Os Jogos Dos Deuses escrita por Tsumikisan


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Achei esse cap um amorzinho -q



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Megera os transportou para a superfície assim que Prometeu confidenciou aquilo à eles. A Fúria parecia estar nervosa e sibilou para eles quando perguntaram por que não deixou que falassem mais com o Titã, desaparecendo logo em seguida em uma névoa escura.

As informações passavam tão rápido pela cabeça de Marina que ela estava começando a doer. Ela precisava agir rapidamente. Sofia e Nico discutiam o que havia acontecido, mas a conversa não chegava a lugar nenhum e deixava Marina ainda mais nervosa. Eles começaram a andar, com ela em silencio na frente e os dois tentando formular planos e hipóteses atrás. A cabeça dela parecia que ia explodir a qualquer segundo.

E então em algum momento ela viu o mar. O grande Oceano Pacífico parecia chama-la, mesmo de longe. Ela parou e admirou a visão, se esquecendo por um momento de sua cabeça e dos amigos falando em voz alta atrás dela. Algo a impelia de ir até lá. Virou-se para Nico e Sofia e disse, num tom bem alto para que eles parassem de falar e a ouvissem:

— Contatem o Acampamento. Diga a Milord que reúna o máximo de campistas possíveis e vá até o Olimpo. Não usem Mensagens de Íris, Nêmesis pode estar ouvindo. Tentem um telefone. Expliquem o que der sem levantar muitas suspeitas. Depois me esperem na praia.

— Aonde você vai? – Sofia perguntou.

Marina não respondeu, apenas foi em direção ao mar. Começou com passos rápidos, mas quando se deu conta, estava correndo. Tinha uma necessidade estranha de se aproximar, de tocar. Quando seus pés tocaram a água, percebeu o quanto se sentia suja passando todos aqueles dias no mundo dos mortais. Andou com mais pressa, até sentir a água em seus ombros. Ela mergulhou e sentiu toda a impureza saindo de seu corpo, enquanto a correnteza arrastava devagar até mais fundo. Os peixes a observavam com curiosidade e ela acenou para eles com um sorriso. Estava tudo bem silencioso e calmo. Um tubarão enorme passava perto dela preguiçosamente.

Então Caos queria destruir a Terra e recomeçar. Era realmente algo grande, um plano que nem mesmo em seus sonhos mais loucos ela adivinharia. Ali, cercada apenas por água e vida marinha, ela admitiu para si mesma que não tinha a mínima idéia de como fazer algo quanto a isso e que provavelmente todos iam acabar mortos.

—Não perca a fé, criança. – uma voz melodiosa pareceu ecoar pelo mar.

O tubarão nadou para mais perto de Marina. Ele começou a brilhar e a se metamorfosear. Suas nadadeiras se esticaram e viraram braços e pernas e sua cabeça se alongou e diminuiu. Quando o brilho passou, uma mulher belíssima estava flutuando a sua frente. Sua pele era verde clara e seu cabelo era tão colorido quanto os corais abaixo delas. Seu sorriso era pontiagudo como o de Marina, porém transmitia calma e confiança.

— Mãe? – A garota perguntou, nervosa. – O que está fazendo aqui?

— Precisava vê-la. Você fez bem ao seguir meu conselho, minha filha. – Ceto colocou a mão no ombro dela. – Mas agora as coisas só vão ficar mais difíceis.

— Conselho? Você só me disse para me preparar.

— E foi o que você fez. Está se preparando para a guerra desde que recebeu minha mensagem. Não obedeceu as ordens de seu pai e fugiu do palácio. Estou orgulhosa.

Marina sentiu-se corar, mas ergueu o queixo obstinada.

— Ele está tentando me levar de volta não é? Foi ele quem controlou as correntes marinhas para nos arrastar para longe do nosso objetivo.

—Receio que tenha sido. Meu marido, Oceano, está com medo do que pode acontecer e não tem prestado atenção nessas questões. Você bem sabe que as mulheres da família sempre foram mais fortes em tempos difíceis. Mas Poseidon não vai interferir mais, mandei algo para mantê-lo ocupado.

— Mãe! – Marina a censurou, mas a Deusa apenas deu uma risada.

— Calma, foi apenas um caranguejo gigante. Ele resolve isso em mais alguns dias, se não antes. Pensei em mandar algumas surpresinhas, mas receio que não preciso de uma guerra com Poseidon agora. Temos coisas mais importantes para pensar.

— Caos. – A garota murmurou. – O que vamos fazer, mãe? Ele não é um ser físico! E, além disso, é o criador de todo o mundo. Como podemos lutar contra algo assim?

— Encontraremos um jeito. Ele não pode ter forma física, mas aqueles que o ajudam tem e podem ser derrotados.

— Como sabe disso?

Ceto apontou para o fundo do mar. Seguindo seu dedo, Marina visualizou algo que parecia uma caverna, só que estava totalmente tomada pela escuridão. Nenhum animal marinho se aproximava do local e nenhuma planta crescia ali. A garota sentiu um calafrio.

— Oceano me avisou de uma presença estranha. É Nyx, vigiando cada entrada que há para a Arena, inclusive as no fundo do mar. Ela e seu irmão Érebo são filhos do Caos, personificações da Noite e da Escuridão. Creio que ele tem recebido a ajuda de outros de seu irmão, Tártaro, também, pois conseguiu contatar os Titãs a muito adormecidos. De qualquer forma, Nêmesis é filha de Nyx, foi facilmente iludida e então o Caos tomou sua cabeça, forçando-a a colaborar com essa idéia. Sua balança pende para a direita, o lado da discórdia. Em breve não terá como voltar atrás e o equilíbrio será perdido. Precisamos impedir.

— Mas achei que eles estivessem em um plano temporal diferente do nosso, por causa de Cronos. – Marina disse, confusa.

— E estão. Você vai sentir uma vertigem quando entrar na caverna. – Ceto confirmou.

— Espera. Eu vou entrar na caverna?

—Você enfrentara Nyx e Érebo. Seus amigos irão ajuda-la e eu também mandarei algo. Depois vai conseguir entrar na Arena e salvara aqueles que restaram. Precisa ser rápida, pois o tempo está correndo e cada morte é uma força a mais para o Caos. Já mobilizou uma frente de força ao Olimpo, o que é bom. O filho de Hades estará pronto em aproximadamente três dias e você precisara estar lá para ajuda-lo. Mas já lhe aviso que os Jogos não são apenas uma distração tola. Há algo mais que isso, posso sentir. – a Deusa respirou fundo e estremeceu. Fechou os olhos e continuou, sem tirar a mão dos ombros da filha. - Não se surpreenda se os Deuses não forem mais os mesmos, pois o Caos tem uma forma curiosa de se espalhar, de se infiltrar na mente dos fracos, de iludir e oprimir.

—Sim, mãe, não me esquecerei. – a garota abaixou a cabeça num gesto de reverencia.

Ceto passou a mão afetuosamente pelo cabelo dela, sorrindo. E então ela começou a brilhar e tornou-se novamente um tubarão enorme que nadou para longe em uma velocidade incrível.

Marina respirou fundo e nadou até a superfície. Foi lentamente até a praia, como se pudesse evitar seu destino. Nico e Sofia a aguardavam, parecendo ansiosos.

— O que foi? – ela perguntou, pondo os pés na areia.

Suas roupas e seu cabelo estavam completamente secos, mas sua pele brilhava onde a água havia tocado. Ela parecia não se importar.

—Ligamos para Milord de um telefone publico. – Sofia disse, franzindo o cenho. – Ao que parece, há algo errado em Nova York. Ele disse que deve levar três dias para organizar tudo e ir até o Empire State.

— Ótimo. É exatamente o tempo que precisamos.

— O que vamos fazer? – Nico indagou.

Marina apontou para o mar e sorriu, mostrando todos os dentes pontiagudos.

— Vamos destruir a família tradicional Olimpiana.

–-//--

Michel e Ray estavam sentados comendo uma sopa de cogumelos com carne de um morcego que Michel havia abatido com sua espada elétrica. Estava bem tostado, mas continuava melhor que a sopa de cogumelos sozinha. Pelo menos dessa vez Ray não fazia careta enquanto comia. Ela parecia pensativa. Deixou a sopa de lado e perguntou subitamente:

— O que você acha que aconteceu? Ontem a noite, digo.

— Provavelmente Aron tentou explodir o grupo do Leo e saiu meio errado. – Michel disse, limpando a boca. – Cara, ainda não acredito que o Brant morreu.

— Já foi tarde. – ela revirou os olhos. – Mas temos que nos preocupar com Leo. Ele ainda esta vivo, em algum lugar.

— Fraco demais para vir nos procurar provavelmente. Aquilo acabou com cinco pessoas, não é possível que ele esteja tão bem assim.

—Deveríamos ir atrás dele antes que recupere as forças, então. – Ray balançava a perna ansiosamente.

— Não estou com pressa, na verdade. – Michel disse, encarando a própria sopa.

Ray sabia o que ele queria dizer. Quanto menos tributos, mais rápido os dois teriam que se separar, ou pior, se matar para vencer. Ela também não gostava de pensar nisso. Michel sempre cuidou dela, era seu irmão preferido e ela o considerava até mais que o próprio Leo. A idéia de ter que mata-lo a deixava enjoada.

Comeram o restante da sopa e se encostaram na parede da caverna para descansar. Estavam andando desde que a Mensagem de Íris com os rostos de Iolanda, Brant, Ias, GV e Aron apareceu e somente agora estavam fazendo uma pausa. Apesar do cansaço, Ray não conseguia dormir. Sentia que algo estava errado.

Não soube quanto tempo se passou. Michel roncava alto, já deitado no chão usando o próprio braço de travesseiro. Ela pensou em dormir também, mas um barulho insistente parecia ficar cada vez mais alto, se aproximando deles. Parecia água batendo em pedra, ou então passos...

Ela se levantou e disse o nome de Michel baixinho. O garoto acordou no mesmo momento, com a espada em punho, procurando o perigo. Algo vinha na direção deles, os passos ficando mais audíveis a cada segundo. Ray preparou a zarabatana com o dardo e Michel ficou em posição de ataque, a espada chiando perigosamente.

Uma luz surgiu na curva do túnel mais adiante. Parecia artificial, como uma lanterna. Finalmente o dono dos passos apareceu, correndo desesperadamente e arrastando outra pessoa consigo. Ray já ia atirar quando Michel a impediu, pois havia reconhecido Gabi, de olhos arregalados e suando frio. Ela vinha segurando o braço de Sara, que parecia estar bem alheia a situação.

— Corram! – A filha de Atena gritou, desesperada.

Elas passaram correndo por eles, desequilibrando Ray um pouco. Algo bem maior que as duas se aproximava, com passos pesados e a voz gritava:

— Voltem aqui! Ash-a quer devora-las!

Michel e Ray se entreolharam, entendendo. Era a ciclope que havia tentado captura-los alguns dias atrás. Ray acenou e preparou novamente o dardo, puxando o ar e atirando no momento em que a ciclope apareceu na curva. Ash-a parou subitamente, gaguejando algo incoerente, e caiu pesadamente para trás, paralisada. Michel se aproximou e finalizou o monstro com sua espada. Ela desapareceu em uma nuvem de poeira. Ele estendeu a mão para a irmã num gesto de “Toca aí”.

— Elas estão ai? – Ray perguntou, depois de bater na mão dele.

Michel andou até o final daquele túnel, encontrando Gabi caída tentando respirar e Sara a encarando, parecendo absorta em seus pensamentos. Ele ofereceu água e a garota aceitou de bom grado, bebendo grandes goles de cada vez.

— Você não vai me matar, vai? – Ela perguntou após esvaziar o cantil.

— Não, não vamos. – Ray disse, para a surpresa de Michel. – Mas você não pode ficar com a gente.

—Eu vou embora, juro. Só me ajudem em uma coisa e prometo que desapareço. – A filha de Atena parecia desesperada.

Ray e Michel se entreolharam, desconfiados. A filha de Zeus cruzou os braços e perguntou:

— No que exatamente?

Gabi olhou para Sara de esguelha e depois chamou os dois para um canto. Eles a seguiram cautelosamente, com as mãos nas armas caso ela tentasse dar uma de espertinha. Mas atraí-los para uma armadilha parecia ser a ultima coisa que a garota queria quando disse:

— É a Sara. Tem algo errado com ela. Desde que a encontrei, não fala nada com sentido, apenas murmura sobre a caixa e sobre encontrar seu senhor. Não sei o que esta acontecendo, mas estou preocupada.

— Caixa? Que caixa? – Michel perguntou.

— Ela pegou uma caixa de Pandora na Cornucópia e agora acho que está possuída pelo o que quer que tenha lá dentro. – Gabi suspirou. – Ela não larga a caixa, preciso de ajuda para tira-la dela e jogar fora, ai ela vai voltar ao normal.

— Uma caixa de Pandora? – Ray pareceu confusa. – Como assim?

Gabi bufou e explicou o que realmente era uma caixa de Pandora. Ray e Michel compreenderam, olhando assustados para Sara, mas a garota os ignorava completamente, encarando a própria sombra na parede.

— Já tentei pegar enquanto ela dorme, mas ela sempre acaba acordando e ficando muito brava comigo. Ameaçou me matar. – A garota estava realmente amedrontada. – Vou tentar de novo essa noite, mas caso ela acorde, preciso que a segurem.

Depois de muito insistir, eles acabaram concordando com o plano. Michel foi tentar capturar outro morcego e Gabi deixou que ele cozinhasse com os temperos que ela havia roubado de Ash-a. A segunda sopa ficou realmente gostosa, mas Sara preferiu tomar um caldo estranho que ela tinha dentro do que parecia uma bolha. Ray olhou para Gabi, mas a filha de Atena balançou a cabeça como quem diz “nem pergunte”. Sara não estava falando, apenas encarava um ponto fixo na caverna com os olhos enevoados.

Ray encostou em um canto, preparando-se para cochilar. Haviam combinado com Gabi que descansariam um pouco para esperar que Sara estivesse num sono profundo antes de roubar a caixa. Michel se sentou no lado oposto, com a espada em punho e fechou os olhos. Em dois segundos já estava roncando de novo, tamanho era seu cansaço. Ray refletiu se deveria dormir também, mas não teve nem escolha, pois logo estava roncando tão alto quanto o irmão. Não dava para ouvir nenhum outro som a quilômetros de distancia.

Até que um canhão soou baixinho. Ray franziu o cenho, ainda de olhos fechados, se perguntando o que estaria acontecendo. Novamente, algo não parecia certo. De repente ela sentiu algo apertando sua garganta e abriu os olhos.

Sara estava bem próxima, sentada em cima da barriga de Ray com as pernas prendendo os braços dela e ambas as suas mãos estavam ao redor do pescoço da garota. Ela tentou se debater, mas o aperto só ficava mais forte, deixando-a completamente sem fôlego. Não conseguia gritar nem se mover e a falta de ar começou a fazer com que sua visão se escurecesse e os olhos saltassem. Sentia que não conseguiria aguentar por muito tempo. Sara tinha um ar maníaco no rosto e seus olhos pareciam completamente negros.

Subitamente ela soltou o pescoço da filha de Zeus e arquejou, olhando para baixo. A espada elétrica havia perfurado toda a extensão de sua coluna até seu peito e ela pendeu molemente para o lado, a vida escapando de seus olhos assim como a cor e eles voltaram ao tom castanho comum. Michel estava atrás dela, muito vermelho e assustado, respirando rápido. Ray tomou fôlego, tossindo. Sentia dores por toda extensão de seu pescoço.

— O que aconteceu? – tentou perguntar, mas saiu algo parecido com “O coconceu?”.

— Ela matou Gabi. – Michel respondeu sem pestanejar, apontando para um corpo pequeno inerte a um canto. – Estava ouvindo o tempo todo o que planejávamos.

— Que droga. – Ray murmurou, massageando a garganta.

— Pois é. – O irmão parecia cansado. Retirou a espada do corpo de Sara e jogou ela para longe. – Quero voltar para casa, Ray.

— Eu também. – ela suspirou. – Mas ainda somos peças no Jogos dos Deuses. É como se não tivéssemos vontade própria.

Ray abraçou as próprias pernas, sentindo que tremia. Michel se agachou para pegar algo no chão, com ar de preocupação. Ele estendeu o objeto para Ray, que o pegou com as mãos tremulas, sentindo a boca ainda mais seca.

— Por falar em perder a vontade própria. – Michel disse, olhando para a caixa de Pandora. – O que faremos com isso?

–-//--

Leo acordou com o som de um canhão. Ele não reconheceu o lugar onde estava, mas tudo nele estava doendo. Outro som veio logo em seguida, agitando seus pensamentos. A explosão. Ele tinha sobrevivido, afinal. Onde estavam os outros? Tentou se levantar, mas sentiu uma dor intensa na perna e na coluna. Tateando, descobriu que havia quebrado algumas costelas com o impacto. Desejou que Iolanda estivesse ali e tentou gritar por ela, mas sua boca estava seca demais.

Um buraco se abriu no teto acima dele e algo escorregou por ele, caindo em seu peito. Leo estendeu o braço com dificuldade, sentindo seus dedos tocarem em um pano. Tentou erguer a cabeça o mínimo possível para analisar o embrulho e teve que usar apenas um braço para abrir, já que o outro estava de baixo de uma pilha de madeira e outras coisas quebradas.

O embrulho consistia em quatro pedaços grandes de ambrosia e uma garrafa com o conteúdo dourado, Néctar dos Deuses. Havia também um bilhete, que Leo teve dificuldade para ler. Parecia vir de seu pai, Zeus. Dizia exatamente:

“Se recupere e acabe com eles.”

Ele revirou os olhos. Como se ele não soubesse o que precisava ser feito. Iria atrás de Frost e Aron assim que conseguisse se levantar. Pegou um dos pedaços de ambrosia e comeu com cuidado, já se sentindo revigorar. Completou com uma dose de néctar. Em alguns dias estaria forte o suficiente para achar aquela víbora e mandar sua alma para o fundo do Tártaro.

Falando nisso, o próprio Frost estava se sentindo profundamente incomodado. Estava deitado na pedra dura e fria, sua perna doía como se tivesse caído em cima de mil peças de lego e sua cabeça estava a ponto de explodir em febre. Mas não era por isso que estava tão descontente. Era por que ao que tudo indicava, Rubens só tinha saído da explosão com um corte feio no rosto e uma unha quebrada. E agora, contra todas as probabilidades possíveis, cuidava dele. Quando questionado, ele apenas respondeu automaticamente:

— Não teria honra nenhuma em lutar com você nesse estado. Não seria uma vitória ou uma vingança.

— Então você vai cuidar de mim até eu ficar bem e depois me matar? – Frost riu. – Qual o sentido disso, cara?

— Você é patético, sério. – Rubens revirou os olhos, mas continuou preparando algo para eles comerem.

— Essa fala é minha. – Frost retrucou.

Também estava muito insatisfeito por não ter conseguido acabar com Leo. Rubens havia acordado bem antes dele e assistira a Mensagem de Íris com as mortes e depois relatara tudo ao filho de Hermes. Ao que parecia, somente quatro tinham morrido. Seria um bom número, se um deles não fosse Aron. Frost sentia que era sua culpa o amigo ter morrido e talvez fosse a única parte do plano da qual se arrependia.

— Então. – ele começou, depois de um tempo em silencio. Rubens não demonstrava desejo de conversar, mas ele continuou do mesmo jeito. – Por que mesmo que seu namorado não esta com você? Em forma de fantasma, digo.

O filho de Hades pareceu ponderar se iria ou não responder. Por fim ele suspirou, dizendo:

— Não consigo contata-lo. Nem sinto a alma dele, o que é muito estranho. De nenhum dos outros, por sinal.

— Hmmm. Tenho algumas teorias quanto a isso. Quer ouvir?

— Eu tenho escolha?

Frost apenas riu, sentindo a perna doer ainda mais. Começou então, a explicar para o garoto tudo que havia deduzido até agora.

–-//--

Adrila não sabia exatamente como havia encontrado aquele túnel. Se lembrava de estar caminhando pelo desfiladeiro e alguém a chamava, incentivando-a a ir mais fundo. Só que ai uma nova voz se juntou a primeira, parecendo bem mais amável e preocupada com a garota. Ela seguiu o que a nova voz dizia, para desgosto daquela que a chamava para o fundo do abismo. Acabou encontrando um túnel tão bem iluminado quanto o próprio dia, tudo brilhava num tom intenso de amarelo. Ela seguiu sem medo, parando para admirar os lugares em que a grama crescia e junto com ela flores de tipos e formas que ela nunca havia visto antes.

Algo dentro dela indicava que estava quase em seu objetivo. Talvez fosse o ar, que parecia incrivelmente puro. Ela respirava com facilidade e o cheiro também era incrível, como o de torta de maçã recém feita. Parecia que tudo estava mais leve, como se o peso da própria gravidade tivesse diminuído. Estava quase lá.

Lá, como ela foi descobrir, parecia um pequeno bosque de baixo da terra. Haviam árvores e animais que nem se incomodaram quando ela se aproximou. Um riacho corria preguiçosamente à sua esquerda. Parecia um lugar perfeito para um piquenique. Adrila desejava que todos os seus amigos estivessem ali com ela para ver tamanha beleza.

Continuou a andar, até sentir que a voz em sua cabeça havia retornado. Era obviamente uma voz feminina, tão pura quanto o ar que respirava. Pedia que ela se apressasse, por isso ela correu. Correu sem perder o fôlego, ajudada pelo próprio ar.

Chegou no centro da caverna. Ali havia uma gaiola feita de ouro e entrelaçada com ramos de oliveira. Dentro dela estava uma mulher, com ar triste, sentada com a mão para fora, tocando um homem. Na verdade não era exatamente um homem, parecia mais que o ar tinha se moldado e formado todos os membros comuns ao ser humano. Essa criatura estava dormindo deitada na grama, mas sem deixar de tocar a mão da mulher. Quando Adrila se aproximou, ela sorriu cabisbaixa e disse:

— Olá Adrila. Que bom que me encontrou.

— Hã... Desculpe a demora? – ela arriscou, nervosa.

A mulher riu e acenou para que ela se aproximasse. Atrás dela havia um palácio imenso, todo feito de vidro, mas suas portas estavam fechadas e suas janelas lacradas. Reparando no olhar de Adrila, ela explicou:

— Aquele é o lugar onde eu e minha mãe morávamos. Sempre houve uma sintonia entre nós duas, sabe? Enquanto o grande Apolo, ou no caso Febo, levava o sol pelo mundo, eu podia sair e aproveitar o jardim. Quando a querida Ártemis trazia a lua, minha mãe se divertia aqui fora. Nos dávamos bem assim, nunca nos víamos, mas nunca tememos uma a outra.

—E o que aconteceu? – ela perguntou, sentando-se em frente a gaiola, bem ao lado do homem deitado.

— Meu avô. Ele sempre teve um controle sobre minha mãe. Fez com que ela me prendesse, a mim e ao meu irmão, pois tem medo de nós.

— Por que ele teria medo de vocês? Sem ofensas, claro.

— Tudo precisa de equilíbrio, filha de Febo. Eu e meu irmão fazemos parte desse equilibro, deixando o Caos adormecido. Mas agora estou presa e meu irmão, desacordado por tempo indefinido. – ela suspirou. – Tenho medo dos tempos que estão por vir. Por isso te chamei. Você é a única que pode me ajudar.

— Eu? Mas... – ela corou levemente. – Eu sou um pouco inútil, não? Nunca fiz nada grandioso, nem mesmo aqui, na arena. Leo é um grande lutador, Frost pensa em tudo, Ray é forte e destemida, Luke é fiel aos amigos... Eu só estou vagando por ai a dias sobrevivendo de barrinhas de cereal.

— Você não sabe, querida, mas tem um potencial incrível. – A moça sorriu, reconfortando-a. – Todos esses que citou também tem papéis importantes no que está por vir, mas agora é sua vez de se provar.

— Como eu faço isso? – ela perguntou, ansiosa.

— Me aceite, filha de Febo. Aceite Hemera, Deusa Primordial do Dia, em seu coração.

Adrila olhou ao redor, para todas as coisas bonitas que haviam ali e a resposta veio mais rápido do que ela esperava. O homem no chão se moveu levemente quando ela se inclinou, tocando a mão que a Deusa estendia. O brilho amarelo ficou mais forte, quase cegando-a. Ela abriu a boca e as palavras saíram com bastante facilidade:

— Eu aceito.


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