Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Sui Generis: Tem origem no Latim, e significa, literalmente, "de seu próprio gênero", ou seja, "único em seu gênero". Usa-se como adjetivo para indicar que algo é único, peculiar: uma atividade sui generis, uma proposta sui generis, um comportamento sui generis.A expressão começou a ser usada para coisas especiais, singulares, a partir do século XVIII, principalmente em textos científicos, para qualificar substâncias, enfermidades e até mesmo rochas que não se enquadravam nos grupos conhecidos ou que pareciam ser os únicos representantes de sua classe ou gênero. Pouco a pouco, sui generis ultrapassou os limites da ciência classificatória e passou a ser usado para qualquer coisa invulgar, fora do comum.Em certos contextos, esta expressão é usada eufemisticamente, disfarçando, por meio da pompa e circunstância do Latim, uma crítica a algo que nos pareceu francamente esquisito; por isso mesmo, temos de tomar cuidado ao usá-la, para não sermos acusados de estar fazendo ironia. Um comentário do tipo "Aquele professor tem uma maneira sui generis de expor suas idéias" pode ser lido tanto em direção ao bem, quanto ao mal; é bom esclarecer qual é a nossa intenção. Como todas as expressões latinas, deve vir em destaque na escrita (itálico ou negrito).Fonte: Wikipédia



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/633773/chapter/1

Dia de sol a pino na Grécia.

O Santuário de Atena, depois das Guerras Santas e de mais um banho de sangue, estava restaurado e com sua população nativa devidamente ressuscitada pela obra e graça de Zeus todo-poderoso, aproveitando dias da mais tranqüila paz. Mas o calor não dava trégua, e no meio da escaldante arena, se reuniam os cavaleiros de bronze, prata e ouro para uma assembléia com o Grande Mestre Shion e a Deusa da Guerra Justa, Atena.

Shion, apesar de trazido de volta no frescor de seus dezoito aninhos, suava em bicas embaixo de seus paramentos sacerdotais. Atena, previamente conhecida como Saori Kido, abanava-se insistentemente enquanto via sua leve maquiagem derretendo pelo calor e amaldiçoava todos os deuses que conhecia; não só pelo incômodo da quentura mas também pela sua própria falta de senso em não mandar construir ali um auditório climatizado. Não que estivesse desavisada do calor grego nessa época do ano, mas lembrava-se que, na assembléia anterior, havia sancionado uma atualização contratual dos planos de saúde de seus oitenta e oito cavaleiros, planos esses que cobriam toda e qualquer despesa. E a conta não tinha ficado barata, nem para a imponente fundação Kido.

Os outros cavaleiros e amazonas, presentes em trajes civis, estavam indóceis. Pelo visto o tema da reunião era importante.

– Pois bem, vamos prosseguir com as pautas para apreciação. – Shion já estava quase no fim de sua infinita paciência. – Os cavaleiros e amazonas, em petição conjunta, solicitam uma mudança na lei canônica 2084/25, artigo III, que versa sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras pelas amazonas e sobre as conseqüências derivadas do vislumbre de seus rostos descobertos por indivíduos do sexo masculino...

– Sim, sim, Mestre, vamos adiantar um pouco. – Atena já tinha derretido sua paciência muito antes, por conta do calor. - Qual a reivindicação?

– Que o uso das máscaras seja abolido, bem como as conseqüências aplicáveis a homens que vejam seus rostos.

– Ah, sim. Todos de acordo ou alguém tem algo contra?

O burburinho aumentou, mas todos eram claramente a favor.

– Muito bem. Sanção aprovada. De hoje em diante, por ordem de Atena, o uso das máscaras pelas amazonas está abolido.

Novo burburinho. Shion continua.

– Na mesma referida lei, o artigo VIII versa sobre a imposição de celibato imposta a cavaleiros e amazonas em exercício no Santuário de Atena...Ordem! Ordem! - O burburinho cresceu consideravelmente, a ponto de interromper o Grande Mestre. – Ordem, por favor, vamos continuar. A mesma referida lei...

– Vamos adiantar um pouco. – Suspira Atena, novamente. – Qual a reivindicação?

Shion, nesse momento, pára um pouco, lendo atentamente o que tem em mãos.

– Err... Os cavaleiros e amazonas, em petição conjunta... pedem para que o voto de celibato imposto aos defensores em exercício se torne opcional... E, para os que não optem por ele, haja permissão irrestrita para o relacionamento entre... cavaleiros, amazonas e... civis?

O burburinho cresce ainda mais. Uma mão se levanta na multidão de cavaleiros: Dohko de Libra; sentado na platéia, porém um pouco apartado do restante dos cavaleiros de ouro.

– Mas isso não enfraqueceria a segurança do Santuário? Veja bem, permitir que civis se relacionem com cavaleiros...

– Como assim? Visitantes e outros civis convivem conosco há tempos sem maiores problemas! – Enquanto a maioria dos olhares na platéia se revira em resposta ao comentário do outrora bicentenário cavaleiro de Libra, outra voz se levanta entre os cavaleiros: Aldebaran de Touro, que está sentado junto a maioria dos outros cavaleiros de ouro. – Aliás, vocês bem sabem que há muito mais cavaleiros do que amazonas nesse santuário!

– Pois que seja! Ainda assim, deixar que cavaleiros e amazonas se relacionem entre si? – Devolveu Dohko.

– E por que não? – Agora era a voz de Aiolia, um dos maiores interessados, quem se levantava.

– Porque isso pode distrair os cavaleiros de sua sagrada tarefa! Oras, já imaginou que pouca vergonha seria? Cavaleiros correndo por aí atrás de rabos-de-saia ao invés de cumprir com suas funções? Pior ainda as amazonas, se dando ao desfrute por aí...

O burburinho então se tornou um pandemônio de gritos claramente desaprovadoras ao comentário de Libra, totalmente alheios aos desesperados pedidos do Mestre por ordem na assembléia. E, no grupo dos cavaleiros de ouro, a situação não era muito melhor.

– Ora vejam! – Disparou Máscara da Morte, possesso. - Falar dos outros ele sabe, mas a menina que ele criou fica por aí de agarramento com o Shiryu! Cadê que ele fala alguma coisa?

– Não é bem assim não! Tá pensando que minha vida está fácil? – Shiryu, conhecido pela excelente audição e a alguns metros dos cavaleiros de ouro, choramingava para se defender. - Agora ele enxerga feito uma águia!

– Quem esse ex-velho gagá pensa que é pra achar que eu vou sair por aí atrás de qualquer rabo-de-saia? Por acaso ele acha que eu achei meu pinto no lixo? – Afrodite de Peixes tiritava de ódio.

Aiolia, Milo, Shura e Aldebaran gesticulavam e falavam ao mesmo tempo, sendo impossível discernir o que diziam. Camus permanecia calado, mas lançava olhares gelados em direção ao cavaleiro de Libra. Aiolos, trazido de volta nos mesmos catorze anos em que perdera a vida mas mantendo a alma de cavaleiro responsável, cioso dos seus deveres e respeitador das regras que sempre tinha sido, apenas revirava os olhos em uma atitude claramente desaprovadora ao irmão. Shaka olhava a multidão enraivecida com surpresa nos olhos abertos e arregalados, Saga franzia a testa de maneira desaprovadora, e Mu coçava a cabeça ao lado de Kanon, que suspirava longamente e, após um sorrisinho, se pôs a cantarolar algo.

– "A pipa do vovô não sobe mais... A pipa do vovô não sobe mais... Apesar de fazer muita força, o vovô foi passado pra trás..."

– Kanon, você está... cantando? - Em algum tempo, Mu foi atraído pela cantoria.

– Hein? Kanon, eu não acredito que você não está entendendo a gravidade da situação! – Aldebaran, que foi quem ensinou as marchinhas aos cavaleiros quando trouxe uma coleção delas do Brasil, não conseguia entender os motivos do gêmeo mais novo. - Isso lá é hora de lembrar de marchinha de carnaval?

– Ahn, sei lá... Vi o Dohko e lembrei dela, só isso... Sem razão em especial, sabe... – Disse Kanon, com a cara mais cínica do mundo.

O pequeno incidente logo atraiu a atenção de outros.

– Mas por que raios você resolveu cantar em época de crise, Kanon? – Disparou Aiolia, previsivelmente de mau humor. – Lembrar logo agora da música da pipa do vovô que não sobe?

– E eu ainda não estou entendendo por que pensar nessa música por causa do Dohko. – Completou Mu.

Aiolia, porém, franziu o rosto levemente ao processar a fala do colega lemuriano. E o Leão Dourado podia, na maior parte das vezes, ser tido como esquentado, chato e sem modos(1); mas era famoso por pegar as coisas no ar.

– A pipa do vovô que não... Ah... HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA... – Aiolia disparou uma de suas estrondosas gargalhadas. Isso chamou a atenção de todos, especialmente de Milo.

– Qual é a graça?

– Bicho, você não ouviu a música que o Kanon estava cantando pro Dohko?

– A marchinha da pipa do vovô? – Milo franziu a testa. - Que é que tem?

– Como o que é que tem? A pipa do vovô não sobe mais! – Aiolia continuava se retorcendo de tanto rir, agora acompanhado de Aldebaran e Máscara da Morte. Shura, que também pegava as coisas no ar, estava vermelho de tanto se esforçar para não gargalhar como Aiolia. Saga, pálido como uma folha de papel enquanto maldizia seu irmão irresponsável, olhava para Dohko e pensava no apocalipse iminente, tentando junto com Aiolos reestabelecer a ordem entre os cavaleiros de ouro sem sucesso algum. E até Mu, passada a estranheza inicial, começou a rir também.

E então, só então, a ficha de Milo caiu e ele também começou a rir descalabradamente. Não contente com isso, se sentiu na obrigação de explicar a piada.

– HAHAHAHAHAAH... Por isso que o Dohko está melando nosso esquema! A pipa do vovô não sobe mais!

– Ei, o que é tão engraçado, Mu? – A algazarra era tanta que a atenção de Shion foi atraída para o risonho grupo.

– É a musiquinha de carnaval que estão cantando pro Dohko, a da pipa do vovô que não sobe mais! – Disse Mu entre risos, totalmente no automático, para desespero de Aiolia, Milo e Kanon, que logo perceberam o que Mu fazia enquanto os outros, à exceção de Saga, Shaka e Aiolos, riam de se dobrar.

– Como assim a... Oh! - Shion logo entendeu o raciocínio, junto com a Deusa Atena que, acompanhando a conversa, também controlava seus risinhos.

– Isso é um ultraje! Shion, isso é inadmissível! Vocês me pagam! - Em pouco tempo, a situação tinha fugido ao controle. Shion tentava desesperadamente restaurar a ordem da assembléia, que a estas horas já tinha ido para as cucuias. Dohko também se inteirou do assunto sabe-se lá Zeus como, e estava fulo da vida com o grupelho de cavaleiros de Ouro que continuava rindo e cantando sem parar.

– Heheh... Bem, pessoal, vamos continuar! – Atena continuava tentando controlar sua pequena crise de riso. – Então é essa a reivindicação dos cavaleiros? Honestamente não vejo mal algum. Bem sabemos que alguns cavaleiros aqui já quebravam essa regrinha há algum tempo, sem maiores repercussões. Então não vejo problema, desde que sejam respeitadas as normas de segurança do santuário. Podemos acabar a reunião agora?

A confusão foi substituída pela gritaria da comemoração das partes interessadas e pela indignação de Dohko de Libra, que ainda vociferava contra o grupo risonho e cantante dos outros cavaleiros de ouro.

– Vocês sabem que vai ter volta, ne c'est pas? – Camus se esforçava para parar de rir. – Mas quando a merde feder me incluam fora dessa, não foi eu que começou.

– Kanon, seu irresponsável! – Saga vociferava entre os dentes, puxando o irmão pelo braço. – Agora a ira de Libra vai cair sobre as nossas cabeças!

– Ai que meda... – Máscara da Morte ria ainda, adorando a vitória histórica. – Saga, deixa de ser caxias. Juro que tem horas que eu te preferia nos tempos de Grande Mestre.

E enquanto Dohko continuava esbravejando, os cavaleiros e amazonas deixavam vagarosamente a arena, numa comemoração pelo que seria uma ocasião histórica.

Por vários motivos.

OOO


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

(1) - Aiolia, na Saga G, é retratado como um menino rebelde. E é chamado por Milo de sem modos, no que Shaka concorda. Assim sendo, o estarei colocando aqui como um rapaz meio casca grossa, para desespero do irmãozinho Aiolos.