Diga Adeus à Inocência escrita por Mahfics


Capítulo 3
Capítulo 2




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Mais cinco minutos de caminhada e, finalmente, saímos da trilha.

– Quando suas aulas começam? – ele pergunta, quebrando o silêncio.

– Daqui a algumas semanas, por quê? – encara-o.

– Nada – ele dá de ombros -, queria saber se daria tempo para te ver outra vez.

Sinto minhas bochechas esquentarem.

– Por que a faculdade impediria o encontro? – inclino a cabeça.

– Você tem cara de ser muito nerd, daquele tipo que estuda até morrer. – ele dá um sorriso de lado – Sei que quando voltar as suas aulas serei trocado pelos estudos.

Em parte, ele está certo, sou muito neurótica quanto aos meus estudos, mas isso não significa que eu não tenha uma vida social.

– Podemos marcar alguma coisa antes das aulas começarem. – sugiro – Algo casual.

Malic dá a última tragada no cigarro e o joga no chão, pisando em cima logo em seguida.

– Sim, podemos ver.

– Sim.

Pego meu celular do bolso e vejo se tenho alguma chamada perdida, continuo sem sinal. Sorte que a casa de minha vó não fica muito longe e não vou precisar caminhar mais. Olho para o chão e fico em silêncio. Malic é o tipo de cara que se minha mãe conhecesse, ia manda-lo embora a vassouradas e aí de mim se eu fosse atrás dele no dia seguinte, sinto como se eu a tivesse traindo em falar com ele.

– Onde fica a casa da sua avó? – ele me encara.

– Um pouco mais a frente – ergo o olhar novamente -, se quiser posso ir sozinha agora.

– Não tenho nada importante marcado para hoje, estou na boa.

– Então você é um cara ocupado? – sorrio.

– Do tipo que não tem espaço na agenda. – ele sorri.

– Nossa, estou honrada por ter uns minutinhos com você. – finjo comoção.

– Aproveite, não garanto que terá essa mordomia na próxima vez. – ele me encara de canto de olho.

– Ah – faço bico -, sou uma menina muito mimada.

Já consigo avistar o sobrado de minha avó, afasto-me um pouco de Malic e ajeito minhas roupas, tirando a poeira adquirida pelo tombo.

– É aquela? – ele aponta para a casa.

– Sim. – solto o meu cabelo.

Caminhamos mais algum tempo e finalmente chegamos, o portão é baixo e está aberto, assim como a porta da entrada. A cadeira da varanda parece ter sido ocupada.

– Vó? – chamo-a.

Escuto passos ecoarem de dentro da casa em direção a porta e então ela surge. Com seu cabelo chanel loiro amassado da noite de sono e sua “roupa de ficar em casa”.

– Você sabe o quanto me preocupou? – ela cruza os braços – Achei que tivesse morrido.

– Meu celular perdeu o sinal. – explico.

– Você não pode me assustar assim Bianca, quase tive um infarto aqui. Estava quase ligando para o exército.

– Mas vó, não tive culpa se caiu a ligação, não sou uma torre de sinal ambulante – resmungo -, você queria que eu fizesse sinal de fumaça pra te avisar que fiquei sem serviço? – reviro os olhos.

– Sim, nem que tivesse que mandar um passarinho vir me avisar. – ela rebate.

Suprimo minha próxima objeção para não causar uma discussão e pegar esse mico na frente do Malic, já tinha esquecido que ele estava aqui.

– E quem é você? – ela o encara.

– Esse é o Malic. – apresento-o e ele dá um rápido aceno com a mão.

– Onde você o conheceu? – ela estreita os olhos.

– Da faculdade. – respondo sem pensar – E ele já está de saída.

– Foi um prazer conhece-lo. – ela dá um sorrio meigo.

– Igualmente. – ele retribui o sorriso.

– Leve-o até o portão e depois entre. – ela volta a entrar na casa.

Volto a caminhar para o portão e aguardo Malic.

– Ela é mais amigável, posso garantir – comento -, só está um pouco preocupada.

– Relaxa. – ele dá um sorriso.

– Quando a gente se vê de novo? – encaro-o. Não me incomodaria nada em vê-lo amanhã.

– A gente se tromba. – ele lança uma piscadela pra mim e sai – E mais uma coisa.

Encaro-o, esperando ele prosseguir.

– É feio mentir para os mais velhos.

– Só não queria dar outro motivo para ela dar a louca. – sorrio.

Ele ri.

– Estou de olho nessas mentiras. – ele estreita os olhos e sorri.

– Até mais, Malic. – fecho o portão.

– Até a próxima trombada, Angel. – ele volta a caminhar na direção da trilha.

Respiro fundo e aguardo um pouco para voltar pra dentro de casa. Fecho a porta e procuro por minha vó na cozinha.

– Desculpa. – falo enquanto entro.

– Está tudo bem, acho que me exaltei demais. – ela sorri – Só fiquei preocupada com o fato de ter acontecido alguma coisa com você, não perdoaria.

– Sei me cuidar. – garanto.

– Sabe. – ela debocha.

Rio.

– Você é tão otimista em relação a mim.

– Quando sua mãe chegou avisando que estava grávida, olhei para a barriga dela e pensei: isso aí vai ser uma desgraça. – ela ri.

Tento manter uma feição séria e me fingir de ofendida, mas não consigo e acabo rindo.

– Quer bolo? – ela me oferece a assadeira.

– Você já reparou que toda vó tem bolo para oferecer para o neto? – ergo uma sobrancelha – Isso é o fato que devia ser investigado.

– Coma primeiro e investigue depois.

Pego a assadeira e sento à mesa. O bolo é de chocolate.

– Então você encontrou um lobão na trilha. – ela me encara por cima do ombro e ri.

Lobão? Ah não! Espero que ela não esteja se referindo ao Malic.

– Me diga como foi esse encontro inusitado, só não diga que você praticou atos de adolescente modernos.

– Pratiquei o quê? – franzo o cenho.

– Essas baboseiras de olhar pro menino e no segundo seguinte já estar agarrando ele. – ela explica.

Rio.

– Claro que não. – dou uma mordida no bolo – Até porque não tem clima ficar com uma pessoa no meio da mata. – falo de boca cheia.

– Para de ser moderna. – ela taca o pano de prato em mim – Não quero você agarrada com ninguém, principalmente com esse menino.

Rio e inclino a cabeça.

– Por quê? Não gostou dele? – questiono.

– Ele não parecer ser um bom rapaz. – ela me encara.

– Defina bom rapaz.

– Rapaz de família – ela cruza os braços -, estudioso e com um futuro pela frente, respeitador e decente. Ele parece ser o contrário disso e sei muito bem que ele não é da sua faculdade, aqueles rabisco que ele tem no braço, Jesus, que coisa mais feia. Já posso até imaginá-lo fumando ou segurando uma garrafa de pinga.

Sorrio.

– Pinga é da sua época. – comento.

– Tanto faz. – ela dá de ombros – Só acho que ele não vai te dar o valor que você merece, entende?

– Sim.

– Ótimo, achei que só tinha sentido na minha lógica.

Termino de comer o bolo em silêncio e ela termina de arrumar a cozinha. Concordo com o que ela falou, Malic não parece ser o tipo de cara que respeita uma menina, até porque ele deve ter milhares beijando seus pés. Não posso afirmar que gosto, até porque é impossível gostar de alguém em minutos de conversa, mas não nego que me senti atraída.

O que eu posso fazer? Os problemas me atraem.

Acabo de comer o bolo e coloco a assadeira na pia. Subo para o quarto que vou ficar e abro as janelas, preciso decora-lo do meu jeito para me sentir em casa. Deito na cama e olho para teto. “A gente se tromba. ” Idiota. Isso não é uma resposta, é o orgulho dele de ter mais uma correndo atrás. Minha vó está certa, ele não vai dar o valor que eu mereço, tenho que esquecer e desconsiderar. Ele é o tipo de cara que foi feito para ser apreciado pela beleza e não de se ter qualquer tipo de relação, o exemplo certo de cara errado.


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