Os Jogos Dos Deuses escrita por Tsumikisan


Capítulo 15
Capítulo 15




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Michel sentiu sua visão ficando vermelha. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas a raiva se apoderou dele com uma fúria tremenda, fazendo seu sangue pulsar audivelmente em seu ouvido e o coração disparar. Algo dava-lhe a necessidade de bater em Leo e acabar com ele, fazendo-o pagar por ter feito aquilo. Quando sacou a espada, viu que sua pele brilhava num tom escarlate incomum. Imagens de Nat, Quéz e Mands passaram por sua mente como flashes, como se algo ou alguém estivesse lhe enviando uma mensagem.

— Isso é por elas. – ele murmurou. – E por Ray também.

Avançou contra o próprio irmão, a espada elétrica chiando perigosamente entre os dois. Leo, apesar da aparência, já estava bem melhor e não precisava da muleta improvisada. Conseguiu desviar do primeiro golpe por apenas alguns centímetros, deixando a lança entre ele e o inimigo, de forma que fosse mais difícil para Michel se aproximar sem se machucar. Atrás deles Adrila gritava para que parassem, que poderiam resolver tudo sem que mais ninguém morresse. Porém nenhum dos dois dava-lhe ouvidos, atacando-se com ferocidade cada vez maior. Leo estava movido pela vontade de vencer e Michel pelo desejo de se vingar. Nenhum dos dois recuaria.

— Isso é terrível. – Adrila choramingou no momento em que Leo fez um corte profundo no braço de Michel com sua lança. – Precisamos impedi-los!

Um raio atingiu Leo com força, vindo diretamente do céu e usando a espada de Michel como canalizador. O garoto foi lançado para longe, cheirando a queimado, mas ainda assim vivo. Ele sorriu e se levantou, dizendo:

— Disso eu também sei brincar, irmão.

Ele ergueu as mãos e se concentrou brevemente. De repente o céu na cúpula acima deles ficou nublado e um cheiro de ozônio preencheu o ar. Raios começaram a cair aleatoriamente, atingindo vários pontos da caverna e Michel tentava arduamente rebatê-los com a espada. Um deles caiu bem próximo ao pé de Adrila, deixando uma marca negra no local. A garota se assustou e aproximou-se mais de Frost, que balançava a cabeça em desaprovação.

— Você quer impedi-los? Boa sorte. – ele resmungou. – Mas vai ter que enfrentar isso ai.

— Olhe, lá vai o Leo também. – Rubens disse, apontando.

A pele do garoto agora também brilhava num tom vermelho. Ambos estavam com a benção de Ares, fazendo com que os espectadores se perguntassem qual exatamente era o critério para ser abençoado ali, mas isso não vem ao caso. Já não era mais possível distinguir quem controlava a nuvem negra no céu, pois os raios caiam tanto em Leo quanto em Michel enquanto eles lutavam, espada contra lança.

Com um gesto inesperado, Leo saiu da defensiva e atacou Michel com um golpe bruto no rosto, que provocou um corte profundo em sua bochecha que sangrava muito. O garoto gritou, com raiva, e brandiu a espada com força, mas não contra o irmão, e sim contra sua lança, partindo-a em dois pedaços com um brilho elétrico. Leo soltou o cabo inútil, ficando apenas com a parte letal. Agora estavam equiparados em questão de distancia de ataque, mas Michel era mais rápido. Antes que Leo pudesse fazer algo, ele cravou a espada na lateral de sua cintura e um cheiro de carne queimada tomou conta da caverna. Michel retirou a espada com custo, chutando Leo para trás.

O garoto pos a mão no ferimento, vendo o sangue escorrendo-lhe pela mão. Não sentia a dor, talvez por causa da benção, mas sabia que estava realmente ferrado agora. Michel avançou novamente, tentando ataca-lo pela esquerda, mas Leo bloqueou, manejando a lança de forma que o forçasse a apontar a espada para o chão. Ficaram cara a cara, se encarando com fúria. Leo respirou fundo e disse entre dentes:

— O que essa arena fez com a gente, Michel?

—Exatamente o que Nêmesis queria que fizesse. – Michel respondeu, soturno. – Mas agora é tarde de mais para voltar atrás.

Ele se desvencilhou de Leo, voltando a atacar, mas se atrapalhou e acabou recebendo um corte na coxa. Em sequencia, um raio o acertou e ele caiu, respirando com dificuldade, sua espada voando de sua mão. Leo se aproximou e fincou a ponta da lança no chão, bem próxima ao rosto de Michel. Um raio atingiu suas costas, mas ele reagiu como se fosse apenas uma mosca irritante. Agachou-se em frente a ele e disse:

— Não gostaria de mata-lo, irmão. Ainda podemos vencer isso.

Leo estendeu a mão. Michel a encarou, como se hesitasse e considerasse a oferta, mas ao invés disso, surpreendeu o irmão com um giro de corpo e passando as pernas por trás dele, derrubando-o com uma rasteira e se jogando em direção à própria espada. Ambos se colocaram de pé ao mesmo tempo, respirando pesadamente. Michel avançou, rosnando:

— Devia ter pensado nisso antes de mata-la! Eu não era seu único irmão aqui!

Continuaram lutando, defendendo e atacando em um mesmo ritmo. Já haviam treinado juntos muitas vezes e conheciam os movimentos uns dos outros, mesmo com o empecilho dos raios caindo sobre eles. Qualquer passo em falso poderia resultar na morte de um deles, mas Leo estava desequilibrado apenas com metade da lança. Michel sabia que poderiam continuar naquilo por horas e que mesmo para morrer Leo seria teimoso. Infligiam grandes ferimentos um no outro, mas a benção os impedia de sentir dor. Apenas continuavam, incansavelmente.

Michel conseguiu enganar Leo por alguns segundos, fingindo que ia ataca-lo no braço esquerdo e no ultimo segundo girando a espada em direção de sua perna. Talvez tivesse atingido algum ponto importante, pois o rapaz caiu de joelhos, surpreso. Michel não teve dó e deu um fim naquilo com um golpe rápido no pescoço de Leo, decepando-o.

A nuvem negra que pairava sobre eles se afastou aos poucos, deixando tudo claro novamente. Os raios pararam de cair e os espectadores tamparam a boca ao ver o corpo de Leo caído e Michel ajoelhado, olhando para o céu. Sua visão voltava ao normal e sua pele também e agora ele podia sentir toda a dor dos ferimentos, mas havia uma dor maior dentro de si. Toda aquela selvageria e vontade de lutar havia passado. Lagrimas escorreram por seu rosto quando ele levantou e orou brevemente aos Deuses.

— Que Thanatos tenha piedade de sua alma, irmão. – sussurrou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa.

Alguém tocou seu ombro com delicadeza, fazendo com que se lembrasse que não estava sozinho ali. Porem a pessoa não era Adrila, nem mesmo Frost ou Rubens. Era uma garota que ele nunca havia visto antes, com a pele morena e olhar compreensivo. Ela se abaixou e soprou pequenas bolhas em seu ferimento no rosto, fazendo com que ele melhorasse instantaneamente.

— Não é bom que um rosto bonito como o seu fique marcado dessa forma. – ela piscou. – E nem que você se culpe pelas escolhas de seu irmão.

— Eu podia ter aceitado a proposta. – Michel suspirou.

— A fúria de Ares cega as pessoas. Não é nada realmente desejável. – A garota disse, compreensiva.

— Quem é você? – ele perguntou.

— Me chamo Marina. – ela sorriu. Seus dentes eram pontiagudos, mas não assustadores. – Você quer ir para casa?

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— Ela está demorando.

— Não precisa indicar o obvio, Michael, eu já sei. – Milord resmungou.

Estavam na frente do Empire State e estava de noite. Na verdade, nos últimos quatro dias, a noite estava constante. Eles não viam o sol a exatas noventa e seis horas e ninguém sabia por quê. Os mortais estavam louquinhos, procurando explicações cientificas para aquilo enquanto muitos outros acreditavam ser o dia do juízo final. Bem, dependendo de como as coisas ocorressem no Olimpo, poderia realmente ser.

Os campistas não sabiam como, mas seu líder havia conseguido fechar todas as ruas que davam acesso ao lugar, de modo que somente eles aguardassem ali. Eram cerca de duzentos campistas gregos e outros vinte romanos que estavam de visita no Acampamento Meio Sangue. Os mortais que passavam a pé resmungando olhavam para aquela comitiva e imaginavam se não estariam presenciando uma passeata ou algo do tipo. Quando Foca questionara Milord sobre aquilo, ele apenas havia dito “tenho contatos na prefeitura”, como se aquilo resumisse tudo.

Esperavam por Marina. Não sabiam muito bem o que estava acontecendo, nem por que haviam sido reunidos com armas e escudos para ficarem parados na frente do Olimpo. Alguns campistas estavam sentados no chão, conversando despreocupadamente. Outros andavam de um lado para o outro, sendo impedidos pela hiperatividade de permanecerem parados. Algumas horas antes as Mensagens de Íris tinham parado de funcionar, até mesmo para assistirem aos Jogos. Perguntavam-se o que estava acontecendo.

— Ela está tipo, duas horas atrasada? – Michael comentou, olhando seu relógio. – Por que não subimos sem ela?

Essa realmente era uma questão interessante. Por que não? Bem, Milord tinha um mau pressentimento quanto a isso. Mas os campistas estavam inquietos e ele precisava de respostas rápido. Mas apenas a sensação de estar ali perto já lhe dava ânsia de vomito. Se a maldição não tivesse sido realmente retirada, bem, ele era um homem morto. E ser um homem morto não exatamente o ajudaria a salvar a humanidade.

— Ou... – Michael olhou de esguelha para ele. – Eu posso juntar um grupo de umas dez pessoas e subir. Sabe, só para checar.

— Gregos ou Romanos não podem subir ao mesmo tempo. – Milord comunicou. – Não sei bem o que aconteceria, mas os Deuses não saberiam que forma tomar, e isso faria uma confusão na mente deles.

— Ah, como na Guerra contra Gaia? – o Romano disse, franzindo o cenho. – Entendo.

O líder grego suspirou, passando a mão pelo rosto. Não tinha como fugir. Acabou concordando com a decisão de Michael e chamou um pequeno grupo de semideuses para subir com ele. Entre eles Foca, Brenda, Jimmy, Edu, Moose, Ellen, Mai, Ana e Jeff. Era um bom grupo, ou talvez o melhor que teria com seus líderes praticamente todos mortos na Arena. Eles se espremeram no elevador, ouvindo uma musica extremamente irritante enquanto subiam.

— Ah cara, Nhenhenhem da Maísa? – Foca choramingou. – Isso não é trilha sonora para uma guerra.

— Só aceita. – Edu revirou os olhos, mas também não estava aguentando a musica.

Todos agradeceram silenciosamente quando finalmente saíram do elevador. Milord já estava com os nervos em fragalhos, esperando um momento em que uma bigorna iria cair em sua cabeça por ter ousado pisar no Olimpo. Mas algo estava errado ali. Tudo parecia escuro e sem vida. Não havia ninguém nas ruas e as fontes estavam desligadas.

— Cadê todo mundo? – Moose perguntou com calma.

— Deve estar rolando uma festa ou algo assim. – Jimmy arriscou.

— Não seja idiota. – Ana Flávia revirou os olhos, retirando a espada da bainha. – Vamos, temos que investigar.

Ela foi andando na frente e os outros a seguiram. Ellen teve que dar um cutucão amigável em Milord para que ele andasse também, pois ele parecia sinceramente chocado por ainda não estar morto.

As casas pareciam vazias também. Era como se o local estivesse deserto há muito tempo. Continuaram a andar, cada vez mais nervosos. Mai olhava para todos os lados, a espada também em punho. Jeff se assustava com cada movimento nas sombras, mesmo que fosse apenas um belo passarinho.

Finalmente ouviram sons. Pareciam uma turma enfurecida. Eles se entreolharam e seguiram o caminho, até darem de cara com um coliseu. Era uma construção nova, sem uma rachadura e na porta de entrada havia uma placa com os dizeres “Projetado por Annabeth Chase”. Milord passou a mão pela placa e se virou para os amigos, parecendo confiante:

— Algo de errado esta acontecendo aqui. Vamos verificar, mas se alguém quiser voltar, pode ir. Avise os outros e peça que se preparem para qualquer sinal.

—Hm, eu vou lá e tal. – Foca disse, meio corada. – Vocês realmente vão se sair melhor sem mim em batalha. Vou avisar para o Mike.

Ela se afastou correndo de volta para o elevador. Milord respirou fundo e se virou para o coliseu. Todos prenderam a respiração quando ele tocou a porta.

O som que saia lá de dentro pareciam berros de “Queremos mais!” e “Onde estão os Jogos?! “. Um ar frio passou por eles quando a porta foi aberta, mas avançaram mesmo assim. Estavam num túnel largo e com pouca luz. Havia um cheiro intenso de queimado no ar.

Saíram no que parecia a arena do coliseu. Mil rostos de mulheres, homens, ninfas e outros seres que eles não reconheciam os encaravam, confusos. Alguns ainda gritavam e vaiavam, jogando coisas neles. Jeff mostrou o dedo para eles e Brenda se perguntou em voz alta o que estava acontecendo.

Haviam doze cadeiras mais altas que as outras viradas de frente para eles. Os doze olimpianos estavam lá, assistindo-os com ar vidrado e olhos leitosos, como se não vissem realmente o que estava a sua frente. Zeus se levantou e ergueu as mãos, fazendo com que todos ao redor se calassem. Quando ele falou, sua voz parecia estática:

— Atenção senhores! Como a transmissão dos jogos foi interrompida... Apresento a vocês nossos novos competidores ao vivo!


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