Melissa

Melissa era doce como mel, sorria como se cada momento fosse uma foto para o álbum de família da avó e era leve como algodão doce. Flutuava de história em história como um eterno figurante, nunca a atriz principal.

— Figurantes nunca tem um começo. Consequentemente nunca tem um fim. Até os coadjuvantes tem que acabar em algum lugar, seja ele bom ou ruim. Os figurantes só servem de espectadores para a vida, aprendendo e vivendo várias histórias.

Quando sentia que estava parada tempo demais em algum lugar, em alguma história, Melissa se mudava. Saia de fininho pela noite como se nunca tivesse existido. Quando perguntada se não doía deixar as pessoas para trás ela respondia:

— As feridas são muito melhores do que fotos ou cartões postais. Fotos são apagadas, modificadas, perdidas. As feridas são as pessoas que eu deixo e que vão comigo até o túmulo. Até quando não me lembrar de seus rostos, de seus nomes... Eles estarão comigo.

Aquilo era uma puta de uma mentira. Era só mais uma desculpa para um estilo de vida inconsequente mascarado com palavras bonitas. Melissa descobriu isso quando realmente se apaixonou por alguém. Durante os quatro meses ele foi tudo em sua vida. Quando acordou em uma manhã completamente sozinha e ainda com o gosto de seus lábios em seus próprios que ela se deu conta do que aquilo significava.

Eu sou a protagonista agora. A mocinha machucada. A abandonada. A ferida deixada para trás.

Melissa se foi pesada como se carregasse mil balas dentro de seu peito. Sentiu a textura das pedras, o frio cortante e o cheiro de maresia entrando por suas narinas quando o mar beijou seu corpo após a queda.

Melissa se foi imaginando quantas feridas de seu coração tinham feito a mesma coisa por ela.

Melissa se foi triste imaginando que talvez ninguém tenha feito isso por ela.