Diga Adeus à Inocência escrita por Mahfics


Capítulo 19
Capítulo 18




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/622472/chapter/19

– Anda mais rápido. – apresso Camila.

– Calma aí, sua estranha. – ela apressa o passo.

Não vai dar tempo, nem consigo vê-lo mais.

– Entra no banheiro e vê se tem alguma menina. – falo enquanto caminho para a esquina do prédio principal.

– Aonde você vai? – ela grita.

– Atrás do menino. – falo, óbvia.

– Pode ser perigoso.

Ignoro sua última frase e continuo em frente. Apresso o passo para um andar rápido e quase chego a correr. Não consigo mais vê-lo. Ele pode ter ido para qualquer lugar.

Só há dois caminhos possíveis: um é à esquerda e passa por trás de todos os complexos e o outro é à direita, que vai até o muro da quadra. Com certeza ele foi para a esquerda. Volto a correr e a olhar em todas as curvas, espaços vazios, entradas e portas por onde passo – nenhum sinal do moletom azul.

Escuto passos apressados na minha direção, por conta do eco não consigo definir de qual direção eles veem. Meu coração acelera e minha respiração se torna ruidosa, olho para todos os caminhos possíveis que chegam onde estou e não vejo ninguém. Os passos estão cada vez mais perto. Minha pulsação está na cabeça. Uma mão toca meu ombro. Os passos cessam.

Grito e viro, trombando com Camila, que também grita diante de minha reação.

– Por que você gritou? – ela arregala os olhos.

– Por que você apareceu do nada? Alguma dificuldade em avisar que se aproxima? – puxo o ar com força para os pulmões.

– Estava tudo tão silencioso que fiquei com medo de fazer barulho e estragar o clima de suspense. – ela dá um sorriso rápido – Achou o cara?

– Ele sumiu e a menina?

– Não tinha menina no banheiro. – ela passa a mão nos cachos – Acho que você estava certa em achar estranho.

– Mas do que adianta? – encaro-a – Não sabemos quem ele é ou o que estava fazendo no banheiro.

– Podemos considerar também que ele pode ser ela.

Franzo o cenho.

– Talvez de relance pareceu ser um cara, mas de perto poderia ser uma menina. – ela dá de ombros – Existe muita lésbica que parece homem.

Ele era um cara, tenho certeza disso. Ou não? Agora que ela comentou na possibilidade dele ser ela, não consigo lembrar de algum traço físico que me fez achar que ele era ele e não ela. Logicamente, não há motivo para um menino entrar no banheiro feminino sem ter algo interessante lá dentro. Camila comprovou que não era nenhum “casal tarado de plantão”. Por que achei que era um menino? Por que estou duvidando de minhas próprias conclusões?

– Não consigo me lembrar. – passo a mão no cabelo – Você lembra de alguma coisa dele?

– Só do moletom azul.

– Eu também. – encaro o chão.

Não é possível. Podia jurar que vi um menino sair do banheiro, mas agora não tenho mais certeza disso.

–Vamos voltar. – dá as costas.

Olho em volta mais uma vez e desisto, acompanhando-a.

– Como foi a festa? – puxo assunto.

– Preciso te contar uma coisa. – ela sorri debilmente.

É sobre o Matthew.

– Diga.

– Eu fiquei com o Matthew. – ela aperta as mãos, freneticamente.

– Falei pra você que ele não te rejeitaria. – sorrio.

Ela suspira.

– Acho que reatamos nosso namoro.

– Por que você acha? – ergo uma sobrancelha.

– Ele não confirmou nada. – ela morde a lateral do lábio.

– Ele te levou pra república?

– Ele dormiu lá.

– Você dormiu com ele? – arregalo os olhos – Não...

– Olha, minha carne é fraca, principalmente quando se trata do Mat.

– Só não cometa o mesmo erro que eu. – advirto.

– Qual?

– O negócio do Malic. – relembro-a.

– Ah sim, interpretar um sexo casual como compromisso. – ela encara o chão – Acho que não estou fazendo isso.

– Você que sabe sobre a relação de vocês, então não vou nem palpitar.

– Para de bancar a irmã mais velha. – ela resmunga – Não quer saber como foi?

– Poupe-me dos detalhes. – sorrio.

Então ela desatou a falar – incluindo até os segundos que passou ao lado dele. Não me lembro de prestar atenção até o final de sua linda história de amor, apenas escutei, mas não absorvi as informações. Sua entonação sonhadora e apaixonada me faz agradecer por tê-lo rejeitado e ao mesmo tempo me faz pensar se eu não o tivesse rejeitado, o que iria acontecer? Será que eu voltaria com o Malic? Ou ao menos voltaria para casa naquela noite? Acho que todas as mínimas decisões que tomamos, até as momentâneas, tem algum tipo de consequência direta em nosso futuro, quase como um efeito borboleta. Ah essa não, a Camila ainda está falando sobre o Matthew, mas acho que não adianta voltar a prestar atenção no que ela está falando agora, não vou entender nada mesmo.

– E foi a hora que eu te liguei. – ela, finalmente, para de falar.

– Hm...

– Você prestou atenção no que eu falei? – ela cruza os braços.

– Lembrei de uma coisa que o Malic me disse, só isso. – sorrio amarelo.

– O quê?

– Sobre o Matthew ter quase matado ele.

Ela revira os olhos.

– Eles nunca se deram bem e o Malic adora fazer papel de vítima, principalmente para dar em cima de garotinhas.

Garotinhas?

– O que você quis dizer com isso ?

– Estou dizendo que você ainda é uma menina bobinha e que ainda não sabe identificar as segundas intenções das pessoas.

– Por que o Malic teria segundas intenções?

– Porque ele é homem e homens tem segundas intenções, principalmente sobre garotas ingênuas como você.

Reviro os olhos.

– Você está falando como a minha vó. – resmungo – Se for pra ficar tacando as coisas na minha cara, melhor nem começar a falar.

Reconsidero em falar que Matthew pediu uma chance comigo.

O sinal toca e nem tenho tempo de encontrar as meninas, vou direto para o prédio.

No final do período, o pessoal marcou de se encontrar em um restaurante, não deixei nada confirmado, pois ainda precisava falar com a minha vó e ver se ela não tinha feito nada de especial para mim.

– Vamos? – Amiony puxa o meu braço.

– Preciso ver se minha vó não fez janta.

– Mas vamos andando ou vai ficar parada aí? – ela continua a me puxar pelo corredor até as escadas.

– Por que você não foi na festa?

– Sai com o Rafa. – suas bochechas ficam vermelhas – Nada demais.

– Vai rolar namoro? – ergo a sobrancelha, sugestivamente.

– Eu não sou de namorar, assim, sabe.

– Não sei. – sorrio.

– Fico nervosa com relacionamentos amorosos e acabo estragando o clima, por isso prefiro nem pensar. – ela dá um sorriso rápido e tímido.

Somos duas.

Assim que saímos do prédio, encontro Malic me esperando encostado no corrimão das escadas, automaticamente Amiony solta a minha mão e desacelera.

– Aconteceu alguma coisa? - me aproximo.

– Não, só vim te ver. – ele passa os olhos por Amiony e depois em mim – Pretendia fazer alguma coisa?

– Íamos jantar com o pessoal. – Amiony responde – Mas se vocês tiverem outros planos...

– Não tínhamos nenhum plano...

– Não, só queria te ver mesmo. – ele passa os dentes pela lateral do lábio inferior.

– Bom, se vocês quiserem ir na pizzaria depois, sintam-se convidados. – ela ajeita a bolsa e volta a descer as escadas.

Continuo parada no lugar, vendo-a ir embora.

– Está afim de sair?

Encaro-o.

–Você falou que não tínhamos planos.

– Agora eu tenho. – ele sorri de lado.

– Onde vamos?

– É surpresa.

– Não gosto de surpresar. – estreito os olhos.

– Que pena. – ele finge lamentar – Ia ser bem divertido.

– Duvido. – desafio-o.

Ele sorri de lado, lascivamente.

– Siga o meu carro. – ele desencosta do corrimão.

Não digo nada, apenas o sigo.

Malic realmente gosta de correr, tive que acelerar mais que o normal para não perdê-lo de vista e para minha surpresa, não fomos para seu apartamento e sim para a ponte que leva para a parte mais rural da cidade – onde fica a casa da minha vó. Ele estaciona no acostamento, faço o mesmo.

– Qual é a diversão aqui? – saio do carro.

– Não é aqui. – ele pega um maço de cigarros do painel do carro – Não é mais de manhã.

Reviro os olhos.

– Aonde vamos? – cruzo os braços.

– É só me seguir. – ele caminha na direção da trilha.

Ah, ele só pode estar brincando comigo, não vou entrar nesse lugar a essa hora.

– Malic. –chama-o – Não vou entrar aí.

– Tem medo? – ele para na entrada.

– Claro que não. – solto o ar dissonante – Só não acho legal andar em um lugar desses à noite.

– É igual andar de dia, nada de especial. – ele entra na trilha e sua silhueta some no meio das escuridão.

Caminho até a entrada.

– Estou indo embora. – aviso.

Não tenho nenhuma resposta.

Uma mão surge da escuridão e puxa o meu braço, me arrastando para dentro. Dou um grito agudo e tropeço em meus pés.

– Vamos lá, será divertido. – ele diz, com o cigarro entre os lábios.

– O que vamos fazer? – insisto.

– Só vai saber quando chegar a hora. – ele acende o cigarro.

Engulo em seco e sinto um aperto no meu peito. Não tenho um bom pressentimento sobre isso.

É quase impossível se localizar nessa trilha no escuro, parece que estamos andando em círculo; as árvores têm as mesmas formas, os animais produzem os meus sons, o caminho sempre continua em linha reta.

– Agora viramos aqui. – ele sai da trilha e entra na mata.

– Você só pode estar brincando. – falo, incrédula – Não vou entrar ai nem ferrando.

– Está com medo do que? – ele continua caminhando.

– Vai saber qual louco que anda por aí. – olho em volta.

– Nós. – ele ri.

– É sério.

Não escuto mais seus passos. Meu coração para.

– Malic?

Sem resposta.

– Se você quer me assustar, está conseguindo. – informo.

O silêncio continua palpável.

– Olha, eu vou embora.

Rodo em torna de mim mesma e tento localizar o caminho que volta para a estrada. Meu senso de direção é péssimo e não sei mais por onde viemos e para onde eu volto.

– Malic, não estou brincando. – falo, séria.

Escuto passos atrás de mim, um nó se forma na boca de meu estômago. Avanço na direção que Malic andou e aperto o passo, os passos parecem ter parado. Olho para trás e não vejo nada além de árvores.

– Malic, é sério.

Odeio essas brincadeiras idiotas de assustar, sempre eu sou a pessoas assustada que quase morre no coração.

– Se você não aparecer agora, vou ligar para o polícia. – ameaço.

Pego o meu celular do bolso e noto que não tenho sinal aqui. Ótimo. Continuo caminhando mais devagar ao notar que não há mais passos.

Freneticamente, não sei mais para que lado olhar – tento olhar para todos ao mesmo tempo e me preparar para o susto que ele está tentando me dar. Os passos retornam – depois de esmagar algumas folhas secas, meu corpo desperta em um impulso. Corro, sem nem fazer ideia para onde estou correndo.

Mantenho a boca entreaberta para respirar melhor e desvio de raízes e galhos. Não consigo escutar os passos devido a minha pulsação alta, porém, continuo correndo. Quero gritar por Malic ou mandar ele parar com essa palhaçada, mas não tenho saliva ou voz. Apenas corro.

Uma sombra preta se forma a minha frente, não tenho tempo de parar e me choco contra ela. Braços fortes me enlaçam. Grito e debato-me.

– Ei, calma. – ele sussurra, mansamente.

Desvencilho-me de seus braços.

– O que você estava pensando? – dou um soco em seu ombro.

– O quê?

Não consigo ver a expressão de seu rosto devido a escuridão.

– Se esconder de mim no meio dessa mata, eu podia ter me perdido ou me machucado.

– Não achei que fosse te assustar tanto.

– Primeiro você some, depois fica me perseguindo no escuro e por um milagre, aparece na minha frente e me agarra. – falo, séria – Isso não é brincadeira, é tentativa de homicídio.

Ele ri.

– Mas eu não estava correndo atrás de você.

– Como não? Escutei seus passos.

– Estava ao seu lado, o tempo todo.

Olho para trás novamente. Os passos viam por trás ou pelo lado?

– Vamos – ele pega na ponta de meus dedos -, estamos quase lá.

– Estou cansada disso, vamos voltar. – hesito.

– Está logo ali na frente.

Olho para o relógio do celular, ainda são 18:20.

Mais alguns minutos de caminhada e chegamos a uma pequena cachoeira. Cercada pelas árvores e por pedras, ela mergulha na imensidão negra. Há um pequeno barranco nos separando dela.

– Tem uns degraus ali na frente. – ele indica.

Caminhamos pela lateral do barranco e ao longe posso avistar a ponte.

– Como descobriu esse lugar? – seguro na barra de sua camiseta para evitar um tombo.

– Nós fazemos festas aqui.

– Nós?

– Eu e meus amigos. – ele me espera para começar a descer.

– Hm... – comprimo os lábios.

Estranho eles procurarem um lugar assim para dar festas. Não. Não é estranho dar festa em um lugar assim, o estranho é ele e os amigos dele andando pela reserva procurando um lugar assim. Que tipo de cara sai com os amigos para procurar uma cachoeira?

– Achou por ou sem querer?

– Um pouco dos dois. – posso sentir seu sorriso – Estávamos procurando um lugar para fumar e acabamos encontrando a cachoeira.

Por que fumar tão longe?

Enfim chegamos no nível da cachoeira. O barulho da água é tranquilizador. Ando hesitante por cima das pedras até chegar na beira do pequeno lago e sento. Malic fica ao meu lado e começa a tirar a roupa, ficando apenas de cueca.

– O que você está fazendo? – questiono.

– Um strip-tease para você. – ele me lança uma piscadela.

Rio.

– Esse foi o strip-tease mais mal feito que eu já presenciei. – rebato.

– Hm... Onde andou vendo tanto strip-tease? – ele me encara de canto de olho.

– Não posso informar a identidade dos meus garotos.

Ele sorri de lado.

– Vai entrar?

– Estou bem aqui. – dispenso.

Caminhando vagarosamente, ele vai entrando no lago até a altura da cintura, então vira e me encara. Dou um rápido sorriso e ele continua a ir mais para o fundo, quase chegando na queda d’água.

– Para onde vai essa água?

– Ela desce por ali – ele indica o caminho de pedras por onde a água escorre – e vai parar no lago embaixo da ponte.

Observo o caminho e depois ergo o olhar para a ponte. Consigo ver os carros, mas eles não conseguem me ver.

A movimentação de Malic na água me faz olhar novamente para o lago.

– Entra. – ele pede.

– Está muito gelada?

– Defina gelada para você. – ele inclina a cabeça.

Sorrio e levanto.

Retiro minha blusa e abro o botão de minha calça, balanço o quadril para conseguir retirá-la e depois retiro meus sapatos. Respiro fundo e me aproximo para o primeiro contato com a água.

– Cacete. – sussurro e prendo a respiração. A temperatura fria faz todo o meu corpo se arrepiar.

– Vai arregar? – ele se aproxima.

– Não.

Prendo meu cabelo em um coque e vou entrando vagarosamente.

– Não tenho coragem de molhar minha barriga. – paro assim que água toca em meu quadril.

Ele não diz nada, apenas chega mais perto. Fico parada, esperando pelo contato de seu corpo no meu – e esse contato tarda a chegar. Ele ergue a mão a cima de meu ombro e gotas de água pingam de seus dedos e escorrem por meu braço.

– Estou com frio. – abraço meu corpo.

– Posso tentar te esquentar. – ele fala, sugestivamente.

Rio.

– Você está mais gelado que eu.

– Hm... – ele estica o braço e passa por minha cintura, me puxando.

Acaricio seu rosto.

– Seus lábios estão roxos. – passo o polegar por eles.

– Estou morrendo de frio. – ele sorri.

– Posso tentar te esquentar. – repito, em um sussurro.

– Adoraria que você tentasse. – ele murmura, contra meus lábios.

Passo, levemente, meus lábios sobre os dele. Seus lábios estão gelados. Coloco uma mão em cada lado de seu rosto e início o beijo; sem pressa. Ele mantém suas mãos em minha cintura. Meu coque desmancha e as pontas de meu cabelo molham. Meu corpo vai acostumando com a temperatura da água.

Afasto o rosto e mordo o lábio inferior. Os olhos amarelos estão fixos em mim.

Ele inicia o beijo dessa vez, escorrego minhas mãos para seu cabelo e deixo meu corpo mais perto do seu.

Desisto de lutar em ficar dentro da água e resolvo sair, Malic arrisca alguns mergulhos, mas também tem o mesmo fim que o meu; deitado na pedra.

– Quando vamos falar para minha vó? – passo os dedos de leve em seu peito.

– Quando você quiser.

– O que vamos falar? – questiono.

– Que temos um caso.

Fecho os olhos.

– Mas ela não gosta de você – murmuro – e se ela for grossa?

– Você gosta de mim?

Abro os olhos e descanso a mão em seu peito.

– Sim.

– Então é isso que importa para mim, você e não ela.

Sorrio.

Procuro por meu celular para ver as horas.

– Já que voltar? – ele acaricia meu ombro.

– Por favor.

Levantamos e começamos a nos trocar, enquanto coloco minha calça, olho para as árvores e noto, bem no meio delas, uma cabana. Um baque passa por meu corpo.

– Acho que temos companhia. – murmuro.

Malic olha na mesma direção que eu.

– Uma cabana? – ele franze o cenho – Nunca tinha visto ela.

– Você faz festas aqui e nunca a viu?

– Se vi, passou despercebido. – ele dá de ombros - Vamos lá. – ele termina de colocar a roupa.

Ah, por favor.

Ele realmente vai até a cabana, fico sozinha na cachoeira e tenho a estranha sensação de estar sendo observada.

A sensação começa a ficar incomoda, chegando ao ponto de me convencer a ir atrás do Malic na cabana. Subo o pequeno barranco com cuidado, caminho me guiando pelo telhado velho da cabana.

– Malic. – chamo-o assim que chego em frente a varanda de madeira velha.

– Não tem nada aqui dentro. – ele abre a porta – Eu conheço esse lugar.

– Por um passe de mágica você se lembrou? – coloco as mãos no quadril.

– Não, os meninos comentam daqui.

– Comentam o que?

– Que era aqui que eles traziam as meninas durantes as festas lá embaixo.

– Trazer menina aqui pra quê? – inclino a cabeça.

– Adoro sua inocência. – ele sorri.

Um estalo me faz entender a situação.

– Ah, que nojo. – faço uma careta – Sério que algumas meninas se sujeitam a isso?

– Pois é. – ele encosta na parede – Quer entrar?

– Não.

– Podemos nos esquentar aqui dentro.

– Credo.

Rimos.

Subo os primeiros degraus para a varando e encosto na pequena mureta, em frente ao Malic. Posso ver o lado de dentro e como ele disse: não há nada lá. Passo os olhos rapidamente pelo chão coberto com algumas folhas e noto um pequeno volume. Forço mais a visão e percebo ser uma blusa.

Desencosto da mureta e entro na cabana, caminho diretamente para a blusa jogada no chão. Agacho e pego-a. Um moletom azul. O flash em minha mente me faz relembrar o suposto menino saindo do banheiro feminino usando um moletom como esse.

Jogo o moletom longe e levanto em um salto.

– Vamos embora. – puxo Malic pelo braço.

– O que aconteceu? – ele franze o cenho e olho para trás.

– Temos que sair daqui. – falo, urgente.

O pânico se entranha em meu âmago, sinto vontade de vomitar e minhas pernas ficam moles. Os passos voltam a perturbar minha mente.

– Você está escutando os passos? – pergunto, ofegante.

– Só se for os seus.

Olho me volta e as sombras começam a me confundir.

– Ele está aqui.

– Ele quem? - Malic hesita, puxando o braço.

A resposta grita em minha cabeça: o Lobo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!