— E o vizinho? — Nanda questionou.

Encarei-a séria.

— O senhor Foster não parece muito disposto a ter encontro depois de quarenta anos casado — Dei de ombros, abaixando os olhos para virar a página do meu livro — Posso estar errada. Quando chegar em casa, arrisco.

Nanda bufou.

— Você não facilita, Izzy.

— Se eu facilitasse, estaria ido até o final com aquele encontro estúpido com Alex — Balancei a cabeça, querendo expulsar a imagem de minha cabeça — Realmente não entendo essa coisa do amor e ódio. Invejo as protagonistas que conseguiram transformar idiotas em pessoas aturáveis.

Eu e Nanda já estávamos com esse jogo havia um tempo. Estava fingindo ler o meu livro, porém meu interior questionava o sumiço de Mike. Se ele não chegasse logo iria se atrasar para a aula. Parecendo sentir que meus pensamentos estavam sendo direcionados para ele, vi Mike atravessando o pátio enquanto andava com determinação até onde estávamos sentadas.

Seu rosto retorcido em frustração impediu que um sorriso tomasse os meus lábios. Ele bateu com as suas mãos com força contra a mesa, fazendo com que Nanda, distraída com seus próprios pensamentos e olhos na lista, desse um pulo.

— Na próxima vez que você me pedir para te arrumar um encontro com alguém, vá para o encontro — Ele rosnou a última frase — Alex quase berrou para quem quisesse escutar ontem que você era uma louca. E eu quase parti para cima dele.

Balancei minha mão no ar.

— Não se preocupe com isso. Alex é um idiota e a última coisa que preciso na minha vida é prestar atenção no que ele diz. Por acaso esse foi o problema. Ainda tem gosma saindo de meus ouvidos por ter passado mais de dois minutos escutando as merdas que saiam daquela boca recheada de micróbios com pompons — Contra a sua vontade, Mike pressionou os lábios juntos retraindo o riso — Vai me ajudar com o próximo?

Ele puxou uma cadeira, sentando-se, e jogou a cabeça para trás.

— O que não faço por você, Izzy?

Peguei a lista da mão de Nanda, ignorando sua reclamação e apontei para o item dois da lista: O garoto novo. Automaticamente nossos olhares foram direcionados para a mesa do outro lado do pátio, onde Jake Lewis estava sentado com os seus amigos. Ele havia chegado à escola há quase três meses e tinha um charme inigualável, acompanhado os cabelos loiros e os olhos castanhos.

Mike suspirou.

— Vou resolver isso logo, mas se você deixá-lo no meio da estrada, não conte mais comigo — Ele avisou e eu assenti.

Nanda bufou.

— Você fala como se não a conhecesse.

Mike a encarou.

— Infelizmente conheço muito bem, Nanda.

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— Outro encontro? — Minha mãe questionou assustada — E com outro garoto?

— Estou apenas abrindo a minha mente para as opções que a vida dá, mãe — Brinquei ajeitando meu cabelo em um rabo de cavalo alto e ajeitando meus brincos — Um deles pode ser seu futuro genro, meu marido.

— Só tome cuidado, Izzy, para não ficar mal falada

Botei as mãos na minha cintura, encarando-a através do reflexo.

— Mãe, eu nem andei um quilômetro de carro com o último idiota que veio aqui. Então, praticamente, esse é meu primeiro encontro — Sorri, virando-me e mostrando o vestido florido que tinha escolhido dessa vez — O que acha?

Ela retribuiu o sorriso.

— Está linda — Escutamos a campainha tocando — Pelo menos esse é educado para vir até a porta.

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— Você está bem bonita, Izzy — Jake elogiou com um sorriso breve — Pensei que iria se atrasar, mas fico feliz que seja pontual. E esse vestido está incrível, realça seu tom de pele.

Ergui uma sobrancelha diante de tantos elogios.

— Acho melhor irmos para...

— Ah, sim. A sorveteria aqui perto — Ele me indicou a direção e assenti — Se o que Alex disse sobre você for verdade, quero que tenha a oportunidade de fugir de uma lugar perto de casa — Ironizou.

Encarei-o.

— Você acredita no que ele disse?

Pousou os olhos castanhos em mim antes de passar as mãos pelos cabelos loiros ondulados. Jake não era muito clichê além do fato de ser o garoto novo. Ele deveria ter olhos claros, verdes talvez, para acompanhar seus cabelos loiros. Mas não liguei para isso. Pelo menos não naquele momento.

— Na verdade, não — Deu de ombros — Alex é um idiota e você é minha heroína por deixá-lo falando sozinho — Chegamos a sorveteria e ele abriu a porta — Seu cabelo é liso natural?

Pausei meu andar diante da pergunta aleatória.

— Hum... é natural

Ele pôs uma mão na base de minhas costas, me levando até a mesa do outro lado da sorveteria. Cumprimentou o atendente, o que me fez questionar se ele frequentava esse local com outras pessoas. Ele puxou a cadeira para mim e se sentou na minha frente.

— Quer comer que sabor? — Questionou.

Cocei a cabeça enquanto franzia o cenho.

— Não sei. Morango, eu acho.

Sorriu.

— Ótima escolha — Ergueu a mão chamando o atendente — Sei que você deve saber bastante sobre mim, mas vamos falar de você.

Oh, eu sabia. Jake tinha sido assunto mais comentado na escola desde que tinha se matriculado. Desde sua vinda de outro estado, seu leve sotaque, e sua relutância em sair com as meninas da sala. Todas tentavam, porém quase nenhuma conseguia. E as poucas sortudas sempre diziam a mesma coisa: Jake é um cavalheiro, mas não tentou nada. Não sei se fico decepcionada ou lisonjeada.

— Não tem tanta coisa para saber de mim — Dei de ombros.

Ele pôs os cotovelos na mesa e cruzou as mãos diante do rosto, mostrando-se bastante interessado em minhas palavras.

— Claro que tem. Você é interessante, Izzy.

Sorri.

— No momento você só tem que saber que gosto de sorvete de morango — Rebati de bom humor simultaneamente que o atendente chegava e se inclinava na nossa mesa — Faça a honras.

Ele fez o pedido, querendo um sorvete de graviola e deu um tapa leve no ombro do atendente, se virando para mim.

— O que estávamos falando? — Tentou retomar o assunto — Já disse que amei suas unhas? Ele ornaram perfeitamente com seu vestido.

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No dia seguinte foi a minha vez de chegar atrasada na aula.

— E como foi com Jake? — Nanda perguntou com os olhos brilhando de curiosidade. Mike mantinha a expressão concentrada em minhas palavras — Deve ter sido incrível.

Dei de ombros, sentando-me e puxando meu livro. Estava chegando no clímax da história.

— Foi divertido.

Pelo canto do olho percebi Mike levantando uma sobrancelha.

— Só isso?

Dei de ombros novamente.

— Ele não tentou nada?

Balancei a cabeça.

— Bastante educado, mas nem um pouco ativo — Respondi retorcendo a última palavra. Encarei meus amigos querendo que eles entendessem minha indireta. Ao ver que isso não funcionaria, suspirei e encarei-os cansada — Ele é gay.