P.O.V Elena

— Estamos horas e horas nesse carro e não parecemos chegar em lugar algum – Tony reclamava pela milésima vez em menos de uma hora, batucando seus dedos no volante ao som de “Highway to Hell”, o que achei irônico por ser uma situação completamente condizente com o dia. – Vamos parar – Ele avisou, parecia animado demais porque viu uma mera lanchonete no meio da estrada.

O nome era Carl’s House, e não parecia estranho para mim o ambiente, mas posso estar apenas ficando louca.

Ele estacionou seu carro enorme e todos os motoqueiros à nossa volta estava ligado, Tony realmente gostava de chamar atenção.  Os motoqueiros sorriram e acenaram na minha direção, e eu os ignorei. Deve ser provavelmente um bando de idiotas. Entramos rapidamente na lanchonete, e Tony que fez os nossos respectivos pedidos, apesar que ele pediu a mesma coisa para nós dois. Um duplo X-Burguer.

Não pude recusar, eu estava exausta, e com fome. Mas não queria dar o braço a torcer, queria logo acabar com essa maldita viagem e continuar com minha vidinha de estrada qualquer.

Nossos pedidos não demoraram muito para chegar, não tinha muitas pessoas ali naquela lanchonete, estava praticamente vazia. Tirando pelo cara estranho que estava no canto do lado da parede, e fumava um cigarro acompanhado por um café. E uma mulher que estava com um garotinho comendo uma panqueca e tomando um suco. Chame-me de louca, mas sou uma pessoa desconfiada e checo tudo ao meu redor antes de me sentir “segura”.

Tony enfiou o X-Burguer na boca, e fez um grunhido estranho, parecia estar gostando.

— Desculpe-me, eu deveria arrumar um quarto para vocês dois? – Brinquei enquanto comia o dele.

Ele percebeu o que estava fazendo.

— HÁ-HÁ – Ele fingiu rir. – Mas bem que não seria má ideia...

— Tony! – Repreendi-o.

Ele riu.

— Esse é o melhor X-Burguer que eu já comi na minha vida -  Ele declarou.

— Isso é porque está com fome – Retruquei.

Ele deu de ombros.

— Pode ser, mas mesmo assim, melhor X-Burguer.

— Ok – Murmurei enquanto senti um fixo olhar sobre minhas costas, e eu me virei encarando a senhora do caixa que me encarava fixamente, o que eu achei estranho, virei-me de novo para frente e Tony percebeu minha preocupação.

— O que aconteceu? – Ele estava em alerta.

— Essa mulher do caixa está olhando fixamente para mim ou isso é só uma impressão minha? – Perguntei. E Tony checou e vi seu olhar estranho. – Eu vou lá agora – Levantei-me indo em direção a mulher.

— Lena, espere – Tony pediu, mas já era tarde. Estava a um passo do caixa.

A mulher me encarava e sorriu.

— Elena!  - Ela exclamou alegre.

— Oi – Estranhei.

— Nunca achei que você fosse voltar agora, Jared vai ficar louco em saber que você cumpriu sua promessa – Ela sorriu alegre tirando seu avental. – Polly, LIl venham ver! Elena Stonem está de volta.

Franzi os cenhos.

 O que diabos estava acontecendo aqui?

Sentei-me novamente esperando todas as pessoas que a mulher falava, e Tony já havia acabado sua deliciosa comida.

— Quem são essas pessoas? – Tony sussurrou ao ver uma mulher nova e loira, com um homem que parecia ser o cozinheiro por causa de suas vestes.

— Eu não sei – Sussurrei de volta e ele me olhou estranhando tudo aquilo, assim como eu estava.

Tentei vasculhar na minha mente, todos os lugares que já fui, mas definitivamente não lembro de ter vindo aqui. Fica no meio do nada. Eu não morava nem perto daqui para ter chegado aqui pela estrada, mas não sei, posso estar ficando louca e devo ter chegado aqui, o que provavelmente deve ser verdade porque eu não lembro da metade das coisas que fiz com 15 ou 16 anos.

— Oh meu Deus, Elena! Você está maravilhosa como sempre, cadê os seus amigos? Tentando pegar a estrada um pouco só? – Aquelas pessoas me enchiam de perguntas.

— Eu sinto muito, mas.... Eu não lembro como conheci vocês – Falei e eles estranharam.

— Como assim? Esteve aqui faz um tempo, mas, você veio aqui com o John e James, e seus amigos engraçados – A senhora falou e minha cara definitivamente fechou.

John era o filho mais velho de Jimmy, que morreu quando éramos mais novos. Ele foi assassinado bem na minha frente, e ele era definitivamente tudo que eu tinha. James é um ano mais novo que eu, somos próximos, mais próximos que nunca, mas como eu já disse, tenho um tipo de vida diferente das dos outros.

— Eu não sei se você já ouviu falar, mas... John morreu, faz um tempo já - Contei e a senhora estranhou e olhou para baixo, assim como a mulher nova do lado dela.

— Eu não sabia, querida – Ela foi doce.

— Por isso provavelmente eu não lembro de vocês, faz tempo que eu não saio com ninguém de lá – Admiti.

— Eu lembro quando você chegou aqui, era Dezembro, 15. Foi uma boa época do ano – Ela estava nostálgica. – Entrou John, e logo depois James que era mais novo, entrou uns amigos de vocês, e logo depois entrou você, todos aqui pararam, os clientes, os funcionários, todos paramos e olhamos você entrar, meu filho nunca tinha visto criatura mais linda na sua vida. Como foi que disse, querido? – Ela falou e eu não poderia abaixar a cabeça e ficar pouco constrangida. Ela começou a cutucar o tal do Lil.

— Ele disse que era a mulher mais linda que ele tinha visto na vida, e provavelmente a mais confiante. Também não é de se admirar que ele disse isso, você tinha aquele ar de mistério e intriga, como alguém que você conhece a anos, mas não conhece literalmente eles. Você tinha esse olhar e esse andar tão confiante que poderia descartar todas as pessoas facilmente do ambiente, eu lembro de você, Elena. Foi um grande dia nessa lanchonete aquele que entrou a família Stonem – O tal do Lil falou e eu me senti mal por não lembrar de nada daquilo, não faz tanto tempo, eu sei que não faz, mas eu deveria estar muito louca para lembrar de qualquer coisa.

Tentei sorrir e parecer simpática, mas as palavras dele atravessaram-me como se fosse uma faca.

P.O.V Tony

Entrar numa viagem com Elena foi uma ideia maravilhosa, eu fico feliz por estar fazendo isso, eu poderia facilmente sozinho encontrar o que ela estava tentando falar, mas a ideia de passar esse tempo com ela, e até conhecer o passado sujo dela, era algo incrível e único.

Sinto que perdi a vida inteira da minha filha, as fases mais importantes da vida dela. Sinto-me tão mal, quero só poder conhece-la melhor e saber que quando isso tudo acabar, e ela for embora, ela vai ficar bem, e que vai lembrar-se de mim.

Fomos conversando o caminho inteiro, escutando Rock, tudo bem que na maioria das vezes eu ficava reclamando só para poder ela olhar para mim e dar aquele sorriso irônico, ou até mesmo ficar impaciente comigo! Fazer qualquer coisa.

Decidi parar nessa lanchonete beira de estrada que estava literalmente no meio do nada, os motoqueiros acenavam e sorriam para Elena que andava tão confiante, era algo surreal, fico imaginando como essa garota conseguia ser minha filha, ela é linda! Ela é confiante. Todo lugar que ela vai, a atenção está parada apenas sobre ela, ela ignorava qualquer coisa ao seu redor, focava apenas do que iria fazer. Ignorava os motoqueiros idiotas que eu estava irritado com toda aquela atenção na minha filha, mas ela parecia estar tão calma.

Falei algo sobre o X-Burguer que havia pedido, e ela riu e falou algo. Depois de um momento preocupado, ela foi em direção a senhora que encarava fixamente ela, acabou descobrindo que ela já havia estado nesse local, a um tempo atrás, aparentemente com os filhos do Jimmy, o cara que criou ela, os irmãos dela. Quando citou um tal de John, vi o olhar da minha filha, senti o seu sofrimento, ela não demostra, mas eu sei que no fundo, é um sofrimento e tanto para ela lembrar de John, mas pensava docemente sobre James que era mais novo que ela.

O tal de Eli falou sobre o andar confiante dela, sobre o primeiro sentimento quando a viu, não pude negar, ele estava absolutamente certo porque ela era assim, ela é linda, confiante, deve ter feito várias pessoas se apaixonar só de olhar para ela e ela olhar de volta. Eu entendo. Eu sei que isso era verdade.

Ela tentou sorrir, sei que estava tentando ser simpática, mas senti que ela estava já exausta. Triste.

O tal do filho da senhora chegou com um capacete na mão, sua mãe falou com ele, mas sua atenção estava toda sobre Elena. Seus olhos sorriam quando a via, e ele foi até ela.

— Elena, oi – Ele cumprimentou nervoso.

— Elena, este é o Ed, meu filho – Ela apresentou novamente.

— Oi, Ed – Elena cumprimentou de volta e olhou para ele normalmente, mas vi o nervosismo do garoto.

— Este é Tony Stark, Ed – A senhora finalmente me apresentou e o garoto tentou desviar a atenção para mim, mas ficou nervoso com o olhar de Elena e mesmo depois de ela ter tirado a atenção dele.

— Olá, Sr. Stark – Ele cumprimentou.

— Desculpe o nervosismo do meu filho, é que eu vou contar um segredo, Elena era o grande amor da vida do meu filho – Ela falou rindo e o garoto parecia estar ainda mais constrangido.

Ele parecia ser mais velho que Elena, mas nenhum pouco experiente.

Elena surpreendentemente sorriu pouco, achando toda a situação engraçada.

— E Cook, como está? – Ed perguntou para ela tentando desviar toda a atenção daquele assunto.

— OH, Cook está bem – Foi tudo que ela respondeu.

Não demoramos muito de conversas, perguntamos todas as perguntas que liderariam a gente para outro lugar, e logo tiramos nossas conclusões sobre aquilo. Despedi-me de todos, e Elena fez o mesmo. Quando íamos embora, a mulher segurou a mão de Elena e sussurrou algo no seu ouvido enquanto abraçava ela. Elena nunca foi de abraçar. Disso eu já sabia, ela nem conseguiu abraçar a mulher, mas mesmo assim quando o abraço acabou, ela sorriu e eu vi pela primeira vez que foi um sorriso sincero.

Entramos no carro e já dei partida rapidamente.

Percebi ela encostada na janela, seus olhos estavam fechados, mas ela estava acordada.

— Você está bem? – Perguntei.

— Yeah.

— Foi falar sobre o John? – Perguntei. Silencio.  – Você sente falta dele?

— Sim – Foi a única coisa que ela respondeu. – John não era só o filho de Jimmy, ele era meu irmão.

— Sinto muito – Falei.

— Está tudo bem – Ela sussurrou.

— Jimmy é um grande homem, ele criou uma grande mulher – Murmurei.

— Você iria ter criado uma grande mulher também, Tony – Ela olhou para mim e acenou com a cabeça, eu sorri. Sei que ela se sente mal, e que ela sabe como eu me sinto. – Pare o carro, vá descansar, eu quero dirigir um pouco - Ela pediu e eu o fiz. Não quis contradize-la. Quando descemos do carro, desci de cabeça baixa, um pouco constrangido.

Ela me parou e olhou para minha cara, parecia nervosa.

— Ei – Ela pegou os braços e passou um pelas minhas costas e deu dois tapinhas. Parecia um abraço, um abraço estranho, mas ainda sim, um abraço!

Eu abracei-a fortemente como se tudo dependesse daquilo.

— Ok, temos uma longa viagem pela frente – Ela falou abrindo a porta e entrando no carro, assim como eu. Não demorei muito para cair no sono, mas hoje foi um bom dia, e eu não consigo me arrepender da decisão da viagem.