POV Zoe

Sai do quarto depois de alguns minutos, caminhei até o pátio e o procurei. O garoto estava sentado encostado em um dos muros, lendo algum livro enquanto uma poeira fosca rodava em sua mão esquerda:
— Hey, eu estava te procurando – Falei, fiquei a frente dele e ele me encarou:
— Eu sei, vi você passar por metade dos corredores – Sorriu de canto, como...:
— Como me viu?
— Olhar de Areia – Ele ergueu a mão com a poeira ainda rodando, mas foi dissolvida por um sopro – O que precisa?
— Quero saber desse lugar, Plano Oposto – Nico assentiu levemente – Como encontraremos a Kira?
— Vocês vão precisar encontrar a energia dela – Me sentei em sua frente – Anjos conseguem enxergar energia, então as suas amigas vão precisar guiar vocês lá dentro
— E como elas vão enxergar isso?
— Até onde eu sei, isso acontece naturalmente. Talvez demore um pouco, ou seja, fique mais difícil para as Irmãs-Anjo por terem ficado tanto tempo longe disso tudo, mas para a outra Anjo de Luz deve ser fácil. Enfim, seria bem simples, apenas tentariam diferenciar a energia da Lobisomem da dos outros espíritos, fim
— Certo...
— Ah, mais uma coisa – Me levantei, mas senti o garoto segurar meu braço – Se vocês virem vermelho, fujam de lá. Independentemente se acharam ou não a garota, apenas saíam o mais rápido possível
— Por quê?
— Não pergunte. Apenas se lembre disso – Assenti lentamente.

Ele me soltou e eu voltei para o quarto, vendo Maya e Menma sentadas na janela conversando com Lucy e Yukki:
— Cara, a gente vai morrer lá – Lucy disse, rindo em seguida:
— Que lindo pensamento – Yu retrucou, a Vampira riu alto:
— Zoe? Você está bem? – Maya me encarou, saí de meus devaneios e olhei a garota:
— Sim, só preocupada – Menti:
— Certo... – Ela não acreditou em mim, é claro. Maya não iria cair numa desculpa assim tão facilmente:
— Hey, o que será que tem lá?
— Pessoas mortas? – Menma tentou, acabei rindo da cara que Lucy fez após isso:
— Realmente

Ela está morta

— O que? – Todas me olharam:
— Que?
— Nada, acho que estou ouvindo coisas... – Murmurei, Yukki me encarou com os olhos semicerrados:
— Hm, o que nós vamos fazer agora? – Assim que Menma terminou de falar, ouvimos batidas na porta:
— Eu juro, se for aquele moleque chato que tava me seguindo eu vou... – Lucy abriu a porta e se calou, Jason e Peter estavam parados do lado de fora do quarto:
— Nico disse que já podemos ir – Peter comentou:
— Que moleque chato? – Jason fixou seus olhos na Vampira, ela o encarou de volta:
— Você
Ri, passando pelo casal e saindo do quarto. Menma, Maya e Yukki me seguiram, Lucy e Jason vieram atrás de nós:
— Os outros já estão lá – Peter disse aleatoriamente, assenti enquanto virava no corredor.

Assim que saímos do corredor, consegui diferenciar as silhuetas dos nossos amigos no meio da floresta. Passamos pela barreira e continuamos andando, vi Nico com o mesmo livro andando em círculos:
— Prontos? – Perguntou ainda rodando, assentimos juntos e o garoto fechou o livro – Então vamos começar

POV Kira

Eu estava caindo em queda livre, por um momento me lembrei de quando caí com Drago da torre. Não sei quanto tempo fiquei caindo, mas foi o bastante para que eu não visse mais a luz do começo do buraco, muito menos o homem que havia me trazido. Ah, droga, nem perguntei o nome dele...

No meio da queda, eu parei. Simplesmente parei de cair, como se algo me segurasse. Continuei olhando para baixo, escuridão completa, não sei se estou perto do chão ou não, apenas sei que estou parada no meio do nada.

Venha até mim...

Meu corpo bateu contra o chão, chacoalhei a cabeça e suspirei, onde eu estava agora? A escuridão ainda me cercava, quando, no meio do breu, vi um pequeno ponto luminoso. Caminhei até ele, até meu corpo travar e eu me ajoelhar no chão.
O escuro começava a me afetar... Merda, por que eu tinha de ter medo do escuro?!

Venha Aoikami...

Fixei meu olhar no ponto brilhante, forcei meu corpo a se levantar e caminhei até lá com dificuldade. O brilho aumentando a cada passo.

Olá

Num segundo, tudo ficou claro. A mulher estava de costas para mim. Olhei ao redor, tudo era feito daquele liquido que havia me engolido mais cedo. A única diferença era que o tom do primeiro, era mais esbranquiçado, enquanto esse parecia um azul claro.

Bonito, não é?

Assenti lentamente. Ela se virou, ficando de lado e me olhando de canto:
— Estive te esperando... – Ela me lembrava Amaterasu, apenas alguns traços eram diferentes:
— Me... Esperando?
— Sim... Por muito tempo...
— Qual... Qual o seu nome?
— Daphne
Ficamos caladas por alguns segundos, senti o olhar brilhante dela se fixar em mim:
— Você não sabe quem eu sou, sabe?
Neguei com a cabeça, ela sorriu. Cabelos azulados, olhos dourados, dentes esbranquiçados e afiados. Ela era parecida comigo, de certa forma:
— Eu sou a primeira reencarnação de Aoikami

A olhei assustada, como...?

— O que disse? – Ela sorriu mais abertamente, num estralo de dedos estávamos dentro de uma sala fechada e com pouca luz:
— Essa era a sala que me prendiam na maior parte do tempo – Falou, olhei ao redor e vi uma garotinha encolhida em um canto. Ela parecia assustada, abraçando os joelhos e escondendo o rosto entre eles – Me lembro desta época, eu não saía daqui. Eles vinham, me batiam e iam embora... Todos os dias
Por um momento, a encarei fixamente. Depois, encarei a garotinha encolhida. Forcei um pouco minha visão e pude enxergar marcas vermelhas na pele pálida da menor. Em suas pernas, pés, mãos, braços e em parte de seu rosto. Um corte em sua bochecha esquerda ainda sangrava:
— Como alguém pode fazer isso...? Uma criança...
— Uma boneca, pronta para ser descartada – Ela olhou para o chão, continuei olhando a garotinha – Era assim que me chamavam. Você sabe como éramos tratados, certo, Kira?
— Eram criados e cuidados em um lugar isolado – Comecei, ela assentiu – E, quando tivessem certa idade, eram mortos...
— Lembrasse-se da regra?
— Que regra?
— A única regra que seguiam enquanto estávamos presos aqui. Era restritamente proibido criar qualquer tipo de laço com outra pessoa
— Ah, é...
— Mas, para mim, essa regra ainda não existia

A garota que estava no canto suspirou, seus machucados haviam se regenerado. Um poder dos Aoikami, eu acho:
— Como assim não existia?
— Venha, vamos para o jardim

E, em um segundo, estávamos sentadas em um banco de madeira do lado de fora. A garotinha estava ajoelhada na terra, brincando com alguma coisa:
— Eu sou a primeira Aoikami, Kira. Eles não sabiam o que fazer comigo, mas sabiam que se me matassem o Outro também morreria
— Mas se a regra não era pra você, por que ela foi criada?
— Por causa dele – A mulher apontou para um muro alto, no topo dele um garoto estava sentado, observando a mais nova:
— Espera, o que?
— Nunca descobri seu nome, mas eu o chamava de Ni – Sorriu de canto, ela parecia ter memórias boas dele:
— Quem ele era? – Perguntei, o garoto pulou do muro e caminhou até a garotinha. Ela se virou e sorriu, abraçando-o:
— A pessoa pela qual me apaixonei – Encarei a mulher, ela sorria abertamente olhando a cena antiga.
Dois homens apareceram na entrada do jardim, a garota empurrou o menino assustada, apontando para uma árvore próxima. Ele correu e se escondeu atrás da árvore, os homens seguraram os braços da garota e a levaram. O garoto acenou e ela sorriu triste.
Tudo desapareceu. A mulher ainda sorria, senti algo cair em cima da minha cabeça e peguei, encarei a pétala azulada por algum tempo até ela desaparecer também:
— Eu... Não entendi... – Ela me olhou – O que exatamente você espera que eu faça? Eu... Eu não sei o que fazer
— Nunca sabemos... Terá de encontrar seu caminho sozinha, Aoikami
— Mas... E se eu errar? Se eu voltar eu... Ele voltará também...
— É por isso que escolherá seu caminho sozinha... Lembre-se, Lobisomens possuem mais emoção do que razão...

POV...

Isso mesmo, jovem Lobisomem... Volte para seu mundo... Eu voltarei com você...