Brasília, Brasil - 08 de maio de 2017

As pessoas já se atiravam de altos edifícios, as noticias não corriam só nas televisões, altas telas de LED colocadas em grandes prédios, em todos os estados da federação, e em praticamente todos os países do mundo, também transmitiam ao vivo a mensagem dos dois presidentes, das duas maiores potencias mundiais, o governante do Brasil e o dos Estados Unidos.

Muitos não se deram ao luxo de ouvir a mensagem, achavam que o suicídio seria a melhor escolha, como meu pai, que se deu um tiro bem no meio da testa, por sorte eu e minha mãe não presenciamos a cena

A cada palavra que saia da boca dos governantes, um grito e um estrondo de tiro era ouvido, foi incrível saber que em menos de 24 horas quase 1/3 da população mundial, acabou se matando, ou sendo morta. Havia pessoas que ainda não sabiam o que estava por vir, ou não conseguiam acreditar que depois de 72 anos de calmaria, a Terceira Guerra Mundial, estava por vir.

Muito países já haviam chegado a população zerada, países pequenos como o Vaticano, só tinha o Papa vivo, que não deixou de realizar orações pedindo a paz mundial, o que foi absolutamente em vão, pois algum tempo depois as noticias que ele havia sido morto por grupos rebeldes, logo se espalharam pelos noticiários, e pelos últimos minutos que as pessoas ainda tinham internet.

Todos aqueles que ainda estavam vivos, já não acreditavam em sobrevivência, até que os governantes liberaram tudo sobre o plano "ALPHA-FIVE", que estava em segredo desde o inicio dos anos 80. E esse plano era nada mais, nada menos que a última chance da sobrevivência humana.

Cientistas, professores renomados, alguns presidentes que acabaram pagando para ter um espaço na nave, pediatras, obstetras, enfermeiras, médicos em geral, já estavam dentro da nave a umas 5 horas, quando esses que foram selecionados como "Os Melhores" subiam ainda tinha espaço para mais de 20 mil pessoas, o que era muito, mas ao mesmo tempo pouco, os governantes disseram que só havia espaço para Brasileiros e Estadunidenses, e nada mais. Mas isso tinha exceções como: Só entravam crianças de até 10 anos de idade, mulheres com mais de 5 meses de gestação, e trabalhadores experts em tecnologia. Óbvio que somando tudo isso dava muito mas que a capacidade máxima da ALPHA-FIVE, por isso só entravam crianças que eram as primeiras da classe, gestantes que não tinham nenhuma doença e trabalhadores que tinham PHD em tecnologia científica e avançada.

Eu tive uma vaga na nave, era a primeira da minha turma, quando eles chegaram para me levar, minha mãe não queria ser separada de mim, e acabou sendo morta por aqueles trogloditas, por um momento eu tentei lutar, mas o que uma garota de 10 anos podia fazer contra marmanjos de 30 e poucos?!

Me colocaram em um avião cheio de crianças, que como eu, eram brasileiras. E em menos de 1 hora, já estávamos no sul do país. Paraná e Santa Catarina não eram mais estados, e sim pó. Eles que mantinham o maior aquífero de água doce, em cima da terra, já tinham sido massacrados. A guerra era pela água, poucos países ainda tinham algum rio, ou uma nascente, a água começou a ficar escassa no final de 2015, e logo no começo de 2016, na África uma garrafinha de 600 mililitros de água valia mais que um Diamante de 150 gramas, ou seja, só pessoas ricas tinham o aceso a ela, e logo fazendeiros que tinham algum lago na fazenda, haviam ficado ricos.

Estávamos em alguma parte do Rio Grande do Sul, eu que nunca tinha saído de Brasília, não fazia a mínima ideia de onde estávamos, mas haviam placas dizendo: "Bem-vindos á área de acesso à ALPHA-FIVE do estado do Rio Grande do Sul".

O lugar estava cercado por altos muros de pedras de concreto, e soldados armados até os dentes para proteger os selecionados enquanto os mesmos se dirigiam até a nave. Eu viajei ao lado de um garoto paulista, e ele me contou que sua avó também foi morta pelos trogloditas que foram buscá-lo. Ele tinha a mesma idade que eu, e logo ficamos bastante amigos, e fomos de mão-dadas até a nave, ela era grande, e tinha espaço para muita gente, acredito que para bem mais de 20 mil pessoas.

Quando finalmente entramos naquele lugar, fomos direcionados até um palco, onde o presidente do nosso país, Denis Routifild, começou a ditar as regras do lugar:

— Sejam todos muito bem-vindos a sua nova casa. Ela é segura e se todos colaborarem, ela durará por muito tempo, pelo menos até essa guerra acabar. - ele falava sem parar - Mas para viverem aqui, vocês terão que obedecer algumas regras - foi só ele terminar a frase para resmungos serem ouvidos, mas ele já imaginava isso, crianças odeiam regras - Crianças silêncio, por favor, as regras são simples e básicas: vocês terão aceso a três refeições por dia. As meninas poderão ter apenas um filho, se isso não acontecer até os 30 anos não acontecerá mais. Vocês terão um parceiro só, para o resto da vida, escolham bem, se o mesmo não tiver escolhido até quando a nave decolar, o sistema escolherá automaticamente. E por fim, aqueles que um dia roubar, matar, brigar, será jogado para fora da nave em queda livre, se não morrer até tocar o solo, morrerá quando chegar lá! Obrigado!

Quando ele acabou, virou de costas e saiu de cima do palco, algumas crianças menores, estavam chorando, eu olhei para Mauricio e peguei na mão dele, ele olhou diretamente para meus olhos.

— Quer ser meu parceiro? - eu perguntei sem jeito, afinal eu tinha só 10 anos e tinha conhecido ele á umas 2 horas atrás - Tudo bem se você não aceitar, é que você é o único garoto que conheço daqui, e eu não sou muito boa para fazer novos amigos.

— Eu aceito! - ele disse meio gaguejando, logo começou a ficar vermelho acho que ele ficou meio envergonhado - Então somos quase namorados?

— Pois é, acho que sim! - eu respondi a ele, com as maçãs do rosto avermelhadas