Eu não acredito em amor Felicity, não acreditaria em algo que nunca recebi. Aprendi a arte de seduzir muito nova, percebi que era assim que muitas mulheres, dentre elas minha mãe, conseguiam o que quer dos homens. Nunca me envergonhei, e não acredito que chegará o dia que me envergonhe das coisas que fiz, da vida que vivi. Tirei proveito daquilo que me era oferecido, e quando não era, conquistava. Eu acredito que você seria mais feliz se fosse mais como eu, mas acho que é uma coisa de gêmeos, ying e yang, bem ou mal. Sempre tem que ter a boazinha.

— Você se acha má. – Observei.

— Não na minha história. – Respondeu encostando-se no balcão. – Não na minha narrativa, mas tenho que concordar, minha querida, que na dos outros, principalmente na sua, eu não sou nada mais do que uma bela, sedutora e inigualável vilã.

— E nessa narrativa? – Apontei para o envelope. Megan encarou o envelope e soltou um suspiro. Algo tão humano, que não pareceu ser Megan. Era como ela mesma havia dito, era mais fácil encara-la como algo abstrato, um personagem, uma vilã. Megan tocou o envelope.

— Nessa narrativa. – Arranhou a ponta do envelope com a unha. – Eu sou um bebê que foi separado do outro, a primeira a nascer, a primeira a ser vista pela mãe biológica.  A que foi levada pelos braços de uma enfermeira corrupta até a empregada de uma senhora rica, que já havia falhado duas vezes em dar um herdeiro ao seu patético marido. A que a mãe biológica nunca soube da existência. Ela desmaiou tão logo teve seu primeiro bebê e por muito pouco não perdeu o segundo.  – Megan me encarou com seriedade. Contive minha respiração percebendo o que tudo aquilo significava.  – Você. – Senti a ardência das lágrimas chegando em meus olhos, mas as segurei. – Eu nasci primeiro, ela me pegou nos braços, mas sempre achou que era você. Que era apenas você. Donna Smoak é sua mãe, Felicity. Ela nunca abandonou nenhuma filha, ela nunca soube que eu existia.  – Murmurou tranquila. – Não pensei que poderia existir realmente casos assim, mas existe. Então não tenha medo, não se aflija. Sua mãe, continua sendo a mesma mulher que sempre foi, se ela tem alguma falha, certamente é alguma que você já conhece.

— Ela é nossa mãe. – Murmurei. Ela meneou a cabeça negativa.

— Meu mundo não se abalou por isso.  – Negou. – Eu não tenho a necessidade, ou curiosidade de conhecê-la, de representar o papel de filha perdida que volta para os braços da mãe amorosa. – A encarei sem saber ao certo o que responder. – Ela parece ser uma mulher admirável, admito, mas ela não é minha mãe. Eu tive uma mãe. Egoísta, calculista, desprovida de carinho e instinto maternal, mas que foi minha mãe enquanto esteve viva. Passaram-se anos desde que necessitei uma figura feminina em minha vida.  Eu tive curiosidade, eu busquei a verdade, fiz os exames e embora devesse ter aproveitado muito bem minhas férias dos Queen nos braços de um novo amante, perdi meu tempo revirando meu passado, encontrando-me com minha antiga babá, buscando a enfermeira, visitando sua mãe. Eu não preciso mais me aprofundar nessa história, nem quero. Se você se importa com Donna Smoak, suma com esses papéis. Finja que não existo e não a deixe descobrir jamais que ela teve duas filhas. Porque isso só a machucaria, principalmente quando descobrisse que eu não quero estar ligada a nenhuma de vocês.

— E se um dia ela descobre? – Questionei temendo a possibilidade. – Se um dia ela te encontra ao acaso e percebe que não sou eu?

— É aí, minha querida, que você coloca em prática tudo o que já ensinei.  – Sorriu. – Por uma vez saiba fingir. Minta, cubra seu rosto com uma máscara e finja surpresa. Você nunca me viu Felicity, eu nunca a conheci, esses últimos meses nunca existiram. Eu por minha vez saberei como agir, irei encara-la com surpresa, e então confusão, direi que ela está enganada, que não é possível estarmos ligadas e se por ventura você estiver presente, ficarei atônita, depois brincarei sobre nunca ter conhecido antes alguém tão parecida comigo, lhes darei as costas e irei embora, simples assim.

— Eu não consigo.  – Neguei. - Não saberia mentir dessa forma, principalmente para ela.

— Este é um problema seu. Se quiser contar, conte, mas já sabe minha decisão. – Falou. – Depois de hoje, eu nunca mais entrarei em contato. Eu não quero, não busco uma família, não quero uma redenção, você minha irmãzinha, terá que se virar sozinha. – Ela empurrou o envelope em minha direção. – Tem uma carta aí dentro, da minha antiga babá, ela conta tudo, com mais detalhes. Fora isso aí dentro tem os documentos referente ao tratamento da sua mãe, já paguei tudo, inclusive o que ainda está em andamento, não acho que vá precisar se preocupar com despesas médicas tão cedo, pelo o que li ela está respondendo bem, não será preciso procedimento cirúrgicos a não ser que acontece uma daqueles milhares efeitos colaterais, houve um momento em que eu não sabia se estavam a salvando ou adiantando o processo. – A encarei intrigada com o comentário, Megan pareceu quase... Preocupada. Ela percebeu o deslize quando demostrou ter acompanhado a doença mais a fundo do que se julgaria necessário e me lançou um olhar contrariado. - Mas se precisar... – Continuou indiferente. - Sua conta ainda está ativa e já deixei um montante em seu nome. Isso é tudo o que posso fazer por vocês.

— Eu não...

— Poupe-me. – Cortou. – Eu tenho dinheiro, e você não tem, a lógica é simples assim.  – Apertei meus lábios, por um momento havia deixado de lado minhas velhas opiniões sobre Megan. – Estou dizendo isso para que deixe o orgulho de lado, Felicity, você já sabe que não pode confiar no amanhã, eu mostrei a você que não pode confiar em ninguém. Até onde sei está desempregada e seu futuro não é muito diferente do que já viveu até então.  – Falou duramente. – Vai continuar servindo mesas e limpando banheiros.

— É impressionante como você não precisa nem se esforçar parar ser odiada. – Falei por fim.

— Estou dizendo a verdade. – Falou. – Ao menos agora estou apenas deixando o dinheiro, não estou exigindo nada em troca. – Sorriu. – Agarre-se a isso, veja como uma espécie de indenização. Você fez sua parte, foi descoberta, sim, mas foi uma situação sem precedentes. – Deu de ombros. – Por mais que goste de provoca-la sobre o fim do meu casamento, Oliver seria um idiota se continuasse casado comigo depois de tudo. – Cedeu antes de voltar a levar o copo aos lábios, após um novo gole ela sorriu, parecendo considerar algo. – Eu tentei negociar.

— O quê?

— Eu disse que ele poderia ter você, mesmo estando casado comigo. – Confessou. A encarei sem saber como reagir, não havia mais nada que Megan fizesse que me surpreenderia, não nos quesitos morais. – Ele disse não.

— É claro que ele disse. – Murmurei não duvidando nem por um minuto que essa seria a reação de Oliver. – Ele sabe que eu não aceitaria. E você também. – De alguma forma eu sabia, que assim como tantas outras coisas ditas por ela, Megan havia sugerido ideia tão ultrajante apenas para provoca-lo, causar impacto, irrita-lo.

— É um pouco desconcertante a forma que meu marido se apaixonou por você em apenas alguns meses. – Observou. – Eu tive pouco mais de dois anos como sua mulher, e o conheci por muito antes, e nunca consegui fazê-lo sentir nada além de luxúria por mim. É como as coisas são, eu sou muito boa em seduzir. Eu conquisto, não encanto.

— Sobre o dinheiro... – Comecei a falar, precisava mudar o tema, e não estava muito alegre e ter mais isso me prendendo a Megan.

— Apenas pegue. – Murmurou sem paciência. -  Sequer estou comprando seu silêncio, fale o que quiser, ou julgar necessário para sua mãe, quando quiser, só não me espere para os almoços de domingo. Não precisa se preocupar comigo me intrometendo em sua preciosa e entediante vida novamente.

Deus, como eu a odiava.

— Isso é tudo? – Murmurei por fim.

— Não. – Negou. – Poderia provoca-la por alguns minutos a mais, mas ele já chegou.  – Falou olhando por sobre meu ombro, seu sorriso aumentando. – Estou decepcionada, esperava por uma armadura brilhante.

Olhei para trás apenas para encontrar os olhos de Oliver sobre nós duas. Ele franzia o cenho, parecia genuinamente preocupado, e quando seu olhar se fixou em Megan foi como se estivesse prestes a cometer um crime.

— O irritei. – Murmurou divertida.

— Por que você gosta tanto de irrita-lo?

— Eu não sei, deixa o sexo mais interessante. – Apertei meus dentes. – Deixava. – Corrigiu-se. Não me deixei enganar pela falsa inocência, não havia sido um deslize. Oliver se aproximou, seu olhar em mim. Megan se ergueu e encarou o bartender. – Meu dois em um. – Apontou para Oliver. -  Ele pagará a conta. – Piscou antes de lhe entregar um guardanapo. – E este é meu quarto.

O bartender se limitou a dirigir Oliver um olhar de receio, agora que ele havia parado ao nosso lado. Claramente não sabia como agir diante o flerte de Megan, agora que seu marido estava presente.

— Você está bem? – Oliver perguntou a mim deixando o rapaz ainda mais confuso. Acenei afirmativamente e fiquei agradecida por seu olhar se voltar para Megan. – Do que se trata isso?

— Uma despedida, meu querido. – Megan sorriu. – A última. – O surpreendeu quando parou ao seu lado, uma mão indo ao seu rosto.  Oliver ficou tenso, seus olhos passearam brevemente pelo meu rosto, como se temesse minha reação.  – Para mim. Acredito que ainda há outra para você. – Murmurou antes de beija-lo no rosto e murmurar algo em seu ouvido, algo que deixou Oliver tenso e incapaz de me encarar.

— Adeus, Felicity. – Megan murmurou encarando-me com reconhecimento.

— Adeus, minha querida. – Retruquei ganhando um sorriso seu.  Megan saiu, deslizando seus dedos por Oliver com deliberada lentidão, já não sabia se era para provocar ou se de fato era um último adeus, talvez um pouco dos dois. Franzi o cenho ao notar que Oliver ainda encarava seus próprios pés, suas mãos ainda nos bolsos da frente.

Respirando fundo deixei algumas notas sobre o balcão e murmurei um agradecimento vago ao bartender, que fingia não prestar atenção, secava um copo com força, concentrado demais para ser real, ao seu lado o guardanapo com o número do quarto de Megan chamava minha atenção.

— Vamos. – Murmurei pegando o envelope e estendendo minha mão para Oliver.  Ele a pegou de imediato, como se temesse que eu mudasse de ideia. – Eu quero te levar para um lugar.

Isso invés de tranquiliza-lo, o deixou mais tenso. Principalmente quando me viu mexer em meu celular. Não disse o que estava fazendo, não falei que pedia que Helena buscasse minhas coisas no hotel. Não queria chegar nisso ainda, então não me permiti pensar nisso agora, nem ele o fez.

Podia ver que havia muitas perguntas a serem feitas, mas ele não queria invadir meu espaço e eu era grata por isso. Oliver sabia que não era o tema da minha conversa com Megan, que sendo assim não poderia fazer cobranças. Então ele apenas segurou minha mão o quanto pode, em certos momentos a buscando mesmo enquanto dirigia.

 - Você realmente está bem? – Oliver perguntou quando parou o carro. Todo o percurso havia sido feito em silêncio, por minha parte eu ainda digeria a conversa com Megan, e media as consequências que cada decisão tomada por mim poderia ocasionar. Já Oliver... Eu não sabia onde seus pensamentos estavam mais, suspeitava, é claro, mas não arriscaria um palpite. Assenti respondendo sua pergunta. – Onde estamos?

— Ali é minha casa. – Apontei. – Foi nessa rua, nesse bairro que passei praticamente toda minha vida. A vizinha ficava comigo sempre que minha mãe precisava cobrir o turno de alguém, seu marido, o padeiro, ocasionalmente nos deixava um agrado, se por achar que precisávamos ou por pura afeição, nunca tive certeza. – Havia pouco movimento na rua, aqueles que não estavam trabalhando estavam dentro de casa. Essa havia sido uma rua cheia de crianças, mas agora tinham poucas e os pais já não confiavam seus filhos ficarem livremente brincando nas calçadas. -  Cada pessoa aqui me conhece, conhece minha mãe, nos protegeu de alguma forma, e lá dentro está a única pessoa pela qual eu seria capaz de fazer qualquer coisa, por mais infame, ou estúpida que seja, perigosa até. Como por exemplo aceitar a proposta de uma estranha, idêntica a mim, de enganar a sua família.

Oliver me encarou com desconforto.

— Você não tem que...

— Foi uma decisão estúpida, perigosa e vergonhosa.  – O interrompi, precisando continuar. – Uma que me arrependi tão logo entrei em sua casa. Já tinha dúvidas antes, mas quando entrei lá, quando fui recepcionada por um abraço infantil, e quando encarei você... – O encarei com angústia.  – Eu sabia Oliver, que fizera uma besteira. – Observei seu rosto por alguns momentos. E então resolvi perguntar aquilo que tinha me deixado curiosa e incomodada. - O que Megan te disse?

Ele hesitou. Como se a resposta pudesse apertar algum botão que ele ainda não estava preparado para apertar.

— Ela me pediu para te deixar ir. – Falou por fim. Ergui o sobrecenho, um pouco surpresa, mas não de todo. – E eu odeio Megan por muitas coisas, mas não por isso. Pela primeira vez, tive a impressão de que ela estava pensando em alguém além de si mesma.

— Ela é minha irmã. – Falei. Não para justificar seu pedido. Apenas como uma maneira de entrar naquele assunto.

— Eu sei. – Oliver murmurou. – Todo nós sabíamos.

 - Não. – Tentei explicar. – O que eu quero dizer, é que oficialmente ela é minha irmã. -  Olhei para o envelope no meu colo. – Ela é minha irmã, e minha mãe, nossa mãe, está ali dentro. – Olhei para a minha casa. Não paramos em frente, estávamos na esquina. E mais uma vez o conhecimento de que deveríamos estar chamando atenção me bateu, mas ignorei.  – Donna Smoak, sempre foi minha mãe biológica.  – Sorri.

— Fico feliz por você. – Murmurou com sinceridade.

— Eu falei com ela sobre você. – Li surpresa em sua expressão.

— Eu não acho que devo ser sua pessoa favorita no momento. – Observou.

— Ela tem ressalvas. – Assenti. – Mas ela quis conhecer você.

— Mesmo? – Perguntou admirado. Assenti reafirmando.

— Sim. – Oliver me estudou. Sabia o que estava fazendo, sabia o que estava vendo. Ele inclinou a cabeça e seu rosto se aproximou do meu, não deixando-me capaz de desviar os olhos dos seus.

— Mas... – Murmurou. Pois sabia que havia um mas ali. Ele sabia que eu desejava apresenta-lo a minha mãe, assim como eu sabia que ele desejava conhece-la. Ne houvesse um mas, não precisaríamos ter essa conversa, teria voltado ao hotel com ele, e então mais tarde o traria exatamente aqui, para o jantar.  

— Mas ela não tem ideia da existência de Megan. – Respondi por fim.  – E Megan jogou tudo em meu colo, literalmente. – Voltei a olhar par abaixo. – Todas essas informações, e me deixou livre para decidir se conto ou não. Ela deixou claro também, que independente de minha decisão, ela nunca, jamais faria parte da vida da minha mãe. Deixou mais dinheiro, pagou todo o tratamento, e foi embora. – O informei. -Dinheiro seu imagino.

 - Ou não. – Murmurou indiferente. – Megan é uma herdeira. Vem de uma família rica, muito rica. – Explicou. Eu sabia disso, ela havia me dito naqueles primeiros dias, não entrou em detalhes, mas fico claro que Megan sempre foi rica, e se dependesse dela, isso nunca mudaria. - Se ela realmente falou a sério de não querer contato com sua mãe, esse dinheiro provavelmente é par manter sua consciência limpa.

— Megan foi roubada da mãe. – Falei. – Ela não precisa de uma consciência limpa. Eu reconheço que ela não deve nada a minha mãe. E se posso ser um pouco egoísta, parte de mim está feliz por ela não querer essa proximidade.

— Ciúmes?

— Claro que não. – Neguei divertida com isso. – É só...

— Megan é muito o que lidar. – Assentiu. – Sua mãe se decepcionaria em muitos níveis.

— Sim.

— E ainda assim vai contar a verdade. – Oliver murmurou.

— Sim. – Confessei, para ele e para mim. – Nesses últimos meses não tenho feito nada além de mentir para minha mãe, eu não quero passar os anos seguintes assim. – Meneei a cabeça. – Não é justo, vai ser difícil, ela vai lamentar os anos perdidos tal como a perda real de uma filha, e ficará ainda mais triste quando souber que não haverá reencontro, mas eu jamais me perdoaria por esconder isso dela.

— Entendo.  – Oliver murmurou.

— E preciso fazer isso agora, enquanto ainda tenho coragem. – Continuei. Oliver assentiu concordando.

— E não há espaço para mim nesse momento. – Sorriu, um sorriso pequeno, triste, mas conformado. – E nem mesmo depois.

— Eu queria que vocês se conhecessem.  – Ressaltei. – Falei com ela sobre você, mas isso não cabe mais aqui. – Dei de ombros. – Vai ser uma conversa longa, Oliver. – Continuei. – Que começará com aquela noite quando a vi pela primeira vez e então terei que explicar que além de toda a complicação de me envolver com um homem casado, este era o marido de minha irmã. – Sorri odiando a forma que soava. Oliver não tinha importância alguma para Megan, eu não tinha nenhuma importância para Megan, mas era assim que a frase ficava no final. Era como ela havia dito, não se podia ser vilão em todas as narrativas. -  E eu temo que o que tenhamos que acabar por aqui. – Falei por fim, não havia surpresa para ele. Claro que não. – Eu pensei que teríamos mais dias, me enganei achando que poderia trazer um pouco de normalidade os apresentando, mas eu estava errada, essa é minha vida, e esse encontro com Megan me fez perceber que eu não quero que continue sendo minha vida. Eu não quero continuar limpando banheiros e servido mesas, mas também não quero ir pelo caminho mais fácil, aquele que jogo todos os meus problemas em seus ombros. Eu preciso tomar as rédeas da minha própria vida. Eu preciso muda-la. E para isso, eu preciso dizer adeus, a Megan e a você.

— Eu sei. – Oliver deitou sua cabeça no encosto do banco e me encarou, imitei seu gesto. Por que precisava daquilo, precisava desse pequeno momento em silêncio. Havia tanta coisa não dita ali. Naquele olhar. Tanto que eu queria dizer, retribuir. – Eu vou sentir sua falta, todos vamos.

— Eu também.  – Sorri. – Eu queria estar pronta para fazer parte de sua família.

— Talvez um dia.  – Respondeu.

— Talvez. – Assenti com menos convicção. Não podia deixar de lado o que minha mãe havia dito, eu não ia pedir a Oliver para me esperar, não seria justo, não poderia segura-lo dessa maneira. Então eu tinha quase certeza que nunca mais iria vê-lo, e que se o visse, não seria mais assim, ele não me olharia mais assim.  – Você precisa aprender a ser solteiro.  – Brinquei.

— Felicity... – Murmurou meu nome em um apelo, o som saindo dolorido. – Não faça isso.

— Precisa sair com outras mulheres. – Forcei-me a dizer. – Apenas aventuras, não as apresente as crianças, não busque uma mãe para elas. – Observei um movimento quase imperceptível em sua mandíbula. Denunciando com aquilo o aborrecia. Ignorei sua óbvia agonia e continuei. - Você é um pai incrível Oliver, você pode lidar com isso sozinho. Mas não precisa, você tem Thea, você tem sua mãe, mais ou menos, tem Sara e Tommy. Toda uma família que irá ajuda-lo sempre que precisar, sem que precise pedir. Divirta-se, mas não se comprometa, não até certeza que a ama, não até certeza que ela o ama, ama a todos vocês. – Pedi. – E fique longe de Isabel Rochev, até mesmo para diversão. – Ergui um dedo o avisando. Oliver sorriu divertido.  – Eu estou falando sério.

— Eu sei que está.  – Respondeu voltando a ficar sério. Oliver ergueu sua mão e trouxe meu rosto até o seu. – Eu prometo ficar longe de Isabel, eu prometo não deixar nenhuma mulher chegar perto de meus filhos novamente, e prometo que tentarei melhorar cada dia como pai, mas eu não posso prometer amar outra mulher, Felicity, não depois de você. E se há coisas como destino, e nascidos um para o outro, que seja com você. Se não agora, em outro dia, outro ano, outra vida, mas nunca com outra pessoa. Apenas você.

Deus.

Ele tinha feito isso.

Oliver conseguiu justo fazer com que eu me apaixonasse ainda mais por ele.

— Oliver...

— Não digo isso na esperança que mude de ideia. – Falou encarando-me intensamente. – Estava ciente desde o momento que chegamos nessa cidade, que voltaria sozinho para casa. Digo isso porque já não consigo esconder ou mentir, eu te amo Felicity Smoak, te amei muito antes de saber seu verdadeiro nome, você, não Megan, nem nenhuma outra. Eu amo você.

Eu amo você.

As vezes, as palavras mais bonitas, as que mais precisamos ouvir, são aquelas capazes de no quebrar.

O encarei triste quando devia me sentir maravilhada.

— Eu não posso dizer essas palavras. – Falei com a voz entrecortada. – Não quando tenho que deixa-lo. – Oliver encostou sua testa junto a minha. – Eu queria tanto...

— Eu sei. – Seus lábios foram até minha têmpora.  – Eu não preciso ouvi-las. – Murmurou contra meus cabelos.  E então seus lábios estavam sob os meus, seu beijo era agridoce, por ser uma despedida, por saber que era o último, era doloroso. Não queríamos nos soltar, não queríamos deixar um ao outro.

Mas precisávamos.

Quando se afastou notei em seus olhos o brilho de lágrimas não derramadas, e percebi quando aproximou os lábios do meu rosto novamente, que havia derramado as minhas. Oliver as beijou, carinhoso, e então me abraçou. E eu sabia, enquanto me apegava aquele último momento, aquela última oportunidade de sentir seu cheiro, que jamais encontraria alguém como ele novamente.  Nem mesmo se tentasse.

Foi naquele último abraço o mais longo de todos trocados entre nós dois, mas que não parecia durar o suficiente foi que percebi. Tão somente vivendo aquele último momento que notei o quão desesperadamente o amava.

Verdadeiramente.

E então ele partiu.

E meu coração se quebrou em mil pedaços.

Lembrei-me da pequena história que havia criado para Lexi, para explicar a complicada situação que vivíamos.  E eu sabia que se eu pudesse pegar meu coração, se pudesse fisicamente juntar aqueles cacos e colocar sobre uma mesa, haveria um caleidoscópio de cores, tal como pequenos diamantes que refletiam a luz que os tocavam, mas tão frios quanto.

A rainha havia voltado, entregado o remédio para a princesa e libertado o rei de coração bondoso. E a princesa havia voltado para seu castelo na nuvem de algodão doce, com um sabor amargo na boca.

Um sabor a qual chamavam de solidão.

Sentada na beirada da nuvem a princesa olhava para baixo, enquanto segurava os cacos de seu coração, ela olhava para baixo. Ela erguia os pedacinhos contra a luz na esperança de sentir algo, ela pensava que ao ver as cores, ela poderia sentir novamente. Mas ela estava enganada, ela não poderia.

Não até que tornasse a descer.

 


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Notas finais do capítulo

Então... Alguém aí? Ninguém?
Como eu disse ainda há o epilogo (Que já está pronto). Então, me façam saber o que vocês acharam...

Xoxo, LelahBallu.



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