Cartas de um Fracassado escrita por Saturno


Capítulo 4
Carta 4: Cópia perfeita


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais um capítulo e dessa vez tem mais de mil palavras eeeee!

Boa leitura.



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Às vezes, apenas às vezes, meu irmão parecia servir para alguma coisa. Ele conseguiu uma festa para Lorenza e eu. Então, eu não precisaria entrar como intruso.

Era em uma casa de uma amiga do James, uma garota qualquer da escola. Ninguém importante pra mim.

No fim, havia combinado de me encontrar com Lorenza na frente de uma praça, perto da casa onde ocorreria a festa.

Ela estava deslumbrante. Vestia shorts e uma blusa azul e seus cabelos enormes e cacheados eram incrivelmente lindos.

— Eu não vou ficar muito tempo, odeio festas. — ela fez questão de reforçar seu desgosto por festas.

— Tudo bem. Quando quiser ir é só me avisar, eu te acompanho até em casa. Se você quiser, é claro — cocei a nuca me sentindo um idiota.

— Não precisa, meu irmão vai vir me buscar — respondeu ela, sorrindo gentilmente.

Eu me perguntava se ela não estava conversando comigo apenas por educação.

— Tudo bem então — murmurei.

O trajeto foi curto e nesse tempo ficamos apenas em silêncio. Eu sabia como me divertir em uma festa, mas eu estava tímido demais na frente dela. Queria entender o motivo. Afinal, ela era uma garota como qualquer outra, não? Talvez fosse mais bonita, mais simpática e mais legal também, mas ainda sim era como qualquer outra. Então não havia motivos para timidez.

Quando chegamos lá, haviam várias pessoas caminhando de um lado para o outro e algumas bebidas coloridas espalhadas por aí. Lorenza fez a mesma cara quando a conheci, aquela cara de deslocada e desconfortável.

— Vem. Vamos dançar! — convidei-a e recebi um não, mas mesmo assim a puxei.

Ela fez uma careta quando se esbarrou em inúmeras pessoas, ficou parada na minha frente enquanto eu me balançava feito um retardado. Eu adorava dançar, não que eu soubesse, mas era incrível sentir o clima e a música e simplesmente balançar o corpo e se divertir.

Passei minhas mãos pelos braços brancos de Lorenza e puxei-a para perto, fazendo com que ela acompanhasse meu balançar estranho.

— É isso que você chama de dançar? — questionou ela, no meu ouvido.

— É melhor do que ficar parada com cara de morta — gritei.

— Eu queria estar morta — disse ela, sorrindo.

— Fica quieta e dança — exclamei fazendo-a gargalhar.

Provavelmente ela me achava uma grande piada, mas eu estava contente por ver que ela me achava engraçado, ao menos.

Passamos muitos minutos dançando e rindo, ela finalmente se soltou quando uma música de uma cantora chamada Beyoncé começou a tocar. Eu, particularmente, achei horrível, mas ela disse que era a artista preferida dela então eu apenas assenti e concordei que era uma ótima cantora, mesmo não fazendo meu tipo.

Eu não queria ser estraga prazeres e falar que odiava tal coisa ou desgostava de outra, até porque odiar é uma palavra muito forte e eu estava sempre aberto a novas experiências.

— Podemos sentar em algum lugar? — pediu ela, claramente exausta.

Ela estava vermelha e ofegante, assim como eu, puxei-a novamente e sentamos nos degraus de uma extensa escada.

— O que está achando? — questionei, vendo seu sorriso.

Era incrível o quanto ela sorria. Na verdade, eu só a vi sorrir nesse mesmo dia, já que ela se debulhava em lágrimas no incidente ao qual no reencontramos.

— Nada mal. Eu gostei de dançar, a sensação é ótima — exclamou ela, animada.

— Você nunca havia dançado? — perguntei, franzindo a testa.

— Ah… não. Meu pai acha que dançar é muito vulgar, sabe? Mexer demais o corpo e se mostrar demais é errado, pelo menos, é o que ele diz — revirou os olhos.

— Então eu suponho que seu pai não sabe que você está aqui — ela assentiu, sorrindo travessa. Eu adorei essa garota!

— Eu vim escondido, só meu irmão sabe. Ele é contra essas ideias malucas do meu pai. A família do meu pai é tradicionalista, então você deve imaginar o tamanho do machismo e o comportamento de idade média do meu pai… — ela revirou os olhos novamente e fez uma careta.

— Deve ser uma merda. Minha mãe é assim, na maioria das vezes. Meu pai já é liberal — comentei, sorrindo, eu tinha muito orgulho do meu pai.

— Meu pai não me deixa nem namorar, acredita? Ele diz que só depois dos meus dezoito anos e blá, blá, blá… Ainda sim eu amo muito ele, apesar de todas essas coisas, ele é bom comigo — ela sorriu e olhou para as pessoas que bebiam em um canto.

— Quer uma bebida? — perguntei.

— Eu não sei… Meu irmão não vai gostar de saber que eu bebi — disse ela, fazendo outra careta engraçada.

— Só um copo — nem esperei sua resposta e saí em busca de uma bebida.

A noite estava sendo melhor do que eu esperava. Lorenza estava se divertindo e eu também, a noite não tinha como piorar, certo? Errado.

Demorei para chegar até a cozinha e tive que parar para conversar com uma menina que queria saber onde meu irmão estava.

— Se você vê-lo pode dar um recado a ele? — a garota parecia apreensiva.

— Ah… acho que sim… — eu não seria grosseiro, até porque ela parecia estar pronta para chorar histericamente. E, bem, eu já estava acostumado com garotas perseguindo meu irmão.

A garota passou minutos e minutos falando sem parar e eu já havia esquecido da metade. Simplesmente dei de ombros e finalmente consegui dois copos de bebidas, depois de longos e longos minutos.

Eu amava festas. Sei que você deve estar cansado de ouvir isso de mim, vô, mas é que eu realmente amo. A sensação de ver as pessoas se divertirem e estarem… felizes, era ótimo. Sem problemas, sem questionamentos, sem restrições, apenas diversão.

No entanto, naquela noite eu passei a odiar festas.

Eu nunca fui sortudo e hoje não seria diferente.

Assim que cheguei perto da escada onde estávamos sentados anteriormente, pude ver a pior cena da minha vida. Me senti em uma novela mexicana, estava pronto para fazer um barraco, mas eu não fiz nada.

Eu observei atentamente meu irmão beijar a garota com quem eu conversava antes. Lorenza parecia extremamente confortável e contente ao ter a minha cópia perfeita beijando-a.

— Ei, obrigado pela bebida, Brandon — um garoto ao qual eu não conhecia, agarrou a bebida que eu segurava e saiu dali, rindo.

Eu estava parado no meio da sala, como um grande idiota.

E agora todos estavam felizes, todos se divertiam, menos eu.

Caminhei lentamente para fora da casa e me sentei na varanda da entrada, sorrindo desgostosamente.

Seria engraçado todas as merdas que acontecem comigo, se não fosse trágico.

Eu não me sentia péssimo, sabe, eu meio que estava acostumado a ser trocado ou não ter muitos amigos. Mas é claro que me senti triste, afinal, mais uma vez James roubara algo meu.

Não que Lorenza pertencesse a mim, longe disso, mas eu poderia ter algo com ela. Nem que fosse uma única amizade. Porém, agora eu tinha certeza de que ela tinha se apaixonado a primeira vista pelo príncipe encantado e só gostaria de saber dele e de mais ninguém. Era assim como muitas garotas que eu conhecia. Todas apaixonadas pelo irmão.

O mais engraçado era que meu irmão tinha namorada e ele não parecia valorizar isso. Quer dizer, a escolha é sua ao arruinar seu próprio relacionamento ou deixá-lo melhor, mas é injusto tudo que James faz. Ele tem tudo! Exatamente tudo nas mãos e mesmo assim ele joga isso fora.

Depois de passar horas na varanda me lamentando por ser um fracassado, ouvi a porta se abrir e por ela saíram duas pessoas familiares.

— Ah, Brandon, você está aí… — disse Lorenza, com um pequeno sorriso no rosto.

Sorri e acenei, o que ela esperava que eu dissesse?

— Valeu por me trazer na festa, foi ótimo. Boa noite, Brandon — disse ela de mãos dadas com meu irmão.

James acenou para mim e sorriu. Ele estava contente por ter beijado mais uma garota que não fosse sua namorada.

— Você não iria para casa com seu irmão? — questionei, de repente, quando percebi que Lorenza estava entrando no carro de James.

— Ah, James se auto convidou para me levar até em casa. Seu irmão é muito gentil — gritou ela, sorrindo.

Entrou no carro e desapareceu.

Engraçado… Eu também havia me oferecido para levá-la até em casa, mas é claro que ela não aceitaria, afinal, eu não sou o James.



Bem, vô, você pode perceber que essa, com toda certeza, foi a pior semana da minha vida. Quando eu finalmente acho que as coisas estão se alinhando e indo para um bom caminho, algo sempre atrapalha. E esse algo se chama James.

Acha que alguma vez algo vai dar certo pra mim?

Espero sua resposta ansiosamente.

Com carinho, do seu neto fracassado, Brandon.


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Notas finais do capítulo

Deixem suas opiniões nos comentários, sim? E também me avisem se acharam algum erro, dessa vez só pude revisar uma vez. Obrigada.

Beijos a todos.