— Lucy, acho que estamos perdidos.

O rosto do ruivo tinha uma expressão divertida, passava as mãos no cabelo arrepiado, observando todo o local. Havia diversas montanhas ao redor, árvores enormes que ultrapassavam o limite de vista do mago; o vento era forte e balançava as vestimentas de ambos e a trilha sonora que embelezava aquela cena cômica era um adorável e suave uivo do vento batendo nas folhas.

Lucy se segurava para não dar mais um soco na cabeça dele, porque se já não perdera as contas, era — no mínimo — a quarta vez que eles se perderam. Seria mais simples se seguissem o mapa da cidade completa e totalmente desconhecida para ambos, mas Natsu decidiu que deveriam pegar um atalho, e que o mapa não era nada de mais, não iria os ajudar a voltar para a estação de trem. Era uma tarefa fácil, oras! Como Natsu conseguiu convencê-la que essa seria uma boa ideia?! Nem Lucy sabia como responder essa pergunta.

— Você é um idiota — Lucy suspirou alto. Em mãos estava o mapa da gigante cidade, a estação de trem ficava bem no centro da metrópole. Não parecia ser difícil chegar até lá, mas isso, claro, se soubessem exatamente onde eles estavam. Era como se tivessem andando em círculos. Ela sentiu uma respiração pesada e quente em seu ombro, estava tão concentrada no mapa que nem percebeu o quanto aquilo lhe agradava e dava uma tranquilidade antes já vista, porém não sabia de onde. Virando-se bruscamente o rosto, deu de cara com Natsu a encarando com fervor e um tanto de curiosidade. Decidiu fazer-se de boba, desviando o olhar para o mapa novamente.

Após refletir tanto sobre o que deveria fazer, a escuridão da tarde já tomava conta de todo o lugar, e pela vegetação densa, era difícil se localizar por ali. A maga pediu para que Natsu fizesse uma espécie de tocha para que visse melhor, por um instante — apenas por um instante — pensou que daria certo e ele não tacaria fogo no mapa inteiro.

Vozes altas eram ecoadas, os dois brigavam feito crianças, e a noite caía cada vez mais.

— Tá, chega — vociferou a loira, sentando em tronco de uma árvore. — Andamos tudo isso e ainda não sei como não chegamos nem em algum lugar para nos informarmos. E ainda você queima o mapa. Parabéns, Natsu!

— Lucy, você está bem? — perguntou, enquanto encontrava um lugar para se sentar perto de Lucy. Queria conversar, porém ela não parecia querer papo. — Anda meio nervosa ultimamente.

— Estou bem. É só... — suspirou novamente. — Só estou cansada mesmo, Natsu, obrigada por se preocupar.

Ela se mexeu, estranhando a reação repentina de Natsu, a partir desse momento o Dragon Slayer tentava começar uma frase, entretanto parecia que tinha algo importantíssimo para perguntar — na maioria das vezes era bobagem, ou algo pra fazer Lucy sorrir em momentos como estes — e nem era tão importante assim. Daquela vez em especial, sentiu uma seriedade na tentativa dele de formar uma frase que fizesse sentido.

— Eu tenho um presente pra você!

— N-Natsu... — antes que ela pudesse reagir, foi puxada pelo ruivo, andando praticamente aos trancos e barrancos, Natsu era muito rápido e quase que ela não conseguia seguir seus passos. — O que você está fazendo?

— Você vai ver, espera!

Ele ia adentrando cada vez mais entre as árvores, a escuridão fora tomando conta cada vez mais dali e quase que Lucy não via por onde pisava.

De repente ele parou, soltou do braço da maga pedindo-a para esperar e fechar os olhos — sem comentar a delicadeza no qual ele a tocava, tudo com muito cuidado e carinho —, ela obedeceu, mas não conseguia conter a curiosidade. Um sorriso modesto surgiu nos lábios dos dois e a adrenalina subiu no sangue de Lucy após Natsu autorizar que ela abrisse os olhos.

— Hoje é seu aniversário, não é, Lucy? — ele disse, sorrindo ainda mais. Tudo estava maravilhoso: havia uma mesa enorme com variadas comidas, de todas as cores e tamanhos, o pessoal da Fairy Tail envolvida e festejando, até mais que a própria aniversariante, a bebida quase "infinita" se tornava finita na festa individual de Cana; a comida era reposta toda vez que que Droy se atrevia a sentar-se na mesa; sem contar o Dragon Slayer de Ferro que quase nem se importava e preferia cantar no palco improvisado. Tudo estava em seu perfeito lugar, e a felicidade que a Fairy Tail exalava era incrível!

— Mas... como? — ela não tinha palavras para descrever o quão feliz ela estava.

— Não tinha como eu esquecer o aniversário da pessoa mais importante pra mim, tem? Eu lembro que você tinha me falando uma vez que queria uma festa de aniversário fora do normal. Acho que era isso que você queria.

Ela avançou nos braços do ruivo, que a retribuiu da melhor forma possível. O encostar de lábios fora inevitável, assim como o sorriso sutil e a gritaria do pessoal ao ver a cena, com certeza, aquele havia sido o melhor aniversário que ela poderia ter.

E o primeiro beijo de muitos.