O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Relógio




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Teen Titans não me pertence.

**Data de primeira exibição do episódio 'Terra': 24 de Janeiro de 2004

Capítulo 2 – O Relógio

07h00min

– Tara! Os ovos estão queimando! – gritou Carmela do outro lado do balcão.

–Hã? – Tara acordou, vendo os ovos quase pretos na frigideira que estava segurando – Ah, não! Desculpe, Carmela, vou fazer outros.

– Não precisa, eu levo eles assim mesmo para o Sr Keen, ele não vai se importar. – respondeu a garçonete ruiva, estendendo os braços para o prato que Tara servia. – Mas cuidado com os próximos, você sabe que a Srta White gosta da gema mole. Não esqueça os waffles que te pedi, e estamos precisando de mais suco de laranja.

– Está bem... – murmurou Tara, quebrando mais dois ovos na frigideira. Odiava trabalhar na cozinha, preferia mil vezes servir os clientes, mas o cozinheiro tirava folga aos domingos, e ela precisava de mais dinheiro. E naquele domingo particularmente, não estava nem um pouco concentrada. Passara a manhã toda pensando na reportagem que assistira sobre o Maluco do Controle e sua máquina do tempo.

O pobre coitado estava mais do que pirado. Mas sua frase final a impressionara tanto... Ainda mais depois de uma crise emocional daquelas. Ver como Mutano fazia Ravena feliz... Ela se arrependera tantas vezes por deixar os titãs, mas vê-los tão felizes doera numa ferida que ela pensara estar há muito fechada. Só de se lembrar que o metamorfo lhe oferecera tudo aquilo e ela pisara nessa oferta como se fosse lixo...

Serviu os ovos, abriu mais duas caixas de suco de laranja, despejou o líquido em uma jarra de vidro e pousou-a no balcão, onde ficaria ao alcance das garçonetes para maior rapidez. Começou a fazer os waffles. Lembrou-se dos waffles que Ciborgue fizera para comemorar sua entrada na equipe. Lágrimas vieram aos seus olhos azuis. Como ela desejava viver esse momento de novo, dessa vez sem ser uma espiã de Slade disfarçada. Como ela desejava consertar tudo que fizera de errado. Como ela desejava... Voltar no tempo...

Levou os waffles até o balcão. A mesma repórter que ela vira em sua casa falava pela pequena TV da lanchonete.

O artefato que foi alvo de roubo durante essa madrugada voltará para sua estante no Museu de Jump City. – informava ela, agora dentro do museu, perto de funcionários que arrumavam o local. – O dono do museu não acredita que possam ocorrer outras tentativas, já que não há grande valor monetário envolvido e a investida da madrugada foi feita por um louco. O Maluco do Controle já está no sanatório da cidade e parece não oferecer maiores perigos à sociedade.

Tara não prestou mais atenção. Só o que apreendera das informações é que o relógio estaria de novo no museu, sem nenhum tipo de proteção especial...

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13h00min

Será que ela estava pensando direito? Não conseguia acreditar, mas seu coração desejava mais do que tudo que ela colocasse as mãos no relógio do museu. Mas que idiotice, o que é que ela faria com esse relógio? Ela nem mesmo sabia como funcionava. Pousou o rosto nas mãos. Estava em uma mesa de praça, a mesma praça em que vira Mutano e Ravena no dia anterior. Era seu horário de almoço de novo. O cigarro de sempre fora apagado no banco de concreto, esquecido.

Levantou a cabeça e pareceu ver Mutano com suas filhas e sua esposa novamente. Só que dessa vez, ela era a esposa. Tara nunca sonhara em se casar ou ter filhos, mas sua vida atual era tão ruim, e as pessoas que ela via pareciam tão felizes, que talvez assim ela conseguisse um pouco de felicidade de novo. Qualquer coisa era melhor do que ficar sozinha naquele quarto escuro, sujo e apertado toda noite, sofrendo de insônia ou tendo pesadelos com Slade.

"Oh, meu Deus. Eu vou roubar aquele relógio."

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20h00min

Tara se despediu de suas colegas. Elas a convidaram de novo para uma festa, e ela como sempre recusou. Cansara de ir a festas, passara toda a sua juventude nelas, se embebedando e passando noites com homens que nunca mais veria. Além do mais, ela tinha planos para hoje à noite.

Tudo fechava mais cedo no domingo. A lanchonete, a padaria onde comprava um bolo toda a segunda para adoçar a semana, o barzinho onde comprava seus cigarros, a banca, a loja de roupas... E o museu.

O museu ficava longe de sua casa. Ela resolveu ir andando, para pensar durante o caminho e talvez desistir dessa idéia insana. Trazia nas mãos um pouco de comida da lanchonete, que sempre levava para o jantar. Ela encontrou um mendigo dormindo na entrada de um beco e pousou a sacola ao lado dele. E continuou andando.

O que diabos ela pretendia fazer, afinal de contas? Não usava seus poderes há anos. Depois que despertara na caverna, parecia que eles haviam esfriado, ficara mais fácil controlá-los. E ela decidira não usá-los nunca mais. Será que ainda conseguia...?

Ela parou. Olhou para os lados. Estava em uma rua deserta. Mordeu o lábio inferior e concentrou-se em uma pedra, uma pedra pequena, cinco metros à sua frente. Nem precisou fazer força. A pedra se ergueu do chão e flutuou até sua mão. Tara olhou bem para ela, era cinza avermelhada e manchava sua mão com barro. O barro que ela tanto amava quando era adolescente. Agora suas mãos estavam sempre manchadas de amarelo acinzentado, por causa do cigarro. Fechou a mão firmemente em volta da pedra, e ficou com vontade de chorar. Ela era Terra novamente.

Ela percorreu o restante do caminho como que em transe. Foi tão lentamente que levou uma hora para chegar ao museu. Pareceu-lhe minutos.

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22h00min

O Museu de Jump City era uma construção bastante imponente. Sua fachada era ricamente adornada com entalhes delicados de ondas e anjos. Sua entrada era rodeada por altas colunas brancas perfeitas, e a porta era tão grande que parecia a entrada de um palácio. Era um dos mais antigos prédios da cidade.

Terra rodeava o museu há uma hora. Ela se sentava de vez em quando, para observar os vigias. Eles estavam mais atentos, devido à invasão da madrugada anterior. Ela suspirou. Iria ter que entrar por cima. Estava na lateral do museu, onde não havia nenhum vigia. Em toda a volta do museu tinha um gramado bem cuidado.

"Que sorte" pensou Terra "É mais silencioso tirar um pedaço de terra do chão quando não há concreto por cima."

Ela olhou para a pedra em sua mão, então fechou os olhos. Quando os abriu de novo, estava flutuando em cima de um pedaço de terra que não parava de subir. Ela pulou no telhado do museu e lentamente desceu o pedregulho, que se encaixou no gramado como uma peça de quebra-cabeça.

Terra olhou em volta. Não tinha nada que a levasse para dentro. Andou até o centro do prédio. Tinha um teto solar lá. Ela sabia que o barulho de um pedaço de vidro quebrando não chegaria aos ouvidos dos vigias lá na frente, mas ela também sabia que era muito provável que houvesse vigias dentro do museu. E não estava errada.

A loira se ajoelhou na beirada do teto solar e olhou para baixo. Viu um vigia passando por um corredor, e alguns minutos depois, outro, passando pelo corredor ao lado e na direção oposta. Ela se sentou e enterrou o rosto nas mãos. Não tinha como conseguir agora. Através de suas lágrimas, sob a luz do luar, ela viu um brilho dourado em uma prateleira longe do teto solar. Esfregou os olhos. Lá estava o relógio!

Ele estava muito distante do teto solar, ela teria que pular e correr um tanto para alcançá-lo, e depois arrancar um grande pedaço de terra do próprio museu para escapar. Chamaria muita atenção, e os titãs saberiam que fora ela. Mordeu o lábio. Por outro lado, se ela conseguisse voltar no tempo, não teria que se preocupar com isso, porque nada disso estaria acontecendo.

Mas e se não conseguisse?

Terra segurou os cabelos com força. Não conseguia pensar em nada, só em como seu coração desejava o relógio. Como fora estúpida, vindo aqui sem um plano definido. É claro que nada daria certo. Quando olhou para baixo de novo, porém, ficou estupefata.

O relógio estava flutuando.

Ótimo, agora ela estava delirando. Porém, quando tentou controlá-lo, exatamente do mesmo jeito que controlara a pedrinha em sua mão, ele se deslocou para o lado. E agora estava vindo para ela. Terra não conseguia acreditar, mas quando o relógio chegou perto o suficiente, ela entendeu.

Não era um relógio. Era uma ampulheta. Uma ampulheta cheia de areia. A areia de uma das âmbulas estava concentrada na parte superior, empurrando a peça toda para cima, movida pelos poderes de Terra.

Lágrimas vieram aos seus olhos azuis. Isso só podia ser um sinal, um sinal de que tudo ia dar certo, de que ela ia conseguir.

Sem pensar em mais nada, ela pisou com força em um dos quadrados de vidro, quebrando-o, e a ampulheta veio até suas mãos, movida pela areia. Ela a agarrou e saiu correndo. Quando pulou, o gramado amorteceu sua queda, afundando um pouco. Ouviu os vigias gritando, então ela correu, do mesmo jeito que sempre corria quando era jovem.

Terra correu até onde seus pulmões agüentaram. Eles a lembraram que no fundo ainda era Tara, a fumante, então, quando ouviu as sirenes se aproximando, a terra se abriu, e a loira entrou na pequena abertura que as pedras lhe ofereciam. Quando a superfície se fechou de novo, mergulhando-a na escuridão, ela se sentou e abraçou o relógio, apertando os olhos.

Ela não fazia a menor idéia de como fazer o relógio funcionar, mas tinha certeza de que ele era muito poderoso. Podia sentir, quando tocava sua superfície lisa e gelada. A ampulheta estava dentro de uma caixa de vidro, com linhas em relevo que ela podia sentir com seus dedos, mas não sabia que desenhos formavam. E a areia que deslizava pela ampulheta também de vidro era uma areia antiga, com segredos místicos transbordando de cada grão.

O artefato inteiro emitia o poder da terra, Terra se sentia cada vez mais ligada a ele. Ela apertou os olhos e desejou intensamente voltar no tempo, voltar àquela noite em que pusera tudo a perder. Seu desejo foi tão forte e sincero, que despertou algo há muito adormecido naquele relógio. A alma dentro dele acordou para realizar o pedido daquela filha da terra quando os poderes dos dois se mesclaram, pois eram iguais.

A areia da ampulheta, que até aquele momento seguira fielmente os desígnios da gravidade, começou a voltar para a âmbula da qual viera.

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Limites da Cidade de Jump City, 25 de janeiro de 2004, 21h04min.

Terra corria o mais rápido que suas pernas agüentavam. Não conseguia acreditar que Mutano contara a Robin. Depois de prometer! Ela tinha confiado nele. A falta de controle de seus poderes era seu segredo mais vergonhoso. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.

Talvez Mutano não tivesse contado... Talvez Robin tivesse percebido sozinho. O que acontecera na luta contra Slade não fora algo exatamente discreto. Ela parou de correr e enxugou os olhos.

Isso não importava. O que importava é que todos sabiam que ela não conseguia controlar seus poderes. E isso a deixava muito envergonhada... No fim, eles a expulsariam, como todos os outros. Era melhor mesmo não criar novos vínculos, para não sofrer de novo.

Terra se virou. Estava com uma sensação entranha. Sentia que estava sendo observada. E não estava errada.

– Terra. – uma voz familiar chamou. Terra ofegou.

–Quem está aí? – ela gritou.

–Só você, Terra, Tara... – respondeu a voz, com uma doçura nostálgica.

–Não entendo...

–Terra, eu vim te falar uma coisa muito importante. – disse a voz, séria – Volte para os titãs. Eles são muito bons. Eles nunca virarão as costas para você.

–Mas eu...

–Eu sei, querida. Mas se você não voltar, vai ter um destino terrível. Confie neles, só dessa vez. Confie em mim.

–...

–E nunca, nunca dê ouvidos a Slade, ouviu? Ele será a sua perdição. Você deve se proteger dele.

–Quem é você?

–Eu sou o futuro que você não deseja. Acredite, e mude-me.

A voz sumiu. E Terra acreditou.

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