Trouble. escrita por FantasyJuli


Capítulo 8
Capítulo 8;




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Maia passou toda a semana tensa, usando milhares de testes de gravidez a cada vez que ia no banheiro e todos diziam a mesma coisa :negativo. Mas isso parecia ser insuficiente para ela, então foi ao médico e eu como a boa irmã que sou, acompanhei.

–Tridy, estou nervosa. –ela segurou a minha mão usando mais força que o necessário.

–Maia, você fez esse teste milhões de vezes. Você não está grávida.

–continuo nervosa.

Entramos no consultório onde um médico de uns quarenta anos e cabeça desprovida de muito cabelo nos atendeu. Ele passou a ela uma dezena de exames e no final do dia quando todos estavam devidamente feitos chegamos a uma conclusão: Maia não estava grávida e aquele foi um dia inutilizado.

Andamos em silencio de volta para o carro, a Maia parecia bem mais leve e até sorria mais. Entramos no carro e como de costume eu iria dirigindo. Nós entramos e colocamos o cinto de segurança. Havíamos dito que estávamos indo encontrar alguns amigos em um restaurante para que ninguém soubesse dos descuidos da minha irmã mais nova.

–foi a minha primeira vez. –ela falou subitamente quebrando o silencio que havia se instalado no carro.

–como o Ash?

–não, foi a primeira vez de todas. –ela pareceu ofendida.

–desculpe, não foi isso que eu quis dizer. –ela assentiu com a cabeça. –como foi? Você gostou?

–foi legal. Eu pensei que você e o Cam também tinham ficado, mas ele falou que você não quis nada.

–é, não aconteceu nada entre nós. –no fundo eu queria entender o que ele quis dizer com eu não queria nada. Será que eu queria? Não.

–porque? –pude ver um pequeno sorriso surgindo no canto dos seus lábios.

–eu não sei, meu deus.

–tudo bem, não precisa se estressar. Só queria saber, porque você sabe não é, o Cam não é de se jogar fora. Não mesmo.

–é ele não é de se jogar fora. –uma centelha de esperança surgiu em seus olhos, como uma cúpida realizando seu trabalho. –mas isso não significa que eu queria algo com ele. Isso não vai acontecer.

–tudo bem.

Chegamos em casa quase a noite, antes de sairmos do carro ela me implorou que eu não falasse nada sobre a sua “gravidez” com ninguém e muito menos com o meu pai que provavelmente contaria para a mãe dela. Disse para não se preocupar, eu tinha mais o que fazer.

–olá garotas, como foi a saída de vocês? –a Taylor perguntou abrindo um sorriso para nos receber.

–foi bem legal. –a Maia respondeu olhando para mim e eu, claro, concordei.

–o pai de vocês está na sala assistindo um jogo, vão assistir com ele, estou levando alguns lanchinhos.

–oi, pai. -Nos sentamos no sofá ao lado do homem concentrado com uma garrafa de cerveja nas mãos.

–olá, queridas. Como foi o passeio de vocês?

–super divertido. –falei com um tom de ironia que ele notaria se estivesse prestando atenção no que eu estava falando.

–muito bom. –ele gritou se referindo a uma jogada e não ao meu dia nada divertido.

–eu vou subir para tomar um banho.

Andei lentamente até entrar no banheiro, entrei e tranquei a porta, me isolando em um dos únicos em que a minha privacidade era verdadeira. Na verdade eu acho que era. Tirei a roupa e entrei de baixo do chuveiro.

Deixei a água quente levar toda o meu cansaço de ficar horas no hospital fazendo exames inúteis. Agora eu me sentia realmente mais relaxada, coloquei uma camiseta velha, uma calça de moletom e fui me preparar para dormir. Não era tarde, mas eu podia passar meu tempo assistindo alguma coisa no meu notbook.

Coloquei no netflix e escolhi um filme bem água com açúcar do qual nem me lembro o nome, entrei nas cobertas e lá fiquei assistindo filmes por um bom tempo até finalmente sentir e sono e decidir dormir.

...

O dia amanheceu frio, o que significava a entrada do outono ou do inverno. Não sou ligada em estações, para mim ou está frio ou está quente e no momento estava frio. Me levantei e coloque um moletom azul por cima da camisa velha.

Acordei um pouco tarde e todos já haviam saído, o meu pai e a Taylor para o trabalho e a Maia para fazer alguma coisa que não era da minha conta. Decidi comer fora então troque minha calça moletom por jeans mais apertados e coloquei uma sapatilha. Minha bicicleta me esperava cansada e velha na garagem. Subi nela e sai em busca de alguma lanchonete com algo gostoso para comer.

Meus passeios matinais eram sempre agradáveis, uma das únicas coisas que me agradavam nesse lugar, gostava da brisa que fazia pela manhã e de poder finalmente estar sozinha longe daquele protótipo de família perfeita na qual eu não me encaixava.

Rodei mais um pouco pelo bairro, mas acabei voltando para o mesmo restaurante que havia estado alguns dias atrás, me passou rapidamente pela cabeça se eu encontraria o Cam de novo essa manhã.

O mesmo sino barulhento tocou quando entrei, procurei uma mesa livre perto da janela e me sentei. Minutos depois um garçom, do qual eu me lembrava ter visto antes, apareceu segurando um cardápio nas mãos e um belo sorriso no rosto. Talvez um sorriso lindo fosse um quesito importante para a admissão de pessoas nesse estabelecimento.

–bom dia. –seus olhos azuis acompanhavam o brilho do sorriso e da cabeleira loura.

–bom dia. –respondi tentando mostrar um sorriso que fosse ao menos comparável ao seu.

–bom, aqui está o cardápio. Me chame quando estiver decidida, meu nome é Theo.

–tudo bem.

O garoto se retirou e eu comecei a folhear o cardápio, gostava bastante dos milk-shakes que serviam aqui então decidi que pediria um milk-shake de morango e uma porção de batata frita. Que saudável.

–Theo? –chamei tão baixo que nem eu mesma escutei, na verdade a vergonha estava falando mais alto naquele momento. –Theo? –repeti um pouco mais alto.

–oi...

–Astryd.

–é um belo nome. –ele sorriu mais uma vez. –bom, o que vai querer Astryd?

O sino balançou mais uma vez, meu olhos correram até a porta e infelizmente pude ver as pernas cobertas por um jeans preto conhecido entrar. Nossos olhos se encontraram e eu fui obrigada a desviar, mesmo que para fazer isso eu precisasse de muita força de vontade.

–o que vai querer? –O Theo repetiu seguindo o meu olhar até o Cameron.

–eu? Ah, um milk-shake e uma porção de batata frita. Por favor. –tentei sorrir mais uma vez, mas aquilo saiu mais como uma manifestação frustrada do meu corpo.

–tudo bem. –seu rosto mostrou um pouco de aflição então ele passou batido pelo garoto de camiseta praticamente transparente.

O Cameron parecia completamente desligado, vestia apenas uma camiseta, jeans e tênis pretos e surrados e os seus olhos estavam sérios, sem aquele brilho usual que estava sempre ali.

–esse lugar está ocupado? –perguntou segurando o encosto da cadeira a minha frente.

–não, Cam.

–posso me sentar?

–claro. –Ele puxou a cadeira e se sentou esticando as pernas e cruzando os dedos, dessa vez sem anéis.

–bom, parece que temos o mesmo gosto quando se trata de lugares. –ele esticou o canto dos lábios na tentativa de um sorriso.

–eu pensei que só gostasse de lugares cheios e barulhentos.

–você definitivamente não me conhece. –ele estava pensativo e seu tom característico de sarcasmo não estava presente.

–Cam, está tudo bem com você?

–aqui o seu pedido. –o Theo apareceu antes que ele pudesse responder, porém o Cameron não parecia do tipo de pessoa que abriria seu coração para qualquer pessoa.

–sim, tudo bem. –ele sussurrou, mas para si mesmo do que para mim.

–não vai querer pedir nada? –perguntei.

–não. –ele levantou abruptamente. –eu vim aqui te ver, mas já estou indo. Te vejo por ai.

Sua saída repentina me deixou sem palavras, só parada naquela mesa sem vontade nenhuma de comer o que estava na minha frente. Tirei o dinheiro da bolsa, deixei sobre a mesa e sai atrás do garoto. Desci as escadas de madeira e o encontrei com um cigarro entre os lábios distraído enquanto chutava pedrinhas. Ao ouvir o som dos degraus rangerem ele virou os olhos na minha direção.

–Cam, -desci o último degrau e me aproximei dele. –está tudo bem com você.

–você deveria voltar pra lá e terminar o seu café da manhã. –ele disse voltando a encarar o chão e as pedrinhas que chutava.

–você não parece bem, eu só queria...

–volta pra lá Astryd, isso não é da sua conta. –ele não precisou gritar ou fazer nenhum esforço para que as suas palavras me afetassem profundamente.

–se não é da minha conta, então porque veio até aqui me ver?

–eu não sei tá certo? –ele soltou uma fumaça expeça pelos lábios e voltou a me olhar. –volta pra lá e vai cuidar da sua vida.

–tudo bem. –seu tom voz estava firme e afiado como uma lamina pronta para ferir quem estivesse à sua frente e eu fui a vítima da vez. Alguma coisa pareceu parar de funcionar dentro de mim.

Coloquei minha bolsa sobre o ombro e sai pisando firme em direção a minha bicicleta, aquela não me parecia uma das melhores e mais dramáticas cenas que eu podia criar, mas tinha que sair dali o mais rápido possível. Talvez eu realmente não o conhecesse.

Enquanto eu saia ele não disse uma palavra, só continuou encarando o chão e evitando o meu olhar a todo custo. As pessoas aqui não eram normais e eu não sabia como lidar com bipolaridade, eu só queria voltar pra casa o mais rápido possível.


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