Felipe me ajudou a colocar Mitty no sofá, eu, ainda agitada, apenas continuava chorando sem parar. Ele conferiu se ela estava respirando enquanto eu me tentava me acalmar aos poucos.

–Eu vou ligar pra ambulância. Liga pros pais dela e manda eles nos encontrarem no hospital. - Falou Felipe bem sério, tirando o celular do bolso e ligando pra emergência.

Mesmo com Felipe ali, me ajudando, ainda estava desorientada e nervosa, eu realmente não sabia o que fazer, e como agir diante de tudo aquilo. Até que senti um corpo quente e confortável junto ao meu.

Mesmo falando no telefone, Felipe me abraçou por trás com um dos braços e me confortou. Pude sentir ouvir sua respiração rápida, ele também estava nervoso com tudo aquilo, mas não deixava transparecer.

–Vai ficar tudo bem okay... Apenas faça o que eu mandei e se acalme. - Ele sussurra no meu ouvido ainda me abraçando.

Depois disso pude finalmente me acalmar um pouco e logo a ambulância chegou, nos levando imediatamente pro hospital. A mãe de Mitty também não demorou muito, explicamos tudo que aconteceu e ficamos esperando notícias pelo médico.

A sala onde estavámos era clara e fria, havia poucas pessoas lá e tudo parecia muito silencioso. A mãe de Mitty falava por horas no celular com seu marido enquanto eu me encolhia, com cada vez mais frio.

–Toma! - Felipe me dá seu casaco e se aproxima mais de mim.

–Você não vai ficar com frio?! - Pergunto já vestindo o moletom.

–Não tem problema...Você me aquece. - Ele sorri.

–Você não tem jeito mesmo hein?! - Digo, também me aproximando dele, a ponto de ficarmos encostados um no outro.

Tudo parecia ter se acalmado mesmo que não tivéssemos notícias de como Mitty estava. Até que um Médico surge na sala e caminha até nós.

–É Vanessa, mãe de Michelly?! - O médico pergunta, nos três nos levantamos imediatamente.

–Sim. - Diz a Sra Vanessa. - O médico se afasta um pouco e chama ela em particular, mesmo assim, também os seguimos, em busca de saber o estado de Mitty.

–E vocês são quem?! - Indaga o médico, notando nossa presença. Ele parecia novo, mesmo já possuindo alguns fios grisalhos no cabelo, resultado talvez do trabalho exaustivo e difícil.

–Eu sou a amiga dela! - Falo, agitada.

–E você garoto?!

–Eu?!... - Felipe, para e pensa um pouco, alternando olhar entre eu, a mãe de Mitty e o tal médico. - Eu sou o...namorado dela... É... o namorado da Michelly! - Ele sorri, mas logo volta a expressão preocupada e curiosa que estava.

Olho pra ele surpresa, mais surpresa até do que a própria mãe de Mitty, que apenas confirmou com a cabeça enquanto o médico começava a falar.

–A Michelly teve uma queda de glicose muito repentina, nós fizemos alguns exames e percebemos que ela não se alimenta direito à dias. - O médico faz um pausa ,aparentemente já acostumado com esses casos. - Ela já acordou, mais fizemos ela voltar a dormir pois também parece estar muito cansada. Ela vai ficar em observação até amanhã e se tudo correr bem recebe alta pela tarde.

Confirmamos tudo com a cabeça enquanto o médico se retirava. Voltamos a nos sentar enquanto escapei um longo suspiro, aliviada.

–Viu, no fim tudo acabou bem. - Disse Felipe, sorrindo. - Não precisava daquele chorôrô todo.

–Ela é minha amiga...Eu fiquei nervosa.

–O médico disse que está tudo bem, você já podem ir se quiser. - Falou a Sra Vanessa.

–Se eu for embora, eu com certeza voltarei mais tarde! - Digo.

–Bom, já está perto do almoço então, eu trarei algo pra vocês comerem, e volto pra casa. Se acontecer alguma coisa é só me ligarem.

–Okay! - Respondi.

A tarde passou sem nenhuma novidade, depois de muito tempo finalmente apareceu uma enfermeira e permitiu que visitássemos Mitty no seu quarto.

–Mitty?! - Fui entrando de mansinho naquela sala branca, ela havia acordado e estava comendo um lanche servido pelo hospital.

–Anny! - Ela me vê e abre um sorriso. - Me abraça aqui vai! - Ela estende os braços.

–Não mesmo! - Me aproximo rápido dela e lhe dou um leve empurrão, fazendo um cara de raiva. - Porque você não estava comendo direito hein?! Você quer me matar do coração. Acabo de fazer as pazes com você e você faz isso comigo! - Falo, mesmo não estando com raiva de verdade.

Ela me olha sem entender, enquanto apenas abraço ela com muita força.

–Desculpa. - Ela fala, com a voz abafada pelo meu ombro.

–Não tem problema, só não faz isso de novo. - Deixo de abraçá-la e sento do seu lado. - Ah, esse é o Felipe, ele que me ajudou a te trazer até aqui.

–Acho que já nos falamos mais cedo né. - Diz Felipe, sorrindo. Lembrei que foi ele que tinha abrido a porta pra Mitty antes de tudo acontecer.

–É, você esqueceu de dizer que a professora Susy estava morando na sua casa agora.

–Verdade, acho que esqueci de falar várias coisas...Mas deixa isso pra lá, quando o Léo voltar de viagem a gente tira um dia só pra sair e conversar.

–O tempo de visita acabou. - Diz a enfermeira entrando no quarto.

–Ah, tudo bem. Descanse bem okay! - Lhe abraço novamente.

–Quer me dar ordens é?! Saiba que sou mais velha que você! - Fala Mitty, dou um sorriso e me separo dela saindo do quarto junto com Felipe.

–Pra quem é seu namorado você falou muito pouco com a Mitty não?! - Digo assim que deixo o hospital. Felipe me olha estranho e depois ri.

–Só falei aquilo pro médico porque queria saber como sua amiga estava. Por que...Ficou com ciúmes? - Ele para de andar e chama um táxi.

–Porque vai chamar um táxi?! Podemos ir a pé! - Falo, ignorando seu comentário.

–Porque já tá meio tarde e você tá acabada. Eu não quero levar ninguém nos braços, nem voltar pro hospital. - Felipe entra no carro e faz sinal para que eu entrasse também, hesito um pouco mas logo entro, ele estava certo, eu estava exausta.

–Com a marra que você tem eu nunca imaginei que fosse tímido com garotas. - Dou um sorriso lhe encarando.

–Tímido com garotas?! Só porque não falo com uma amiga sua eu sou tímido?!

–E não é... Aposto que nunca teve namorada!... Você já teve?! - Pergunto saindo da brincadeira e me interessando na pergunta.

–O que ganho em te responder isso?! - Ele me fita ainda mais, me intimidando com aqueles seus olhos que tanto me encantavam.

–Você... Pode fazer uma pergunta pra mim também! Mas não pode mentir. - Digo, mas logo me arrependo. E se ele perguntar algo vergonhoso? Ou pior, voltar com a pergunta daquela noite.

Há tempos eu tenho baixado minha guarda, até me esqueci com Felipe é. Realmente não deveria ter falado isso.

–Hm, bom. Eu já namorei sim... Mas não se preocupe... Já terminamos. -Ele dá sorriso de canto.

–E porque terminaram? Você terminou com ela ou ela terminou com você? Faz muito tempo? -Faço uma pergunta atrás da outra, cada vez mais curiosa.

–Ei o que é isso, uma entrevista?!

–Bom, eu me empolguei... - Baixo o cabeça, meio envergonhada.

–Acho que agora é minha vez de perguntar né! - Ele fala, se aproximando. Me coração volta a acelerar, o que será que ele perguntaria. - Quer saber, acho que vou guardar minha pergunta pra depois.

Ele olhou pra mim e sorriu, como ainda estávamos dentro do táxi, estava meio escuro e não podia vê-lo muito bem. Eu não sabia tanto assim do Felipe, e mesmo que seu charme fosse ser tão iniguimático, eu queria a cada dia saber um pouco mais sobre ele.

Me aproximei dele devagar, passando do primeiro banco pro segundo. Apoiei minha cabeça no seu ombro e fechei meus olhos.

–O que tá fazendo?! - Felipe pergunta, ele parece surpreso mais em momento nenhum se meche.

–Dormindo... - Murmuro já adormecendo. - Ah... E você acaba de gastar sua pergunta... - Deixo escapar um sorriso e durmo lá mesmo, apoiada no ombro de Felipe, dentro daquele táxi.