O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 6
Capítulo 6 - O Treino




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632879/chapter/6

Teen Titans não me pertence, nem nenhum dos livros da série A Saga Otori.

Capítulo 6 – O Treino

–Amiga Terra? – chamou Estelar entrando na sala principal. – Você não gostaria de ir ao shopping comigo para...?

Ela parou de repente, ao ver a expressão da amiga. Terra estava sentada no sofá, assistindo Jornal. No momento, passavam cenas de ruas interditadas, na região do prédio onde eles estiveram no dia anterior. Estava um caos. Eram muitos prédios ao redor com janelas quebradas, o concreto das ruas e calçadas estava rachado, alguns locais tinham vazamento de água e esgoto. Muitos trabalhadores eram necessários para começar os consertos. A cada palavra dita pela repórter, o rosto de Terra murchava mais e mais.

–Ahh, amiga Terra, não fique assim. – pediu Estelar, se ajoelhando ao lado da loira. – Eles vão consertar rapidinho, você vai ver!

–Estelar, olha só o tamanho do estrago! – exclamou ela, se levantando. – E é tudo culpa minha!

–Não é culpa sua, Terra. – disse Mutano vindo da cozinha. – Eu já falei mais de mil vezes! Você precisou fazer aquilo, senão Slade...

–Ah, Mutano, eu que já disse. Eu perdi o controle, totalmente. Eu não precisava ter feito aquilo, era só eu agüentar mais uns minutos que vocês iam entrar para me ajudar.

–Mas amiga, você estava sob uma enorme pressão. Todos nós sabemos como Slade pode ser assustador, ainda mais para você, que ainda não está acostumada. – argumentou Estelar – Qualquer um perderia o controle em tal situação.

–A Ravena não perderia... – murmurou ela, cruzando os braços. Mutano descruzou-os e tomou suas mãos nas dele.

–Ravena treina há muito mais tempo. – disse ele docemente. – Ela teve aqueles monges pra ajudar. Eu não ficaria surpreso se ela me dissesse que treina desde os seis anos de idade.

–Desde os cinco. – respondeu a empata, que havia entrado na sala silenciosamente, fazendo Mutano dar um pulo. – E isso não significa que eu não continue me esforçando até hoje.

–Então a culpa é realmente minha, viu! – exclamou Terra, colocando uma almofada no rosto.

–Claro que não! Não foi isso que ela quis dizer, não é, Rae?

–É Ravena.

–Mas Robin está te treinando tão arduamente! – comentou Estelar, colocando a mão no ombro da amiga. – Isso com certeza está dando resultados, não está?

–Bom, não conte pro Robin, mas...

–Não está adiantando nada, não é? – perguntou o menino-prodígio atrás de Terra, saído das sombras.

–De onde você saiu? – gritou ela, branca pelo susto.

–Bom, Terra, sinto muito. – disse ele, sentando em frente a um computador. – Acho que eu acabei me concentrando muito em treinos normais e não vi que você precisa de algo especial. Vou tentar melhorar isso, já vou começar as pesquisas.

–Hã... Puxa, Robin, obrigada.

–Não precisa agradecer. Você é da equipe agora, todos vamos fazer de tudo pra te ajudar. – disse Ciborgue, colocando a pesada mão metálica em sua cabeça loira.

–... Tem portas secretas para essa sala que eu não conheço? – perguntou ela, devido à nova repentina aparição do amigo robô. Ele apenas riu e foi na direção da geladeira.

Ela sorriu, olhando para os outros em volta, que sorriam para ela também. Bom, com exceção de Ravena, que já havia saído da sala. Ela deve ter ido meditar, pensou Terra. Como ela queria saber se controlar de forma tão completa e elegante como a amiga!

Mas espera.

...Por que não?

Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0

Ravena estava sentada com as pernas cruzadas em sua cama, lendo, embora não conseguisse sair de uma linha específica.

"Éramos um grupo silencioso, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Os homens estavam tensos e irritadiços. O calor era sufocante."

Estava sendo difícil com Terra na equipe. Ela era muito irresponsável. Na visão da empata, a loira não estava se esforçando de verdade para tentar controlar os poderes. Ela apenas comparecia aos treinos e, mesmo sabendo que não estavam adiantando, não fazia nada para mudar, não tentava se concentrar nem descobrir o motivo da perda do controle dos poderes.

"... cada um imerso em seus próprios pensamentos. Os homens estavam tensos e irritadiços. O calor era sufocante."

Além do mais, em campo ela era muito impulsiva. Ela não parava para pensar em nada, em nenhuma conseqüência, em nada que poderia estar acontecendo paralelamente... Sem contar que ela se deixava levar pelas emoções muito facilmente. Será que ela não percebia como isso era perigoso? Já era perigoso para qualquer pessoa que estivesse em missão, ainda mais ela, que tinha problemas com os poderes.

"O calor era sufocante. Somente Shigeru parecia estar à vontade, conversando com leveza e despreocupação, como se realmente estivesse indo celebrar um casamento ansiosamente esperado."

E tinha Mutano, claro. Ele não percebia o quão ridículo ficava perto de Terra? Babando daquele jeito óbvio, fazendo tudo que ela quisesse. Era por isso que ela estava ficando tão mimada, só podia ser. Além do que, demonstrações tão óbvias de afeto só dão oportunidades a vilões. Robin devia ficar de olho nisso. Não que fosse dar em alguma coisa muito sólida. Ela sentia as emoções dos dois; Terra mal retribuía metade do que Mutano sentia por ela. Ele não devia entregar seu coração de forma tão absoluta; poderia acabar se machucando.

"... como se realmente estivesse indo celebrar um casamento ansiosamente esperado."

...Pelo menos Mutano não vinha mais perturbá-la. A única coisa boa disso tudo.

Batidas à porta.

Ravena levantou a cabeça rapidamente, com a expressão ansiosa, no lugar de irritadiça, como seria normalmente. Ela percebeu isso e se corrigiu, franzindo a testa. "Parece que eu celebrei cedo demais" pensou, pois só podia se tratar do irritante metamorfo da equipe. Só ele vinha incomodá-la a essa hora do dia. Os outros só vinham em horários de refeição ou no final da tarde, quando iam assistir a um filme ou jogar um jogo, então a convidavam.

Mais batidas. Sim, confirmado. Ele era o único que não esperava um minuto inteiro antes de bater novamente. Ela fechou o livro e se levantou, indo até a porta. Quando abriu, porém, viu algo decepcionante. Quer dizer, inesperado.

–Terra?

–Oi, Ravena. – disse a loira à sua frente. Ela parecia encabulada. – Er, desculpe incomodar.

–O que foi? Algum problema?

–Bom, não, é que... Eu meio que vim te pedir um favor.

Ravena ergueu as sobrancelhas. Não conseguia imaginar que tipo de favor a amiga loira poderia querer dela.

–O que?

–Boom, você sabe que os treinos do Robin não estão me ajudando a controlar meus poderes, não é?

–Sei...

–Então, bom, eu pensei, quem é a pessoa especialista em autocontrole?

–... Quem? – perguntou Ravena, sem gostar do rumo que a conversa estava tomando.

Terra ergueu os braços na direção da empata, com um sorriso amarelo.

–Ah. Não. – disse Ravena, percebendo o que a colega queria.

–Por favor, Ravena. – pediu Terra, juntando as mãos. – Acho que você é a única pessoa que pode me ajudar de verdade.

–Mas... – balbuciou a empata, sem ver saída. Realmente, na Torre, ela era a pessoa mais indicada. – Mas eu não entendo nada de ensinar, Terra.

–Você não pode pelo menos tentar? Só um treino? Se não der certo a gente para.

–Eu... – começou Ravena, então viu os olhos azuis implorantes de Terra. Suspirou. – Tudo bem. – a loira ficou radiante – Mas fique sabendo, eu não vou te dar moleza, Terra. O meu jeito de controlar os poderes não é nada divertido.

–Eu sei, eu sei! Não se preocupe, vou dar tudo de mim, vou fazer tudo que você disser! – exclamou ela, pulando no mesmo lugar. – Quero muito controlar meus poderes como você faz com os seus, Ravena.

"Essa é boa" pensou a empata. A perfeita e divertida Terra querendo ser como a esquisita e entediante Ravena. "Bem, vamos ver quanto tempo ela agüenta no meu treino."

–Está bem. Amanhã, cinco horas, no telhado da Torre. – disse ela, se voltando para o quarto. Terra gaguejou, segurando a porta antes que fechasse.

–Cinco horas da tarde?

–É óbvio que não, Terra. Cinco horas da manhã.

–...

–Até lá.

–Ah, espera, Ravena! – a empata se virou novamente. – Tenho uma novidade, Mutano e eu estamos namorando!

A empata permaneceu olhando para ela por alguns segundos. A luz no corredor piscou algumas vezes.

–Meus parabéns. – disse, e a porta enfim se fechou.

Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0

2 de Agosto de 2004, telhado da Torre Titã, 05h02min.

Terra chegou ofegante ao telhado, por ter subido as escadas correndo. Ainda estava escuro, mas não foi difícil encontrar Ravena, era só seguir sua voz, que pronunciava o mantra de sempre. Quando Terra se aproximou, ela parou de recitar, mas continuou na mesma posição: pernas cruzadas e olhos fechados.

–Hã, oi Ravena.

–Bom dia, Terra. – respondeu a empata, ainda sem abrir os olhos. –Pronta para o seu primeiro treino?

–Prontíssima! – exclamou ela com um pulinho.

–Muito bem. Sente-se ao meu lado. – ordenou Ravena, muito calma. Ainda de olhos fechados, começou a falar. – Terra, antes de tentar controlar seus poderes, tem que entender como eles funcionam. Senão, nunca vai saber o que controlar. Por exemplo, meus poderes são movidos por minhas emoções. Se eu perco o controle delas, perco o controle dos poderes também. Eles se manifestam sozinhos. Já no caso de Estelar, sentir é a forma pela qual ela controla seus poderes. Cada um deles depende de uma emoção específica, mas só se manifestam quando ordenados.

Ravena abriu os olhos para ver se Terra estava prestando atenção. A loira tinha os olhos enormes e grudados na amiga flutuante. Ok, estava.

–A diferença crucial: quando Estelar fica triste, ela não consegue voar, porque essa habilidade requer que ela sinta felicidade. Quando eu fico triste ou zangada, as coisas explodem ao meu redor, porque meu poderes escapam e se manifestam segundo minha emoção dominante. Entendeu?

–Entendi. – disse Terra, ouvindo solenemente.

–Então, vamos tentar entender os seus poderes. Mova aquela pedra. – Ravena apontou para uma pedrinha minúscula na ponta direita da Torre. Ela devia ter colocado-a lá antes de Terra chegar.

–Moleza. – respondeu Terra, e a pedra se levantou e voou para a mão da loira.

–O que você sentiu?

–Hã... Eu não sei, não prestei atenção, é tão natural...

–Você não sabe o que sentiu, mas eu sei. – disse Ravena misteriosamente. – Coloque do outro lado da Torre.

Terra colocou. Quando voltou, a empata estava com os olhos fechados novamente.

–Conseguiu descobrir agora?

–Não... Eu acho que não sinto nada, Ravena. Eu sentiria a mesma coisa se me levantasse e fosse até lá pegar.

–É mesmo? Então faça isso.

Terra se levantou, foi até a pedra, a pegou e trouxe de volta.

–Então?

–Nada de especial... – disse Terra dando de ombros.

–Ok, seu primeiro exercício desse treino. – disse Ravena, sentindo a loira se animar. – Tem quatro pedras aqui em cima, uma em cada ponta da Torre. Eu quero que você pegue uma, leve até a ponta seguinte, deixe-a e pegue a outra, então leve-a até a próxima ponta, e faça a mesma coisa.

–Quantas vezes?

–Até eu mandar parar.

–...

–Ainda está aqui? – a empata perguntou, abrindo os olhos. Terra correu para a ponta esquerda da Torre.

Terra fez isso por cerca de meia hora, no começo rapidamente, e no fim quase se arrastando. Ela estava faminta, e olhava para a amiga a cada cinco minutos, mas Ravena continuava meditando, parecendo ter se esquecido de sua existência. O pior é que ela não conseguia ver o objetivo desse treino! E desse modo, estava perdendo todo o interesse em fazê-lo. Simplesmente não sentia nada, por que Ravena não aceitava isso?

Finalmente, Ravena a chamou.

–E então? – perguntou ela, saindo da posição de lótus e pondo os pés no chão. – Conseguiu descobrir o que você sente para pegar a pedra?

–Não, Ravena. – respondeu a loira, se sentando no chão de cansaço. – Foi o exercício mais besta que eu já fiz, não vi propósito nenhum, eu já estava quase desistindo quando você me chamou.

–Então por que você continuou?

–Ué, porque você mandou, e você agora é a minha treinadora!

–Então, tem um motivo, e se tem um motivo, tem algo que você sente envolvido.

–...

–Por que você pegaria uma pedra?

–Não sei, porque eu acho ela bonita?

–Então você quer pegá-la.

–Bom, se não quisesse, por que mais pegaria?

–Exatamente, Terra. O que você sente é determinação.

–Então... Está dizendo que o que move meus poderes é determinação?

–É algo que você sente. Evoluímos.

–... Bom, não muito, isso não era meio óbvio?

–Se era tão óbvio, por que você não sabia me responder isso quando te perguntei da primeira vez?

–... – Terra ficou sem resposta.

–Então, evoluímos. – disse Ravena, cobrindo seu corpo inteiro com a capa, quando bateu uma corrente de vento. – Agora sabemos que seus poderes têm a ver com suas emoções. O que resta saber...

–É se eles dependem de minhas emoções, ou se minhas emoções dependem deles. – completou Terra, lembrando de como os poderes de Ravena funcionavam, e os de Estelar.

–Exatamente. Vamos comer alguma coisa, e voltaremos aqui.

Terra observou Ravena desaparecer nas escadas que levavam para dentro da Torre. Olhou em volta, e viu a cidade, e se lembrou da destruição de causara.

Apesar de tudo, ainda tinha esperanças que seus poderes fossem como os de Estelar.

Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0Oo0

**O trecho que Ravena estava lendo foi retirado do primeiro livro da série A Saga Otori: 'O Piso Rouxinol' de Lian Hearn


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Relógio de Areia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.