A Mesma Face escrita por LelahBallu


Capítulo 16
Million reasons


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos usurpadores, tudo bem com vocês?
Todo mundo em casa e protegido???
Espero que sim.
Hoje vim trazer um capítulo de AMF para vocês, acho que não está tão grande como estamos acostumados, mas espero que gostem. Sei que faz tempo que não apareço por aqui, mas espero que compreendam que infelizmente não estou podendo (mesmo em quarentena) estar atualizando as fics, e que as vezes mesmo com o capítulo pronto, estou preferindo mantê-los para mim, até me sentir segura do capítulo em si.

Em fim, graças ao COVID-19 estamos passando por um momento crítico não só no Brasil, como no mundo. É difícil, é preocupante, e aterrorizante, principalmente diante o cenário atual do nosso governo. Então peço que todos se cuidem. Fiquem em casa, assintam vídeos, filmes, leiam livros, estudem, ocupem a mente e corpo. Cuidado com a saúde mental de vocês também. Cuidem-se!!

* Vou inclusive até deixar o link do vídeo que fiz referente a isso nas notas finais, então quem quiser assistir... Seja bem vindo!

Esse capítulo é para todos vocês, mas quero deixar meu "Xoxo" especial para minha querida amiga Izabel (Iz) Seliger que fez aniversário essa semana. Iz sua one está chegando, por enquanto espero que o capítulo a anime!

Bom, é só isso... Boa leitura!!



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...Eu me curvo para rezar
Tento fazer o pior parecer melhor
Senhor, me mostre o caminho
Para cortar através de todo esse couro desgastado
Tenho cem milhões de motivos para ir embora
Mas amor, eu só preciso de um bom motivo para ficar...”

 

 

MEGAN QUEEN

Observei o rosto de Felicity se transformar quase que bruscamente.

Estava tão séria, tão valente, após ver Lexie se afastar, que por alguns segundos acreditei em sua coragem. A admirei por isso, mas apesar de tudo, seu rosto se contraiu tão logo escutou o que eu disse. Para minha absoluta diversão, parecia até mesmo entrar em pânico.  Eu não podia evitar deixar um sorriso escapar em meus lábios, nada me satisfazia mais do que estar certa, do que atormentar os outros com seus segredos mais preciosos e vergonhosos.

E se posso ser sincera? Mesmo não estando certa eu era plenamente capaz de convencer os outros do contrário. Mas se havia algo do que eu não tinha dúvidas nesse momento, e que Felicity provavelmente jamais admitira, não para mim, é claro. Era que de fato ela havia se apaixonado por meu marido.

O fato era tão obvio quanto a necessidade que sentia em nega-lo. Ela manteve seu olhar treinado em mim, a ansiedade refletida neles não me deixava enganar, ela queria encara-lo, mas temia que isso por si só fosse uma confissão.

Como se eu fosse tola o suficiente em não ter percebido.

Inclinei minha cabeça e deixei com deliberado interesse meu olhar viajar até o de Oliver. Não que eu tenha conseguido, uma vez que ele a encarava. E se Felicity estava ansiosa em esconder seus sentimentos... Oh pobre e coitado Oliver... Ele parecia ansioso por revelar os seus.

Tolos.

Os dois.

Não passavam de um desastre inevitável prestes a acontecer.

Eu sequer precisava ser a vilã de sua história.

Felicity não se encaixava em seu mundo, simples assim.

Meneei a cabeça enquanto sorria com a perspectiva do que sem dúvida iria acontecer e resolvi voltar a encarar Felicity que ainda estava na defensiva. Ergui minhas sobrancelhas percebendo que não poderia deixar de lado uma conversa em particular com Felicity depois.

— Você já conseguiu afastar as crianças da minha péssima influência. – Murmurei ciente de que Felicity não cederia a dizer nada quanto aos sentimentos por Oliver, não agora e como eu já havia pensado, não diante de mim. Ela cruzou os braços e ergueu o queixo, encarando-me de frente. Eu gostava disso nela, Felicity poderia ter nascido uma pobre coitada, mas certamente não agia como uma.  – Agora o quê?

— Agora eu saio. – Murmurou me surpreendendo e decepcionando. Odiava quando resolviam acabar com minha diversão.  Seu olhar foi até Oliver, mas desviou rapidamente. Pelo o que pude observar do rosto de Oliver, ele não havia gostado do que ela havia dito também, certamente não pelas mesmas razões do que eu. Felicity, contudo, fixou seu olhar em Thea, um pedido de desculpas perceptível em seus olhos e voz, embora não estivesse presente em suas palavras. – É um problema de família, que requer uma reunião em família. – Falou me encarando, suas sobrancelhas se erguendo ao devolver minha provocação.  – E eu não sou um membro da família. – Deu de ombros.

— Mesmo, minha querida? – Questionei lhe dedicando um sorriso.

Isso a desconcertou um pouco.

Oh sim, havia certas coisas que não podíamos fugir.

Coisas das quais descobri em minha viagem.

— Podemos falar sobre esse tema depois. – Falou em tom firme.

— Sua escolha. – Murmurei resistindo dar de ombros. Era um gesto muito seu.

Considerando tudo o que aconteceu e o quanto eu a paguei para atuar como minha sósia, e a forma como ela falhou, Felicity não devia estar tendo escolhas. Na verdade, eu mesma deveria estar cobrando alguns milhares de dólares que tive que gastar com o tratamento de Donna Smoak, mas preferi empurrar essa conversa para mais tarde, por agora minha prioridade era Oliver.

—Felicity. – Oliver a chamou parecendo querer impedi-la de ir embora.

Felicity o encarou com angústia, mas não apenas isto, Felicity aparentava até mesmo estar irritada.

— Eu não posso estar aqui. – Esclareceu. - Não enquanto você e sua esposa, discutem sobre assuntos que deveriam envolver apenas vocês dois. – O alfinetou. Oliver respirou fundo ao receber o impacto de suas palavras.

Ergui minhas sobrancelhas surpresa com sua provocação.

— Finalmente. – Falei aproximando-me dela. – Alguém que se lembra de que eu sou a esposa.

— Acredite, eu nunca esqueci. – Felicity respondeu não compartilhando do meu humor.

— Nem mesmo quando o aceitou em sua cama? – A provoquei. Isso fez com que seu rosto se avermelhasse trazendo em evidência o quanto ela diferente de mim. Não me admirava ter falhado em sua missão, se ela se envergonhava com tamanha facilidade dessa maneira. Achei a imagem divertida, eu certamente nunca cheguei a me envergonhar de algo ao ponto de corar, ver isso em Felicity foi algo que me fez querer rir. Ela me fuzilou com o olhar e eu sabia que se não tivéssemos uma plateia, eu não teria ficado sem resposta, algo impróprio até. Lembrava-me bem de como foi treina-la, Felicity nunca recuou.

Olhei em volta, era de se esperar que Tommy Merlyn e Thea tivessem se afastado e nos deixado a sós. Mas Thea se via como uma defensora feroz de... Felicity?

Thea sempre me odiou, por razões óbvias, e eu nunca a suportei, que tivesse feito amizade com alguém que carregava o rosto igual ao meu me surpreendeu. Que se mantivesse na sala pronta para intervir quando Felicity precisasse, me deixou ligeiramente aborrecida. Quanto a Tommy, o conhecia o suficiente para saber que além de estar por lá para intermediar quando Oliver precisasse, ele estava segurando-se para não pedir que lhe trouxessem um balde de pipoca.

— Felicity, fique. – Tommy pediu. – Essa casa é grande o suficiente para não ter que estar envolvida nesse tipo de discussão. – O olhar de Tommy deslizou até o meu. – E já que você insistiu em trazer seus problemas matrimoniais para minha casa, o que preciso acrescentar foi rude e sem classe, eu posso sugerir que irem até o meu escritório? Longe dos ouvidos infantis? – Frisou.

— Uma ideia encantadora. – O presentei com um sorriso. O mesmo sorriso que ele tinha ignorado ano após ano. – Tommy, se você não fosse tão resistente...  – Cortei minha sentença quando fui de forma um tanto quanto brusca, puxada pelo braço. Encarei com diversão o perfil rígido do rosto de Oliver, sem sequer lançar mais nenhum olhar aos demais presentes ele não demorou em me guiar até o escritório em questão, a porta se fechando com um baque exagerado, expondo, assim como os gestos nada contidos de meu marido, que eu havia o levado até o limite.

Já não era sem tempo.

O observei andar de um lado para o outro como um leão enjaulado. Eu conhecia Oliver por anos, mais pelo casamento dele com sua falecida esposa, do que pelo nosso casamento em si. Eu o conhecia suficiente para saber que esse comportamento antecederia uma explosão, ou pior, Oliver seria dominado pela mais profunda e irritante frieza.

Não deveria ficar surpresa por ter acontecido exatamente o último.

Oliver parou, seus ombros erguendo-se, e após uma profunda respiração, ele colocou as mãos nos bolsos, e encostou-se a mesa. Seus olhos alçaram os meus com calculada frieza, analisando-me, como se eu não fosse mais que um inseto irritante.

— Não faça isso, meu querido. – Sorri, pois me negava a ser tratada menos do que eu merecia. – Se não quer que eu o seduza, tente parecer menos sexy. – O provoquei.

Nenhuma reação, nada a não ser um ligeiro inclinar de cabeça. Como se o que eu dissesse não captasse seu interesse, honestamente mal parecia ter sido até mesmo um incômodo.

— Nenhuma resposta? – Perguntei me aproximando. – Estou profundamente magoada, e ofendida.  – Murmurei erguendo minha mão, pronta para toca-lo, sabendo que isto sim levaria a uma reação. Eu não era tola, a reação não teria sido diferente, mas ainda assim não pude evitar ficar aborrecida quando ele interceptou minha mão, ao segurar meu pulso, não me machucou, mas o toque era firme, mecânico, sem nenhum calor.

Tão diferente de como costumávamos ser.

— Eu acredito que possa ter ofendido seu orgulho, mas dificilmente a magoei, já que ambos concordamos, que exigiria de si mesma possuir algo tão humano, como sentimentos. – Murmurou ainda me encarando.

— Sua opinião sobre mim, é tão lisonjeira. – Falei simplesmente. Ele não estava errado, mas eu não poderia aceitar que qualquer homem, mesmo este, me julgando por não ser uma tola sentimental. Oliver ignorou meu comentário e soltou meu pulso.

— Eu te disse para não se aproximar das crianças.  – Avisou deixando aquela fagulha de emoção crua, quase transparecer.

— Eles são meus filhos também. – Murmurei precisando ver mais daquilo.

Ansiando por isto.

— Não mais. – Negou. - Nunca foram. Você deixou claro isso quando precisou enviar uma estranha em seu lugar, para que pudesse ter férias deles. – Acusou-me. – Ter férias de mim. – Acrescentou. -  Como ousa vir até minha casa, sabendo que já havíamos descoberto tudo? O que tinha em mente que aconteceria quando trocasse de lugar novamente? Quão longe considerou chegar? Você mesmo sequestrou a mulher que contratou para substituí-la. Você realmente não conhece limites?

— Sabe o que interessante? – O observei divertida. – Toda essa postura de macho alfa, frio e inalcançável, falando sobre uma estranha, Felicity, como se ela não importasse e fosse assim como eu, um incômodo.  – Rodeei a mesa e sentei-me na confortável cadeira, Oliver não se deu o trabalho de se virar para me encarar, mas continuei. – E eu sei, assim como você também, que se ela entrar agora mesmo nesta sala, você não conseguiria tirar seus ansiosos olhos dela, assim como o bom cachorrinho que se tornou.

— Megan. – Murmurou em uma ameaça. Finalmente voltando-se para me encarar. Cruzei minhas pernas, minhas mãos sobre os braços da cadeira e sorri vitoriosa.

— Você sabe... Você sempre foi um. – Dei de ombros. – É apenas uma pena que sua guia não esteja mais em minhas mãos.  – Oliver ergueu o queixo, a fúria estava presente em seus olhos, mas infelizmente, estava devidamente controlada.

— Eu sei o que está fazendo. – Falou. – Você quer me ver perdendo a cabeça, quer ter controle total de minhas emoções, deseja importar o suficiente... –Pausou como se achasse a ideia em si extremamente divertida. – Eu não me importo com você Megan. Você partiu, colocou alguém em seu lugar, e não se questionou em nenhum momento por que seria tão facilmente substituída? – Para minha própria irritação, percebi que eu rangia os dentes. - Todos nessa casa ou te odeiam, ou apenas estavam acostumados com sua presença.

— Oh agora você realmente está tentando me machucar. – Meneei a cabeça com falsa lamúria. – Tão pouco importavam as noites que passamos juntos?

— Nossa relação foi baseada em necessidades, usamos um ao outro. – Comentou. – E foi bom por um tempo, foi o suficiente... Por um tempo. – Frisou. - Eu quase me vejo agradecido por sua farsa. – Confessou. – Me fez almejar o divórcio sem questionamento, ou arrependimento. Tudo o que precisámos fazer agora é assinar os malditos papéis.

Sorri com o que disse.

— É fofo, a maneira que você faz parecer que eu cederei facilmente a isto. – Menosprezei a ideia com um gesto de mão. – Eu serei uma Queen, até me cansar de ser uma Queen, encostei-me ainda mais confortavelmente. - E eu não vejo isso acontecer tão cedo. – Zombei.

— Megan... – Murmurou entredentes.

— Na verdade... – O interrompi enquanto tamborilava meus dedos na mesa. – Eu me lembro de ter assinado um contrato pré-nupcial que afirma, resumidamente e em palavras pobres, que quanto mais anos eu permanecer casada com você, mais gorda é minha retribuição. Diga, meu querido, você realmente não percebeu a armadilha que criou para si mesmo?

— Então, tudo se resume a dinheiro. – Constatou.

Revirei meu olhos diante seu comentário.

Sério? Oliver.

— Por que você está surpreso? Eu me casei com você por dinheiro, e por que você... – Gesticulei para seu corpo. - ... É você. Você acha que eu ficaria envergonhada em admitir que planejo continuar casada pela mesma razão? – Dei de ombros. – Não seja estúpido, Oliver.

— Eu não vou tolerar isso. – Avançou lentamente,  colocando ambas as mãos na mesa, seu corpo inclinando-se tornando-se próximo ao meu. – Eu não planejo ficar um só dia a mais casado com você do que o necessário para concluir esse divórcio.

— Por que a pressa? – Sorri. – Acaso planeja pedir alguém em casamento? Minha irmãzinha talvez? – Não pude evitar soltar uma pequena risada ao notar aquela fagulha novamente consequente de meu comentário, o frio e calculado Oliver, sumia apenas em menção a Felicity. – Tão audacioso Oliver, e ingênuo. Felicity não quer nada com você, nada a sério pelo menos. Eu suponho que após ter dado a virgindade para você, tenha virado o favorito. – Inclinei minha cabeça considerando. – Por agora. – Sorri. - Mas meu querido, uma garota consegue encontrar orgasmos em diferentes homens. – Pisquei.

— Como você bem sabe. – Murmurou.

— Se isso era uma ofensa, saiba que eu recebi como o mais gratificante elogio. – Murmurei fingindo olhar minhas unhas. Oliver me estudou por um tempo, como se buscasse diferentes maneiras de lidar comigo, no fim ele puxou a cadeira ao seu lado, e se sentou confortavelmente.

Agora, estávamos em alguma direção.

— Está bem, vamos tratar de negócios. – Falou fazendo com que eu não pudesse ocultar meu interesse no rumo que sua mente o levou. – Mas primeiro de tudo, não traga mais Felicity para essa conversa...

— Você a levou para sua cama... – Não resisti, era tão fácil e gratificante usar essa carta. Especialmente por que eu não tirava da minha mente a forma que Felicity me encarou quando sugeri que dormisse com Oliver. Como era bom poder apontar dedos.

— O que considerando tudo o que fez, não é nada. – Rebateu. Verdade. – E se bem fui informado, estava em seus planos.

— Oh, mas me vai garantir um belo bônus. – Não recuei. – Mas eu farei sua vontade, não citarei o santo nome de Deu... Digo Felicity em vão. – Brinquei. – Não se preocupe, eu tenho minha própria conversa com ela em mente mais tarde.

— Não pense em ameaça-la, ou importuna-la pelo o que aconteceu entre nós. – Murmurou em tom gélido. Era irritante, mas ao mesmo tempo engraçado, a forma que Oliver Queen tão prontamente defendia minha irmã.

— Oliver, é estranho que seja eu a dizer isso, mas o mundo não gira em torno de você e o que tem entre suas pernas. – Mas uma vez fui agraciada pelo ranger de dentes. – E apesar do pequeno show lá fora, estou mais decepcionada por você ter me traído com Isabel Rochev do que a outra versão de mim. Que vergonha, Oliver.

— Felicity não é...

— Oh por favor, ela tem todos os meus aspectos físicos, junto com o que você deseja em uma mulher para casar e ter filhos. – Menosprezei seu protesto. – Ela para você, é uma melhor versão de mim. Eu só preciso te lembrar, que ela não é a versão casada com você, então, por que não deixamos de falar na minha versão menos sexy e nos concentramos no que você mesmo falou: Negócios. De fato, eu mesma tenha algumas sugestões a fazer.

Observei Oliver me encarar com interesse renovado. Ele era assim quando trabalhava, sempre focado e procurando por desafios e nada o deixava mais contente do que pegar o relacionamento que tivemos e alterar suas conformações para caber em algo frio, calculista, nada além do que uma transação.

Eu não poderia estar mais contente com isso.

Ou poderia, se ele concordasse com uma das minhas sugestões, a mais razoável do meu ponto de vista, mas que não seria tão bem recebida por ele, no começo pelo menos.

Era algo que valia a pena apostar.

Parecendo ler-me completamente, seu interesse virou confusão, e certa resistência.

— Que sugestões?

Sorri pensando no mundo de possibilidades que essa pergunta me trazia.

OLIVER QUEEN

Avancei por entre as mesas enquanto observava a cabeça loira inclinada, sua atenção fixa no cardápio que já havia enfrentado alguns anos de usos. Por um alguns segundos me permiti não fazer mais nada além de observa-la.

A conversa que havia tido com Megan ia e vinha em minha mente, mas tentava a todo custo deixa-la de lado, não querendo de jeito algum, ver verdades no que Megan havia dito. Odiando a mera possibilidade de Megan, de todas as pessoas, estar certa. Eu não queria acreditar que meus sentimentos por Felicity se resumiam a vê-la como uma substituta de Megan. Não era justo com ela, não era justo com nenhum de nós dois.

  Como se sentisse que estava sendo observada, Felicity ergueu a cabeça, seus olhos encontrando os meus. Não havia surpresa neles, mas talvez, para minha surpresa,  uma certa dose de culpa.

— Você não ficou. – Murmurei sentado a sua frente.

Ela se limitou a um dar de ombros.

— Parecia estranho, estar lá enquanto vocês conversavam sobre o futuro dos dois.  – Comentou.  Quando saí do escritório, meu primeiro pensamento foi nas crianças, e então nela. Megan deixou a mansão Merlyn com um aceno provocativo para Tommy e Sara que se apressaram em me contar onde estavam meus filhos e é claro, Felicity. Thea havia levado as crianças de volta para casa após se despedir de Felicity. Tommy não hesitou em dizer que mal havíamos entrado no escritório e Felicity tornou a insistir em deixar a casa. Segundo ele, ela trocou breves palavras com Thea que lhe entregou seu celular e partiu. Foi através de uma mensagem de minha irmã que eu descobri que ela estava nessa lanchonete. – De qualquer jeito eu precisava fazer algumas coisas. – Falou tirando-me de meus pensamentos.

Acompanhei seu olhar e percebi algumas sacolas ao seu lado, assim como uma mochila. Eu sabia o que isso significava e odiei.

Ela estava indo embora.

— Você está partindo. – Murmurei, apenas pela necessidade de ouvi-la falar isto. Talvez assim, eu realmente acreditasse, desistiria, aceitaria.

— Eu já deveria ter partido, Oliver. – Suspirou. – Eu falei com minha mãe hoje, e mesmo através da linha eu percebi que ela estava forçando parecer feliz, e melhor. Eu a decepcionei, repetida vezes, ao evitar visita-la nos últimos meses. - Confessou. A culpa se tornando ainda mais presente. - Tinha meu papel a fazer aqui, e tinha medo. Ainda tenho, mas preciso ficar ao seu lado, eu preciso estar ao seu lado.

— Eu compreendo. – Assenti. Como não poderia. – Eu só odeio o fato de que isso seja uma despedida.  Principalmente após ontem. – A menção a noite anterior fez com que ela sorrisse um pouco tímida. E eu percebi mais uma vez, que não estava pronto para me despedir, não mesmo. A encarei com urgência. – Deixe-me acompanha-la. – Pedi antes que pudesse raciocinar sobre a ideia.

— Oliver. – Murmurou em um alerta. – Não me peça isso.

— Eu não estou pedindo para você ficar. – Expliquei. - Eu sei que seria egoísta demais pedir isso, mas deixe-me ir com você, por alguns dias. Podemos ser apenas nós dois, por alguns dias.  – Repeti. – Por favor.

— Você e Megan...

— Já nos acertamos. – A interrompi. – Todos os ajustes serão feitos por meu advogado, já não há mais o que discutir com Megan, já não há mais eu e Megan. – Ela me encarou insegura, mas eu pude ver, mesmo através do receio, que ela queria dizer sim, e foi por isso que me vi mais uma vez, implorando. – Por favor, Felicity. Apenas alguns dias. – Ela respirou fundo parecendo precisar daquela lufada de ar desesperadamente, e seus olhos me confundiram ainda mais, ao notar o mais leve indício de lágrimas.

— Eu gosto de você, Oliver. Muito. – Confessou. – E eu acho que de algum jeito, embora eu me sinta insegura das razões por trás disso, que você também gosta de mim, muito. – Assenti não vendo por que negar algo que já estava tão nítido para qualquer pessoa ao nosso redor. Chegava a ser constrangedor o quanto eu não conseguia esconder, a forma que Felicity me abalava. – Eu não quero chegar ao momento em que eu perceba que na verdade, eu sinto muito mais. – A encarei incerto de como responder ao que disse, eu sentia que qualquer que fosse a frase dita por mim, não me ajudaria. Ela já havia dito que se sentia insegura com relação aos meus sentimentos por ela, e eu poderia apostar que era por que Felicity havia chegado a mesma conclusão de Megan, que ela era sua substituta, nada mais. Felizmente ela não me deu espaço para falar nada. - Eu temo que só estamos adiando o inevitável, e que quando acontecer, só iremos nos machucar. – Continuou. – Mas parte de mim percebe, que não deve ser possível sentir ainda mais dor. Essa parte teimosa põe por baixo qualquer um dos meus argumentos, todos eles válidos, do por que levar você comigo seria uma péssima ideia. E tudo por que eu quero me apegar a qualquer desculpa para ficar, mesmo que por um breve momento, com você.

Pisquei surpreso, mas incerto do que aquilo significava.

— Felicity...

— Eu estou dizendo: Sim. – Interrompeu-me. Pisquei ainda mais confuso e então não pude evitar, sorri. Ignorando todo o “mas” que veio antes desse sim, toda a incerteza, e insegurança. Eu só conseguia me concentrar no fato de que ela havia concordado. Ela sorriu, provavelmente divertindo-se com minha reação e empurrou as sacolas com seu quadril, criando espaço para que eu pudesse sentar ao seu lado, sua cabeça inclinou em um claro convite.

Ergui-me indo para seu lado sem pestanejar.

Com a proximidade veio a vontade de beija-la. Uma vontade difícil demais de resistir, mas o fiz, não querendo ser invasivo. Ela havia concordado com a viagem, e havíamos passado a noite anterior juntos, mas eu não poderia ignorar toda a hesitação que teve em concordar. Esse era talvez, um sinal de que devíamos conversar antes, e talvez ela precisasse estabelecer seus próprios limites.

Quando estava prestes a abrir a boca, para fazer todas as perguntas necessárias, um prato foi colocado em nossa frente, nele havia um enorme hambúrguer acompanhado com batatas fritas, ao seu lado um copo cheio de refrigerante foi colocado, encarei Felicity. Ignorando sem querer a atendente que ficou ao lado da mesa, bloco na mão como se esperasse que eu falasse algo.

— O quê? – Felicity questionou ao ler minha expressão. Trazendo o prato mais perto de si e não hesitando em pegar uma batata.

— Eu perdi o momento em que você pediu?

— Foi antes de você chegar. – Deu de ombros.

— Eu pensei que ainda estava olhando... – Bati com o dedo sobre o cardápio.

— Oh, sim. – Sorriu contente parecendo se lembrar de algo, seu olhar caiu na garçonete. – Eu vou querer um pedaço de torta depois que terminar aqui.

— Uma ou duas colheres? Ou o bonitão vai querer um hambúrguer também? – Perguntou anotando rapidamente. Felicity me olhou aguardando. Olhei para o prato em frente a ela com dúvida. A garçonete não teve paciência para minha hesitação, com um suspiro exagerado, cujo intuito era mostrar o quanto eu a irritava, ela fechou o bloco e guardou em seu avental. – Volto quando descobrirem.

— Ela poderia apenas trazer uma a mais de qualquer jeito. - Falei

— Alegre-se, ela o chamou de bonitão. – Lembrou-me antes de se concentrar em comer seu hambúrguer, a observei lamber os lábios após uma grande mordida. Seu rosto virou para o vidro quando percebeu que eu a observava, limpando sua boca com um guardanapo ela me fuzilou com o olhar. – Se continuar me observando enquanto eu como, eu deixo você para trás. – Ameaçou-me.

— Eu só não tinha visto você comer um hambúrguer antes. – Observei. Ela considerou o que eu disse.

— Eu era Megan. – Retrucou. – Você já viu Megan comendo um hambúrguer antes?

— Não.  – Murmurei concordando com seu ponto.

— Ok. – Assentiu. – Você decidiu ir comigo, está na hora de eu esclarecer algumas coisas antes. Algumas delas você deve ter percebido, mas vamos lá...

— Vamos lá... – Repeti deliciado com a forma que havia falado. Essa devia ser a primeira vez que Felicity falava tão livremente comigo. Ela não Megan, ela não mãe de ninguém, ela não era minha esposa. Ela era apenas Felicity.

— Eu amo comer. – Virei meu corpo de lado, imitando seu gesto, para que assim ficássemos em frente um ao outro. – E não estou falando desses pratos chiques que exigem entradas com alguma salada exótica, e porções mínimas. – Assenti tentando compreender onde ela queria chegar. - Eu gosto de hambúrguer, fritas, e Deus me livre se ficar afastada de pizza. Eu me escondi algumas vezes na dispensa para comer um burrito depois do jantar que sua mãe insistiu em dar para algumas amigas em um dos dias que você estava viajando. – Sorri imaginando a imagem. – Eu sou viciada em café, sou uma escrava do chocolate e já provei todos os sabores de sorvete da sorveteria que tem perto do meu apartamento, eu desafiei Barry mais de uma vez em corridas que eu sabia que ele ia perder, apenas para fazê-lo pagar por meu café, por que eu sou difícil de manter.  – Deu de ombros. – Então, você não pode ficar aí sentado me olhando comer e julgando o que estou comendo, ou eu deixo você para trás. – Voltou a me ameaçar.

— Eu não estava...

— Sim você estava. –Sorriu. – Você quase entrou em pânico quando a garçonete perguntou se ia querer também.

— Ok. – Concordei. – Talvez eu seja um pouco rígido com o que como. – Cedi.

— Um pouco. – Assentiu apenas para me provocar.

— Um pouco. – Repeti. Ela meneou a cabeça e voltou a se concentrar em sua comida, arrisquei-me a provar uma de suas batatas e fui censurado com olhar. Talvez eu devesse me lembrar também de que Felicity não é uma pessoa que divide sua batatas. Senti meu celular vibrar e desviei minha atenção de seu rosto para ler a mensagem.

Merda.

Minha vida havia se transformado em um verdadeiro drama.

— Algum problema? – Felicity perguntou.

— Thea e Megan. – Falei enquanto respondia rapidamente a mensagem. – Minha mãe disse que estão brigando, mas conhecendo as duas, Thea deve está gritando enquanto Megan a ignora. - Ela inclinou a cabeça me avaliando, seus olhos estreitos.  – Megan passou em casa para pegar suas coisas, isso é tudo. – Apressei-me em dizer.

— Estou mais preocupada com as crianças. – Murmurou me surpreendendo. Talvez ela não fosse apenas Felicity, não mais.

— As crianças estão passeando com a babá. – A informei com naturalidade. – Foi tudo programado, exceto pela briga é claro, mas eu não posso controlar minha irmã, Deus sabe que ela tem motivos o suficiente para odiar Megan. As crianças estão bem.

Ela assentiu, então balançou a cabeça como se tentasse se livrar de quais quer que fossem seus pensamentos.

— Seria estranho Thea ficar calada. – Felicity observou. – Você não tem que ir lá? Você sabe, evitar que sua irmã se torne uma assassina ou algo do tipo? – Brincou.

— Não. – Neguei rapidamente. – Quando conversei com Megan, entramos em um acordo. Combinamos de que ela ia para lá, e eu estaria bem longe. – Expliquei. – Eu até mesmo avisei a Thea, para que ela também tivesse a oportunidade de evitar conflitos.

— Thea jamais deixaria sua casa para deixar Megan confortável. – Observou. Ergueu o pulso dando uma breve olhada em seu relógio. – Meu voo está marcado para em duas horas. – Sondou.

— Você já havia comprado a passagem. – Murmurei não podendo deixar de sentir certo aperto no peito. Ela realmente teria partido. Ela assentiu concordando.  – Você ia se despedir?

— Por que acha que Thea lhe disse onde me encontrar? – Perguntou.

— E as crianças? – Não pude deixar de perguntar.

— Eu não aguentaria. – Confessou. – Eu já não sou Megan para eles, eu não posso contar uma história de ninar e abraça-los prometendo voltar assim que possível. Qualquer coisa que eu dissesse seria mentira. O encontro de hoje já foi confuso o suficiente. Eu sinto muito, Oliver. Eu não saberia o que dizer, o que fazer, e eu definitivamente não conseguiria evitar chorar na frente deles, e isso os assustaria. – Assenti concordando. Não era como se a própria Megan tivesse pensado em se despedir também.

— Eu não posso ir hoje. – Murmurei em tom de desculpas. – Eu preciso ir para casa, eu preciso ir até eles, falar com eles. – Ela assentiu absorvendo o que eu dizia. - Inventarei uma viagem a trabalho... Preciso pegar minhas coisas. – Tive receio em falar cada palavra, tive medo de que essa fosse a oportunidade perfeita para ela desistir, e uma vez que ela fosse embora sem mim, eu não poderia segui-la, por que talvez ela jamais perdoasse o fato de não respeitar sua escolha. Os olhos de Felicity não desviaram do meu e eu pude perceber que ela pensando o mesmo, talvez ela até mesmo estivesse vendo como um sinal de que ela nunca deveria ter aceitado isso em primeiro lugar. Fiquei tenso, queria falar algo que garantisse que ela não mudaria de ideia, mas já havia insistido demais, cada uma de suas escolhas a partir de agora, precisavam serem feitas por ela, não por mim, não coagida por Megan.

— Eu acho que consigo mudar meu voo para amanhã. – Falou por fim. Exalei em alívio, deixando o ar que havia prendido sair de meus pulmões. – Eu só preciso encontrar um lugar para dormir. Algum hotel barato para me indicar?

Não pude evitar odiar a mera sugestão.

— Você pode...

— Eu não ficarei em sua casa. – Cortou-me. Queria poder dizer que em nenhum momento pensei nisso, mas eu estaria mentido, a frase já estava formulada em minha mente antes do corte.   – Eu não posso arriscar encontrar as crianças, ou Megan. – Resisti a vontade de garantir que Megan não apareceria novamente, mas eu não podia. Não confiava em Megan. Sim, havíamos entrado em um acordo, novos papéis seriam redigidos, e qualquer novo encontro seria feito através de advogados, mas eu não confiava em Megan. Jamais cometeria esse erro novamente. E impor a presença de uma a outra não era justo com Felicity. - Eu meio que estou fugindo de Megan agora.  – Felicity informou-me após uma nova mordida em sua bomba calórica.

— Por quê? – Perguntei distraído.  Era uma pergunta estúpida e ao mesmo tempo não, havia inúmeras razões para que Felicity evitasse um encontro, entre eles havia todo o drama envolvendo sua família. Apenas a forma que Felicity falou, fez parecer algo mais urgente.

— Ela me pagou por algo que eu não levei até o fim. – Lembrou-me. Certo, nada melhor do que ser lembrado disso. – E antes que você sugira, eu não vou voltar a incomodar seus amigos.

— Você jamais incomodaria Tommy e Sara. – Neguei. – Tommy iria incomoda-la.

— Tommy mal falou comigo desde que nos conhecemos. – Franziu o cenho. – Sempre foi muito educado.

— Tommy não gostava de Megan. – Retruquei. – Ele não teve tempo de mostrar a você, Felicity Smoak, como age com as pessoas que gosta.

— Na verdade tive vislumbres, pela forma que o trata. – Falou. – De qualquer forma, eu não me sentiria a vontade passando outra noite na casa deles.

Percebi de imediato a razão por trás disso. Ela estava envergonhada, provavelmente por ter sido lá onde perdeu sua virgindade.

— Ok. Posso fazer uma sugestão? – Ela assentiu concordando. – Nós ficamos por aqui até eu receber uma mensagem dizendo que Megan foi embora, e as crianças voltaram. Nós vamos para casa, eu converso com as crianças e separo minhas coisas, enquanto você fica no carro, e se despede da minha irmã, depois eu volto e te levo para um lugar.

— Contra proposta. – Interveio. – Nós ficamos aqui até você receber sua mensagem, eu vou para um hotel e você vai para sua casa, onde vai fazer tudo com calma, amanhã nos encontramos no aeroporto.

— Eu quero te mostrar meu lugar favorito. – Confessei. Isso atiçou sua curiosidade. – E gostaria de passar a noite com você. – Completei direto. Suas sobrancelhas se ergueram em surpresa. – Eu não estava falando de sexo. – Esclareci. – Já dormimos juntos antes.

Muitas e torturantes vezes.

— Não após ter experimentado esse nível de intimidade. – Retrucou.  Seus olhos me avaliaram por um tempo. – Eu quero estar com você Oliver, e sei o que vou querer quando estiver em seus braços, talvez eu só esteja hesitando me envolver dessa maneira, por que ambos sabemos como vai terminar.

— Você quer ir para o hotel? – Perguntei me dando por vencido. Ela brincou com a comida, claramente em conflito. – Felicity? – Chamei sua atenção quando seu olhar se perdeu por alguns segundos.

— Eu quero conhecer seu lugar favorito. – Falou por fim. Não pude evitar sorrir em resposta. Seu dedo se ergueu em um aviso. – Eu não vou sair do carro.

— Está bem. – Concordei.

— E diga a sua irmã, que eu não aceito encontra-la, se ela vier com lágrimas. – Continuou. Assenti mais uma vez.

— Eu quero me despedir do cachorro. – Acrescentou para minha surpresa.

— O cachorro não vai entrar no meu carro.  – Murmurei automaticamente.

— Mesmo? – A palavra solitária foi dita em tom de descrença, suspirei dando-me por vencido.

— Está bem.

Ela sorriu vitoriosa.

FELICITY SMOAK

Olhei para meu celular, meus olhos acompanhando cada mensagem deixada por Helena. Ela não estava muito feliz comigo agora, na verdade desde que eu havia contado que Megan ia aparecer na maldita festa, e que ela já sabia que os Queens sabiam de tudo. Helena havia insistido mais de uma vez que eu voltasse para casa, que nada do que estava acontecendo era mais meu problema. Ela disse repetidas vezes que eu devia fugir de Megan, que minha irmã gêmea do mal não ia simplesmente dar de ombros após tudo o que aconteceu.

Eu concordei com cada uma de suas palavras, e não protestei quando ela disse que reservou uma passagem em meu nome, isso a acalmou. Até que eu contei que estava adiando minha volta por mais um dia, e que estava levando comigo meu ex-marido de mentira.

Helena ficou possessa.

E agora meu celular estava cheio de mensagens que julgavam minha sanidade mental e com promessas de comprometer a capacidade de Oliver procriar novamente. Talvez eu devesse avisa-lo sobre essa última parte.

— Algo errado? – Oliver perguntou quando entrou no carro.

— Você já pensou em ter mais filhos? – Perguntei distraída. Meus olhos ainda estavam fixados na imagem enviada por Helena, a imagem em si era dolorosa. Foi o silêncio de Oliver que me arrancou dos meus pensamentos, e me fez perceber que a frase saiu totalmente fora de contexto diante a atual situação, e o alarmou. Ergui meu rosto e encarei Oliver que parecia mais curioso com a pergunta do que assustado, diferente do que eu havia imaginado. – Eu quero dizer, não que eu esteja sugerindo algo, ou tendo ideias, eu só... Helena, é tudo culpa de Helena. – Oliver franziu o cenho confuso. – Minha amiga. – Acrescentei na possibilidade de ele não ter lembrando, eu já havia falado sobre Helena com Oliver? Já, certo?

— Sua amiga quer saber se eu quero ter mais filhos? – Questionou ainda sem compreender.

— Não. Ela quer impedir que você tenha. – Soltei rapidamente. Oliver me encarou ainda mais confuso. – Comigo. – Fechei meus olhos percebendo que havia começado algo que não deveria ter começado, nunca. – Ela quer arrancar seus... – Apontei para sua virilha, Oliver moveu-se inquieto. – Ela quer. – Fiz uma tesoura com mão.

— Felicity. – Oliver interrompeu-me erguendo uma mão. – Você está bem?

— Eu estava. – Falei deixando minha cabeça descansar contra o painel do carro e fechei meus olhos. Ergui minha mão estendendo meu celular, esperando que um breve relance da minha conversa com Helena explicasse tudo. Não me dei o trabalho de encara-lo, preferi me esconder na segurança da covardia.

— Oh, ela é bastante...

— Violenta.

— Eu ia dizer leal. – Corrigiu-me. Fui vencida pela curiosidade e afastei minha cabeça do painel, acomodando-me contra o assento do carro. Encarei seus olhos, embora percebesse que Oliver queria rir, pude notar que algo mais por trás daquela aparente diversão. – Sua melhor amiga não gosta de mim.

— Ela gosta. – Protestei.

— Interessante forma de se expressar.

— Ela realmente gosta de você, Oliver. – Falei convicta. – Mas ela me ama.

— Ela está preocupada. – Concluiu.

— Eu estaria. – Dei de ombros.

— Você tem certeza de que quer que eu vá? – Perguntou hesitante. – Eu sei que não lhe dei muito tempo para pensar sobre. Discutir isso com ela, eu quero muito passar esse dias com você, mas não quero lhe impor nada.

Eu seria tola se não tivesse refletido em sua proposta de recuar, tão logo o fez, mas eu já sabia a resposta. Por que havia feito esse caminho inúmeras e inúmeras vezes, apenas para voltar para o mesmo ponto, eu não estava pronta para Oliver para trás. Não acho que alguma vez estaria, mas agora parecia distante, impossível até.

— Eu quero. – Murmurei por fim. – Eu quero que você vá. – Repeti firme, para que não houvesse dúvidas, nem dele, nem minha. – Eu quero que você vá comigo, por que eu quero ser um pouco egoísta, nunca fomos só nós dois. Nunca exploramos isso, eu quero ser apenas Felicity, com você.

Oliver sorriu, encantando pela ideia, sua mão envolveu meu rosto e percebi que desde a noite anterior, ele havia evitado me tocar. Percebi nesse pequeno toque, o quanto havia sentido saudades do calor de sua mão contra meu rosto, e algo tão pequeno e ainda repleto de carinho me fez desejar mais, e foi por saber que ele estava hesitante e questionando como, quando e o quanto poderia voltar avançar comigo, que minhas próprias mãos foram ao seu rosto, ansiosas para aproxima-lo do meu. Oliver deu boas vindas ao beijo, respondeu com entusiasmo, sua boca capturando a minha com ternura e intensidade.

Um beijo significando muito mais do que mil outros.

Fazendo-me ansiar por mil outros.

Quando finalmente nos afastamos foi com relutância. Ambos sabíamos que a partir de agora, tudo o que tínhamos era um número desconhecido, mas limitado de beijos.

— Precisamos ir. – Murmurou, embora ainda acariciasse meu rosto com as pontas dos dedos.

— Precisamos. – Concordei. Oliver se inclinou mais uma vez para roubar outro pequeno e rápido beijo. Deixando ali um sorriso em meu rosto, um sorriso que durou todo o caminho, e que se esvaiu quando chegamos ao nosso destino, mas apenas por que agora eu estava um pouco mais do que confusa.

— Onde estamos exatamente? – Era uma pista de pouso, isso poderia identificar, mas não era o aeroporto. Ele não respondeu até que alcançou a minha porta e estendeu a mão para a minha, ajudando-me a sair do carro e virando-se para fecha-la.

— Este lugar é meu. – Explicou segurando minha mão quando veio até meu lado. – E aquele é meu avião particular. – Segui a direção que apontava, não que eu tivesse dificuldade de enxergar algo do tamanho de um avião.

— É tão bom não ser mais Megan e não precisar fingir não ficar surpresa com o quão rico você é. – Deixei escapar. – Por que estamos aqui? Pensei que eu íamos para seu lugar favorito.

— E vamos.  – Assentiu. Ele se aproximou e me puxou para si, minhas mãos automaticamente envolvendo sua cintura. – Eu vou dizer algo brega, prepare-se.

— Preciso? – Brinquei. Senti seu fôlego contra meu ouvido quando continuou.

— Onde quer que você esteja, esse é meu lugar preferido. – Não pude evitar sorrir com o que disse. Oliver me encarou divertido. – Muito brega?

— Sim, mas eu posso querer ouvir mais de uma vez. – Brinquei.

— Eu posso repetir. – Sorriu. – Quando chegarmos em Las Vegas.

— Estamos indo para Las Vegas? – Perguntei surpresa.

— Sim.

— Estamos indo para Vegas. – Repeti a alegria que veio sendo muito rapidamente substituída por outro sentimento.

— Sim. – Oliver repetiu franzindo o cenho.

— Estamos indo para Vegas. – Murmurei em tom baixo. Por que só agora percebi que por mais que desejássemos, não seríamos tão apenas eu e Oliver assim. - Agora? – Murmurei com pânico.

— Sim? – Murmurou um pouco menos confiante. – Qual o problema?

— Nada. – Neguei fingindo tranquilidade. – Eu só acabei de me dar conta de algo.

— O quê?

— Eu ainda não tenho ideia de como apresenta-lo a minha mãe.


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Notas finais do capítulo

Então, é isso!
Obrigada pela atenção, espero que tenham gostado e aguardo vocês nos comentários!!

Xoxo, LelahBallu.

Vídeo "Cuidem-se": https://www.youtube.com/watch?v=kA3yrXXYuC4



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