Eles partiram na semana seguinte. Carlos já havia dado as instruções para Lia que também ficou muito feliz ao ver que ele havia seguido seu conselho.

Inicialmente Suzana pensou que não teriam tempo suficiente para conhecer todos os lugares que gostaria, mas Carlos já havia feito todo um planejamento. Ficaram fora por duas semanas e conheceram todas as cidades que Suzana queria. Lucerna, Basileia, Montreux, Lausanne, Genebra, Berna e Zurique.

Os dois ficaram maravilhados com tudo no país e nem mesmo o frio de lá os desanimou, pelo contrário. O clima serviu para uni-los ainda mais. Ambos conseguiram se desligar do mundo, das lembranças tristes e apenas aproveitaram com intensidade os momentos que estavam tendo juntos.

Estava tudo perfeito, porém na véspera de retornarem Suzana passou mal. Teve vertigens durante quase todo o dia e algumas vezes chegou a desmaiar. Carlos ficou muito preocupado, pois raramente Suzana ficava doente, ele costumava até brincar dizendo que ela tinha saúde suficiente pelos dois. Quis leva - lá a um hospital local, mas ela não aceitou.

– Não precisa, deve ter sido algo que comi aqui. Não estou acostumada com a comida. Além do mais já vamos embora amanhã, não tem o porque se preocupar.

– Tem certeza?

– Carlos estou bem. Não tem com o que se preocupar, sério.

Isso não o convenceu, mas ele respeitou sua vontade.

Tudo correu bem na viagem de volta, o que deixou Carlos mais tranquilo.

Ele resolveu ficar mais um fim de semana em casa com Suzana antes de voltar ao trabalho, mas já avisara a Lia que estava novamente no Brasil.

Foi na segunda- feira pouco antes de sair para o trabalho que Carlos teve um novo susto. Ao sair do banheiro se depara com Suzana desmaiada ao lado da cama.

Desesperado ele corre até ela e tenta desperta-la.

– Suzana? Amor está me ouvindo? Suzana!

Ele dava leves tapinhas no rosto dela, que aos poucos abria os olhos.

– O que aconteceu?

– Eu que pergunto. sai do banheiro e te encontrei aqui caída.

Aos poucos Suzana vai recordando o que havia acontecido.

– Não sei direito. Acordei e vi que você não estava mais na cama, então fui levantar pra te procurar e perguntar o que ia querer no café. Depois disso não me lembro de mais nada.

– Chega Suzana, vou te levar ao médico.

– Não começa Carlos, por favor...

– Na Suíça você não quis ir e te respeitei, mas você passou mal aqui de novo. Tem três dias que voltamos, não acredito que isso tenha sido algo que você comeu.

– Não precisa...

– Chega Suzana. Se troca, vamos ao médico agora você querendo ou não.

**************************************************************

Carlos explicava ao médico sobre a viagem e sobre as vezes que Suzana passou mal. Ela parecia uma criança emburrada.

O médico fez alguns exames enquanto Carlos aguardava.

Já ao lado do marido Suzana resmungava.

– Não é nada demais doutor, ele que é exagerado. Sabe que não fico doente com facilidade.

– Os climas são muito diferentes, o fuso horário também de alguma forma pode ter influenciado no sistema imunológico da senhora, o que é perfeitamente normal. - diz com um sorriso caloroso - Mas a senhora está certa, não está doente.

– Viu teimoso, eu avisei! - disse ela fazendo uma careta quase infantil para Carlos.

– Então qual a causa dessas vertigens e dos desmaios?

O médico olhou para o casal de uma forma confusa.

– O senhor está falando sério?

– Claro que sim, porque não estaria?

Mais uma vez o médico os olhou e apesar de notar que eram um casal já adulto teve a impressão que conversava com um casal de adolescentes inexperientes. Sorriu e deu um leve manear de cabeça.

– Sua esposa não está doente. Sua esposa está grávida.

– O que... O senhor... Disse? - perguntou Suzana em uma voz quase inaudível.

– Grávida. A senhora está grávida.

– Como o senhor pode dizer uma coisa dessas sem sequer fazer um exame mais completo?

– Vou pedir um exame de sangue pra confirmar, mas tenho anos de experiência a ponto de dizer que rasgo meu diploma e nunca mais exerço minha profissão se estiver enganado.

Suzana olha Carlos que parece tão perdido quanto ela.

O médico faz um receituário com a solicitação de um exame de sangue e entrega a Carlos.

– Como disse, é apenas pra confirmar e deixar vocês mais seguros, mas arrisco meu diploma tamanha minha certeza. Sua esposa está grávida.

Carlos pega o papel da mão do médico, agradece e sai do consultório. Dentro do carro os dois se olham assustados.

– Não acho que ele falaria com tanta convicção se não tivesse certeza.

– O que mais quero é que ele esteja certo Carlos, mas... Me sinto perdida.

Ela passa as mãos pelo rosto. Sorri, mas reprime o sorriso em seguida.

– O que fazemos agora? - pergunta ela confusa.

– Além do exame de sangue? Um teste de farmácia?!

– É. Boa ideia.

**************************************************************

Eles foram a três farmácias diferentes e compraram os mesmos testes em cada uma delas. Leram as instruções juntos para não correr o risco de se atrapalharem.
Enquanto Suzana fazia cada um deles Carlos a aguardada apreensivo. Quase uma hora depois, afinal eram cerca de dez testes de marcas distintas, Suzana aparece com o resultado de todos nas mãos.

– E aí? - pergunta Carlos.

– Todos deram o mesmo resultado.

– E qual foi o resultado?

– Positivo. Estou mesmo grávida.

Eles apenas se olharam, não conseguiam falar nada. Começaram a rir juntos como duas crianças.

– Mas como? Quer dizer, quando? - pergunta Carlos confuso.

– Só pode ter sido antes da viagem, o dia que fiz o jantar pra você.

Carlos se lembra daquela noite e faz uma conta mental. Não sabiam ao certo de quanto tempo Suzana estava grávida, mas não tinha como ter acontecido na viagem, seria muito recente para os sintomas.

– Faz sentido.

Ela o abraça e beija diversas vezes.

– Enfim amor, enfim vamos ter um bebê. Não consigo acreditar.

– Gosto tanto de te ver assim - diz acariciando o rosto dela - Mas tem uma coisa. Devemos manter os pés no chão.

– O que quer dizer?

– Seu útero é especial Suzana, por isso mesmo essa gravidez também é.

– Claro. Fiquei tão feliz que por um momento esqueci os problemas que tenho. - disse com a cabeça baixa.

– Não fale assim, seguindo as recomendações direito vai dar tudo certo. Vamos marcar uma consulta com o doutor Robles. Ele mais do que ninguém conhece seu caso e acho que é o melhor pra cuidar da sua gravidez, mas pode ter certeza que ele vai pegar pesado quanto ao seu repouso.

– Não me importo com isso, faço o que tiver que fazer, não importa. Faço qualquer coisa pra ser mãe, você sabe disso.

– E eu faço qualquer coisa pra te ver feliz. Você também sabe disso.

Eles trocam olhares e se beijam, olhando na direção da barriga dela em seguida.

Não era apenas uma criança que crescia lá dentro. Era um milagre.