Indominus Rex, a Dama Branca - One Shot escrita por Milady Sara


Capítulo 1
A Dama Branca


Notas iniciais do capítulo

Essa história começou a surgir na minha cabeça logo depois de eu assistir o filme e aqui está ela! Achei melhor um one shot do que um monte de capítulos minúsculos, mas enfim, parando de tagarelar aqui.Boa leitura e espero que gostem :D



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No começo, não havia nada além do som do meu coração. Um som reverberante e familiar.

Com o tempo, novas coisas surgiram. Uma sensação de aperto, de precisar me esticar e sair de onde quer que eu estivesse.

Fiz força, e crec.

Tudo mudou.

De uma vez, tive noção de muito do que existia, inclusive de mim. Meus primeiros pensamentos enquanto me livrava de minha prisão quebradiça, foram do meu próprio ser. Conceitos que eu já nasci sabendo.

Existir.

Cabeça.

Olhos.

Ver.

Boca.

Voz.

Nariz.

Respirar.

Podia sentir algo viscoso ao meu redor e o ar entrando por minhas narinas.

Patas.

Garras.

Cauda.

Com minhas pequenas e afiadas garras, empurrei mais aquilo que me prendia e pude finalmente ver o mundo pela primeira vez. Não havia muito, somente uma grande claridade que ofuscava minha visão e à minha frente, uma redoma como a minha e que também estava ruindo.

Quase esqueci de fugir e então descobri o que era liberdade e sua inexistência, além de outras sensações e sentimentos. Mas antes que pudesse mexer algo além de minhas patas dianteiras, outras surgiram, maiores e mais carnudas. Me tiraram da redoma, e pude me esticar e sentir cada centímetro, cada músculo do meu corpo.

Contudo, minha euforia durou pouco.

As patas carnudas me agarraram, puxaram, cutucaram. Era somente um incômodo, antes de mais patas surgirem trazendo coisas estranhas e pontiagudas com elas. Ainda não conseguia ver a que seres as patas pertenciam, mas quando as coisas pontiagudas se fincaram em mim, descobri mais.

Dor.

Desespero.

Ouvir.

Gritar.

Eu não sabia me comunicar, então, reproduzi toda a sorte de ruídos que pude imaginar, na esperança de que fizessem parar a dor, mas não fez. Me sacudi e tentei fugir.

Eles não gostaram.

As patas não me seguravam mais, mas me imobilizavam contra uma superfície fria e pude ver o objeto pontiagudo sugar de mim uma substância que eu ainda não sabia denominar. Fecharam minha boca, e sem ouvir minha voz, pude ouvir as deles. Eu ainda não era capar de entender o que diziam, não sabia quantos eram ou o que queriam comigo.

– As duas parecem saudáveis. Leve a amostra de sangue para o laboratório.

– Chame o doutor Wu, ele vai gostar de ver isso.

– O habitat está pronto?

– Sim. O transporte já está chegando.

Forçaram-me a virar a cabeça para cima e pude ver o rosto de um deles pela primeira vez. Sua boca estava escondida por algo, mas pude observar que sua pele não era tão dura quanto a minha antes de porem uma luz à minha frente e balançarem-na.

Fizeram uma sorte de puxões em meus membros, até voltarem a só me segurar.

– Como elas estão? - uma voz nova entrou.

– Bem doutor, sem problemas no nascimento.

– Vamos monitorá-las do habitat e ver se conseguirão sobreviver.

Sobreviver.

Isso eu não sabia o que era, só sabia que queria.

Um rosto novo apareceu, seus olhos eram menores ou mais fechados do que os das outras criaturas, mas eu podia ver sua boca, e ele fez um movimento estranho com ela olhando para mim.

– Coloque-as na caixa e avise Claire. - ele pôs a garra sem ponta no meu nariz. - Vamos conhecer sua nova casa, amiguinha.

Puseram-me em outra redoma, e nela me levaram para uma coisa brilhante, de onde outros deles saíam. Colocaram-me ali e esconderam a luz. Estava numa prisão dentro de outra agora.

Frente.

Trás.

Direita.

Esquerda.

Cima.

Baixo.

Agora conhecia meus movimentos, mas o resto parecia um enorme mistério. Então, olhando por fissuras em minha prisão, encontrei com os olhos dela. Soube naquele momento que éramos iguais, e percebi que ela estivera lá em todos aqueles momentos. Ela também fora submetida aquelas dores, mas tão concentrada em resistir, eu não havia percebido sua presença até então.

Um solavanco me fez bater a cabeça e guinchei.

– Cuidado, esses bichos valem mais que esse furgão!

– Qual é, você pode ser cientista, mas eu estou dirigindo. Elas estão bem, são irmãs, cuidam uma da outra.

– Não se uma tiver os ossos quebrados.

Irmãs?

Eu não sabia o que era isso, mas éramos. O significado me escapava, mas parecia importante. Sacolejamos muito até finalmente pararmos de nos mover. Abriram a redoma maior e nos levaram nas menores. Estava muito escuro, o que pareceu estranho já que a primeira coisa que eu havia visto era a claridade.

Não conseguia ver onde estávamos nem o que havia ao meu redor. Só sabia que entramos em outro recipiente, o que me irritou. Aqueles seres gostavam de estar confinados ou gostavam de nos confinar, independente de qual fosse a resposta, aquilo me deixava com... Raiva.

Dentro da nova prisão, havia uma área aberta. Abriram as redomas em que estávamos espremidas e nos soltaram ali, eu tentei segui-los, mas algo se fechou na minha frente. Uma barreira.

Corri por aquele ambiente, e havia barreiras por todos os lados. Eu não gostava daquilo. Tinha coisas lá fora, podia sentir isso e os barulhos que as criaturas macias faziam me ajudavam a imaginar o que podia haver. Em cima não havia barreiras, e eu podia ver pontos brilhantes em meio à escuridão.

Eu gritei para aquele vazio sem cor, gritei e guinchei e minha irmã me acompanhou. Fizemos quanto barulho pudemos até a escuridão ficar clara e fazer nosso olhos doerem. Só então olhamos ao nosso redor. Havia coisas maiores que nós duas, de cores novas.

Meus olhos pesavam e meus passos não eram mais firmes.

Deitar.

Chão.

Dormir.

Jogamo-nos à sombra de uma das grandes coisas e dormimos. Quando acordamos ainda havia luz, e nos ocupamos em desbravar nosso pequeno e particular mundo. Maior do que nossas redomas iniciais, mas ainda assim pequeno para nós.

Aprendemos tudo, alguns nomes ouvíamos aquelas criaturas dizerem, outros já sabíamos. Cores, sensações e necessidades. Não havia mais mistérios, não naquele espaço, o conhecíamos como conhecíamos nossos dentes.

Reparamos inclusive, em uma barreira de água, era possível ver os macios ali. Alguns sempre estavam lá, outros só apareciam algumas vezes. O de olhos pequenos vinha sempre que estava claro, nos olhava e mexia em alguns gravetos e pedras. Sempre fazendo aquela coisa estranha com a boca.

Às vezes um que se cobria com folhas da nossa cor também aparecia, eles se comunicavam muito. Percebemos que aquele macio era como nós, o que eles chamavam de fêmea.

A primeira vez que nos jogaram comida, muitos nos observaram. O que nos deram era uma substância com cheiro bom, e tinha a mesma cor daquilo que tiraram de dentro de mim.

Comemos rapidamente.

Com o passar do tempo, ficamos maiores, e para meu desprazer, os macios faziam nossas barreiras crescerem na mesma proporção.

O modo como se mexiam me dava vontade de persegui-los, como por vezes fazíamos com aquelas criaturas voadoras, pequenos seres de várias cores que conseguiam sair de nossa prisão por cima. Como os invejávamos.

Uma vez, trabalhando em equipe como sempre fazíamos, quase conseguimos fazer com que eu agarrasse a pata do macio que nos jogava comida, e depois de ouvir muitos guinchos, passamos a vê-los só pela barreira de água. A comida agora descia do topo das grandes rochas até chegar ao chão sozinha.

Com o tempo isso pareceu chatear minha irmã. Ela não fazia muita coisa. Comia, bebia água em nosso lago, andava... E só. Ela perdera as esperanças, mas não eu.

Eu iria sobreviver.

Ela poderia desistir, mas não eu.

Além de brincar com as criaturas voadoras e de gritos melodiosos, eu ouvia tudo o que podia e observava quando algum bípede-macio vinha nos ver através da água.

Muitas palavras eles repetiam.

Indominus Rex. Era assim que nos chamavam. Não parecia um nome digno, então não o adotamos.

Certa vez, quando estávamos quase da altura das árvores mais baixas, a fêmea e o de olhos pequenos vieram.

– Como elas estão, Wu?

– A principal não para de se mover, sempre ativa. A outra parece estar deprimida.

– Hm... Não me parece haver problemas então, só precisaríamos dela se a principal não sobrevivesse.

Aquilo foi revelador para mim.

Eu soube o que era “principal” assim que os ouvir falar, embora eu não pudesse reproduzir o som com minha boca.

Fui até minha irmã, que bebia água e contei o que tinha descoberto.

Ela não gostou.

Estava quieta nos últimos tempos, mas ainda éramos parecidas, dominantes.

Ela guinchou pra mim, mostrou os dentes e balançou a cauda.

Ela queria lutar, disse que ela iria sobreviver. Ela me desafiou.

E essa foi sua ruína.

Eu era a principal e ela a "outra".

Ela seria importante se eu não tivesse vivido, mas eu vivi!

Emiti sons que sequer sabia que poderia emitir. Rugi e arregacei meus dentes, me estiquei nas patas traseiras, ficando mais alta.

Ela se agachou, sabia que eu era superior, eu era a mais poderosa.

Minha irmã me atacou, tentou morder meu peito, mas eu girei e a derrubei com minha cauda. Ela levantou rápido, pulou e tentou me acertar com as garras. Antes que me tocasse eu saltei e a acertei com a cabeça. Quando caiu gritando eu instintivamente corri e apertei seu pescoço com meus dentes até ela parar de se debater.

Quando ela parou, a larguei. Seus olhos não mais se moviam e aquela substância vermelha estava por todo meu corpo. Respirei devagar e lambi meus dentes. Era o mesmo gosto da comida.

Olhando para o lado, vi vários macios além da fêmea e o de olhos pequenos me observando. Estavam encostados na barreira, pareciam impressionados.

– Ela matou a irmã!

– Ela a matou!

– O que fazemos?

– Nada, ela está morta, não podemos fazer nada.

Matou?

Matar.

Era o que eu tinha feito com minha irmã.

E eu gostei.

Olhei para o corpo morto dela e adorei aquela visão.

Se nem minha igual poderia me superar, ninguém poderia. Todos deveriam se submeter a mim e à minha vontade. E quando eu saísse daquela prisão horrível, iriam ver do que eu era capaz. Iam me temer, e se arrepender da dor que me causaram.

Olhei para os macios mais ume vez, para ter certeza que veriam a prova da minha soberania. Virei-me para minha irmã, e avancei nela.

Eu a devorei.

Gostei tanto quanto de matá-la.

Lógico, depois disso, fiquei completamente sozinha. Parei de prestar atenção nos macios, não tinham nada mais que pudessem me oferecer e me concentrei em mim mesma, conforme crescia mais e mais.

Descobri muito sobre mim, minha força, velocidade... E algumas habilidades a mais.

Eu estava da altura da barreira de água agora, e não pude resistir.

Quando a fêmea e outros estavam ali, eu corri e cabeceei com toda força aquela superfície. Não era água, se fosse, eu a teria atravessado. Mas quase quebrei aquilo.

Rugi enquanto os macios berravam e corriam. Estava me divertindo muito.

Eles não acharam tanta graça.

No dia seguinte, muitos deles vieram e apareceram no topo das barreiras, fora do meu alcance e com aqueles malditos gravetos me atiraram pedras afiadas. Eu rugi para eles e tentei ir para onde não me atingissem, mas eram muitos.

Não sei que tipo de pedras eram aquelas, mas eu comecei a ficar sonolenta. Eles não paravam de me atingir. Quando finalmente cai no chão, macios vieram de vários lados. Eu não estava desacordada ainda, podia sentir tudo o que faziam comigo e rosnar para eles.

O de olhos pequenos estava lá, pude reconhecer sua voz.

Eles me machucaram mais, porém estava muito tonta para sentir a dor naquele momento. Eu desmaiei algum tempo depois, e quando acordei pude sentir uma dor lancinante em minhas costas. Eles colocaram alguma coisa lá, e doía muito.

Eu não gritei, nem fiquei no chão esperando a dor passar. Aguentei firme cada segundo, lembrando sempre de causar aquela mesma dor á eles.

Continuei crescendo e descobrindo mais sobre mim.

Um dia, me escondi em meio às árvores e fiquei quieta, os olhos bem fechados como se estivesse dormindo. Eu vinha treinando isso há algum tempo, e não sei quanto decorreu, mas um momento, uma das criaturas voadoras e melodias pousou em meu nariz. Não sabia que eu estava lá, e se eu podia enganá-lo, podia enganar os macios também. Abri a boca e antes de a criaturazinha fugir, o abocanhei.

Soube que era a hora de agir no dia em que um macio cor de terra veio. Não me mostrei para ele. Mas o pouco que viu, pude ver que seu olhar era de medo e admiração. Era assim que todos deveriam me olhar.

– Traga-o aqui. Pode ver algo que nós não vimos.

A fêmea não pareceu gostar disso, mas eu adorei.

Enquanto esperava, arranhei as minhas barreiras, deixei quantas marcas pude ali, para que pensassem que eu consegui fugir por cima. Depois, me escondi entre as árvores e esperei. Não demorou muito até que um macio que eu nunca tinha visto chegasse com a fêmea. Eles se comunicaram por um tempo antes de um grande pedaço de comida descer para mim, mas ao contrário de como sempre fazia, eu não corri e comi o mais rápido que podia.

Fique parada e esperei. Podia ouvi-los falando, mas não me importava com o que era, precisava me concentrar. A voz da fêmea ficou desesperada e logo, três macios incluindo o novo e um roliço estavam ali, comigo, observando minhas marcas. Precisava ser paciente até encontrar minha brecha.

Mas o macio novo tirou uma pedra barulhenta do bolso. Eu odiava aqueles gravetos e pedras barulhentos que eles possuíam. Ele alerta, sabia da minha presença de algum modo. Tinha que ter alguma relação com o que colocaram em minhas costas.

Era o momento de improvisar. Revelei-me e fui em direção a eles.

O novo e um que eu já conhecia correram, peguei o conhecido e o engoli quase imediatamente. Aquele sangue quente em minha garganta... O sabor de uma vida sendo perdida em meus dentes... Era indescritível.

Fui em direção ao novo o mais rápido que pude, já que o roliço havia feito uma abertura. Concentrei todas as minhas energias em minhas pernas, quase fiquei naquela prisão quando a abertura se fechava, mas bati nela com todas as minhas forças.

Eu estava fora.

Liberdade.

Liberdade finalmente.

Acompanhada de vingança.

Saboreei aquele mundo novo enquanto procurava minhas presas. O roliço foi fácil de achar, mas o macio novo pareceu ter conseguido fugir, mas mais deles viriam, eu tinha de me apressar.

Então corri enquanto rugia.

Gritando para qualquer um que pudesse ouvir.

Iriam lamentar por terem me causado dor.

Lamentariam por me deixar confinada.

Todos descobririam o motivo de me temerem e de querer prender-me.

Eu estava solta e nada além de meus caprichos e desejos interessavam.

Aquele mundo era meu, e quem não se curvasse perante mim, sentiria a força de meus dentes e o poder de minhas garras!


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Notas finais do capítulo

E isso pessoal!Comentem por favor, quero saber suas opiniões!Muito obrigada por lerem :) e um beijo e um cheiro pra cada um!