A dançarina escrita por S Filipinas


Capítulo 7
Doce menina...


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas! Tão gostando!!! ( pergunta, pq meu computador da época do homo erectus não possui sinal de interrogação)



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–Fica a apenas algumas quadras daqui, não se preocupe, chegaremos logo.

Parecia que eu e ele estávamos andando a horas, meus pés estavam dormentes de cansaço, e quase cai por umas duas vezes. E ele sempre dizia, estamos quase lá, não conversamos tanto durante nossa caminhada, por isso tive bastante tempo para pensar e observar.

Então, eu estava caminhando por entre ruelas desconhecidas com um homem incrivelmente bonito, mas de índole duvidosa e pior ainda um homem que confessou sua índole duvidosa e tentou me avisar do perigo, agora este mesmo homem segurava a minha mala e me guiava até a casa de sua amiga libertina e rica, que eu também não tinha a minima ideia de quem fosse. Bem, o lado bom da situação é que não precisarei dormir nas ruas ou voltar aquele bordel, o lado ruim é que...bem, talvez eu esteja indo para outro bordel. Ele havia me contado algumas histórias sobre esta sua amiga aparentemente filantrópica, ela era ruiva, alta, magra e já foi uma meretriz. Garotas boazinhas iriam correr ao ouvir isso, mas eu estava tentando trancafiar a garota boazinha que havia dentro de mim, apesar dela estar tentando desesperadamente sair. Seu nome era Katherine Ives, o falecido senhor Ives, ia com frequência visita-la em seu antigo emprego e acabou se apaixonando por ela e ao que parecia ela por ele, contra todas as regras da sociedade e do universo eles se casaram, e viveram felizes durante o tempo que o bom senhor Ives estava em condições de viver alguma coisa, depois de sua morte, ela herdou toda fortuna, todos os imóveis, as terras, as jóias, os negócios e pelo que Benjamim contava os administrava perfeitamente bem. Como disse ela é uma das raras mulheres ricas que ainda seguem as doutrinas da filantropia, por cortesia do destino, ela havia aberto há poucos dias um estúdio de balé para crianças carentes e necessitava de uma professora urgentemente, pois a sua antiga havia se sentido insultada ao ver para que tipo de crianças ela daria aulas. Não contei a Benjamim sobre meu hobbie, como vingança, se ele não me contava os dele, eu também não contaria os meus.

–Chegamos- falou entusiasmado, deixando minha pequena mala nas escadas de uma casa imensa, maior até que o West Garden, ocupava dois quarteirões e mais alguns pedaços para o jardim.

Apertou a campainha e indicou para que eu me aproximasse. Fiquei ao seu lado e respirei fundo.

–Acalme-se- tranquilizou ele- ela é ótima.

A porta se abriu e uma mulher idêntica a descrição de Benjamim sorria para nós.

–Oh! Benjamim, querido. Há quanto tempo!- exclamou com uma voz teatral, talvez! O abraçou e percebi de relance que enquanto o abraçava ela parecia estar olhando para mim, mas quando fui checar seu olhos estavam fechados.

–Kate, não fez nem dois dias que não nos vemos - disse Benjamim sorrindo.

–Parece uma eternidade- disse tocando o rosto dele, o momento pareceu tão íntimo que tive que desviar o olhar.

–Kate! Quero lhe apresentar uma amiga, senhorita...- franziu as sobrancelhas e olhou para mim.

–Sol, apenas Sol- falei estendendo a mão para a senhorita Katherine Ives.

Ela me olhou fascinada, quase como se eu fosse alguma obra de arte antiga e imensamente bela, quase como se já me esperasse...

–Sol, que belo nome, e a dona também, não nego- disse a voz suave como veludo, apertou minha mão e ficou alguns instantes observando nosso toque.

–Kate- interrompeu Benjamim- minha visita não foi apenas por cortesia ou para apresentar-lhe Sol, ela chegou hoje de viagem de...não sei onde, e foi deixada no lugar errado- disse sorrindo- não tem onde ficar, imaginei que em uma casa tão grande como essa tivesse alguns quartos sobrando.

Os olhos de Kate se iluminaram.

–Claro que tem! Ora, sempre existe lugar para as pobres almas necessitadas em minha casa. Ah, meu deus! Que falta de modos! Fiquei tão encantada com a visita dos dois que me esqueci de convida-los a entrar, por favor entrem, entrem!

Olhei para Benjamim apreensiva, ele apenas assentiu e caminhou para dentro, segui seus passos. A casa era ainda mais esplêndida por dentro, cheia de quadros, tanto retratos, quando naturezas mortas e paisagens, as paredes eram de um vermelho escuro com detalhes brancos, o piso era de ébano, lustrado várias vezes ao dia, a escadaria parecia levar até o jardim do éden. Era tudo tão bonito.

–Gostaria de ver o jardim, Sol! Podemos tomar chá por lá.

–Claro, senhora. Mas minha mala! Acho que a esqueci do lado de fora!

–Não se preocupe, George a pegou para você e já a levou para seu novo quarto.

–Oh, sim, claro, digo, obrigada. - falei atrapalhada.

–Não, precisa agradecer, minha doce criança, quem consegue ter a afeição de Benjamim assim tão rapidamente, consegue ter a minha quase que instantânea.

Sorri, e continuei a andar atrás de Benjamim, observando os quadros que se tornavam cada vez mais macabros, cheios de negro e horror.

A senhora Ives, abriu uma porta e segurou para que eu e Benjamim pudêssemos passar. Naquele instante percebi que não era a escadaria que levava ao jardim do Éden, e sim aquela porta. A cerca viva no formato de labirinto era delimitada por roseiras tão vermelhas quanto sangue fresco, os lilases, as madressilvas, os cravos, as margaridas e as orquídeas ficavam espalhados de uma maneira desorganizada que só dava mais charme ao lugar. Aproximei-me de uma flor e inalei profundamente seu perfume.

–É lindo, não!- perguntou Benjamim.

–Absolutamente- murmurei.

Ele chegou mais perto e passou a mão na flor onde eu havia cheirado, quase encostando em meu rosto.

–Ela cuida disso aqui desde que ele morreu, diz que é o jeito que ela encontrou de torna-lo mais presente.

–Muito romantico- sussurrei me virando e olhando dentro dos olhos de Adônis, não, Adônis é uma reles criatura comparada a ele.

–Muito- sussurrou de volta.

–Ei! O chá esta servido, aproximem-se- gritou Katherine Ives sentada em uma mesa ornamentada de cerâmica, a poucos metros.

Fomos até ela, e eu me sentei o mais distante possível de Benjamim, ou seja, na cadeira bem ao seu lado. Ele serviu o chá a todos nós e começamos a bebericar.

–O que acha do chá!- perguntou Katherine.

–Está ótimo- respondi- Senhora Ives!- perguntei.

–Sim, querida!

–Há algo que me incomoda.

–Diga-me, farei o possível para remediar.

–Não quero morar em sua casa de favores, detesto favores, principalmente favores para estranhos- ela ia começar a protestar, mas a calei- por favor não entenda mal, adorei a senhora e a seu amigo, mas não quero dever mais nada a ninguém, insisto para que me cobre algo, assim que arranjar trabalho pagarei cada centavo. - falei.

–Bem, quanto a isso, a solução é bem simples- disse Benjamim tranquilo, tomando um gole de chá- contrate-a como sua professora de balé, Kate, Sol dança lindamente- o olhei chocada- ela vai ser uma excelente professora.

–Você dança querida!- perguntou Kate.

–S-sim, mas...

–Mas nada, então esta feito, você fica aqui em minha casa e em troca trabalha para mim, por um salário justo é claro. Ah, mas que dia glorioso! Juro que quando acordei não imaginava que coisas tão interessantes como estas iriam acontecer...

Me perdi no que ela estava falando, apenas tagarelava sobre nada, tinha olhos apenas para Benjamim. Como ele sabia que eu dançava balé! E como sabia sobre o modo como eu dançava! Tinha certeza de que o estava encarando como uma idiota, mas a situação toda era meio idiota. Enquanto Kate continuava a tagarelar, aproximei-me dele e perguntei:

–Como sabia de tudo isso!- sussurrei.

–De tudo o que- perguntou baixinho.

–Sobre eu dançar balé e tudo isso, nunca lhe falei nada a respeito.

–Você nunca me falou nada a respeito de muitas coisas, mas eu as sei do mesmo jeito.

–Como!- perguntei.

Ele deu de ombros e disse:

–Com o passar dos anos aprendi a observar os diferentes tipo de comportamentos humanos existentes. Você,mesmo quando estava sentada na calçada usando este corpete que suponho estar muito apertado, manteve uma postura ereta e não mostrou desconforto, algo que apenas dançarinos conseguem fazer, quando você driblou o Bob, o movimento foi tão gracioso e preciso que deduzi que fosse balé, e quando sugeri perigo ao meu lado, você nem se importou, uma atitude tola devo dizer, e todos sabem que bailarinas são meio tolinhas.

O olhei chocada.

–Me toma por uma tola!- perguntei aumentando o volume da voz.

–A tomo por humana, apenas isso.


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Notas finais do capítulo

E ai! O que acharam!



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