Além do seu Olhar escrita por Miimi Hye da Lua, Incrível


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Oeee. Obrigada por tudo, humanoides maravilhosos. Ah, e se puderem ouvir a música See You Again enquanto os meninos cantam, será melhor, okay?



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Se eu pudesse escolher um único poder, um único poder mesmo, eu escolheria invadir e ler os pensamentos de León Vargas para entender o que acontece com ele.

León tem agido muito estranho com todos, ele fica quieto, isolado e solitário em um dia; no outro ele chega todo animado, dando "Oi” e conversando.

Perguntei para Diego se ele sabia o que aconteceu com León e ele negou, então cheguei à conclusão de que León está em uma situação crítica, pois nem seu melhor amigo sabe o que se passa.

Na quinta feira, no dia seguinte em que fomos ao Parque de Diversões e passamos o dia inteiro juntos, León chegou com os olhos vermelhos, parecia cansado e triste, sua cara não era das melhores e ele parecia desligado do mundo.

Não o vi entrar no Studio e nem vi ele na primeira aula. Provavelmente estaria cabulando, mas por quê? Ele gosta tanto da aula da Angie.

Todo momento eu desviava minha atenção da aula e o procurava preocupada, não conseguia ficar mais de dois minutos com os olhos vidrados em Angie.

Quando a aula de canto acabou, saí correndo sem nem esperar Fran, que estranhou minha atitude. Por sorte, encontrei o "walking dead" León mexendo em seu armário.

— Oi, León — falei animada, chegando ao seu lado.

— Oi, Violetta — falou indiferente, ainda olhando para o nada que se instalava em seu armário.

— Tudo bem? — perguntei, sem aquela animação inicial.

— Claro. Tudo ótimo. Por que não estaria? — respondeu um pouco arrogante, fechando seu armário e, por fim, me fitando, mas isso não durou mais do que três segundos. — Desculpa, tenho que ir.

E ele simplesmente sumiu em meio os corredores.

Não entendi o que eu fiz para ele, até ontem a noite ele estava alegre e fofo. Pra falar a verdade, eu até sonhei com ele. Meu pai uma vez me falou que nós sonhamos com nosso último pensamento do dia, e o meu foi o dia incrível que tive com León.

Na aula de Beto, justo a única aula em que Diego não tem com León, Ludmila e ele ficaram conversando, mas não conversaram pouco, foi muito mesmo. Em um momento, eu virei para trás e peguei León me olhando, nossos olhares se encontraram rapidamente, eu dei um pequeno sorriso, na esperança de ser correspondida. Por sorte, sim, ele me correspondeu, mas não com um sorriso alegre, foi mais um sorriso normal, sem expressão.

Eu realmente me pergunto: Como León aguenta Ludmila? Não sei como, porque ninguém a suporta e, se eu não estiver ficando maluca, os dois saíram pra almoçar juntos, o que me deixou muito triste.

Meus amigos e eu fomos almoçar. Diego também apareceu lá, o que deixou Fran muito animada. Cami estranhou León não aceitar o convite de novo, mas Maxi e Diego a tranquilizaram, dizendo que ele estava ocupado. Eu sabia que era mentira, se ele estivesse ocupado não teria passado o dia inteiro comigo.

O que eu mais temia aconteceu: Camila me perguntou — em frente a todos, inclusive de Tomás, o ciumento — porque León e eu desaparecemos tecnicamente juntos do Studio. Minhas mãos começaram a suar quando vi todos aqueles olhos me fitando em busca de uma resposta. Eu não ia, de jeito nenhum, contar a verdade na frente deles e de Cami, que ficaria muito chatiada comigo por sair com seu "paquera", e mentir não é uma das coisas em que eu devo me orgulhar porque sou péssima nessa função. A única coisa que eu disse foi:

— León também sumiu?

Eles me olharam de um jeito muito desconfiado. Era óbvio que nós, León e eu, saímos juntos, mas eu não estava disposta a entregar os pontos facilmente, ia os fazer acreditarem na minha mentira, pelo bem da minha amizade com Cami.

— Sim, Violetta — confirmou Tomás.

— Bem, eu não sei aonde León foi, mas eu fui para a empresa do meu pai. Ele me ligou pedindo para eu ir lá e que era rápido, mas acabou demorando e eu decidi ficar com ele.

Parece que o impossível aconteceu, eles acreditaram em mim. O primeiro foi Tomás. Já estou ficando inconformada com ele, parece que nem me conhece e acredita em todas as coisas que digo. Isso não é um melhor amigo.

Voltando ao Studio, não encontrei mais León. Fui perguntar gentilmente para Ludmila o paradeiro de Vargas.

— Ludmila — chamei.

A loura se virou e me encarou profundamente. Engoli em seco, onde fui me meter?

— Pois não, Castillo? — respondeu amarga.

— Onde está León?

— Pra que quer saber?

— Curiosidade.

Aham, acredito — falou com desdém.

— Eu só quero saber, oras.

— Tá — suspirou, virando os olhos. — Ele foi para casa, disse que estava cansado e que hoje não está sendo um bom dia para ele. É uma pena, porque vou gravar meu vídeo daqui a pouco e ele nem vai ver — lamentou.

Ah — falei sem reação. — Tudo bem, obrigada. Boa sorte — desejei. Ela me lançou um sorriso bem falso, jogou o cabelo e saiu.

No Zoom, que estava cheio de câmeras e com equipamentos de som e iluminação, um casal cantava uma música bonita que eu nunca tinha ouvido antes. Fui para perto das meninas e ficamos nós três prestando atenção neles, o garoto tocava violão com um lindo sorriso apaixonado à menina, que cantava também sorrindo.

Automaticamente lembrei-me de ontem, mais precisamente na roda gigante, quando León entrelaçou nossos dedos e juntos, vimos Buenos Aires do alto. Todas as vezes que eu me lembrava desse momento, parecia que borboletas voavam em meu estômago e um calafrio passava por meu corpo, meu coração batia em um ritmo anormal e, de repente, voltava ao normal.

Vi Marco na porta do Zoom olhando para Fran, quando ele percebeu que eu o olhava, fez um sinal para eu não falar nada. Assenti. Ele se aproximou de Fran, e disse alguma coisa em seu ouvido, o que fez minha amiga se assustar. Marco entregou uma caixa de chocolates e nos perguntou se podia roubá-la por um instante. Concordamos e os dois sumiram.

Cami aproveitou o momento e perguntou-me se eu havia falado dela para León e eu assenti. Ela fez um mini-interrogatório e eu tive que recitar tudo o que León falou dela. Ela estava com os olhos brilhantes e tão animados, me senti muito mal de ter que mentir sobre o dia de ontem pra ela.

Algumas pessoas começaram a arrumar um cenário incrível, provavelmente era a vez de Ludmila. Eu não estava nem um pouco a fim de ver a loura cantando, então falei para Camila que ia beber água. Encontrei Diego no meio do caminho. Ele me perguntou se eu havia visto León e eu falei que ele tinha ido para casa descansar. Eu não sei por que, mas pedi o número de celular do Vargas. Eu me esqueci de pegar com o próprio, mas... Diego me passou sem nem questionar, o que foi muito bom.

Na minha casa, depois de tomar um banho e jantar, subi para meu quarto e liguei para León. Ninguém atendeu da primeira vez. Liguei mais umas cinco vezes e nada. Na sexta vez, já quase desistindo da ideia de falar com León, ele atendeu. Meu coração acelerou quando ouvi sua voz grave do outro lado.

— Alô? — disse.

— Alô, León? — perguntei.

— Sim? — concordou.

— É a Violetta — falei com a voz mais doce que conseguia.

— Violetta? — indagou. — Como conseguiu meu número?

— Diego me passou — respondi.

— Ah — murmurou, do outro lado da chamada.

— O que aconteceu com você? — ousei perguntar. Já estava preparada pra uma resposta não agradável.

— O que aconteceu comigo? Como assim?

— Bem, você está estranho hoje.

— Ah, estou estranho? — repetiu, ficando irritado. — Me desculpa se não estou tendo um bom dia, tá legal?

— Você está na aula? — perguntei desviando do assunto.

— O que isso importa?

— Nada, eu... Me desculpa, nem sei por que te liguei. Tchau — afastei meu celular devagar da orelha, mas sem desligar.

— Droga. Por que eu sempre tenho que estragar tudo? — ouvi León gritando, muito nervoso.

A chamada desligou, mas acho que não foi León quem a encerrou. Arrisco um palpite, ele jogou seu celular na parede e o mesmo se quebrou em mil pedaços.

Minha vontade era de ir até sua casa e o abraçar, tentar acalmá-lo e conversar com ele. Mas além de não saber onde ele mora, eu não aguentaria ser ignorada outra vez pelo garoto de olhos verdes.

Ele estava parecendo o mesmo garoto com quem eu falei no dia da audição, às vezes doce e puro, alegre e fofo, e na outra vez um garoto amargo e arrogante.

Deitei em minha cama, apesar de ser umas 21h38, estava cansada. Eu só lembro que, antes de pegar em um profundo sono, estava torcendo pelo dia seguinte ser diferente de hoje.

Na sexta-feira, acordei mais cedo que meu despertador, foi muito estranho. Me arrumei para ir ao Studio e tomei meu café da manhã. Quando estava descendo as escadas que antecede a entrada do Studio, respirei fundo e dei uma olhada no local, estava tudo tranquilo.

Logo que entrei, senti uma mão agarrando a minha e me puxando para dentro do pequeno estúdio de gravação. Eu me desesperei, mas foi tudo tão rápido que nem mesmo deu tempo de eu gritar para a pessoa me soltar. Dentro do estúdio, a pessoa fechou a porta e a trancou.

Ai que ótimo, era justo o que eu queria nessa sexta-feira, pensei irritada.

E então o garoto de olhos verdes se virou e caminhou em minha direção. Ele estava tão lindo.

León vestia uma camisa xadrez azul escuro, uma calça jeans preta, uma jaqueta de couro por cima e um Vans preto para completar o visual. Seu cabelo não estava com a franjinha de sempre, ele meio que havia arrepiado, deixando um topete.

Apesar de toda a raiva que estava sentindo dele, deixei escapar um suspiro.

— Violetta, me desculpe por ontem, eu... Eu não sei o que deu em mim para te tratar daquele jeito — falou rapidamente. — Eu sou um trouxa, me desculpa — completou, segurando em meus braços.

— León... — comecei, mas logo sendo interrompida.

— Eu sei que você está zangada comigo, e com motivos. Também sei que eu sou um idiota por toda hora fazer as coisas erradas e vir me desculpar e... — León parecia desesperado, além de arrependido. Olhei bem no fundo de seus olhos e vi que ele falava a verdade.

Abracei-o, achei que fosse a única maneira de fazê-lo parar de falar. Como resposta, ele me abraçou bem forte e enterrou a cabeça em meus cabelos, como na roda gigante.

— Tudo bem, eu te perdoo — sussurrei próximo ao seu ouvido.

— Obrigado, Vilu — sussurrou de volta. — Você é demais.

Depois de uns 10 segundos, nos separamos, sorri para ele, que sorriu também.

— Então, está tudo bem? — perguntei.

— Hoje, graças a Deus, está melhor que ontem.

— Sem querer ser invasiva, mas, o que aconteceu ontem?

Ele ficou rígido, como se eu não devesse ter perguntado isso ou tocado neste assunto.

— Tudo bem — falou. — Depois eu te explico, pode ser? — indagou.

— Claro.

— Vem, temos que ir — disse destrancando a porta e me puxando delicadamente até o Zoom.

— Por quê?

— Vamos gravar o primeiro vídeo da banda e quero que você esteja lá, comigo — revelou.

Não posso dizer que não fiquei alegre. Por mais que eu tentasse, não consegui impedir um sorriso bobo se formar em meus lábios.

— Até que fim, León! — gritou Diego. — Pablo já estava quase nos expulsando daqui devido sua demora.

— Desculpa, galera — falou León.

— Tá, vamos logo — Maxi disse super empolgado.

Um dos diversos produtores fechou a porta do Zoom, deixando apenas alguns alunos e eu lá dentro.

O palco escureceu totalmente, impedindo qualquer um de ver os meninos. Logo, uma melodia muito linda começou a entoar em todo o Zoom.

Uma luz se acendeu no centro iluminando um Vargas sorridente para mim.

It's been a long day, without you my friend
And I'll tell you all about it when I see you again
We've come a long way from where we began
Oh I'll tell you all about it when I see you again
When I see you again

Cantou León. Todas as luzes do palco se iluminaram revelando a posição dos garotos. Eles estavam mais ou menos em W, sendo que León estava no centro. Diego estava em uma ponta e Maxi na outra, no fundo estavam Broduey e Andrés.

Damn, who knew
All the planes we flew
Good things we been through
That I'd be standing right here talking to you
About another path
I know we loved to hit the road and laugh
But something told me that it wouldn't last
Had to switch up look at things different
See the bigger picture
Those were the days
Hard work forever pays
Now I see you in a better place

Cantaram Maxi e Diego. As luzes da frente apagaram, iluminando apenas Broduey e Andrés, que cantaram juntos e com um efeito bacana:

Oh
How could we not talk about family
When family's all that we got?
Everything I went through
You were standing there by my side
And now you gonna be with me for the last ride

E então a luz de León é a única acesa e ele canta novamente:

It's been a long day, without you my friend
And I'll tell you all about it when I see you again
We've come a long way from where we began
Oh I'll tell you all about it when I see you again
When I see you again

Todas as luzes se acenderam e eles começaram a fazer um "coro" juntos que, eu confesso, me deixou inteiramente arrepiada. As luzes de Andrés, Broduey e León se apagaram.

First, you both go out your way
And the vibe is feeling strong
And what's small turn to a friendship
A friendship turned into a bond
And that bond will never be broken
The love will never get lost
And when brotherhood come first
Then the line will never be crossed
Established it on our own
When that line had to be drawn
And that line is what we reached
So remember me when I'm gone.

Oh
How could we not talk about family
When family's all that we got?
Everything I went through
You were standing there by my side
And now you gonna be with me for the last ride

León parecia tão emocionado, seu olhar estava diferente, seus olhos estavam mais claros que o normal e ganharam um brilho diferente.

So let the light guide your way
Hold every memory as you go
And every road you take
Will always lead you home
Home

Todas as luzes se acenderam, de novo, e todos cantaram junto o final da música alternando entre eles, às vezes fazendo um efeito diferente, outros fazendo o coro de fundo.

It's been a long day, without you my friend
And I'll tell you all about it when I see you again
We've come a long way from where we began
Oh I'll tell you all about it when I see you again
When I see you again

When I see you again
See you again
When I see you again

Quando a música acabou, as luzes de todos foram se apagando devagar até chegar à mesma escuridão do início, então alguém gritou:

Corta.

+++

— Hoje o almoço é por conta dos meninos — prontificou Diego.

— Por quê? — perguntou Camila.

— Vamos comemorar, oras — disse Maxi, meio óbvio.

— Mas comemorar o que, Maxi? — Fran indagou.

— Deixe-me adivinhar — falei atraindo a atenção de todos. — A primeira apresentação da banda de vocês? — arrisquei.

— Exatamente — concordou Broduey.

— Como sabia, Vilu? — perguntou Tomás.

— Porque me convidaram pra assistir de primeira mão — respondi olhando para León, que me deu uma piscadinha disfarçadamente.

Uiii, que classe, amiga — brincou Fran.

— León, vai nos acompanhar hoje? — indagou Camila.

— Claro. Vamos lá — disse sorrindo.

Os meninos nos levaram a um restaurante incrível.

Nosso almoço foi entre brincadeiras, risadas e muito diversão. León mostrou que tem potencial, sim, para ser palhaço caso a carreira que ele deseja seguir não der certo. Diego é outro, mas ele já havia nos mostrado seu talento na zoeira.

O resto do dia foi normal. Fiquei feliz por León me pedir desculpas. Ah, e ele me disse que quebrou sim o seu celular e que compraria outro provavelmente naquele dia mesmo.

De noite, León me mandou uma mensagem confirmando que havia comprado outro celular e eu o parabenizei.

Meu pai, depois do jantar, disse que ele e Jade iam fazer uma viagem rápida para o Brasil e que eu poderia chamar alguns amigos para não ficar o final de semana sozinha. Quando meu pai disse que ia viajar, pensei que fosse no Sábado de tarde, e não cinco minutos depois do anúncio, mas não falei nada. Apenas me despedi e afirmei que ficaria bem.

Aliás, muito bem sem eles.

Chamei meus amigos, vulgo Fran, Cami, Maxi, Tomás, Andrés, Broduey, León, Diego e Marco.

+++

Acordei muito animada no sábado. Combinei com a galera de vir umas 15h30 para minha casa.

Fiz minha higiene matinal e desci de pijama mesmo, quase pulando de alegria. Era tão bom ter a casa inteira apenas para mim. Respirei fundo e saí rodando pela sala. Fui até a cozinha, de onde vinha um cheiro maravilhoso, tinha absoluta certeza de que Olga estava lá preparando um café da manhã delicioso somente para mim.

— Bom dia, Olguinha — falei lhe dando um beijo na bochecha.

— Bom dia, Vilu — respondeu. — Está animada hoje, hein — comentou sorridente.

— Muito — concordei.

— Vilu, eu sei que está cedo, mas o que quer que eu faça para o almoço?

— Ah — comecei com a boca cheia. Engoli o pão que estava comendo e completei —, não sei. Pode fazer o que quiser. — Olga assentiu.

Tomei meu café da manhã e subi para meu quarto, afinal, precisava arrumar minha cama.

Entrei no mesmo e fechei a porta atrás de mim (tenho esse costume). Estava tudo tranquilo quando alguém disse:

— Oi, Violetta.

Ahhhhhhhh! — gritei de susto.

Olhei para trás e vi León Vargas, com uma mochila em seu colo, sentado em uma cadeira giratória, que tem no meu quarto.

— León!? Que droga você está fazendo no meu quarto às 9h30 da manhã? E como entrou aqui?

— Primeiro, bom dia — falou rindo da minha reação. — Segundo, estava te esperando. Terceiro, eu pulei o muro da sua casa e escalei a árvore que dá acesso a sua janela. E quarto, adorei o pijama.

Olhei meu pijama novamente: uma calça de algodão vermelha, de bolinhas, e uma camiseta com a estampa do Mickey.

— Está de sacanagem com a minha cara, né? — falei, começando a ficar irritada.

— Não, eu gostei mesmo do pijama, tenho um quase igual.

— Por que está aqui, León?

Ele ficou me olhando, como se buscasse uma resposta.

— Bem — respirou fundo, levantando da cadeira. — Eu quero fazer alguns doces, mas meu pai não me deixou fazer isso na minha casa, então eu fiquei muito bravo e com mais vontade ainda de cozinhar — explicou. — Você tem uma cozinheira, não é?

— Tenho. Chama-se Olga.

— Ah, legal, eu acho — falou normalmente, dando de ombros. — Ela me deixaria cozinhar na sua cozinha?

Pensei bem no caso e a resposta seria um belo não. Ela não deixa nem eu ajudá-la. Sempre me diz que faço bagunça e acabo mais atrapalhando do que a ajudando.

— Você quer muito cozinhar, não é? — perguntei apenas para confirmar o sim.

— Muito — respondeu inclinando um pouco sua cabeça e dando um pequeno sorriso.

— Tudo bem, mas vai ter que fazer meu almoço.

— Sério? — perguntou feliz. Assenti.

— Já volto, vou dispensar Olga — falei quase saindo do meu quarto. — Ah, e sem querer abusar da sua presença, mas pode arrumar minha cama? — perguntei, fazendo León rir.

— Claro. Obrigado, Vilu — sorri para ele.

Olga não aceitou muito bem no começo, mas eu dei diversas desculpas, inclusive falei que queria que ela descansasse esse final de semana, tirasse um tempo só pra relaxar. No final, ela aceitou e até ficou feliz. Ouvi o barulho do portão se fechando e corri para cima.

O que mais me impressionou foi a minha cama arrumada. Confesso que fiquei decepcionada ao notar que León arruma a cama melhor do que eu. E olha que ele é um MENINO.

Uau! Você arruma bem a cama.

— Anos de prática — brincou. — Então?

— A cozinha está inteiramente livre para os seus dotes culinários.

Aiiiii! — gritou animado. Ele caminhou em minha direção e me pegou, girando no ar — Obrigado, obrigado, obrigado.

— Tá, tá — falei me soltando de Vargas. — Não entendo essa animação toda, mas eu preciso me trocar.

— Tudo bem.

— Quer conhecer minha casa?

— Quero conhecer sua cozinha — disse brincalhão.

— Isso eu sei — aleguei. — Olha, me espere aqui no corredor. — Ele assentiu, saindo de meu quarto.

Troquei-me rapidamente para não o deixar esperando.

— Vamos — chamei-o.

Chegando à cozinha, ele ficou olhando para tudo, tudo mesmo.

Uau! — deixou escapar. Ri da cara de bobo que ele fez.

León colocou a mochila no balcão, abriu ela e começou a tirar pacotes de bolacha maisena, outras de tortinhas, caixas de Bis, latas de leite condensado, chocolate em pó e barras de chocolate.

— Assaltou um mercado?

— Sim, aquele da esquina da sua casa — falou. — Só que não, eu comprei.

— O que pretende fazer, cozinheiro Vargas?

— Hum... Vamos ver — olhou para os ingredientes — Torta Holandesa, Pavê de Bis, mousse de chocolate e brigadeiro.

— Puxa! Que saudável. — falei irônica.

— Muito — concordou, também irônico. — Gostaria de ser minha assistente, senhorita Castillo?

— Adoraria, León Vargas.

— Vamos fazer assim: eu lavo a louça e você seca e guarda, okay?

— Okay.

— Quer começar por qual sobremesa? — perguntou.

— Pavê de Bis.

— Certo.

León me deu as instruções e disse do que precisava. Peguei tudo e começamos a cortar os Bis. Tínhamos 5 caixas de Bis, e cada uma vem 20 unidades, então tínhamos que cortar exatamente 100 bis.

— Continua cortando que eu vou fazer o creme. — Assenti.

León, enquanto mexia o creme, começou a cantarolar uma melodia bacana.

— Que música é essa? — perguntei não reconhecendo a música.

— Ah, é mesmo, tinha esquecido — disse dando um tapa fraco na testa. — Eu estava mexendo em uns arquivos antigos no meu computador e achei a minha primeira música, então eu a trouxe pra você ouvir.

— Sério? — perguntei animada.

— Sim, e não entendo essa animação toda — repetiu a frase que eu havia lhe falado mais cedo.

Vargas tirou o celular do bolso junto com o fone de ouvido e encaixou em minhas orelhas, fazendo um pouco de cócegas. Ele entrou nas músicas e logo uma começou a tocar. A música era em inglês e tinha uma melodia incrível, cheia de efeitos especiais.

— Quem dera se minha primeira música fosse assim — disse eu, assim que a música acabou. — Sabe falar inglês?

— Sim.

Nossa! Seu pai ocupou mesmo seu tempo quando era criança.

— Pode crer — alegou. — Quer saber como foi minha infância?

— Claro — respondi curiosa.

Nós continuamos fazendo o Pavê e logo começamos a fazer o mousse.

— Então, com três anos entrei na escolinha, e apesar do meu pai ser um empresário rico, ele me colocou na escola pública porque não era período integral. Legal, né? — brincou sarcástico. — Com seis anos, ele me matriculou em uma escola de futebol e eu joguei até os meus dez anos, a propósito, ganhei muitas medalhas. Depois eu saí e entrei no basquete onde fiquei por um ano, joguei vôlei na escola e depois fiz natação por dois anos. Com nove anos, comecei a fazer inglês e com quinze terminei.

— Quando fez sua primeira música?

— Aos doze.

— Você é incrível, caramba.

— Obrigado, mesmo não sendo isso.

Ué?! Como não? No dia do seu teste de dança você mesmo me disse isso.

— Eu estava brincando, só falei sério a parte que sou lindo.

— Idiota — brinquei.

Olhei o relógio e eram 11h50.

— León, acho melhor já começarmos a fazer o almoço.

— Tudo bem, mas só falta fazer a torta e brigadeiro, então acho melhor terminamos, aí começamos. A não ser que esteja com fome, aí eu paro e...

— Não, estou okay.

A torta nos deu mais trabalho; muito mais trabalho. Fizemos uma boa bagunça. Bem, na verdade, a bagunça começou com o mousse, mas com a torta, ela se tornou mais do que grande.

— Droga! Eu sou um desastre, baguncei a cozinha inteira.

— Não, a culpa foi minha — falou León, sendo gentil.

— Não, León, não é.

Ele pegou uma colher, afundou no creme da Torta Holandesa e depois jogou no chão do propósito.

— Agora é — afirmou.

— León! — gritei.

— Violetta! — gritou.

— León!

— Sério que vamos ficar nisso? — indagou rindo.

— Não sei, me diz você?

— Vamos mudar as coisas — sorriu malicioso.

León enfiou a mão na panela, assoprou um pouco e então, jogou em mim.

León! — gritei zangada. — Qual o seu problema? — perguntei brava, porém rindo.

Isso não ia ficar assim. Fiz a mesma coisa que ele, mas como ele já previa meu próximo passo, saiu correndo, desviando do jato e eu acabei acertando a porta da geladeira. Lembrei que Olga tinha comprado duas latas de glacê e que ambas estavam guardadas na geladeira.

— É bom correr, León Vargas — ameacei.

— Pode deixar, Violetta Castillo.

Peguei as latas e saí com a maior velocidade que eu consegui atrás do garoto de olhos verdes. Alcancei León quando ele estava quase saindo para o jardim, dei-lhe um belo banho de glacê.

— Não, era minha camisa nova.

— Ah, que peninha do Vargas — disse maléfica.

— Vem aqui, vem — nisso ele correu atrás de mim.

Para minha infelicidade, ele me alcançou bem fácil e me abraçou, esfregando a blusa em mim, sujando a minha.

— Agora estamos kits.

— León, acho que o creme queimou — conclui.

— Droga, é verdade — ele me soltou e saiu correndo até a cozinha.

Entrando lá, percebi a bagunça que fizemos, que não foi pouca. Tinha glacê em uma boa parte dos armários.

— Você não vai acreditar, a panela caiu e o creme inteiro foi junto — disse León, quando me aproximei dele.

— Acho que vamos ter que limpar a cozinha, primeiro — proferi. — Olha a situação que deixamos.

— Vou lavar essa louça, pega os baldes e dois rodos e vassoura, vamos ter que lavar a cozinha.

Fui à lavanderia, peguei tudo o que León pediu e voltei. Ele estava terminando a louça. Logo ele começou a me ajudar, jogou água no chão e esfregou, enquanto eu limpava as portas dos armários e a da geladeira.

Quando terminamos — uns vinte minutos depois —, ele colocou duas panelas no fogo, uma era para refazer o creme da Torta e a outra para fazer o brigadeiro.

Estava guardando a louça quando León me chamou.

— Vilu, vem ver isso — falou preocupado, sem retirar os olhos da panela.

Aproximei-me dele e quando estava ao seu lado, ele passou a colher — CHEIA DE BRIGADEIRO — na minha cara.

— León Vargas... — Ele começou a rir da minha cara e saiu correndo, porém, uns três passos depois, ele escorregou no piso molhado e levou um tombo horrível.

Toma, seu trouxa, babaca — gritei vitoriosa.

— Aiii — gemeu ele do chão, apoiando as mãos na costela. — Me ajuda aqui, Violetta, ao invés de ficar rindo de mim.

— Espera, este é um momento de glória. — Fiz uma dancinha nada bonita e corri para ajudá-lo.

Estendi minha mão para ele, só não esperava que Vargas fosse me puxar para o chão. Caí em cima dele, pelo menos não fui de cara com o chão.

— Por que você tem que ser assim? — perguntei. Ele nos girou, fazendo-me ficar por baixo.

Porque... Não sei, é legal ser assim, sabia? — respondeu.

Girei-nos de novo, limpei meu rosto na sua blusa.

— Ahh, de novo não — reclamou.

Fui tentar levantar, mas sem sucesso, porque ele me puxou de novo. León tentou levantar, mas eu também o puxei e então virou uma guerra: quem levantaria primeiro.

Depois de uns dois minutos competindo, derrubando ele e ele me derrubando, León finalmente levantou, por sorte, me ajudou a sair do chão.

Meu abdômen estava totalmente dolorido de tanto rir e a blusa xadrez amarela e nova de León Vargas estava realmente muito suja. Ele tirou a camisa de manga longa xadrez, ficando com uma regata branca por baixo e... Uau! Ele ficou muito sexy com aqueles braços expostos.

Decidimos não brincar mais e terminar os doces e fazer o almoço. Ele me perguntou o que eu queria almoçar, parecia até Olga, eu respondi que ele poderia fazer o que quiser, igual com Olga.

Perguntei a ele sobre Ludmila e o que tanto eles conversavam, ele falou que eu era muito curiosa, mas disse que ela falava sobre alguns problemas que estavam acontecendo na casa dela e que, apesar de ser péssimo em conselhos, ele deu alguns para ela. León também falou que eles não almoçaram juntos, o que me deixou feliz.

Logo o almoço estava pronto, e a cozinha cheirava muito bem. León é ótimo na cozinha e eu o parabenizei bastante por isso.

— Deixe a louça comigo — falou.

— Não, eu... — comecei. Ele me lançou um olhar severo.

— Não foi isso que combinamos — lembrou-me.

— Tá — disse eu, fechando a cara. Ele riu. — León, onde aprendeu a cozinhar?

— Foi com a empregada do meu pai e na escola.

— Legal. Diego também sabe cozinhar? — ele concordou.

León lavou a louça do almoço, eu as sequei e guardei. Combinamos que Olga fez os doces, não queríamos que nossos amigos pensassem besteira de nós, por passarmos a manhã inteira de sábado juntos.

Sentei no balcão da cozinha e fiquei vendo León lavar a pia, até isso ele fazia. Ele lavou sua mão e secou em um pano.

— Acho que já vou, preciso trocar de roupa, provavelmente de um banho, e também, não queremos que ninguém nos veja juntos, não é? — disse ficando ao meu lado, mas sem subir no balcão.

— Sim, aquelas mentes férteis pensariam besteiras de nós — brinquei, fazendo-o rir fracamente.

— Então, só pra repassar, a Olga que fez todos os doces? — perguntou.

— Exatamente — concordei. — Mais uma vez, León, você cozinha muito bem.

— Obrigado. Foi uma honra usar a sua cozinha e também cozinhar com você.

— A honra foi minha, chefe Vargas — ele sorriu. — Me lembre de pedir para o meu pai colocar grade na minha janela, okay? — zoei.

— Okay, pode deixar comigo, afinal, qualquer louco pode invadir seu quarto às 9h30 da manhã, né?

— Isso — concordei e rimos.

— Bem, nos vemos mais tarde — despediu-se, dando um beijo na minha bochecha.

— Tchau, León — falei que nem uma boba em êxtase ao sentir seu cheiro, se bem que estava misturado com brigadeiro, mas era maravilhoso.

— O portão está aberto ou eu pulo o muro de novo?

— Eu vou lá abrir, bobão.

Fiquei observando a figura de León sumir pela rua. Soltei um suspiro ao lembrar da nossa manhã. Ele é tão fofo e incrível, se ele e Cami ficarem juntos, com certeza ela será uma garota de sorte. Mas, sabe, algo nisso me incomoda. Sim, eu desejo a felicidade de Camila, afinal, ela é uma das minhas melhores amigas, mas ela e o León, juntos, não é uma cena que me agrada.

Fechei o portão entrei em minha casa, ao entrar na cozinha me deparei com a mochila de Vargas.

— Droga, León — falei sozinha.

Ouvi a campanha tocando. Desesperei-me. Joguei a mochila dele em um canto, arrumei meu cabelo e fui atender a porta.

— Acho que esqueci algo aqui — brincou o garoto de olhos verdes.

— Uffa! Pensei que fosse outra pessoa — falei aliviada. — Vem, entra — dei espaço para ele passar. — No desespero, joguei sua mochila em um canto da cozinha — completei o guiando.

— Puxa! Escondeu muito bem, ninguém ia ver aqui — falou irônico. A mochila estava jogada no chão da cozinha.

Não aguentei e comecei a rir, mas rir muito mesmo, e de tanto eu rir, León se contagiou, começando a rir comigo.

— Nossa, eu não ria assim há um bom tempo — disse eu, me apoiando na pia.
— Nem eu.

Envolvemos-nos em uma conversa animada, acho que por uns dez minutos, e então a campainha tocou, e dessa vez eu sabia que não era León Vargas.

— Droga, o que fazemos agora? — perguntou León, preocupado.

— Não sei... Acho que você vai ter que pular o muro — sugeri.

— Mas eles vão me ver.

— Não, olha, pula o muro de trás...

— Já sei — falou. A campainha tocou de novo. — Eu fico escondido na sua árvore, aí quando todos chegarem, eu desço e toco a campainha normalmente.

— Tá, vamos. Eu ainda preciso trocar de blusa.

Subimos as escadas na pontinha dos pés, León abriu minha janela e se escondeu na árvore.

— Se me olhar, eu te mato.

— Relaxa, não sou um cafajeste. Quando todos chegarem, dá um jeito de me avisar. — Concordei

Peguei uma blusa no meu guarda-roupa e coloquei rapidamente. Gritei para a pessoa esperar. Cheguei à porta e a abri, encontrando todos (exceto Léon), com um belo sorriso em seus rostos.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da cena Leonetta? Desculpa pelo tamanho do cap, mas espero que tenham gostado :/ Obrigada pelos comenários anteriores