Capítulo 15– De Verdade (Epílogo)

Segundo Rachel, ficou claro o que tinha acontecido durante a captura à bandeira (da qual devemos a vitória a Travis) depois que saímos da floresta juntos.

Bem, não é como se as pessoas realmente tivessem muita privacidade nesse acampamento, então não faz muita diferença.

De toda forma, o que importa é que dois dias depois do jogo, nem uma única pessoa em todo o Acampamento Meio-Sangue estava desprovida da informação de que Percy Jackson e Annabeth Chase estavam juntos de novo. Para a maioria dos campistas, a notícia não parecia novidade. Mas a coisa toda tinha uma grande diferença para nós dois: dessa vez, a gente não estava mais fingindo. E sinceramente, era bem melhor assim.

– Ei, Percy. – eu disse, quando estávamos sentados no píer do lago de canoagem, só aproveitando o silêncio.

– Hum. – ele respondeu, parecendo meio desligado.

– Eu tava pensando... Eu acho que a gente devia contar pra todo o mundo, ou pelo menos aos nossos amigos, a história toda, sabe? Desde o começo?

– Unhum. Você que sabe. – ele falou, distraído – Pode ser.

– E eu também acho que o Matt merece saber. E é melhor que ele ouça da minha boca.

Os ombros e a expressão dele se enrijeceram à menção do filho de Apolo, mas ele aparentemente tentou permanecer indiferente:

– Tá, claro. Tanto faz.

Eu não pude evitar cair na gargalhada.

– Ciúmes, Cabeça de Alga? – provoquei.

– Nos seus sonhos, Sabidinha. – ele retrucou, com um sorriso presunçoso na cara.

Que lhe rendeu uma queda bem feia no lago.

O que eu posso dizer? Vingança é vingança.

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Eu tinha certeza de que aquilo não seria nem um pouco agradável.

Quer dizer, eu e Matt basicamente não nos falávamos desde o dia em que eu o havia “dispensado”. Não que eu fosse a favor disso, claro, já que eu preferiria que a gente mantivesse “relações amigáveis”.

Mas bem, parece que não se pode ter tudo na vida.

Todos concordavam que tinha alguma coisa rolando entre ele e a tal da Skyler, e eu não estava com saudades dele nem nada do tipo, mas seria legal se a gente se falasse um pouco mais.

– Matt? – eu chamei, durante a aula de arco e flecha do dia seguinte à minha conversa no lago com Percy, enquanto puxava a corda do arco.

– Hum? – ele respondeu, abaixando o arco, no exato momento em que a minha flecha acertava o alvo no peito do boneco de palha.

– Eu queria falar com você. – eu falei e abaixei o arco também, já que eu sabia que a coisa ia ser um pouco (muito) complicada.

Ele só me olhou, na expectativa de que eu dissesse alguma coisa.

– Ahn, eu tenho que te contar uma coisa que eu acho que você não vai gostar muito. Mas eu quero que você tenha em mente que eu não te conhecia direito, que eu não faria isso de novo e que aquelas cantadas eram muito irritantes, ainda mais porque você não me conhecia e não largava do meu pé e... Bem, é melhor eu acabar logo com isso. Quando eu comecei a namorar com o Percy pela primeira vez, no início do verão... Na verdade eu pedi a ele para fingir que a gente tava junto. – eu olhei para ele, esperando uma reação, mas o filho de Apolo só ficou me encarando, incrédulo por um minuto inteiro.

– Eu era tão irritante assim? – ele perguntou, finalmente.

– Bem...

– Certo. Me desculpe por isso. – ele disse.

– Não, Matt, de jeito nenhum. Eu é que peço desculpas. Eu... Eu sei que eu não devia ter feito isso, que não era a melhor forma de resolver, mas... eu não sei, acho que me pareceu a única opção na época. Mas não me orgulho disso, e não faria de novo. E eu entendo se você não quiser falar comigo nunca mais ou algo assim, mas... Eu queria que você soubesse que eu realmente sinto muito.

– Quer saber de uma coisa? – ele comentou, quando eu terminei de falar.

– O quê? – perguntei, finalmente, verdadeiramente curiosa. Quer dizer, a única reação possível que se passava pela minha cabeça era... Bem, na verdade eu não fazia ideia do que ele poderia dizer.

– Eu acho que a gente começou da forma errada. – foi a resposta dele – Bom, eu não posso dizer que não me importo com isso. É bem, ahn, difícil de absorver, por isso... Oi. Eu sou Matt Morrison. E você é...? – ele disse, de uma forma meio brincalhona, estendendo a mão.

– Annabeth Chase. Você é novo aqui? – continuei, entrando na brincadeira.

– Na verdade, sou.

– Se importa se eu te mostrar o lugar?

– Isso parece ótimo. – ele disse, e, com isso, guardamos nossos arcos e saímos pelo Acampamento, enquanto ele fingia que não conhecia o local.

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

– E aí? – perguntei, quando me encontrei com o Percy cerca de meia hora depois do meu “passeio” com o Matt.

– Falei com Grover. – ele disse, descontraído.

– E ele?

– Aceitou numa boa. E entendeu que a gente tinha que falar para o mínimo de gente possível. Mas disse que preferia que a gente tivesse contado pra ele.

– Um a menos com quem se preocupar.

– Por quê? O que você acha que Matt vai fazer?

– Não sei. – falei, pensativa – Contar pra Skyler, ou alguém do tipo. Mas acho que a gente meio que fez as pazes. O que a gente faz se todo mundo descobrir? Não vão, tipo, nos odiar, vão?

– Acho que não. Mas eu prometo que eu não vou te odiar.

– Ah. Eu gosto de como isso soa.

Eu tentei pensar sobre as consequências das ações de Matt, nos minutos seguintes.

Mas acho que estava ocupada demais.

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

– EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU!! – Thalia gritou, no meio do Central Park, e começou a me bater quando eu mencionei descontraidamente que da última vez em que ela tinha estado no Acampamento, eu e o Percy não estávamos realmente namorando. Só que eu fui atacada antes que pudesse explicar melhor. Mas eu sabia que ela não estava chateada de verdade. Já faziam quase dois meses desde quando eu tinha começado a namorar o Percy de verdade, e eu tinha marcado para me encontrar com Thalia porque ela estava na cidade – Mas enfim, e aí, todo mundo descobriu?

– Bem, sim. – respondi – Até onde eu sei, o Matt contou para a Skyler, que é uma filha de Afrodite que chegou esse verão. Eles começaram a namorar em agosto, acho. Aí, parece que ela falou pra Katie, que, claro contou pro Travis... E aí, já sabe né?

– Claro. Levaram na boa?

– Anhan.

– Mas eu tô feliz por vocês. – ela disse – Cadê o Percy, afinal? Ele disse que iria estar aqui às cinco horas. Já são cinco e quinze.

– Eu não sei. Deve ter acontecido alguma coisa.

– Só, por favor, façam o favor de se comportarem.

– O que você quer dizer com... Ah. Não garanto nada. – falei, provocando.

– Oh, não. Hoje é pelos velhos tempos.

– Claro que sim. E, como nos velhos tempo, o pateta obviamente está atrasado. – comentei, quando vi um Cabeça de Alga suado vir correndo em nossa direção.

– O quê, você não esperava que ele chegasse na hora, esperava? – ela provocou.

Estávamos as duas rindo quando ele finalmente nos alcançou e parou na frente do banco no qual estávamos sentadas, com as mãos apoiadas nos joelhos.

– Eu acho... que estou... um pouquinho atrasado. – ele disse, ofegante.

– Só quinze minutos, Cabeça de Alga. – brinquei – Não acho que tenha sido seu pior dia.

Ele apenas assentiu com a cabeça, cansado.

– Paul estava com o carro, então eu tive que vir de metrô. – ele fez uma pausa para recuperar um pouco do fôlego – Só que estava mais cheio do que vocês imaginam. E, aparentemente, o ar condicionado quebrou. E eu tive que correr por todo o Central Park até achar vocês, para tentar chegar o mais cedo possível.

– Acho que você está exagerando sobre a parte de “correr por todo o Central Park”, Percy. – comentei.

– Talvez um pouquinho. – ele admitiu.

– Então, não vai falar comigo, Jackson? – Thalia interrompeu.

– E aí Grace, como vai? – ele perguntou – Acho que você não vai querer um abraço, não é mesmo? – provocou, abrindo os braços.

– Eca. – ela respondeu – Bom trabalho, Percy. Pelo menos assim acho que consigo manter vocês dois afastados.

– O pior é que eu tenho que te dar razão. – concordei, antes de começarmos a rir da cara que Percy fez ao ouvir a minha afirmação.

– E então? – Thalia perguntou, se levantando, depois que nos acalmamos – Quem topa um milk-shake? Parece que vocês dois têm muita coisa para me explicar.

E assim, nós três começamos a andar em direção ao Starbucks.

Porque a verdade é que nós tínhamos, mesmo, muita coisa pra explicar.

“We found wonderland,

You and I got lost in it and

We pretended it

Could last forever, yeah;

We found wonderland,

You and I got lost in it and

Life was never worse but never better, yeah.”

Wonderland- Taylor Swift