Carta 11: Um fracassado não tão fracassado assim.

— Eu não acredito nisso! Você nunca provou o sorvete de cereja da tia Diná? — ela me olhou como se eu estivesse cometendo um grave delito.

— Ah… não — respondi, um pouco receoso.

Aquela mulher, com certeza, era estranha. Ela era muito alta, tipo, uns cinco centímetros a mais que eu. Tinha os cabelos castanhos em uma trança e era uma linda mulher negra de olhos escuros.

— Então nós vamos lá agorinha — disse Rebeca, puxando-me pela mão.

Ah, acho que não te disse quem ela é, certo vovô? Bem, Rebeca é uma das minhas colegas de quarto, com quem divido o apartamento — o custo estava alto, coloquei um anúncio no jornal e isso me rendeu duas novas amizades.

— Nós temos aula daqui duas horas, Rebeca. Não acha que vamos nos atrasar? — questionou Wes, um dos garotos mais sérios e extremamente inteligentes que já conheci.

— Não, não vamos nos atrasar. Deixe de ser chato Wes, vamos logo!

Tive o imenso prazer de conhecer a tia Diná, uma mulher de meia-idade com semblantes bem irritadiços, mas era uma boa pessoa, no fim. O sorvete de cereja era deveras incrível, porém tinha um gosto totalmente diferente da cereja.

— Ei, vamos sentar na praia? — pediu Rebeca.

— Vão vocês, tenho uma aula agora, Rebeca e Brandon — o olhar reprovador de Wes era intenso, mas Rebeca não parecia ligar para isso.

— Ei, Brandon não liga pro meu irmão. Ele sempre foi mais focado nos estudos — murmurou Rebeca.

Eu sorri e então nós fomos até a praia e sentamos na areia molhada, juntos. Enquanto isso, pouco longe, um homem tocava músicas românticas em um violão desgasto, era uma ótima trilha sonora para aquele momento. Me senti em um filme de romance, tipo aqueles do Nicholas Sparks.

Por algum momento, me senti culpado por sentir-me… feliz. Fazia muito tempo que eu não sabia como era esse sentimento aconchegante, pois todas as circunstancias me levaram a ficar descontente.

Porém, Rebeca conseguia animar meu dia com suas piadas ridículas. Ela era uma garota estranha, mas muito bacana. Nós competíamos às vezes para ver quem conseguia arrotar por mais tempo — eu sei, é um pouco nojento, me sinto uma criança, mas uma criança contente. Competíamos também para ver quem tinha mais defeitos. Eu sempre ganhava, obviamente.

Rebeca se tornou uma grande amiga. Algo que eu não esperava.

As coisas finalmente pareciam andar nos trilhos, vovô. No final das contas, eu estava sendo um fracassado não tão fracassado assim. Claro que as notas das minhas provas estavam baixas, minha mãe ainda não sentia orgulho de mim, James continuava sendo melhor que eu, mas eu aprendi a enxergar isso como apenas meros detalhes.

No fim de tudo, eu era um fracassado feliz. E talvez isso jamais pudesse acontecer caso eu não tivesse todo o apoio que tive de você ao longo da minha vida.

Obrigado vovô, por sempre estar comigo.

Com carinho, do seu neto fracassado, Brandon.