Intuição escrita por TheEpic


Capítulo 20
Quando se procura no céu. [FINAL]


Notas iniciais do capítulo

Desejo a todos uma boa leitura. ♥



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O corredor das masmorras da Akatsuki estava pouco iluminado e cheirava a umidade e mofo, a ponto de Sakura não conseguir conter os protestos que o próprio nariz fazia. No entanto, mesmo que ela quisesse sair daquele lugar o mais rápido possível, seus pés a levavam cada vez mais fundo naquele lugar. Um cheiro fétido adentrou por suas narinas, mas ela prosseguiu.

O mau cheiro ficou cada vez mais forte, mais próximo, na última cela do corredor. E quando Sakura finalmente chegou até lá, soltou um grito apavorado, o estômago se embrulhando e a náusea tomando conta de todo o seu corpo. No chão de pedra, o corpo de Deidara jazia morto há o que aparentava ser dias. A pele sem cor alguma, os olhos abertos, o corpo completamente inchado e cheio de marcas de uma morte lenta e dolorosa.

E era tudo por culpa dela. Foi ela quem o fez acabar daquele jeito, que o fez se arriscar tanto por ela e ter aquele fim. Deidara estava morto e tudo era culpa dela…!

― Exatamente. A culpa é sua ― uma voz grave respondeu o que ela disse em pensamento. Um arrepio subiu por sua espinha e ela se virou. A máscara laranja não repousava no rosto de Madara Uchiha, que não deu tempo suficiente para ela poder estudar sua face revelada. Aquele rosto nojento, repulsivo e de um cadáver apodrecido.

Uma espada foi tirada da bainha e cortou o ar em direção ao seu pescoço.

#

Sakura despertou a tempo de reprimir o grito na garganta. Com um movimento brusco, se sentou no colchão e a respiração ofegante foi alta o suficiente para acordar Naruto, que havia adormecido no sofá do quarto luxuoso.

― Sakura-chan? Está tudo bem? ― ele perguntou assustado ao ver o estado da amiga.

― Está, só um sonho ruim ― ela respondeu ― você ficou aqui o tempo todo enquanto eu dormia?

― Você dormiu enquanto conversávamos. Parecia estar exausta depois de comer. ― Ele coçou a nuca, encabulado. ― E eu fiquei porque eu estava com medo de você sumir de novo se eu virasse as costas. Me desculpe.

― Está tudo bem. ― Por dentro, ela também estava feliz em saber que não estava sozinha. No entanto, a sensação de vazio era horrível. Acordar depois de um pesadelo e não ter o seu Deidara a acalmando deixava-a extremamente infeliz.

Pensar no loiro a fez se lembrar do sonho de minutos atrás, o que não ajudou em nada a desacelerar as batidas de seu coração; mas o pior de tudo era saber que aquilo que sonhara podia ser verdade, poderia estar acontecendo. Tudo por ela.

E saber que ela não poderia mais acordar ao lado dele todos os dias, rir das coisas mais bobas e brigar pelas coisas mais bobas ainda, sentir o seu cheiro, segurar suas mãos ou ver o seu sorriso torto partia o seu coração que havia acabado de ser colado pelas pessoas que amava em Konoha. O baque da situação demorou a acontecer, mas ali estava ele e agora ela não conseguia segurar o choro na frente de Naruto.

A respiração voltou a ficar ofegante, dessa vez pela kunoichi tentar conter os soluços que viam junto com o choro. Naruto, mais do que imediatamente, correu para sentar-se ao seu lado na cama. Ele não perguntou nada, mas sabia que ela chorava pelo passado; entretanto, o passado era menos pior do que ele imaginava.

Nenhum dos dois falou nada, mas quando Sakura conseguiu conter o próprio choro, se viu abraçada ao colo de Naruto, da mesma forma que fazia com Deidara. E ela precisava pensar em outra coisa rápido antes que voltasse a chorar.

― Naruto… ― ela o chamou ― eu soube lá dentro que você carrega o espírito da Kyuubi dentro de você… Eu sinto muito por nunca ter percebido antes.

― Está tudo bem, Sakura-chan. ― Ele sorriu para reconfortá-la. ― Eu não gosto de ficar contando por aí.

― Mas mesmo assim! Eu finalmente entendi porque todos te tratavam mal até alguns anos atrás, e eu me sinto tão mal por ter seguido a multidão sem saber o real motivo para tudo aquilo… Me desculpe, Naruto.

― Isso não importa. Você me enxergou como eu realmente era e eu sou incapaz de contar todas as vezes que você me apoiou, torceu por mim ou se preocupou comigo. Você, junto ao Iruka-sensei e ao restante do nosso time, foram meus primeiros amigos, os primeiros que me mostraram como a vida pode ser boa. ― Ele acariciou o topo da cabeça cor-de-rosa. ― Então esquece tudo que está pra trás, ok?

Sakura não se conteve e chorou mais uma vez, da mesma forma que chorava quando tinha doze anos. O colo de Naruto, tão quente e acolhedor, dava a ela a sensação de ter nascido não pela segunda, nem terceira, mas pela quarta vez.

A segunda vez que nasceu foi na Floresta da Morte, quando lutou para proteger Naruto, Sasuke e Lee. Quando entendeu que precisava ser uma kunoichi e humana melhor. Quando as coisas mais sutis se tornaram as mais importantes, e cada amizade, conquista, erro e melhora passaram a ser guardadas como tesouros valiosos.

A terceira vez foi meses antes, no teto do prédio mais alto de Amegakure com Deidara, uma garrafa de bebida e conceitos demais começando a ser mudados em uma noite. Os conceitos que viriam a amadurecer dia após dia, revelando um novo mundo a ela, o outro lado do inimigo, concedendo-lhe amigos importantes e fazendo-a descobrir o que é ter um amor recíproco.

E agora, ela renascia pela quarta vez. Surgia, de dentro de um coração partido, uma Sakura Haruno inteiramente diferente. Pronta para, ao lado de seu raio de sol, deixar de confiar tudo a ele e mudar o mundo ninja. Pronta para fazer justiça a quem tanto se arriscou por ela. Pronta para espalhar e continuar o legado de Itachi, proteger Naruto de Pain e Madara como pudesse e, acima de tudo, mais pronta do que nunca para trazer Sasuke de volta para suas vidas.

― Ei… ― chamou Naruto ― enquanto eu estava na Akatsuki, eu pensava em você todos os dias, como eu poderia nunca mais te ver, sem saber qual de nós dois morreria primeiro. E eu sempre me arrependi de nunca ter falado para você, para os meus pais, para a Shishou e para a Ino algumas coisas. Eu te direi cada uma dessas coisas com o tempo, mas eu quero que saiba a que mais rodava na minha cabeça. Eu te amo, Naruto. Obrigada por ser o melhor amigo que eu poderia ter.

Naruto ficou calado por um momento, absorvendo as palavras que ele jamais esperava saírem da boca de Sakura. Mas então ele sorriu, por mais que um sentimento triste estivesse evidente nos olhos azuis.

― Eu também te amo, Sakura-chan. Mais do que você imagina.

E por mais que Sakura não entendesse o que ele queria dizer, por mais que os tipos de amor fossem diferentes, ele não se importava no momento. Sua garota estava ali com ele, finalmente, e ele teria todo o tempo do mundo para contar para ela o significado real do “eu te amo” dele; mas por ora, ele se contentava em ajudá-la a recolher os pedaços do que estava quebrado dentro dela e colar tudo mais uma vez, como já fizeram um pelo outro tantas vezes.

 

~~~~~~~~#~~~~~~~~

 

Uma estação tinha se passado e Konoha não havia mudado. Por mais que fosse outono, o calor ainda castigava os que tinham coragem suficiente de se expor ao sol. A tendência de moda ainda era a mesma. Aquela banda de meninos bonitos ainda era a sensação do momento e nada que afetasse Konohagure havia acontecido. Exceto pelo triunfo da volta de Sakura Haruno.

No dia seguinte a sua volta, Mebuki e Kizashi se reuniram com a filha desaparecida, evidentemente magros e abatidos com a perda dela por tanto tempo. Com o tempo, a vida em casa voltava aos eixos e a relação entre a família Haruno, antes complicada, não parecia poder ficar melhor.

Ao receberem a notícia do retorno da iryou-nin e se encontrarem com ela, seus amigos tiveram reações diferentes. Hinata não conseguia conter o choro tímido de alegria, Tenten sorria de orelha a orelha, Ino teve um aumento brusco de pressão e precisou ser levada ao hospital em meio aos prantos emocionados e escandalosos (Sakura, obviamente, ficou ao seu lado o tempo todo, aguentando a gritaria de Ino como uma boa amiga faria), Chouji e Shikamaru a levaram para comer churrasco por conta dos dois e, quando Tenten e Neji ficaram a sós com ela, conversaram sobre Lee.

Uma pessoa nova no círculo de amizades da menina era Sai. Ficou surpresa ao ver a evolução do garoto durante os meses ausente de Konoha; ele ainda tinha problemas em se expressar e interpretar situações e a falta de tato ainda estava lá. No entanto, ele compreendia muito mais o que era amizade, sentimentos e parecia valorizar cada momento que passava com seus novos amigos como se fosse a última vez. Não demorou muito para que ela se afeiçoasse ao novo colega e logo os dois se tornaram amigos próximos, sendo confiados a ela os maiores segredos e inseguranças do artista. Sai era uma pessoa que precisava de paciência, aprendizados por meio dos erros e de alguém que entendesse o que se passava quando ele não estava com os colegas; Sakura era a pessoa que, por incrível que parecesse aos olhos de todo, fornecia todas essas coisas a ele.

Não era mais permitida de deixar os portões de Konoha por motivos de segurança, mas havia retornado ao seu cargo no hospital e fora recebida com aplausos dos colegas de trabalho no momento em que pisou na entrada do grande prédio, com uma calorosa recepção vinda de cada um deles. Também começou a treinar genjutsu com Kakashi e Kurenai, ao mesmo tempo que procurava aprender mais com Tsunade sobre seu Byakugou e melhorar as habilidades antigas. Sua mestra ainda tinha muito a ensinar, afinal.

Quanto a Tsunade, sua pupila eventualmente confidenciou a ela informações sobre o selo de Itachi e o objetivo em comum que os dois tinham: salvar Sasuke. Elas sabiam que o confronto entre os dois irmãos, considerando o tempo de vida restante de Itachi, não tardaria, e elas estavam se preparando para a chegada do momento, no qual Sakura seria permitida sair de Konoha e todas as suas ordens em relação aos membros da Akatsuki deveriam ser seguidas pelas pessoas de seu futuro esquadrão.

Ela também contou sobre o relacionamento com as pessoas da Akatsuki em detalhes superficiais, mas deixou claro que poucos eram leais à causa da organização e que sempre trataram-na bem, sendo até amigáveis. Foi uma decisão boa, porque impulsionou a crença de Tsunade de que Sakura seria capaz de liderar a próxima busca a Sasuke Uchiha.

As mudanças na personalidade dela eram bem visíveis a todos que a conheciam bem antes do rapto, e não era surpresa para ninguém que tal coisa tivesse acontecido, visto os momentos que passara dentro da Akatsuki. Ao mesmo tempo que ela estava muito mais descontraída e valorizando todos os momentos em que estava com seus amigos, perdendo boa parte da personalidade altiva que carregava desde a época de Academia, também parecia muito mais madura. Julgava menos, ouvia muito mais do que falava e, em vários momentos, por mais que ela jamais percebesse, era pega olhando para o céu, esperançosa, como se procurasse algo.

E ela procurava. O tempo todo, ela procurava por uma massa branca movimentando o que pareciam ser asas, igual a que ficou em cima tantas vezes. O sol podia cegá-la, a chuva podia encharcá-la e o escuro podia fazê-la deteriorar a visão, mas ela ainda procurava.

O selo de Itachi atrás da orelha nunca fez alguma coisa. Nunca formigou, doeu ou chegou a transmitir qualquer sensação, e aquilo agoniava Sakura a cada dia que se passava. A cada dia sem notícias, sem uma confirmação de que todos estavam bem, de que tudo que passaram nos seus últimos dias da Akatsuki valeram a pena para eles também, deixava o seu coração cada vez mais pesado, de uma forma que nem Naruto, Ino, Tsunade ou Sai pudessem deixar mais leve.

E ela sonhava com ele toda noite. Com os momentos deitados na cama dele ou dela por horas enquanto não faziam nada além de aproveitar a simples presença um do outro. Com os beijos, todos eles, os lentos e os apaixonados e os excitados e os que tinham sorrisos e risos no meio. Com o cabelo dourado e os olhos cor do céu, o sorriso torto e os “hm” que ele dizia na voz grave.

Com os dois juntos, em uma casa nos subúrbios de Konoha, e seus pais os visitando para um jantar com o propósito de comemorar absolutamente nada. Com ela acordando todos os dias e vendo a cabeleira loira descontrolada por toda a cama, com duas escovas de dentes no banheiro, com muitas brigas e reconciliações ardentes logo em seguida. Com sapatinhos minúsculos na entrada da casa e uma réplica perfeita de Deidara nos braços fortes dele, sorrindo um sorriso que, daqui uns anos, ficaria idêntico ao do pai.

Então Sakura acordava todas as manhãs. Ela abria os olhos, se situava no seu quarto de solteira na casa de seus pais e se levantava para mais um dia. Ela trabalhava, saía, comia, treinava. Um dia de cada vez, esperando notícias de uma Akatsuki em hiato aparente.

O tempo pareceu voar e o inverno chegou, trazendo consigo uma diminuição quase mínima no calor, que seria constante para sempre no País do Fogo. E ela continuou sua rotina. Treinava, trabalhava no hospital, passava tempo com os amigos, reservava horas da semana com a família, estudava.

Foi em um fatídico dia de Janeiro, mais gelado que os outros que vieram anteriormente, que Sakura recebeu uma visita.

Não foi um dia fácil, ela havia trabalhado incansavelmente para salvar um senhor de uma parada cardíaca fulminante. Ele não resistiu. Médicos precisam aprender a lidar com a morte e que nem sempre é possível salvar a todos, mas era impossível que a morte não a afetasse e destruísse o restante do seu dia, que foi passado trancada em seu quarto lendo qualquer coisa que a distraísse.

Até que ouviu o baque surdo de algo pousando no peitoral da sua janela. Mal acreditou em seus próprios olhos ao ver uma criatura que imitava um pássaro, inteiramente branca e, antes que ela pudesse tocar na argila, o pássaro explodiu.

O que sobrou da explosão foi um recipiente de vidro de tamanho pequeno e que estava dentro da argila explosiva. Tinha um papel dentro e, com as mãos tremendo violentamente, Sakura tirou a rolha que fechava o vidro e retirou o papel.

 

Estamos todos bem, fui punido pela sua fuga mas agora está tudo bem comigo. Zetsu está vivo e Madara está irado. Acho que o Líder está notando que ele tem algo de errado.

Sinto sua falta todos os dias da minha vida. Você fazia minha existência fazer sentido, e ainda vou te encontrar mais uma vez. Na próxima, não vou te deixar ir para longe de mim tão fácil assim.

Espero que sonhe comigo todas as noites, porque eu sonho com você. Ainda vou tornar os sonhos realidade. Nunca te disse isso, mas sei que não é tarde para dizer que eu te amo.

— D.

 

Sakura não chorou, porque a explosão de sentimentos bons dentro de si não permitia. Deidara estava vivo, estava bem. E ela também o amava. Amava com cada fibra de si.

Com muito cuidado, como se o papel fosse desaparecer de suas mãos, dobrou-o e colocou-o embaixo da Sakura de argila que Deidara havia feito para ela. E, se ela pudesse respondê-lo, diria que ela jamais iria para longe dele uma outra vez em sua vida. Que eles iriam se encontrar, arrumar uma maneira de cruzar os caminhos que seguiam direções diferentes; se darem mais uma chance de serem felizes, verdadeiramente felizes. Não como Deidara da Akatsuki e Sakura de Konoha, mas apenas como Deidara e Sakura. E algo dentro dela ardia furiosamente, sentindo e sabendo que sim, um dia estariam juntos mais uma vez.

Naquela noite Sakura não olhou o céu, porque havia encontrado o que tanto procurava.


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Notas finais do capítulo

E, depois de dois anos e meio, chegamos ao fim de Intuição. Tantas coisas aconteceram nesse período que eu não me lembro nem da metade. Passei por diversas coisas boas e ruins, por processos de amadurecimento, por dificuldades e momentos de alegria. E os capítulos dessa história mostram toda essa evolução que eu tive como escritora e como pessoa.

Eu queria agradecer muito a vocês, leitores. Alguns que nunca deram as caras, outros que estão desde o início, muitos que chegaram no meio e os poucos que vieram no fim. Todos vocês têm um valor imenso para mim, me acompanhando e me fortalecendo para continuar a escrever, me motivando a terminar uma história, o que é uma coisa extremamente difícil para um escritor de fanfics.

Mas ainda não acabou! Teremos um epílogo com duas partes porque precisamos de uma conclusão para o nosso casal incomum, não é mesmo? Eu ainda estarei aqui mais uma vez antes de nos despedirmos oficialmente de Intuição, e então finalmente poderemos dizer adeus.

Até breve e obrigada por lerem Intuição. ♥



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