Hell on us escrita por Sami


Capítulo 31
Vitória




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[...]

Eu ainda não estava cem por cento acostumada com a ideia de estar naquele lugar, claro que ter tomado um belo de um banho melhorou um pouco meu humor naquele dia, porém eu continuava um pouco nervosa por estar em Alexandria junto com aquelas pessoas novas. Mesmo que aquele lugar realmente se mostrasse seguro, havia algo ali que me deixava com a pulga atrás da orelha, todos os moradores daquele lugar não carregavam uma única arma consigo, nem mesmo uma faca ou algo que pudesse ser usado para se proteger de qualquer ameaça que poderia surgir. Até mesmo nós tivemos que ser desarmados já que aparentemente iríamos ficar em Alexandria. O que foi muito estranho, já estava acostumada a ter sempre ou uma arma ou uma faca presa no meu cinto próxima o bastante para que eu conseguisse me defender e estar sem nada ali era como se eu estivesse pelada ou algo do tipo. Eu estava sentada em um dos degraus da varanda da casa que Aaron disse que seria nossa, estava esperando Carl terminar seu banho para que pudéssemos explorar o lugar juntos; pelo menos assim não iria me sentir tão perdida assim enquanto caminhava pelas calçadas daquele lugar novo. Enquanto esperava vi alguns moradores passar na frente da casa, alguns deles me olharam um pouco surpresos por verem que havia gente nova em Alexandria e outros chegaram até mesmo a me dar as boas vindas. Vi algumas crianças passearem também, elas pareciam felizes por estar ali mesmo sabendo que o mundo além daqueles muros era algo completamente diferente daquele em que estavam vivendo no momento.

Ainda olhando para todo aquele ambiente novo e quase surreal que era Alexandria, minha atenção se focou em um homem que estava sentado em sua varanda limpando alguma coisa com o formato quadrado, não sei bem o que era, pois de onde eu estava sentada não era possível ver com muita clareza, mas pelo pouco que eu consegui ver sabia que se tratava de algo grande. Fiquei observando-o limpar o objeto até que ele levantou o rosto e como se soubesse ou sentisse que havia alguém o olhando, seus olhos rapidamente passaram a me encara quase da mesma forma como ele olhava para o objeto que ele estava limpando. Notei que ele até havia parado de fazer o que ele estava fazendo e em questão de poucos segundos ele parecia ter ficado surpreso ao me olhar por mais tempo e notei também que em seu rosto havia uma grande cicatriz que parecia dividir metade do seu rosto, prendi a minha respiração tentando desviar meu olhar do dele e tentei isso da pior maneira, olhei para os outros lados tentando encontrar alguma outra coisa que pudesse manter-me distraída e quando voltei a olhar para aquele rapaz sem nome ele ainda me encarava.

Ele ficou me encarando por muito tempo, parecia até que tinha se esquecido do que estava fazendo antes de me encarar como se eu fosse um bicho, abri a boca para dizer alguma coisa e logo fui interrompida pelo som da porta se abrindo atrás de mim. Olhei para trás vendo que se tratava de Carl saindo da casa usando roupas limpas, porém com aquele mesmo chapéu de xerife sujo na sua cabeça.

—Meu Deus, você não vai tirar isso da sua cabeça não? —Me levantei virando meu rosto para não olhar mais para aquele estranho que estava me encarando antes.

—Eu gosto dele e não será você quem fará parar de usá-lo. —Carl retrucou descendo os poucos degraus da varanda. —O que foi?

—O quê? —Perguntei o olhando.

—O que foi? —Ele repetiu a pergunta me olhando com desconfiança. —O que você está olhando tanto?

Carl seguiu meu olhar até o homem desconhecido, eu não havia reparado que estava novamente encarando aquele desconhecido e nem percebi que Carl havia notado isso.

—Nada! —Sacudi a cabeça voltando a olhar para ele. —O que você está olhando? —Perguntei para desviar aquela conversa e notei que havia deixado Carl um pouco confuso com tudo aquilo.

Carl voltou seu olhar para mim e me olhou como se não tivesse entendido nada, ele franziu sua testa me olhando novamente desconfiado até que finamente voltou ao normal.

—Não é nada. —Falou num tom natural dando de ombros. —Vamos logo!

Sacudi a cabeça e comecei a andar junto com Carl para conhecer um pouco mais do lugar em que iríamos começar a viver daquele dia em diante, afastei o momento super vergonhoso que aconteceu minutos atrás torcendo para que aquele homem não viesse perguntar o motivo de eu ter encarado ele, se bem que quem deveria perguntar isso era eu porque o modo como aquele louco me olhou quando percebeu que tinha alguém o olhando foi como se tivesse visto um bicho ou um errante. Afastei novamente aqueles pensamentos da minha cabeça voltando minha atenção apenas para o que eu e Carl estávamos fazendo no momento; conhecendo um pouco mais de Alexandria.

Conforme caminhávamos pude notar que o lugar era ainda maior do que parecia ser quando visto do lado de fora, mais pessoas que já estavam ali antes de nós nos cumprimentaram, um casal de idosos perguntou se era mesmo verdade que havia uma bebê conosco e quando respondemos que sim, os dois pareceram animados para conhecer Judith. Bom, pelo menos ela seria paparicada pelos moradores daquele lugar.

—Não é estranho? —Carl perguntou sem me olhar.

—O que é estranho? —O olhei sem entender.

—Esse lugar. —Respondeu enquanto caminhava. —As pessoas que vivem aqui não carregam armas e nem mesmo parecem saber o que acontece ali fora, é estranho estar aqui quando o mundo ali fora está uma grande merda.

Eu concordei em silêncio.

—Eles não precisam de armas aqui, Carl. —Falei. —Pelo que eu pude ver durante essas poucas horas que passamos aqui dentro, eles não têm problemas com os errantes. —Dei de ombros. —É como a Deanna me disse durante minha entrevista: aqui é um lugar seguro.

O projeto de xerife negou no mesmo instante.

—Eles são muito burros por pensar assim então. —Seu tom era duro. —Já deveriam saber que nesse mundo não existe um lugar seguro, na verdade nunca existiu!

Nisso eu tinha que concordar com ele.

—Acho que chamá-los de burro é um pouco demais xerifinho, talvez uma palavra um pouco mais leve que isso os defina cem por cento, mas burros não. —Dei de ombros. —Eu também acho estranho ficar sem arma, ainda mais depois de tudo o que aconteceu com a gente. Não sei se eu vou conseguir me acostumar com isso tão cedo!

Carl parou de andar e me olhou.

—Você acha que eles vão nos devolver nossas armas? —Perguntou um pouco pensativo. —Se eles sabem que somos pessoas de bem, eles vão nos devolver certo?

—Eu não sei dizer — Comecei. —acho muito improvável que eles vão nos devolver as armas, mesmo se a gente pedir para devolver. Ainda mais quando ninguém aqui dentro carrega uma.

Carl concordou parecendo um pouco decepcionado com a resposta que ouviu, notei que ele parecia esperançoso quando me perguntou sobre as armas e por mais que eu quisesse tê-las de volta eu sabia muito bem desde que fomos desarmados que não as teríamos nossas armas de volta e pelo modo como o projeto de xerife ficou, ele não parecia ter gostado nem um pouco daquilo e eu também não gostei disso.

...

Eu e Carl passamos quase todo o restante do dia conhecendo mais o lugar onde iríamos viver a partir daquele dia em diante, conhecemos alguns adolescentes que tinham quase a mesma idade que nós e isso pareceu deixar aquele dia menos chato do que estava sendo, não vou dizer que foi divertido assistir os garotos jogarem vídeo game enquanto eu e uma menina que eu não fazia ideia como ela se chamava apenas assistíamos aquela interminável partida.

Quando anoiteceu começamos a arrumar nossas coisas para ir dormir e como Rick ainda se encontrava em total desconfiança sobre aquelas pessoas, ele achou melhor que nós dividíssemos a mesma casa caso algo desse errado. Enquanto fazíamos as camas no chão vi quando Rick finalmente deu as cara mostrando seu novo visual para todos ali, ele havia cortado o cabelo e tirado toda aquela enorme barba que cobria seu rosto e foi realmente estranho olhar para ele sem aquela matagal de barba que parecia crescer a cada segundo no seu rosto. Olhei um pouco surpresa para o pai de Carl, estava tão acostumada a ver ele usando aquela enorme barba que ver ele sem ela era como se estivesse faltando alguma coisa nele; como se faltasse algum detalhe importante.

—Fique espero xerifinho — Me virei olhando diretamente para Carl. —você será o próximo a ganhar um novo visual.

Carl revirou os olhos.

—Você não vai parar de falar sobre isso? —Ele parou de arrumar sua cama e me olhou. —Está confiante demais para uma pessoa que já perdeu a aposta.

Eu cruzei os braços o olhando e levantei uma sobrancelha, mordi o lábio para evitar que um sorriso se formasse em meus lábios, mas isso foi impossível de segurar e quando me dei conta já estava com um largo sorriso estampado no meu rosto o olhando.

—Perder? —Perguntei fingindo que não havia entendido o que ele havia me dito segundos atrás. —Até onde eu sei é você quem perdeu a aposta, projeto minúsculo de xerife.

Carl jogou uma coberta fina sobre a cama que ele havia feito e então me olhou novamente sem entender aonde eu queria chegar com aquela conversa.

—Carl Grimes não perde aposta para uma garota. —Falou convencido de si mesmo. —Já deveria sabre disso Ayla.

Eu comecei a rir.

—O que foi? —Perguntou me olhando como se já estivesse desconfiado de alguma coisa.

Levantei-me do chão e me aproximei de uma pequena cômoda que havia no canto da sala onde iríamos dormir naquela noite, abri a gaveta sem dizer uma única palavra e antes que ele pudesse conseguir ver o que eu havia tirado dali de dentro rapidamente a fechei voltando a me sentar na cama que havia feito para dormi. Aos poucos movimentei minha mão até mostrara a tesoura que eu havia encontrado quando ainda estava explorando a casa e abri novamente um sorriso largo em meu rosto. 

—Você sabe o que é isso Carl Grimes? —Ergui uma sobrancelha sorrindo ainda mais, ele por outro lado já se mostrou um pouco surpreso e ao mesmo tempo assustado com o que iria vir a seguir. —Eu acho que você me deve uma barra de chocolate, xerifinho!

Carl respirou fundo me encarando agora com uma expressão séria, ele não disse uma única palavra enquanto seus belos olhos azuis encaravam com atenção a tesoura que estava na minha mão, notei que ele pareceu ganhar uma postura um pouco mais rígida e pela primeira vez desde que saímos da prisão passando um bom tempo juntos ele parecia estar realmente com medo do que iria acontecer com ele. Mais especificamente com seu cabelo.

—Onde e quando encontrou isso? —Perguntou fingindo estar assustado com aquilo.

—Enquanto você tomava banho eu aprovei um pouco para conhecer um pouco mais a casa e fui xeretando por aí até que encontrei ela em uma das gavetas da cozinha — Expliquei. —a escondi e não disse nada para manter esse mistério todo mesmo.

Ele suspirou olhando para o chão.

—Que droga! —Falou parecendo decepcionado consigo mesmo. —Deveria ter apostado outra coisa.

—Eu já sabia que iria ganhar essa. —Falei sem tirar o sorriso do meu rosto deixando claro que a vitória era minha. —Foi moleza isso! —Coloquei a tesoura ao meu lado. —Mas se isso te fizer se sentir melhor, na próxima aposta que fizermos eu deixo você ganhar.

O projeto de xerife fez cara de deboche e depois uma careta mostrando que ele não havia gostado de ter perdido aquela aposta tão simples e boba que havíamos feito semanas atrás, foi engraçado ver que ele realmente parecia estar chateado por ter pedido, mas eu não tinha muito que fazer ali além de comemorar a minha vitória.

—Vocês dois deitem logo que já vamos apagar as luzes. —Ouvi a voz de Rick interromper meus pensamentos, ergui meu rosto o olhando e sorri de um jeito disfarçado ao vê-lo com sua nova aparência. Ele parecia ter ficado até mesmo mais novo depois de ter tirado aquela barba do rosto. —O que está fazendo com essa tesoura Ayla?

—Ah isso? —Falei tirando a tesoura da minha cama e a deixando no chão ao lado dela. —Eu e Carl fizemos uma aposta e quem acabou ganhando foi eu! —Respondi mostrando animação.

—O que vocês dois apostaram? —Rick perguntou parecendo um pouco preocupado com aquilo olhando diretamente para seu filho que estava sentado na cama ao lado da minha.

—Ayla disse que iria cortar meu cabelo e eu apostei uma barra de chocolate que ela não iria chegar a encontrar uma tesoura. —Carl respondeu. —E agora eu estou devendo uma barra de chocolate a ela.

Rick nos encarou por alguns breves segundos como se tentasse entender tudo o que havíamos contado, ele alternou seu olhar entre mim e depois em Carl até que abriu um sorriso no rosto e começou a rir.

—Deveria ter sido mais esperta nessa aposta, Ayla. —Falou voltando seu olhar para mim. —Uma barra de chocolate é muito pouco.

Abri um sorriso mais largo que antes voltando a rir e olhei para Carl que parecia bravo com o próprio pai por ele ter dito aquilo, porém eu logo vi que ele parecia estar apenas brincando, Rick logo se retirou nos deixando sozinhos novamente.

—Quando você vai cortar meu cabelo? —Carl voltou a perguntar atraindo minha atenção para ele.

—Ainda não decidi isso, mas eu quero cortar essa floresta aí da sua cabeça o mais rápido possível. —Falei olhando para aquele monte de cabelo que tentava de um jeito inútil ser escondido pelo chapéu de xerife que ele usava. —Que tal daqui três dias? É tempo o suficiente para você se despedir da sua floresta particular?

Carl pareceu se irritar com aquele comentário e isso apenas fez com que eu voltasse a rir dele.

—Eu preciso de mais tempo para encontrar uma barra de chocolate. —Falou num tom de voz baixo para que apenas eu conseguisse ouvi-lo ali. —Eu não sei onde posso encontrar uma e isso pode levar alguns dias.

Revirei meus olhos.

—Não se faça de idiota xerifinho. —Falei cruzando meus braços outra vez. —É só você perguntar para a Olivia se na despensa tem alguma barra de chocolate e me trazer, simples assim!

—Simples assim. —Carl repetiu balançando a cabeça lentamente como se tentasse gravar aquelas palavras na sua mente. —Você fala como se isso fosse algo muito simples de se fazer, nem conheço ela direito!

—Por favor, né Carl, não tem problema nenhum em perguntar isso a ela. —Falei descontraída. —E não demore em dar meu prêmio ou você acordará completamente careca! —Apontei um dedo para ele o ameaçando.

—Opa opa opa! —Falou levantando os dois braços para o alto. —Eu não falei que não iria te trazer o seu prêmio. —Falou em tom defensivo. —Só espere uns três ou quatro dias que você terá sua barra de chocolate.


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