Melisandre

Já era quase madrugada quando Lyanna voltou a chorar. A menina havia ficado relativamente calma durante o dia. Melisandre se levantou e foi acalmar a filha, mas quando chegou ao quarto viu que ama de leite de Lyanna e de Bassie já estava com ela.

Melisandre nunca havia prestado muita atenção na moça. Uma das únicas coisas que sabia sobre ela era que ela se chamava Leena, mas era chamada carinhosamente pelos outros servos de Lee. Também sabia que a jovem havia perdido o filho ainda bebê há pouco tempo. Diziam que esse havia sido um dos motivos para ela ter aceitado ser ama de leite de Bassie e depois de Lyanna.

Lee cantava para sua pequena Lyanna. Como se a bebê fosse filha dela. Ela estava tão distraída que nem viu Melisandre entrar e se aproximar.

– Ela parece gostar muito de você.- comentou ao se aproximar. A jovem pareceu um pouco assustada e respondeu meio atrapalhada com as palavras:

–Senhora, quer dizer rainha, precisa de alguma coisa?

–Não. Somente vim ver a minha filha que chorava. Mas vejo que você já conseguiu a acalmar.

–É... Acho que tenho jeito com crianças... – falou Lee meio envergonhada – Eu gosto muito dela, digo delas. Amo tanto a princesa Lyanna quanto a outra bebê, a Bassie.

Melisandre apenas concordou com um sorriso e lembrou do que haviam dito sobre Lee ter perdido um filho ao nascer. Pelo que reparou a jovem dava as bebês o amor e o leite que não conseguiu dá a seu filho. Esse pensamento fez ele sentir uma certa afeição pela moça.

– Disse algo errado, senhora? – perguntou Lee nervosa pelo silêncio

– Não. Estava apenas pensando em algumas coisas. – falou e depois completou olhando para Lyanna que parecia prestes a dormir – Ela chora porque tem saudades do pai. Ela é uma criança muito especial.

–É sim. A senhora também deve sentir falta do rei, digo seu marido.

Melisandre sentia mesmo um pouco de falta de Jon e ficava preocupada em como ele estaria na Muralha, pois sabia que o local não despertava as melhores lembranças no esposo e além disso tinha a questão de as forças do Grande Outros estarem fortes na Muralha, por causa da proximidade do inverno e da grande batalha. Temia que com suas forças ocultas o Grande Outro conseguisse intimidar Jon. Ela torcia para que Jon lembrasse do que ela havia dito sobre essas forças do mal, na conversa que tiveram na véspera da partida.

–Sinto sim. – quando respondeu, Melisandre reparou que Lee olhava fixamente para o seu colar com o rubi mágico. Parecia admirada, por isso disse – Vejo que meu colar chamou sua atenção.

–Sim, porque a senhora dorme com ele? – a jovem ficou envergonhada no momento seguinte a pergunta. Mesmo com o quarto iluminado somente por velas, Melisandre reparou que Lee corou.

– Porque ele não é um colar comum. Ele é mágico, digamos assim. Tiro ele somente em raros momentos.

Lee pareceu ainda mais admirada.

–Você quer usá-lo um pouco? – Melisandre ficou tão admirada com o brilho nos olhos de Lee que estava disposta a lhe emprestar o colar. Somente por alguns segundos não haveria mal nenhum.

Lee concordou ainda meio envergonhada. Ela ficou com o colar por poucos segundos, que pareceram mágicos para ela.

– Muito obrigada, senhora rainha. – falou Lee sorrindo, ainda carregando Lyanna que dormia – Foi algo mágico.

Melisandre sorriu e perguntou se ela queria saber um pouco mais da história do colar. Gostou da moça. Enfim, alguém com quem podia conversar além de Jon, Arya e Sansa.

Jon

Mesmo alguns minutos depois de ter acordado Jon ainda se sentia atordoado. Foi tudo tão real que ele ainda estava desesperado. Nada parecia capaz de tirar da sua cabeça o temor de que Winterfell estava sendo atacada naquele momento ou que iria ser atacada em breve. E o medo dele não está presente no momento para defender as pessoas que amava também se fazia presente.

Enquanto ele se arrumava para voltar naquela mesma noite, pensava na cena final do sonho que o fez estremecer.

A cena em questão que viu ao entrar pela porta aberta não poderia ser pior, mesmo no sonho foi perturbador, tanto que logo que seus olhos viram sua boca gritou com todas as forças. A primeira coisa que ele viu foi Arya caída perto da entrada. De bruços e desacordada. Sua irmãzinha ainda segurava a espada em uma das mãos enquanto a outra mão livre estava estendida como que tentasse alcançar Rickon. Seu irmão menor estava com as costas encostadas na cama. A cabeça de Rickon estava totalmente abaixada e tinha muito sangue escorrendo de um golpe profundo na garganta. Mas os horrores não acabaram por aí.

Do lado oposto ao de Rickon estava a ama de leite de Lyanna caída de peito para cima. A moça estava com os olhos abertos cheios do puro terror que sentiu antes de morrer. Ela estava com uma das mãos agarrada nas cobertas da cama, como se as puxassem, que se encontravam ensopadas de sangue. Melisandre estava caída, também possivelmente morta, perto da janela. Não havia sinal de sua filha Lyanna... Mas pelo estado do quarto e das outras pessoas ela não devia está nada bem.

Jon jogou água no rosto em uma tentativa de afastar a cena. Não poderia ficar pensando nisso. Tinha que, mesmo com dificuldade, pensar positivo. Pensar que quando voltasse iria encontrar todos bem e alegres por o rever. Pensar que o pesadelo, mesmo no futuro nunca iria ocorrer, iria ficar para sempre como apenas um sonho ruim. Mas o realismo do sonho parecia não permitir esses pensamentos positivos.

Tentou pensar que Melisandre conseguia ver o futuro nas chamas. Se algo tão ruim fosse ocorrer ela saberia. Também lembrou do colar com o rubi mágico que ela tinha. Segundo o que ela havia lhe dito uma vez, ele a protegia. Também lembrou que Winterfell estava bem protegida. Se sentiu calmo por alguns momentos, mas somente por alguns momentos, pois logo se lembrou da cena final do pesadelo, em como no sonho as defesas e os soldados não foram suficientes para defender as pessoas. Também lembrou de como na assustadora cena final, em que viu Melisandre caída perto da janela, ela estava sem o colar que a protegia e também sem... Jon jogou imediatamente água no rosto. Não queria pensar naquilo.

Jon foi trazido para a realidade mais por causa de um barulho na porta do que por causa da água que jogou no rosto. Ele pensou que fosse um de seus soldados que tinha vindo o avisar que tudo estava preparado para a volta, mas ele estava enganado, era Dany. A mulher o olhou com um olhar de preocupação e quando se aproximou colocou uma mão calmamente em seu rosto, tentando o acalmar. Ela parecia sentir seu desespero. Os dois realmente pareciam ter uma conexão mágica. Jon sentiria o momento com maior intensidade se não estivesse tão tenso pelo pesadelo.