O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 33
Capítulo 33 – Rachadura




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Teen Titans não me pertence

Capítulo 33 – Rachadura

Well this is just a simple song
To say what you've done
I told you about all those fears
And away they did run
You sure must be strong
You feel like an ocean
Being warmed by the sun

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Terra aproveitara para sair sem chamar a atenção logo depois de Estelar. Correu para o seu quarto, um milhão de pensamentos passando por sua mente.

Ela entrou no quarto e fechou a porta, deitando na cama, tentando se acalmar.

Estava com medo. E coisas ruins aconteciam quando sentia medo.

Grossas lágrimas escorreram pelo seu rosto até seu queixo, conforme ela percebia o que iria acontecer.

Ravena descobriria o que ela fez.

Ela e Mutano voltariam a ficar juntos, e ela seria expulsa da equipe.

Por meses a fio ela temera esse momento. Soluçando, adormeceu.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Ravena piscou, olhando ao redor. Estava em sua forma espectral, sendo apenas um contorno com olhos na escuridão. Sabia que não iria pousar em terra nem encontrar personificações das emoções de Mutano como acontecia em sua própria mente – esse tipo de organização, com compartimentos e diferentes personalidades era privilégio de ser parte demônio.

A mente humana não possuía tais características, sendo mais desorganizada e, mais importante, no geral regida pela emoção reinante no momento. Quando entrara na mente de Robin, por exemplo, tudo o que pudera ver fora as lembranças e pensamentos relacionados à obsessão por Slade que ele estava sentindo naquele momento. Era por isso que, ao entrar na mente de alguém, normalmente conseguia encontrar o problema rapidamente.

Porém, estava diante de algo que nunca vira antes. Como pensara, a mente de Mutano estava extremamente sobrecarregada. Ela se encontrava diante de uma espécie de redemoinho colorido, constituído de imagens e lembranças. Hesitou.

Sabia que tinha chegar ao centro para encontrar a raiz do problema. Mas estava receosa de se perder no caminho. Depois que entrasse, dificilmente conseguiria voltar. Poderia ser soterrada pela quantidade de lembranças e emoções que vivenciaria, dardejando com incrível rapidez.

Precisava de algo em que se focar para não esquecer. Uma âncora. Decidiu que seria Caleb. Invocando a imagem de seu adorável bebê, tomou impulso e se atirou ao redemoinho.

Ela encarou a si mesma com uma capa rosa, rindo abertamente.

"Claro! Sempre achei você engraçado, Mutano!"

Um sentimento quente tomou todo o seu corpo, fazendo-a se sentir feliz sem saber o porquê.

Um rapaz alto, moreno e esguio falava com segurança e, ao fundo, ela se encarou, ao lado de Estelar, com um olhar sonhador.

Eram como agulhas se cravando na base do seu estômago, raiva e frustração juntas...

Agora ela via Terra, de um jeito que nunca vira antes, muito mais bonita do que a Terra real e com uma espécie de brilho... Mesmo com as roupas desleixadas que usava.

Ravena sentiu um tranco. Como se estivesse dirigindo e passasse por um buraco particularmente grande em alta velocidade. Foi bom, ela estava quase se perdendo. Manteve em sua mente a imagem de Caleb mastigando a orelha do cachorro verde e continuou seu caminho pelo redemoinho.

"Mutano... Se você soubesse uma coisa ruim a meu respeito... Ainda seria meu amigo...?"

Ela estava em um lugar que nunca estivera antes. Uma sala repleta de espelhos. Todos eles refletiam a imagem de Slade. Terra de repente perdera seu brilho.

A sala se dissolveu e a cidade de Jump City apareceu em seu lugar. Ela assistiu a si mesma e seus amigos lutando contra... Terra. Uma Terra altiva e terrível, como ela nunca vira.

Eles agora encaravam uma estátua de Terra. E ela sentia uma tristeza profunda, rasgando seu coração.

Mais um tranco. Antes que pudesse se recuperar, imagens a envolveram de novo.

Uma alegre excitação a tomou enquanto via as cabeças de Mutano e Terra se aproximando...

A excitação rapidamente deu lugar a um sentimento diferente, de impotência e arrependimento, um gosto amargo em sua boca. Mutano estava na frente de uma porta metálica escrita 'Ravena'.

A imagem de um dragão negro despertou uma fúria que a cegou.

A fúria persistia; mas agora era uma criatura bestial que encarava, uma criatura que ameaçava seu corpo deitado no chão, inconsciente.

Uma sala branca e cinza se ergueu, e Mutano colocava uma moeda em sua mão. Uma séria determinação a tomou.

Agora tudo estava ensolarado e ela viu uma Ravena de longos cabelos e vestida de branco abraçando Robin. Um sentimento entre esperança e aqueles espinhos na barriga se espalharam...

Estava numa floresta agora, Mutano olhando para baixo e um homem alto o encarava com um olhar de desaprovação. Sentiu uma sensação de ser errada, desqualificada, não boa o suficiente...

A desagradável sensação persistiu, mas agora Mutano estava em um local fechado e cinzento, de frente para uma garota loira em roupas de estudante.

"As coisas mudam, Mutano..."

Outro tranco. Ravena estava confusa. Seriam essas imagens de um futuro paralelo?

Terra segurando sua mão. Terra no cinema. Terra batalhando. Terra treinando. Terra comendo pizza. Terra dançando.

Ela reconhecia essas imagens. Dessa vez, o brilho que envolvia Terra foi diminuindo... diminuindo... Até sumir.

Por isso, quando assistiu à cena em que Mutano encontrou sua namorada beijando outra pessoa, foi uma raiva em baixo grau que sentiu. Quem foi mais forte foi a sensação de decepção.

Então estava flutuando em um céu estrelado. Olhando em volta, viu a cena de cerca de dois anos atrás, quando um vilão a beijou à força. A raiva que a tomou foi tão intensa que quase esqueceu que era Ravena dentro da mente de Mutano. Tudo o que importava eram os objetivos.

Até a raiva se dissipar, ela não viu nada do que se passava. Quando se deu conta, estava vendo de fora seu primeiro beijo com Mutano na pista de gelo.

Uma sensação gelada em seu estômago, ao mesmo tempo em que seus lábios ficavam quentes e muito sensíveis. Mais uma vez, nada existia, nada era importante, exceto aquele momento. Quando o beijo terminou, ela viu a si mesma, agora envolta em um brilho luminoso.

E agora ela estava lendo, comendo, assistindo, dormindo, envergonhada, séria, chateada, escondendo uma risada ou o empurrando para longe, e a cada cena, o brilho ficava mais forte.

Algo morno e confortável deslizou de seu peito para todo o resto do corpo, e dessa vez, foi algo constante e confiável. Amor.

Mutano agora se encontrava em uma joalheria, e ela acompanhou sua busca pela vitrine, até apontar para um anel específico...

Sua visão mudou...

E estava no quarto de Mutano. Essa cena era diferente de todas as outras. As cores eram mais fortes e os contornos pareciam estar tremendo, como um desenho apenas esboçado.

Terra estava segurando um relógio de vidro que parecia extremamente antigo. Ela reconheceu as runas nele inscritas, que pareciam vibrar de poder. A areia era a coisa mais estável de todas, quase como se não pertencesse àquela cena.

No momento em que Mutano tocou o vidro da ampulheta, as cores explodiram.

Ravena havia chegado ao olho do furacão.

E tudo que sentia era um vazio. O vazio que ela tinha deixado ao partir.

Se pudesse chorar, choraria.

Ali, no centro do redemoinho da mente de Mutano, estava uma enorme rachadura, separando dois espelhos que refletiam imagens diferentes. Se postando à frente deles, ela encarou a si mesma em um, exatamente do mesmo jeito que se lembrava de se encarar naquela manhã. No outro espelho, porém, ela tinha uma feição menos cansada, um sorriso maior e uma aliança no dedo anelar.

Ravena seguiu esse espelho, e viu Mutano com um sorriso enorme e lágrimas nos olhos, segurando um bebê de pele esverdeada nos braços.

Ao continuar andando, viu-se em um vestido branco segurando um buquê de girassóis, os olhos brilhando, um sorriso, e o brilho a envolvendo.

Suspirou, voltando para o local com a rachadura. Entendia que o espelho refletia o que deveria ter acontecido, se não fosse pelo encontro com o relógio. E sabia que se entrasse no espaço entre os dois espelhos, poderia ver imagens de ambos os futuros.

Mas não entraria. Sabia o que tinha que fazer agora.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

"Já se passou um bom tempo, não é?" disse Estelar com a voz aflita, esfregando uma mão na outra.

"Hm..." murmurou Ciborgue, olhando para o visor em seu braço "Quase duas horas... Mas os dois parecem estáveis."

"Eu só espero que isso funcione" comentou Robin, apoiando à parede com um pé levantado e os braços cruzados. "Se não funcionar..."

Silêncio recaiu sobre eles, ninguém querendo expressar em palavras o pior que poderia acontecer.

Os três se sobressaltaram quando um apito alto ecoou pelo cômodo. Pi-pi-pi-piiiii

Ciborgue correu aos aparelhos que monitoravam Mutano. O metamorfo começou a se mexer, inquieto.

"Alguma coisa está acontecendo..."

"Com a Ravena também!" gritou Estelar, olhando para a empata, que franzia a testa e parecia estar sentindo dor.

"Vamos confiar na Ravena e esperar alguns..." começou Robin, mas antes que ele pudesse terminar, o corvo espectral saiu do corpo de Mutano e se dirigiu à dona.

"Ah!" Ravena arfou, abrindo os olhos e caindo no chão. Aceitou a ajuda dos amigos para se colocar em pé novamente e se postou ao lado de Mutano, parecendo ansiosa.

"Você conseguiu...?" balbuciou Robin.

"Vamos descobrir agora" ela disse, concentrada no metamorfo, que ainda se movimentava na cama.

"Mutano..." chamou Ravena em um sussurro, segurando sua mão.

Os olhos esmeralda de Mutano se abriram. Todos prenderam a respiração, esperando por sua reação.

"Ravena!" ele ganiu, encontrando seus olhos violeta, e os dois se abraçaram com força.

"Me desculpa, Ravena, eu não queria, eu...!"

"Quieto. Eu sei o que aconteceu" ela murmurou com a voz embargada. Mutano a soltou de repente e a segurou à distância dos braços. Robin e Ciborgue se prepararam para sedá-lo de novo.

"Estelar" ele chamou, olhando em volta, e a Tamaraneana sorriu para ele e estendeu a mão, passando-lhe uma caixinha de veludo azul.

"Ravena..." ele disse, e ela levou as mãos à boca, trêmula. "Já que você viu na minha mente, não é exatamente uma surpresa, mas..."

"Você aceita se casar comigo?"

"Sim" respondeu ela, assentindo com a cabeça, deixando uma única lágrima rolar por seu rosto.

"Glorioso!" exclamou Estelar, flutuando de novo, com os olhos úmidos. Ao seu lado, Robin sorria satisfeito e Ciborgue olhava para cima, aparentemente muito interessado no teto branco, seu olho humano brilhando.

"Então, o que aconteceu?" perguntou Robin após alguns minutos em que Ravena colocou o belo anel em seu dedo anelar esquerdo.

"Foi a Terra. Ela está com um relógio maluco que me fez voltar no tempo..." contou Mutano, irritado.

"Talvez ela não tivesse a intenção de danificar a sua mente desse jeito" complementou Ravena. "Mas ela está de posse de um objeto de grande magia, Robin. Que ela pode controlar com seus poderes."

"Hã... Cadê ela?" perguntou Ciborgue, olhando em volta. Ninguém soube responder. De repente Ravena se levantou, totalmente alerta.

"Eu preciso ir" ela declarou, ao que todos protestaram. "Não pra sempre, mas eu..."

"Ravena" chamou a voz firme de Mutano. "Era verdade... O que você me mostrou...?"

A empata assentiu com um sorriso.

"Você deveria vir conhecer o seu filho" ela disse, estendendo a mão para ele. Mutano abriu um grande sorriso e a enlaçou com a sua, se levantando.

"Nós vamos indo, Robin" informou Ravena, sem sorrir. "Eu estou com um mau pressentimento..."

"Eu quero conhecer o bebê também!" exigiu Estelar, segurando o corpo caído de Ciborgue, que havia sido desativado de choque.

"Nós precisamos encontrar a Terra..." disse Robin, examinando seu comunicador. "Aqui diz que ela está na Torre, mas..."

Foi quando um enorme tremor sacudiu a Torre e derrubou os cinco Titãs no chão.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Caleb não estava entendendo nada.

Primeiro, ele fora levado do lugar onde tudo cheirava à sua mãe, onde estavam os passarinhos e onde tinha a música de dormir. Levado para um lugar onde tudo cheirava diferente e fazia um barulho alto sem parar.

Então eles foram para um novo lugar, onde o cheiro também era diferente, mas gostoso, tinham vários passarinhos e uma mulher engraçada.

Quando ele se deu conta, porém, sua mãe tinha desaparecido! Isso foi extremamente desesperador. Ele chorou e a chamou, mas ela não veio. A mulher o balançou de novo e lhe deu o leite que cheirava à sua mãe, o que acalmou um pouco.

Agora estava deitado em um macio confortável, com imagens que ele não reconhecia acima dele, sentindo falta de sua mãe e dos passarinhos. Era difícil dormir com todas essas luzes em volta. Em sua casa só tinha uma luz, a de sua mãe. Aqui, eram muitas luzes. Ele nem sabia que existia esse tanto!

Choramingou, esperando que sua mãe ouvisse e aparecesse acima das barras, como sempre. Mas ela não ouviu. Ele mexeu os bracinhos desajeitados, tentando fazer como os grandes, e as imagens que ele não conhecia começaram a girar como os seus passarinhos. Isso foi um pouco reconfortante. As cores eram bonitas.

Quando suas pálpebras começaram a pesar, ele sentiu falta do Verde. O Verde cheirava à sua mãe e ficava ao seu lado quando ele dormia. Para sua surpresa, o Verde apareceu por cima das barras e deitou ao seu lado. Sentindo o cheiro de sua mãe, ele mergulhou em um sono superficial.

Acordou com um susto quando o mundo começou a sacudir.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Love's such a delicate thing that we do
With nothing to prove
Which I never knew

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Música - Simple Song por The Shins

Tradução:

Simples Canção

Bom, esta é apenas uma canção simples
Para dizer o que você fez
Eu contei a você sobre todos aqueles medos
E da forma que eles se foram
Você deve ser forte
Quando sente-se como um oceano
Sendo aquecido pelo sol

O amor é uma ação delicada que fazemos
que não precisa de mais nada para provar
Na qual nunca soube

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o


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Notas finais do capítulo

N/A: Queridos,

Gostaria que soubessem que estamos nos aproximando do fim.

O próximo capítulo será longo, mas ainda não será o último. Talvez nem o penúltimo.

Tudo de bom para todos vocês, leitores, espero de coração que continuem acompanhando e apreciando a história. Um grande abraço,

—beautifulfantasy



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