Paixões gregas - Adrenalina do amor(degustação) escrita por moni


Capítulo 6
Capitulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oiieeeee
Estou tão feliz que vim postar aqui primeiro só para agradecer as recomendações que foram muitas. Estou boba de tão feliz. Então aqui vão os agradecimentos. RAQUEL por ter recomendando as duas outras da série e como não posso agradecer lá por que estão terminadas agradeço aqui. Amei, muito mesmo. estou super emocionada. Agora as recomendações de Adrenalina do amor. Suas linda e queridas!!!!! Vou colocar os nomes e agradecer todo mundo.
MARIELIAR, LILI, GABI, CISAN, ENKANTADA.
Agora vocês podem ter uma leve ideia de como estou feliz. Amo escrever, é sério, continuaria mesmo se só eu lesse, mas quando encontro pessoas como vocês que gostam, participam, comentam e recomendam me dá mais ânimo e me deixa dançando em nuvens. Não tem como agradecer o bastante. Adoro cada uma de vocês e são todas de algum modo muito especiais para mim. OBRIGADA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



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Pov – Sophia

Fico sentada olhando para o vazio de uma sala de espera depois de assistir minha avó me deixar daquele jeito suave que ela tinha de viver. Mesmo quando via os esforços dos médicos em tentar ressuscita-la eu sabia que não tinha jeito, ela queria ir. Estava pronta e isso é admirável, não ter medo é bonito.

Uma vida sem arrependimentos, dessas que não te dá medo na hora de ir é o que quero para mim. Quando for minha vez quero estar pronta como ela. Foi uma ótima última lição.

─Entendi vovó. Vou me esforçar. – Digo em voz alto e não me importo com quem vai ouvir ou o que vão achar. Acabo de ficar sozinha no mundo. Estranho pensar nisso. Sempre tive uma família e agora sou só eu e mais nada.

Ulisses sumiu com seu telefone e me mandou esperar e apenas fiz o que disse, não sei o que se faz numa hora dessas. Quando meus pais se foram vovó cuidou de tudo mesmo com o coração partido.

Olho para a mala ao lado e fico pensando para onde eu vou depois de tudo. Mesmo que consiga um emprego ainda não vou ter nem mesmo onde passar a noite.

─Sophia. – O toque em meu ombro me desperta. – Vem, cuidei de tudo. Agora já vai anoitecer e precisa descansar. Meu motorista vai nos levar para um hotel.

─Ulisses... – O que digo a ele? Apenas obrigado? É tão pouco.

─O enterro será amanhã cedo e não temos mais nada a fazer aqui. Tem pessoas cuidando de tudo, amanhã seguimos para a vila as nove da manhã.

Ele ergue minha mala e me estende a mão. Me estende a mão desde que coloquei meus olhos nele e nunca pensei que um homem rico e poderoso como ele pudesse ser também sensível e gentil.

Seguro sua mão e vamos em direção a saída. Seus olhos estão preocupados olhando em volta quando caminhamos para o carro. Um jovem de uniforme abre a porta e me sento. Ulisses se senta ao meu lado, escuto o porta-malas bater depois de minhas coisas estarem guardadas e o motorista volta ao carro.

─Tem um ótimo hotel duas quadras daqui Ulisses.

─Então nos deixe lá. – Ulisses pede e o carro ganha as ruas. Quando dobramos pela praça Di Domo eu me lembro da fonte de Orion e meu pedido tolo de um recomeço. Acho que ele não me ouviu. Desvio meus olhos, não quero olhar para a catedral. A última vez que estive aqui pedindo proteção minha avó estava viva e eu ainda podia sonhar sem medo.

Giovanni para na frente de um hotel cinco estrelas. Ulisses pega minha mala. Me afasto um pouco quando os dois conversam e então subimos os degraus em direção a recepção.

─Pode pedir um quarto em nome de senhor e senhora Stefanos? – Ulisses pede quando nos encostamos no balcão. Fico olhando para ele sem entender muito. – Melhor não se registrar, não sabemos como as coisas estão. Carlo está preocupado com a sua segurança e eu também.

─Está certo. Desculpe por tudo isso Ulisses. Eu devia manda-lo ir e seguir sua vida, mas...

─Mas não manda em mim e só faço o que quero.

─Ok! – Faço o pedido e quando olho para ele Ulisses sorria. – O que?

─Gosto de ouvir você falando em italiano.

A recepcionista nos entrega o cartão. Ulisses ergue mais uma vez minha mala.

─Posso carregar isso. – Aviso a ele que sorri.

─Que bom. Mas esse é o trabalho dele. – Ulisses avisa entregando a mala a um carregador que se aproxima do nada. – A menos que queira roubar seu emprego.

─Não é má ideia. – Aviso e ele só toca minhas costas me empurrando para o elevador. Subimos ao terceiro andar.

─Terceiro andar? Gosto da cobertura. – Ele diz e imagino que sim. O dinheiro acostuma as pessoas a luxos tolos. – Não é o que está pensando. Gosto de lugares altos. Quanto mais perto do céu melhor.

A porta se abre. O rapaz pede o cartão magnético, abre a porta e coloca a mala do lado de dentro. Ulisses estica umas notas para ele e depois ficamos sozinhos. É um bom quarto.

─Com fome? – Ele questiona e nego. – Morrer de inanição não ajuda. Vou pedir comida.

─Por que pergunta se digo não e sempre ignora?

─Para parecer um cavalheiro, mas é só aparência. Não crie expectativas.

─Pode deixar. Se importa se eu tomar um banho enquanto a comida chega?

─Não. Tem preferencias?

─Massa. – Digo de modo mecânico.

─Meu irmão caçula também adora massa.

Abro a mala e pego uma roupa confortável, depois sigo para o banho. Não demoro muito. Lavo os cabelos e sinto como se a agua morna me relaxasse os músculos. Depois deixo o banheiro e Ulisses falava ao telefone.

─Eu sei Lizzie. Andei ocupado, por isso não atendi suas ligações. Como está? – Ele sorria ao telefone e fico pensando se não estou entre ele e Lizzie. Pensar que ele tem alguém magoa um pouco, imaginar que um homem como ele está sozinho é uma grande tolice. – Eu prometo que levo um presente bem lindo. E chocolates. Nas férias quando voltarmos a Disney eu prometo não rir de você ser baixinha.

─Disney? – Digo em voz baixa.

─Tudo bem baixinha eu me comporto e vamos nos divertir com o tio Nick. Também te amo. Beijo.

Ele desliga e me encara. Pisca algumas vezes e não entendo por que toda vez que saio de um banheiro ele tem essa reação.

─Você está sempre melhorando e isso é bem estranho. Precisa tentar enfeiar um pouco.

─Disney? – Pergunto a ele ignorando seu comentário sobre minha aparência.

─Minha sobrinha Lizzie. – Ele balança o celular. – Fui com ela e meu irmão mais novo passar uns dias na Disney e eles querem voltar. Os dois são loucos pelo bruxinho que nunca lembro o nome e eles sempre se ofendem com isso.

─O bruxinho tem uma legião de fãs alucinados.

─Tenho dois deles na família. – Uma leve batida na porta nos faz assustar. Ulisses abre e recebe a comida. Nos sentamos para jantar. – Depois que comer eu vou descer e comprar roupas. Não tenho nada aqui. Você aproveita para dormir.

─Acho que não consigo.

─Precisa.

─Sua família parece unida.

─Muito. Irmãos, sobrinhos, cunhadas. Éramos apenas eu e meus irmãos e do nada nos tornamos esse monte de gente. Foi tudo culpa do Leon, ele que começou com isso de casar e ter filhos.

─Deve ser bom. Se tivesse mais alguém... Meus pais se amavam muito. Tanto que não sobrava espaço para muito mais gente então só tiveram a mim. Mesmo eu, as vezes me sentia uma intrusa no meio de todo aquele amor. Foi amor à primeira vista. Meu pai foi passar férias na vila com um primo distante e conheceu minha mãe. Nunca mais foi embora. Nunca mais ficaram um dia sem se ver.

─Acredita nisso?

─Amor à primeira vista? – Eu pergunto depois de tomar um gole do vinho.

─Acredita nesse tipo de sentimento?

─Aconteceu com eles. Não sei, não espero isso para minha vida. Não está nos meus planos. Mesmo assim eles foram felizes então isso é o que importa.

─Pode ser. Consegue me guiar até a vila? Dispensei o motorista e mandei que voltasse para Palermo.

─Claro. Fiz esse percurso muitas vezes. Só que nunca imaginei que um dia seria para enterrar vovó Gemma.

Meus olhos marejam, o coração se aperta e engulo em seco. Afasto o prato. Ulisses segura minha mão carinhoso.

─Eu sei que é dolorido. Só posso dizer que com o tempo se acostuma e sabe disso. Não é a primeira vez.

─Não é. Acho que vou seguir seu conselho e dormir um pouco. Me ajeito no sofá.

─Não. Você dorme na cama, eu nem vou ficar aqui. Vou comprar umas roupas e fazer umas ligações. Depois deito no sofá. Não me deixe zangado.

─Não consigo imagina-lo bravo.

─Eu nunca perco tempo com isso. Deixo o mal humor para meu irmãozinho.

Ulisses deve se dar bem com crianças, sempre fala com carinho do irmão mais novo e dos sobrinhos e pelo que entendi o irmão vive com ele já que os outros moram em lugares distantes.

Eu o vejo deixar o quarto e arrumo travesseiros e lençóis no sofá. Parece tolice com uma cama grande como aquela, mas não quero dar sinais errados e no momento só quero mesmo tentar não pensar. Vou para a cama como ele determinou.

O vinho ajuda e adormeço no momento que me deito. Acordo com a voz de Ulisses ao telefone e demoro a compreender que é de manhã.

─Está certo Simon, amanhã eu estou aí e resolvemos isso.

Sigo para o banheiro em silencio. Coloco meu vestido preto. Sandálias baixas e prendo os cabelos num rabo de cavalo. Quando chego na sala é minha vez de ficar surpresa.

Ulisses usa jeans e camiseta, parece mais jovem e aquilo sim parece o cara bem humorado e leve. Está lindo e gosto muito mais dele assim.

─Pode dizer que estou bonito. Eu não vou me ofender.

─Está. Parece mais com você.

─Diz isso para os outros Stefanos eles nunca me deixam trabalhar assim. Vem tomar café e eu sei que não está com fome e todo o resto, mas precisa.

─Não te vi chegar.

─Demorei uma hora, mas quando cheguei estava roncando então deixei que dormisse.

─Que mentira. Não ronco nada!

─Devia ter gravado. – Ele se serve de suco. ─Toma o suco. Vai precisar. – Ele dá um gole depois me olha chocado. – Meu Deus eu me transformei na Lissa. Ouviu o que eu disse? Toma o suco? Quem sou eu?

─A pergunta é quem é Lissa.

─Minha cunhada, uma mandona que nos obriga a comer de manhã. As duas são assim Liv também, mas nada se compara a Lissa. Quando chegou na família era tímida e assustada. Uma menininha de meio metro toda delicadinha. Depois virou um sargento. Culpa do marido que mima ela, e dos meus irmãos que fazem tudo que ela quer.

─E você não?

─Claro que faço. Tenho medo dela.

O jeito alegre dele sempre me ajuda a suportar, as vezes até me esqueço um pouco do que estou vivendo.

─Sophia, depois do café temos que ir e pensei em como vai ser depois do enterro.

Assunto sério. Depois do enterro ele segue seu caminho e fico sem saber o que fazer.

─Não sou seu problema Ulisses, parou sua vida por mim e agradeço, mas entendo que tem que seguir sua vida, eu vou dar um jeito, não vou me abater, prometi a minha avó.

─Gosto de saber que não vai se render, mas tenho uma proposta.

─Não faz nada pela metade. – Me lembro de suas palavras.

─Nunca. Meu irmão mais velho mora em uma ilha na Grécia, sabe disso, é um lugar incrível, eles conhecem todo mundo por lá, não seria difícil conseguir um emprego e seu grego é fluente. Melhor do que o do meu irmão mais novo por exemplo. Eles vão te receber, vai gostar deles.

─A casa da sua cunhada de meio metro?

─É, se disser a ela vou ficar encrencado.

─Será nosso segredo.

─Pode recomeçar por lá. Longe da Itália que no momento é um perigo para você.

─Nem posso pagar uma viagem como essa Ulisses.

─Não precisa, estou com o meu jato e isso não é problema.

─Tem um jato?

─Não é luxo, precisamos porque viajamos muito então um fica em Londres ou Atenas com meus irmãos mais velhos e outro em Nova York...- Ele se cala. Me olha um momento. – Acredite, não foi sempre assim, já estive bem pior que você e por muito tempo.

─Você? Um executivo importante que tem dois jatinhos?

─Sim, era um garoto de rua em Nova York. Tendo que decidir se comia ou dormia, mas não é uma história triste se contada por mim, se ouvir dos meus irmãos vai sentir pena, mas eu me divertia muito para ser honesto, o central Park era minha floresta mágica e a cidade meu reino encantado, minha mente estava sempre transformando tudo em aventura. Foi um bom jeito.

─Sei como é isso. – Digo me lembrando das mil aventuras que minha mente infantil criou.

─Aceita recomeçar na Grécia?

─Aceito. – Não tenho escolha. Não é Nova York e seu mundo de coisas que gostaria de conhecer, mas é um lugar e depois o mundo me aguarda. Ele não vai estar lá, mas não se pode ter tudo.

─Ótimo, daqui vamos para Palermo, eu tenho que organizar umas coisas, depois vamos para Nova York e em umas semanas é aniversário do meu sobrinho Harry e vamos para Kirus.

Fico olhando para ele sem entender, ele disse semanas? O que isso significa? Que vou passar um tempo em Nova York com ele? Vamos atravessar o oceano para depois voltar se não levaria mais do que umas duas ou três horas daqui a Kirus?

─Tudo bem. Como vou para Nova York sem um visto?

─Meu amigo da Interpol está cuidando disso. Eu fiz algumas ameaças. Eles acabaram por te deixar em risco então precisam se virar.

─Eu nem sei o que dizer.

─Diga obrigado Ulisses, você é o cara mais sexy e bonito que já conheci.

─Você me faz rir. – Digo ficando de pé. – Vou fechar a mala.

─Espera, isso é bom ou ruim? Te faço rir porque sou um palhaço ou porque eu...

─Por que me faz bem e isso é bom.

Deixamos o hotel depois de Ulisses pagar a conta e fico pensando quanto vou ter que trabalhar para pagar tudo que ele já gastou comigo. Gosto de vê-lo ao volante. Ulisses é sempre divertido e quando eu o vejo ali atrás do volante ele parece poderoso, desvio os olhos achando a ideia estranha para quem vive o momento que estou vivendo.

Vou indicando o caminho enquanto vamos ouvindo um rock antigo e gosto de suas preferências musicais. Quanto mais perto chegamos da vila mais apreensiva eu fico.

─Quer parar em algum lugar antes? Falar com alguém?

─Não sou bem-vinda Ulisses, pode apostar que ninguém vai ter muito interesse em falar comigo.

─Sinto muito por eles, só estão perdendo. Já você parece estar com sorte de poder dar adeus a isso.

─Pode ser, eu queria tirar minha avó daqui, queria uma vida diferente para nós, não melhor, não é como se faltasse qualquer coisa material, tive uma ótima infância, pais e avó amorosos, comida à mesa, amigos e brinquedos. As coisas se complicaram apenas depois que meus pais morreram.

─Entendo. Quer passar na casa que morava. Pode levar tudo que quiser Sophia, vai começar uma nova vida longe, não deixe nada que se importa para trás.

Encaro Ulisses com os olhos fixos na estrada. As vezes nem parece que ele é de verdade. Fico pensando se ele faria o mesmo para qualquer pessoa, é bom me sentir especial, mas acho que isso é sua natureza, vi como ele tratou o motorista, gentil, de igual para igual, é assim que o vejo agir com todos com quem estivemos e não acho que sou uma exceção.

─Fotos. – Aviso e ele me olha. – Vamos parar um momento na casa que cresci, quero levar minhas fotos, as antigas de família e muitas que eu tirei. Fotografar é algo que amo fazer. Ganhei uma máquina profissional do meu pai quando fiz quinze anos, ela quebrou o ano passado, mas tirei muitas fotos incríveis com ela.

─Uma fotografa, minha cunhada é pintora. Dessas que vendem seus quadros e tudo. Acho que vão se dar bem se gosta de arte.

Chegamos a vila, quando o carro começa a circular pelas ruas e as pessoas começam a olhar curiosas eu sei que o corpo de vovó Gemma já chegou e estão a minha espera. Indico a casa que agora é de Maria e não mais minha. Paramos na frente.

─Cresceu aqui? – Ele me pergunta olhando tudo a sua volta.

─Sim. Com vovó sempre me esperando com uma cadeira na calçada. – Sorrio ao mesmo tempo que choro com a lembrança. Ele segura minha mão.

─As lembranças ficam Sophia.

─Eu sei, o cemitério é no fim da rua, são só uns minutos. – Junto coragem para bater na porta. Respiro fundo e ergo meu queixo em busca de enfrentar Maria.

Ela abre a porta e me encara cética. Aquela mulher me viu crescer, foi amiga dos meus pais e cuidou da minha avó, como pode me ser tão indiferente agora?

─Vim buscar minhas fotos e documentos antes de deixar a vila.

─Imaginei que viria. Um momento. – Ela some para dentro da casa. Quero desesperadamente ter uma crise de choro por não poder nem mesmo entrar uma última vez em minha casa de toda uma vida. Maria volta arrastando uma mala. – Aqui está. As roupas da sua avó eu separei para doar, mas se quiser....

─Não quero. Pode doar.

─Aí dentro estão todas as suas coisas. – Ulisses não me deixa pegar a mala, ele recolhe das mãos de Maria que o olha de cima a baixo e sorri debochada. Depois olha para o carro elegante em sua porta e os olhos faíscam de raiva.

─Vamos Sophi. – Ele me chama e gosto de vê-lo me chamar como minha família, de modo íntimo e sei que fez de proposito só para Maria ficar irritada.

─Sim. – Encaro Maria. – O funeral da minha avó será agora, se quiser ir, se alguém da vila quiser ir eu posso esperar.

─Vamos cuidar do tumulo de sua avó como fazemos com todos os que aqui estão enterrados, já rezamos uma missa para ela ontem, fizemos nossa parte. – Meus olhos se enchem de lágrimas e é muito mais de raiva que tristeza. Mais uma vez engulo o choro e então as mãos de Ulisses me envolvem e ele me leva para o carro. Dirige mais dois minutos comigo lutando bravamente com minhas lágrimas.

─Chorar no enterro da avó não é crime Sophi. Não lute tanto contra isso, não vai parecer fraca por isso.

─Eu vou ser feliz Ulisses. Eu juro que vou ser muito feliz.

─Tenho certeza disso.

O carro da funerária está lá, quatro homens aprontavam o lugar vestidos em ternos pretos muito elegantes, o caixão era fino e tinham duas coroas de flores uma com meu nome e outra com o dele e nos posicionamos ao lado do túmulo.

Os homens perguntam se quero falar qualquer coisa e nego. Disse tudo que era preciso enquanto ela vivia. Eles descem o caixão, a terra começa a cobrir o corpo. Fico de pé segurando a mão de Ulisses durante todo processo. Deixo as lágrimas correrem sem medo de parecer indefesa. Depois as coroas são depositadas e os homens partem em silencio.

─Meu pai e minha mãe. – Aponto as covas uma ao lado da outra junto com a de vovó Gemma. – Toda minha família. – Sinto meu coração se partir de tanta tristeza. Ele me abraça, fica em silencio um momento. Depois se afasta de mim, vai até a coroa de flores e retira algumas. Coloca sobre o túmulo do meu pai e depois o de minha mãe. Volta em silencio para o meu lado. ─Nunca mais vou pisar nesse lugar. Não quero. Eles não querem. Vou levar comigo tudo de bom que me ensinaram, dar as costas a tudo isso e nunca mais olhar para trás.

─Você é forte. – Ele me diz. – Quando estiver pronta podemos ir.

Dou um último longo olhar a aquele lugar e depois damos as costas ao passado e seguimos em direção ao carro na frente do cemitério.

Um carro preto estava parado na esquina. Eu o noto porque quase não tem carros na vila e os que tem são antigos. Ulisses percebe o carro também.

─Acha que são policiais? ─Pergunto quando ele aperta o botão para destravar o carro.

─Não. Os policiais estão na outra esquina. Entra no carro.

Meu coração acelera um pouco com medo do que pode ser aquilo. Marco me vem à mente e vejo Ulisses dar a volta no carro. Demoro uns segundos para despertar da tensão e quando toco a maçaneta do carro escuto um som explosivo e no segundo seguinte o vidro traseiro explode em mil pedaços.

─Entra! – Ulisses grita. Obedeço quando ele dispara o carro acelerando feito um louco, um outro tiro acerta a lataria do carro. Grito com o susto. Ulisses apenas acelerava. Escuto mais tiros e penso ser a polícia e os bandidos, depois apenas silencio e Ulisses acelerando a toda velocidade deixando a vila para trás.

─Pega a esquerda! – Eu peço e ele obedece. – Vamos cair na auto estrada.

Ele está em alta velocidade. Os olhos fixos na estrada. Olho para trás e só tem nosso carro na estrada, o vidro traseiro arrebentado em mil pedacinhos no banco de traz.

─Tentaram me matar? – Pergunto só para saber se não estou maluca.

─Sim. Felizmente os bandidos atiram mal. Isso foi providencial. Merda! – Ele bate as mãos no volante irritado. – Não acredito que quase... – Ele diminui a velocidade. Digita qualquer coisa no telefone e o coloca no painel do carro.

─Já soube Ulisses, um dos homens foi ferido e está sendo preso. O outro conseguiu fugir.

─Atiram mal, mas correm bem. – Ulisses diz seguindo a placa que indicava Palermo. – E o visto que pedi?

─Mais um dia.

─Ela podia ter morrido! – Ele grita e pela primeira vez eu o vejo bravo.

─Os dois podiam.

─Puxa Carlo agora estou mesmo aliviado. O que eu faço?

─Vão para um novo hotel em Palermo. Quando chegarem me avisa que eu mesmo vou fechar sua conta e levar suas coisas para vocês, quanto menos gente souber onde estão melhor. Dois seguranças vão ficar no hotel até o visto ficar pronto e deixarem o país.

─Sabe que para isso eu não precisaria da Interpol, não é? Quer dizer, meio que não servem para nada. Nos filmes é bem diferente.

─Eu sei Ulisses.

─Os homens de Dom Corleone tinham ótima mira. Agora se mexe e garanta nossa segurança.

─Pode deixar, me diz onde estão e mando carros para acompanha-lo.

─Não. Podemos chegar em Palermo. Faça seu trabalho que faço o meu.

Ele desliga e encaro Ulisses.

─Desculpe te colocar nisso. Eu não sei o que dizer.

─Pode me chamar de meu herói e elogiar minha capacidade de pilotar essa máquina. Se machucou?

─Não.

─Ok Bonnie, vamos para Palermo então.

─Como quiser Clayd.

─Eles podiam ter perseguido a gente uns quarteirões a mais para valer a pena a bronca que vou tomar das minhas cunhadas. – Ulisses resmunga e as vezes não acredito nas coisas que ele diz.

─Isso não foi divertido. – Digo séria. Me encosto no banco olhando pelo retrovisor. – Talvez um pouco.

Ulisses sorri. De qualquer modo é um bom jeito de passar por cima de uma perda como a que tive. O Susto foi tão grande que a tristeza deu lugar a vontade de viver e um jato de adrenalina jorrou por meu corpo me despertando e me deixando consciente de tudo como nunca estive. Se for bem honesta eu achei perigosamente interessante. Devo ter algum problema.


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Notas finais do capítulo

Amo vocês! Já disse isso? Comentem que agora antes de escrever o bõnus de Resumption vou colocar os comentários em dia.
Beijossssssssssssssssss