Coração de Porcelana escrita por Monique Góes


Capítulo 8
Capítulo 7 - Vincent


Notas iniciais do capítulo

Eu estou postando aqui bem rápido porque hoje é dia dos pais, então sabe como é XD Espero que gostem, e qualquer erro me avisem!



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Capítulo 7 - Vincent

– Então... Obrigada por me trazer até em casa. – Claire disse num tom claramente encabulado. Estavam em frente à sua casa, todos os três dentro de um taxi. A garota olhou discretamente em direção à grande residência que já jazia com suas luzes ligadas.

– Não há que quê. – Vincent disse simplesmente.

– Então... Até quando?

– Não sei. – quase bateu em sua própria testa. – Marc não disse absolutamente nada, mas conhecendo-o ... Talvez semana que vem.

– Ok. – ela respirou fundo e Near abriu a porta do carro, já indo para fora. Claire virou-se para Vincent e este quase sentiu seu coração tropeçando algumas batidas. – Foi um prazer te conhecer Vincent.

– C... Claro... – sua voz quase não saiu. – Foi um prazer também.

Estava escuro, porém Vincent a viu sorrir minimamente antes de sair e fechar a porta.

– Aquela garota – o taxista assobiou. – Ela é bem pequenininha e bonitinha, não é?

– Hum. – resmungou. Claro que não daria o braço a torcer, então somente deu as instruções para ir à sua casa. O taxista tagarelava algo que somente escutava por altos enquanto iam por algumas ruas mais ou menos movimentadas durante à noite. Ele perguntou pelo menos três vezes se Vincent era inglês, e acabou tendo que responder as três tentando não se estressar. Sim, sabia que seu sotaque era óbvio.

– Cara, cê mora aqui?! Esses prédios parecem maravilhosos! – o motorista exclamou quando o fez parar em uma rua repleta de prédios altos e sofisticados.

Pagou-o e saiu do carro, indo em direção a prédio que possuía um apartamento. Passou pelo saguão de entrada ignorando os olhares do porteiro e da recepcionista – certamente devido à seus curativos – e entrou direto no elevador, indo para a cobertura.

O apartamento chegava ao ponto de ser ridiculamente amplo – e se pagasse algum aluguel, provavelmente seria também ridiculamente caro. As paredes eram num tom escuro de azul com detalhes amadeirados. Havia quatro enormes sofás pretos envolta de duas mesinhas de centro dispostas sobre um tapete felpudo cor de creme – que servia como alguma coisa clara naquele apartamento totalmente disposto de cores escuras. Atrás dos sofás havia uma comprida mesa de madeira escura cujo tampo era de vidro e o assento das cadeiras era acolchoado.

Não que Vincent possuísse alguma preferência por apartamentos grandes, luxuosos e sofisticados como aquele... Apenas o recebera no momento em que precisavam urgentemente de um teto. Qualquer um serviria, e felizmente ganharam um bem confortável... Até demais.

Seus dois irmãos estavam ali. Michael estava jogado no tapete, com as costas encostadas no sofá assistindo TV com uma expressão tão entediada que quase via a baba escorrendo do canto de sua boca, demonstrando muito bem como aquelas férias estavam sendo: Três adolescentes mofando num apartamento cinco estrelas. Jim estava na mesa escrevendo alguma coisa em seu caderno de folhas negras – não fazia a mínima ideia de onde ele o arranjara. Alguma loja de artigos góticos? – com tinta dourada ouvindo música com fones de ouvido – sendo que só usava um lado. Provavelmente conversava com Michael enquanto escrevia.

Jim apenas ergueu os olhos quando Vincent fechou a porta. Ao contrário de seus irmãos – e seus pais -, ele dera um jeito de burlar os genes e possuía olhos de um tom de azul absurdamente claros. Tão claros que chegavam a parecer transparente, semelhantes a gelo. E aliás, seus olhos se tornaram frios como gelo quando viram seu irmão mais velho, pondo o fone de ouvido remanescente e voltando a escrever, ignorando completamente a existência de Vincent.

– Oi Vinc... O que aconteceu com você?! – Michael exclamou no momento em que o viu.

– Fui atropelado. – respondeu, passando direto para o caminho de seu quarto. Sua perna doía demais.

– Eu não acho que algum hospital te liberaria tão rápido, olhe só...! – o caçula exclamou da sala de estar quando fechou a porta. Sabia que Michael viria atrás de si, apenas... Não queria ficar no mesmo recinto que Jim por muito tempo. – Ei! – abriu a porta, pulando para dentro enquanto Vincent mancava em direção à cama. – Sério, o que aconteceu?

– Um acidente. – disse simplesmente, soltando um gemido de dor, querendo fugir do assunto. Como explicaria? Nenhum de seus irmãos eram bruxos, então não iria dizer que arranjara – mais – problemas com magia.

Michael encarou-o com um olhar absurdamente penetrante para um garoto de treze anos. Todos os três eram absurdamente parecidos, inegavelmente irmãos. Pele extremamente clara, cabelos extremamente negros, as feições eram tão mais semelhantes que Vincent e Jim poderiam tranquilamente se apresentar como gêmeos – e faziam isso de brincadeira até dois anos atrás... Até a relação de ambos ter sido arruinada. -, e Michael seguia claramente o mesmo caminho.

– Certo... Vou acreditar nisso. – Os olhos dourados demonstravam que ele não acreditara. Vincent suspirou.

– Ok, Mike... – levantou e foi até a mesinha de cabeceira. – Eu vou ter que viajar.

–... Viajar?! Por quê?

– Marc. – respondeu simplesmente. – Ele insistiu que quer um ajudante. – não era de todo uma mentira.

– Hm... – o mais novo se aproximou e se sentou ao seu lado. – E?

– A questão é que ele não disse quanto tempo vai passar fora. – pegou um cartão de crédito. – Eu sei que você é rei em descobrir a senha dos meus cartões de crédito, não pense que não vi os jogos na minha conta. – Michael deu um sorrisinho sem graça de quem havia sido descoberto. – Enfim, então enquanto eu estiver fora, vocês vão ter que sobreviver, e pagar as contas, a menos que queiram que eu me meta com problemas com o governo.

– Se eu for ver sua conta, verei uma quantia obscenamente alta de origem suspeita?

– Provavelmente. Ah, mais uma coisa, se enquanto eu estiver fora você conseguir obrigar Jim a passar um tempo no mundo exterior todos os dias, eu compro o Playstation 4 e todos os jogos que você quer.

Michael praticamente arrancou o cartão de sua mão.

– Foi ótimo fazer negócios com você, meu querido irmão.

Acabou rindo.

– Mas uma pergunta, por que você quer obrigar o Jim a sair de casa?

– Você já viu a cor dele? Ele está conseguindo ficar mais pálido do que eu.

Michael soltou uma risada.

– É impossível alguém ser mais pálido do que você.... Mas o Jim realmente tá conseguindo essa façanha. – Ele olhou para a perna de Vincent. – Para onde você vai?

– Brasil.

– Sério?!

– Pois é. – suspirou, e Michael começou a rir. – O que foi?

– Foi totalmente aleatório, mas agora imaginei você no meio da Amazônia, com lama até a cintura numa aventura “Em busca da Anaconda” com Anaconda da Nicki Minaj tocando como trilha sonora.

Empurrou o ombro do caçula, fazendo-o cair da cama, balançando a cabeça negativamente por não ter acreditado no que ouvira – mas estava rindo. Levantou e foi até o banheiro, e ouviu Michael avisando do quarto:

– Eu vou pedir comida! Você tem algo contra comida chinesa hoje?

– Não. – respondeu e ouviu a porta do quarto batendo, indicando que o outro já havia saído do quarto.

Suspirou, abrindo a torneira e molhando as mãos, para passar água no rosto. Aquele havia sido um dia difícil em vários aspectos, e ainda havia se metido naquela maldita situação do boneco. Era inacreditável.

Passou a mão molhada pelo cabelo. Simplesmente... Era um dia ruim, daqueles que – quase – tudo aparentava dar errado. Pelo menos ficara feliz pelo fato de Claire ter ficado bem, apesar dela ter sido arrastada para o meio daquilo tudo.

Falando em Claire... Como ela deveria estar? Além de tudo o que acontecia, havia o boneco, havia o ataque de mais cedo, ela deveria estar pelo menos assustada.

Por que não vai vê-la?

Balançou a cabeça, tentando fingir que não ouvira a voz feminina.

Tente me ignorar o quanto quiserdes...

Voltou mancando para o quarto.

Mas sabes que se apenas me aceitasse, não teria de passar por tudo isso...

Abriu a gaveta da mesinha de cabeceira atrás de algum analgésico.

Por que negas tanto tudo o que lhe é de direito?

Enfiou a pílula na boca, tentando ignorá-la.

Meu filho...

– Eu não sou seu filho. – grunhiu entredentes.

Você sabe o que há naquele armário...

Os olhos verde água foram até o guarda roupa, coroa dourada começando a surgir em volta de suas pupilas. Tudo doía, estava tão cansado...

É apenas vestir e ter tudo o que é seu.

Quando deu por si, já havia tirado a veste do pacote e a estendia à sua frente, como se a analisasse antes de vesti-la. Arregalou os olhos ao se dar conta do que fazia e praticamente jogou-o de volta para o guarda-roupa. Estava ofegante e suava frio. Olhou para sua mão, vendo o anel de ouro branco. Quando pusera aquilo em seu dedo?! Arrancou-o e quase atirou-o quando a voz veio novamente:

Por que negas tanto, meu filho?

Suas mãos tremiam.

– Tudo... Tudo isso era para ser de Juno, não meu.

Juno está morta.

– Eu sou apenas o quarto filho.

Todas suas irmãs estão mortas.

– Elas foram assassinadas, eu não...

Se eu estou contigo, você merece mais do que Juno, mais do que Alexa e mais do que Claire.

Claire... Sua irmã Claire... Ainda recordava-se dela, de como num momento ria, o no momento seguinte jazia no chão com os olhos repletos de dor, mandando-o fugir enquanto ateava fogo na casa, sem condições para se salvar...

Eu não sou seu filho. – ditou ao fim com firmeza. Respirou fundo e fechou tudo, guardando tudo com a certeza de que não mexeria em nada mais daquilo.

Chegará o dia em que me aceitarás meu filho... E esse dia poderá ser bem mais infernal do que você pode imaginar.

~O~

–... Eu deveria ter pagado a minha parte do táxi... – Claire disse num tom pesaroso e Near olhou-a de esguelha.

– Ei.

– Hum?

– Já tem gente em sua casa, certo? – ela assentiu. – Como eu devo entrar?

– Podemos entrar pela porta da frente mesmo. Minha mãe vai direto pro escritório e o meu irmão se tranca no quarto. Além do mais, se houvesse alguém perambulando pela casa, estaríamos vendo.

– Tudo bem... Eu quero conversar com você.

– Ok, então vamos entrar.

Como já fora dito por Claire, ambos entraram tranquilamente na residência, porém indo rapidamente até o quarto da garota para prevenir qualquer encontro com seu irmão ou sua mãe.

– Certo. – O loiro começou no momento em que ela fechou a porta do quarto. – Por que você aceitou isso?

– O quê? – demorou um pouco para entender a que ele se referia. – A viagem?

– Sim. – Near suspirou. – Se eu estiver certo nos conhecemos há um dia, certo? Por que você aceitaria fazer algo do tipo para alguém que mal conhece?

A resposta que veio à mente de Claire quase foi verbalizada, porém no último momento achou-a incrivelmente mesquinha e egoísta, deixando-a envergonhada por ter pensado naquilo. Assim, foi atrás de seu notebook afim de ganhar mais tempo, evitando os olhos castanhos do rapaz que a encaravam de maneira penetrante.

– Bom... Me pareceu ser a coisa certa a se fazer... – começou enquanto ligava o aparelho.

– Então por que você não olha para mim?

– Eu sou obrigada a olhar para você?

– Até onde sei, normalmente olhamos para o rosto das pessoas quando falamos com elas, não evitamos.

– Eu não estou te evitando.

– Está sim.

– Estou não!

– Então olhe pra mim.

Ponto para Near. Claire desejou silenciosamente que ele se transformasse em boneco naquele exato momento para poder fugir da conversa, mas ele apenas continuou de braços cruzados esperando suas respostas.

– Você é um chato, sabia?

– Meus irmãos já diziam isso, obrigado.

– Você tinha irmãos?

– Não tente fugir do assunto, espertinha. – ele cortou-a, fazendo-a bufar.

– Mas que droga!

Near abriu a boca para dizer mais alguma coisa, porém travou encima da hora, seu olhar se tornando vazio antes da luz voltar a toma-lo, e quando percebeu, o boneco estava jogado no chão à sua frente.

– Há! Até o tempo está do meu lado! – exclamou, pegando o boneco e indo guarda-lo, embora soubesse que quando o ativasse novamente ele voltaria a questioná-la. Porém, teria tempo o suficiente para arranjar uma boa desculpa.

Retornou ao seu notebook, abrindo o navegador e digitando “Near Toy” no Google. Pensou que apareceriam coisas relacionadas à brinquedos devido à seu nome, porém na realidade apareceram páginas de casos de desaparecimentos misteriosos, quase todas intituladas coisas como “Os desaparecimentos que nunca foram comprovados como sendo interligados – 1951/52” – considerou os nomes falta de criatividade - ou páginas de busca eterna. Clicou numa página de curiosidade, pois lhe pareceu que era algo como uma matéria que aparentava ser interessante.

Ao abrir o site, via que era uma série de matérias sobre desaparecimentos misteriosos que jamais haviam sido resolvidos. Ignorou a introdução, seguindo diretamente para os desaparecidos. O primeiro que apareceu era um rapaz que considerou – incrivelmente – ainda mais bonito que Near: A foto em preto e branco demonstrava o cabelo escuro liso, com o rosto fino bem desenhado e olhos claríssimos. Ele estava praticamente inexpressivo e a foto parecia ser um recorte de um retrato de família. Ao lado dela, estava escrito “Jake Silverman. Desaparecido no dia 4 de dezembro de 1951, Nova York - EUA”. Decidiu ignorar os desaparecidos que vinham antes e foi descendo, apenas passando os olhos pelas fotos e desaparecidos.

Finalmente Near apareceu. A foto dele parecia... Bem, enquanto as outras pareciam ser recortes de fotos de família, a dele parecia ser um só dele. “Near Toy. Desaparecido no dia 16 de março de 1952, Nova York – EUA”. Filho mais velho de um joalheiro, Charles Toy – Claire copiou o nome e colou numa nova aba para então retornar à matéria -, era sabido que ele se envolvia em discussões constantes com seu pai, principalmente pelo fato deste ser violento, chegando ao ponto de em 1951 ter quase sido morto pelo mesmo. Arregalou os olhos.

– Sério? Quer dizer... – Ela olhou para o closet, onde guardara Near. Ele mencionara problemas com o pai, porém, obviamente pelo fato de não se conhecerem tanto assim, ficara por aquilo mesmo. Nunca imaginaria que chegaria ao ponto de quase ocorrer um assassinato.

Desaparecera após uma suposta ida a uma lanchonete. Devido ao atentado de seu pai, ele acabou sendo investigado pela polícia. Acabara sendo inocentado por falta de evidências, e haviam ligado o caso de seu desaparecimento ao de Jake Silverman pelo fato de ambos serem amigos, embora nada fosse comprovado – então aquele Jake que fora mencionado na conversa de mais cedo era o mesmo Jake que também constava entre desaparecidos? Interessante. -. Ele nunca fora encontrado, apesar de sua carteira ter sido encontrada nas proximidades da lanchonete onde ele havia ido.

– Faz sentido, se ele tentou matar o próprio filho, quem não garantiria que ele poderia dar sumiço nele? E há! Então aquele era mesmo o Jake que Near mencionou!

Fechou a matéria, vendo então a aba em que abrira com o nome do pai de Near, mas arregalou os olhos ao perceber fotos claramente recentes – e de estúdio - de um rapaz absolutamente idêntico à Near, porém o cabelo era de um corte diferente, e além dos olhos serem de um brilhante tom de azul cristal. Ao lado das imagens havia o recorte em resumo da Wikipédia, onde informava que o rapaz era um membro de uma banda chamada Magick, seu nome completo era “Charles William Toy” e que tinha dezesseis anos.

– Pera... - Olhou para o CD da banda. – Isso significa que... Aquele Will que eu gostei da música...

Resolveu fechar o computador.

– É karma, só pode ser. – constatou.


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