A dançarina escrita por S Filipinas


Capítulo 12
Solaria Brachmann




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Os psiquiatras dizem que uma pessoa pode enlouquecer dependendo do meio em que vive, não acredito nisso, o meio pode ser importante claro, mas não tanto quanto o que a dentro daquela pessoa seus pensamentos mais secretos e seus sentimentos mais profundos, isso é o que leva verdadeiramente uma pessoa a loucura, saber que todos podem mentir, podem trair, que não existe ninguém em quem possa confiar de verdade, a não ser você mesmo. E quando chega a loucura nem em você mesmo pode confiar.

Kate estava mentindo, Benjamim estava mentindo, a diretora mentiu, assim como todos que conheci durante minha vida, passei a noite com esse pensamento, não consegui ao menos fechar os olhos. Tinha que tomar uma decisão e tinha que ser hoje.

Ora, eu vim para cá com propósito nenhum, a não ser o de ''não ser uma grande garota doce e ingênua", bem, é perceptível que falhei, falei com o primeiro estranho que vi na minha frente e me alojei na casa de sua melhor amiga, isso pode soar meio rebelde e instintivo, mas se for pensar logicamente, parece mais uma atitude suicida e masoquista, logo em seguida aceitei o emprego " perfeito'' da senhora raio de sol e beijei o cara mais bipolar do universo que confessou estar apaixonado por mim, o que aconteceu em um curto período de 2 dias e algumas poucas horas. A minha vida parecia estar perfeita demais e era esse o problema! Vidas não foram feitas para serem perfeitas, foram feitas para você sofrer até não poder mais e ter alguns poucos momentos de felicidade, tudo bem, a parte da sofreguidão eu posso já ter tido, mas acontece que eu continuo viva e a vida é isso: uma sucessão de decepções e paixões ilusórias e é claro, respirar.

Me revirei na cama gigante que Kate havia me dado, no maior quarto de hóspedes da casa, com mobília vitoriana e uma janela para o bairro. Eu poderia simplesmente ir embora neste momento, arrumar minhas poucas coisas, descer as escadas e desaparecer, havia rumores de que em Bristol uma pessoa poderia facilmente trocar de nome e começar uma nova vida, eles nunca me achariam com um nome falso, a questão era: com que dinheiro eu pagaria por uma identidade falsa? Ou por uma passagem para Bristol? A não ser é claro que eu me vendesse, o que é um grande problema, considerando que sou virgem, e considerando que sou muito estúpida para fazer uma coisa dessas, ainda acredito no amor, o que me atrasa infinitas vezes em uma sociedade como essa. Resumindo: não posso fugir, não tenho dinheiro ou abrigo e continuo sozinha, se eu fizer alguma coisa importante e quiserem fazer um livro sobre mim pedirei que omitam a parte do não consigo fugir e coloquem algo como " deu o que tinha de mais precioso para se alimentar" as pessoas adoram prostitutas famosas, venderia vários exemplares. Mas se quiser ter alguma espécie de futuro tenho que sobreviver ao presente. Ficarei por alguns meses, darei aulas e receberei o dinheiro e quando tiver o suficiente, talvez me chame de Solaria Brachmann, sobrenomes alemães estão na moda e ninguém procuraria por alguém que se chama Solaria, minha decisão foi tomada aos primeiros raios da manhã, a janela iluminava o quarto e minha crescente confusão se dissipava com a esperança de um novo dia. Alguém bateu na porta.

–Pois não?- perguntei.

–Senhorita, a Sra. Ives pediu que eu- um barulho de papéis e outra coisa que haviam caído, calou a moça na porta- sinto muito- falou, dava para ver sua sombra recolhendo os objetos pela fresta da porta- ela pediu que eu a atendesse em todos os seus desejos, uma camareira se preferir.

Camareira? Para que diabos eu necessitaria de uma camareira? Vesti o robe e abri a porta, quem me esperava a porta deveria ter por volta dos 16 anos, uma menina, pequena e magra enfiada em um daqueles uniformes horríveis de criados.

–Meu nome é Violet, Violet Ebner, sou ótima com cabelos- falou a criaturinha de cabelos escuros, olhando para o emaranhado colado a minha cabeça.

–Sim, claro que é- respondi.

–Se puder me deixar entrar, agradeceria- falou levantando as coisas que levava.

Abri a porta e deixei a pequena Violet passar.

–A senhora Ives pediu que lhe avisasse, que as aulas começas ás nove- falou lendo seu papel- e pediu que eu a ajudasse a vestir isto- mostrou o que carregava. Era um colã preto, coberto por pequenos enfeites brilhosos, o tule do mesmo modo. Passei a mão pelo tecido áspero.

–Não posso aceitar- falei.

–Ela me avisou que diria isso, por isso insistiu que você ficasse, caso contrário está desde já despedida, e se permite a ousadia, ela não falou brincando.

Suspirei e peguei o conjunto dos braços de Violet, o depositei delicadamente em cima da cama.

–Espero que não haja sapatilhas, prefiro as minhas- disse logo de uma vez, não queria me separar das sapatilhas, foram um presente da Sra. Marshall, minha única lembrança dela.

–Ela também disse que você preferiria as suas, então que as usasse.

Assenti, visivelmente aliviada, Violet foi até o toucador e pegou a escova.

–Bem, podemos começar, sente-se por favor- pediu a garota.

Sentei-me e ela começou a pentear, com movimentos ágeis e elegantes.

–De onde você vem, Violet?- perguntei.

Ela hesitou por um instante, mas continuou a pentear.

–Devonshire, minha mãe era governanta de uma propriedade por lá, os patrões me recomendaram a senhora Katherine.

–Entendo. E você confia nela? Digo, ela é boa com você?

–Ela é boa com todos, não conheço um único ser que a deteste por ela ter sido rude, é claro que existem os que a detestam por inveja, mas criaturas como ela costumam despertar isso nas pessoas.

Continuei em silêncio, olhando para o espelho, e me perguntando se não seria inveja o que senti por kate. Ela tinha tudo que eu não tinha, será essa a raiz da minha desconfiança?


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