Garoto de Papel (Hiato) escrita por Risoto


Capítulo 8
Maconha e sorvete, participação do Trio Napolitano


Notas iniciais do capítulo

*JUROSOLENIMENTENÃOFAZERNADADEBOM"

GENTE ME DESCULPA.
Juro por Deus que foi sem querer. Como alguns leitores sabem, eu fui viajar e tal. Fiquei dez dias lá, seis a mais do que o esperado. Foi de última hora, então não tive como avisar. Por isso eu estava pensando em fazer um grupo no wpp para quem lê, para os avisos de última hora, spoilers e tal. Se acharem uma boa ideia, comentem o seu número ou mandem uma MP.
Bem, depois da viajem eu fiquei com preguiça mesmo. Mil desculpas, mas é verdade. Podem me matar. Eu sou uma péssima autora.
Por fim, dedico esse capítulo à Kat SpaniColunga, que há tempo recomendou a história mas eu sempre esqueci de dedicar um cap para ela. Obg, você me fez mt feliz ♥
Obrigada gente, amo vocês ♥ ♥



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A insônia já me presenteou com muitos capítulos maravilhosos. Não consigo dormir na maioria das noites. Minha cabeça começa a rodar a milhões de quilômetros por hora, com ideias e fragmentos de coisas que um dia podem se tornar uma história. Então eu apenas levanto e escrevo, para aliviar.  

Minha imaginação é muito fértil, mais do que deveria. Me pego imaginando cenas impossíveis e incríveis em situações aparentemente normais, desde Mel e Gui se tornando uma princesa e um cavaleiro da Idade Média, até minha professora de Educação Física dando aulas de esgrima num cenário futurístico. Incontáveis vezes tropecei em meus próprios pés por estar sonhando acordada. Isso me irrita profundamente. 

No atual momento, minha mãe seria uma rainha e Mel, a princesa; eu estou mais para a criada. Estamos saindo de nosso castelo, indo para a Academia Howputh para Moças. A rainha, muito bondosa, exige que a criada da filha tenha uma educação impecável. No caminho, vejam só, esbarramos com um plebeu. Ele está indo para a mesma Academia, que já se transformou numa escola para atiradores de elite.  

Balanço a cabeça. Acho que as noites em claro estão me dando alucinações.  

— Bom dia, Daniel! — Mel cumprimentou, sorrindo, enquanto o garoto trancava a porta de sua casa. Minha mãe para de caminhar até as escadas, então sou obrigada a esperá-las.  

— Bom dia, Melissa! — ele responde igualmente alegre. — Está indo para o colégio também? 

— Uhum, a mãe da Lana nos leva durante essa semana. E pode me chamar de Mel, só minha avó me chama de Melissa. — ela faz uma careta. 

— Prazer, senhora...? — ele indaga, se dirigindo à minha mãe. 

— Nada de senhora, garoto! Sou Ana Luisa. Nada de formalidades, por favor! — eles riem, e eu cruzo os braços sobre o peito. — E essa é minha filha emburradinha, Alana. — bufo alto. 

— Oi. — digo simplesmente. 

— Já conversamos antes, conheço ela. — quero interferir e dizer que ele não conhece absolutamente nada sobre mim, mas fico quieta. Não sei por que estou tão mal-humorada hoje — Eu estou atrasado, então, tchau. Foi um prazer!   

Antes que ele mexa um músculo, minha mãe já oferece carona, incentivada por Mel. Eu só quero ir logo para a escola, porque não estou aguentando ficar em pé na mesma posição. 

Minha curiosidade é hereditária. Só isso que posso concluir sobre o caminho (aparentemente) curto até o colégio. Começou com perguntas leves: 

— Qual seu nome inteiro, Daniel? — “Daniel Lopes Pacheco”. — Quantos anos você têm? — “17”. — Mora sozinho? — “Emancipado há dois meses”. 

Mas as coisas começaram a ficar um pouco pessoais: 

— Oh, mas por que é emancipado? — ele não respondeu essa porque vi que ele não sabia a resposta e tentei desviar o assunto. 

— Mãe, está afogando-o com tantas perguntas!  

— Ah, nem percebi, desculpa! — ela exclamou, sorrindo envergonhada. A luz do sol nascente batia levemente em seu rosto, deixando seus olhos verdes. Raiva da genética. 

— Claro que não, tudo bem! — olhei para trás, onde Mel escutava música encostada na janela e Daniel olhava para mim, a luz do sol clareando ainda mais seus cabelos castanho-claros. Sorri inconscientemente, e ele sorriu de volta. Acho que minha mãe percebeu, pois perguntou: 

— Já que as perguntas invasivas estão liberadas, responda, por favor: já se apaixonou, Daniel? 

Parei de sorrir e virei para frente. Quase me esqueço de respirar. 

Letícia

Será que ele se lembrava dela? A essa altura, já me acostumei com a ideia dele ser o Daniel, e nem parece tanta loucura assim. Talvez só um pouquinho. 

E, se ele era o Daniel, ele sempre foi e sempre será apaixonado por Letícia. Até o dia de sua morte. Mas eu não sei como funciona esse negócio de materialização de personagem. Letícia sou eu; será que ele me amará por consequência?  

Perguntas sem resposta. Paramos na fila de carros e vejo o colégio ao longe. Descemos do carro e nos despedimos de minha mãe. Olhei para Daniel, e ele estava corado. Percebi que não pretendia responder a pergunta de minha mãe. 

É engraçada a forma como Gui nos recebe: primeiro com um sorriso no rosto, que logo se transforma numa expressão de desgosto quando vê Daniel (que, detalhe, está ao lado de Mel. Acho que isso significa "PERIGO!" na língua dos apaixonados).  

— Hey, Guilherme, diga olá ao Daniel! — Mel ordena, com um sorriso falso, depois de um minuto em completo silêncio.  

— Oi. — quanto amor, Guilherme. 

— Oi, cara. — Daniel estende a mão com um sorriso impecável. Merda. Por que ele é tão lindo? 

O que estou pensando? 

Mel também percebeu a tensão básica que se instalou entre os garotos. Sorriu, segurou a mão de Gui e caminhou para longe de nós, me deixando sozinha com a prova viva de minha loucura.  

— O que foi que rolou aqui? Fiz algo de errado? — ele me questionou, com a cabeça um pouco inclinada. 

— Hum, não que eu saiba. Acho que é porque Guilherme é muito ciumento, e você chegou ao lado de Mel e tal. 

— Ah, ele gosta dela? Eles estão namorando?  

— Sim e não. Eles se gostam, mas, segundo cada um, começar um relacionamento poderia “estragar a amizade”. Blé. Frescura, isso sim. — revirei os olhos. 

Ele sorriu levemente, o que me fez corar. Droga, odeio corar, fico parecendo uma palhaça. Abaixei o rosto, tentando esconder o rubor em minhas bochechas. Ele segurou meu queixo e sorriu mais ainda.  

— Seu cabelo é bonito. — e tocou minhas mechas. Involuntariamente levei a mão ao meu cabelo, senti os fios fracos e ressecados presos num rabo de cavalo, e, não sei por que, coloquei minha mão por cima da sua.  

O toque foi mínimo, mas me fez despertar. Afastei-me completamente, mantendo um braço de distância.  

— Discordo. — respondi simplesmente. — Então, você não respondeu a pergunta de minha mãe. Já se apaixonou, Dom Juan? — tentei fazer piada, mas meu coração estava palpitando.  

— Agora é a favor das perguntas invasivas? — ele retrucou, aceitado a mudança de assunto muito bem.  

— Mas é claro. Fiquei curiosa — apoiei-me na parede do pátio, e pude ver Mel conversando com Gui no jardim depois da pequena quadra de futebol. — Anda, responde. — ele riu e se posicionou ao meu lado, o que tornou as coisas mil vezes mais fáceis.  

— Sim, já me apaixonei uma vez. O seu nome é Letícia. Minha amiga de infância. Ela me lembra um pouco você... — ele olhou fundo em meus olhos. Vamos, Alana, inspira, expira, devagar. — E você, já se apaixonou? 

Nem Mel nem Gui sabem da minha dramática cena de infância bem estilo Tumblr “O amor não existe”. Nunca contei para ninguém. Mas quando olhei nos olhos deles, só saiu. 

Contei sobre tudo, desde aquela noite, minha desilusão que durou anos, e minha primeira paixão — O Garoto do Terceiro Ano, que me ensinou que o amor existe, mas não vale o esforço — e meu primeiro (e único) beijo, Arthur.  

Só não mencionei minha história (ou seria a dele?). Ia ser mega estranho. 

Ele era um bom ouvinte. Não falou muito durante a história, só alguns “hum” e “entendo”, para eu saber que estava me ouvindo. No fim, disse: 

— Mas agora você acredita né? No amor, quero dizer. 

Ponderei aquela frase. Sim, eu acreditava. Amor era a única definição possível para o que eu sentia por minha mãe, por Mel, mesmo que não seja o tipo de amor romântico. Mas amar um garoto como uma mulher ama um homem, isso eu nunca senti. Uma paixonite, sim. Amar é um termo muito forte. 

— Sim, acho que sim.  

— Ainda bem. É a única coisa que nos move. — ele falou de forma natural que por um momento me achei uma tonta por não ter acreditado naquilo desde meu nascimento. Filosofar não parecia algo forçado saindo de sua boca, como um adolescente tentando ser legal. Parecia ele. E isso bastava para mim. 

— Vem, o sinal vai tocar. — segurei seu cotovelo e o guiei pelos corredores.  

Nunca me senti tão viva. 

Nunca fiquei tão distraída durante a aula como hoje. 

A frase “Daniel está bem atrás de você, pode muito bem estar olhando para suas costas agora mesmo” ficava martelando minha cabeça. Foi difícil me concentrar.  

Quando o sinal da saída bateu, inconscientemente guardei meus materiais mais devagar. Fechei o zíper ao mesmo tempo que Daniel parava ao meu lado. 

— Veio me esperar, é? — indaguei, sorrindo. 

— Claro. — ele sorriu em resposta e caminhamos até a porta, onde Mel e Gui nos esperavam. Gui só olhou para Daniel, e sorriu. Acho que Mel conversou com ele.  

— Que tal ir com a gente tomar um sorvete, cara? — pela expressão de Daniel, ele gostou da ideia. Mas é claro que eu não estava olhando para ele.  

— Mas só tomamos sorvete quando algo muito legal acontece. — Mel disse, lembrando-se de nossa tradição.  

— Consideramos a chegada dele como uma coisa boa. — Gui sorriu e deu tapas nos ombros de Daniel. Senti-me bem em ver todos felizes.  

— Por mim, tudo bem. Quando? — ele perguntou. 

— Agora. Não deixamos uma coisa importante como sorvete para depois, bobinho. — expliquei, pegando meu celular para avisar minha mãe, enquanto Mel e Gui faziam o mesmo.  

— Se quiser, eu te empresto um fininho. Da pra comer mais. — Gui ofereceu, mas felizmente Daniel recusou.  

Gui usa maconha desde que seu pai se matou. Ele não estava feliz com o trabalho, com a família, com a vida. Não soube lidar com os problemas. Era filho de pais ricos, e quando teve que se virar sozinho, não suportou. Gui achou o corpo pendurado na garagem. Por isso não critico o modo como ele fuma cigarro e maconha como uma chaminé. Só me mantenho longe. Tenho medo que ele também não suporte o peso do mundo. 

Chocolate para mim, creme para Mel e morango para Gui. O trio napolitano, como Ricardo, o dono da sorveteria que sempre vamos, nos chama. Dessa vez não foi diferente. 

— Trio napolitano! Há quanto tempo não vejo vocês! — Ricardo diz feliz, saindo de trás do balcão. 

— Nossa vida tem sido bem pacata, Rick. — justifico, rindo. Ele sabe de nossa tradição.  

— Poderiam vir só para dar um "oi" para seu amigo, não?  

— Não aguentaríamos e compraríamos um pote, seu malandro. — Mel contrapôs. Sentamos em nossa mesa de costume, e logo os potes apareceram. Parece que só ai Rick se deu conta que Daniel existia, pois perguntou qual sabor ele queria.  

— Hum, acho que flocos, por favor.  

Ficamos em silêncio, aquele tipo constrangedor. O sorvete de flocos chegou e parecia delicioso. Dei de ombros e peguei um pouco com minha colher. 

— Ei! Esse é meu! — Daniel disse com uma voz esganiçada. Que fofo.  

Ri com sua reação, e coloquei a colher na boca, só para provocar. Ele aproveitou que minhas mãos não estavam perto do meu pote para roubar um pouco do meu. Fiz cara de ofendida e tentei pegar mais um pouco do dele, mas ele segurou meu pulso fracamente, sem me machucar. Sorri de canto e me soltei. 

— O que é seu ‘tá guardado, senhor Daniel. Espere para ver. 

Mel e Gui observavam a cena com um sorriso malicioso no rosto. Até que Gui levantou dizendo: 

— Preciso comer algo bem gorduroso e com bastante sustância. Estou morrendo de fome. Vamos minha gente! 

Na saída da sorveteria, demos de cara com Arthur. Ele estava ofegante e os óculos estavam tortos.  

Já falei que ele é fissurado em filmes? Pois é. Deve ter vindo comprar uns filmes na locadora aqui da frente. Com a era digital, Arthur é um dos poucos clientes. 

— Lana! — ele exclamou e arregalou os olhos. — O que está fazendo aqui? — achei a pergunta meio idiota, porque era meio óbvio, mas não tive a oportunidade de dizer nada. Daniel passou o braço por meus ombros e respondeu: 

— Viemos tomar sorvete.  

Arthur corou e suavizou a expressão. Olhou-nos intrigado, e assentiu.  

— Eu... Eu vou, é, vou entrar agora, então, é, vou tomar um sorvete. Isso, vou.  

Daniel se afastou, me levando junto. Mel e Gui fizeram o mesmo e nos despedimos. 

Isso foi muito estranho.  

— O que foi isso? — perguntei, enquanto caminhávamos. Ele não tirou o braço dos meus ombros.  

— Não sei. — se afastou. — Desculpa, fiz sem pensar. É que ele te olhou e eu só... Fiz.  

Olhei para ele. Daniel não olhava para mim de volta, observava algum ponto a sua frente. Mel e Gui estavam atrás de nós.  

Virei para frente e não dissemos nada durante o caminho.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de mandar o número! E, se perceberam, esse capítulo teve mais de 2000 palavras. Tentei recompensar vocês.
Mil beijos ^^

*malfeitofeito*