Fix me. escrita por Sherry


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

A lembrança em itálico no começo está em terceira pessoa, mas o decorrer do capítulo após a lembrança, continua no pov do Cassy ;p

Sem mais, boa leitura sz'



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/619684/chapter/3

Era seu aniversário de treze anos, e acordou animado, recebendo um telefonema de sua avó materna, que morava na França. Vovó Pietra, sempre mandava presentes para ele, e o convidava para passar as férias com ela, mas seu pai dizia que ela era velha e doente, e não iria deixa-lo ir para outro país, só para realizar um “capricho bobo”.

Para entender melhor a situação, é necessário explicar, que sua mãe era francesa, e seu pai americano; Eles se conheceram quando sua mãe fez intercambio nos Estados Unidos, e acabou engravidando antes do planejado.
Ele havia nascido e passado todos os treze anos de sua vida, apenas nos Estados Unidos, mais especificamente no condomínio de luxo que morava em Manhattan.


Naquele dia, ele foi para a escola de manhã e voltou a tarde como sempre; Estava tentando manter as esperanças de que seus pais aparecessem para dar–lhe parabéns, mas já imaginava que isso não fosse acontecer, assim como não havia acontecido no ano passado. Sabia que tinha algo de errado com sua família há um bom tempo; Seus pais já não dormiam mais na mesma cama, passavam dias sem aparecer em casa, e quando se viam, era motivo pra discussão, acusação e confusão.

Ele nunca teve muita atenção dos pais, mas tinha todo tipo de conforto que o dinheiro podia comprar. Seu pai sempre dizia que estava trabalhando e viajando, e sua mãe... Bem, sua mãe sempre tinha alguma coisa pra fazer, que não o envolvia.
Apesar da falta de atenção dos pais, ele tinha uma babá, que cuidara dele desde que tinha meses de nascido, mas agora ela já estava uma senhora, e sempre dizia que logo precisaria ir embora. Só de pensar em ficar sem Nãna, naquela casa, com os empregados aleatórios que viviam sendo trocados ,já se apavorava. Quem iria se lembrar de busca-lo na escola? Quem iria dar comida para ele? Quem iria em suas reuniões escolares, quem iria dar remédio quando ele ficasse doente e conversar com ele nas noites frias?

— Nãna, ouvi você falando no telefone com meu pai ontem... Você vai mesmo embora? — ele perguntou, arrastando a coberta que estava consigo no sofá da sala até a porta da cozinha.

A senhora, que estava preparando-lhe um mingau, sorriu, deixando as rugas marcarem seu rosto.

— Eu já estou velha demais pra esse trabalho menino Castiel. — ela falou com a voz tremula — Servi sua família por todos estes anos, preciso me aposentar... Um dia você vai entender. — ela falou, com doçura — Agora vai, volta pro sofá, que você ta resfriado mocinho. — ralhou.

Castiel se arrastou de volta pro sofá pensativo. Ele não precisava de “um dia” para entender oque a senhora estava lhe dizendo, ele entedia naquele momento. Ele era uma criança, mas não era idiota; Sabia que Nãna estava idosa, já tinha mais de 60 anos e precisava descansar.

Naquele mesmo final de tarde, seus pais chegaram em casa discutindo sobre quem iria tomar conta de Castiel agora que Nãna estava se aposentando.
Ele se sentiu um peso, principalmente quando seu pai, em meio a confusão, disse para sua mãe resolver 'o problema' já que ele iria se mudar para Las Vegas, com sua nova esposa; E sua mãe disse que não ficaria ali, cuidando de tudo sozinha.

Ele não entendeu muita coisa depois disso, porque teve gritaria, coisas sendo jogadas para o alto, e assuntos que ele não sabia sobre... Novamente, ele não dormiu a noite, e pela manhã estava em um avião com destino a França, para morar com sua avó. Castiel não viu problema nisso, sempre teve vontade de conhecer a vó Pietra, ele só não esperava que seus pais fossem larga-lo com a idosa avó doente na França, e nunca mais apareceriam.


–--




— Viu, eu não te falei que ela cozinhava bem? — Alexy falou aos risos, quando me viu indo me servir de sopa pela terceira vez.

A realidade é que eu não sabia o quão faminto estava até dar a primeira colherada, de qualquer forma a comida realmente estava boa, e eu não sabia se sobraria alguma coisa para o Lysandre.

— Vocês não podem repetir, porque se não o Lysandre vai ficar sem. — falei, tampando a panela.

E como se tivesse sido invocado, Lysandre abriu a porta da sala, ligeiramente atrapalhado, carregando várias telas de pintura e sacolas.

— Ainda bem que você chegou cara. — Armin falou de boca cheia — Castiel tava prestes a comer toda a comida e te deixar sem nada. — completou , segurando seu prato, agora vazio.

Encarei Armin estressado, e ele riu. Ele ria porque não havia ficado seis meses sem colocar nada na boca. Era estranho estar comendo alguma coisa... Arranhava a garganta, e a língua parecia que estava inchada, mas a fome era maior que o desconforto.

— Ele ta precisando mais do que todos nós juntos. — Lysandre falou casualmente, me lançando um olhar compreensivo — E também, a Lucy cozinha muito bem. — completou, colocando as bolsas no canto da sala juntamente com as telas.

Fiquei comendo ali pela cozinha mesmo, entre várias goladas de água pra ver se ajudava.

— Ah, pinturas! — Alexy falou em júbilo, indo remexer as coisas que Lysandre havia acabado de colocar no chão.

Meu melhor amigo idiota, veio até ao meu lado e colocou a mão no meu ombro. O encarei de boca cheia, com a colher em uma mão e o prato na outra.

— Seja bem vindo de volta, irmão. — ele falou, me olhando dento dos olhos.

Resmunguei coisas sem sentido e virei de costas, enfiando sopa para dentro. Detestava quando Lysandre ficava sendo atenciosamente piegas, ou seja eu detestava ele a maior parte do tempo, porque ele tinha essa coisa chata com ele.

— Lysandre posso comer sua parte? — Armin perguntou, quase passando por cima de mim na cozinha para chegar até a panela.
— Claro, eu já comi. — ele respondeu passando para o quarto.

O esfomeado não se fez de rogado, e encheu o prato, raspando a panela, e saiu da cozinha com um sorriso nos lábios.

Terminei de comer, e quando estava lavando o prato, Lysandre voltou para a sala, para pegar as sacolas e as telas, mas Alexy estava agarrado com os objetos.

— Conheço essas pinceladas... Foi a Natalie que fez esses quadros não foi? — Alexy perguntou, em um tom malicioso — Você tava com ela né? — completou de forma acusatória.

Me lembrava vagamente de Natalie. Era uma esquisitona branquela de cabelo curto que trabalhava com meu amigo.

Em resposta as palavras de Alexy, Lysandre suspirou pesadamente, como se tivesse que ouvir esse tipo de coisa com certa frequência. Automaticamente me senti interessado na conversa. Será que Lysandre estava se engraçando com outra garota mesmo como Alexy estava insinuando?

— Alexy, você já deixou a Lucy muito desconfortável com esses comentários. — meu amigo falou, em um tom cansado indo até o sofá sala.

Fui para a sala também, fingindo que não estava interessado na conversa.

— Não era pra deixar ela sem graça, e sim você. — ele insistiu, colocando as mãos nos quadris — Você sabe que a Natalie gosta de você, e ainda fica sasaricando com ela por ai como se não fosse nada. — completou, elevando um pouco o tom da voz.

Opa.

— Você ta ofendendo a minha integridade Alexy. — Lysandre rebateu, sério, virando-se no sofá para encarar o outro.

Armin, estava sentado no sofá a minha frente, com o prato meio vazio, paralisado observando a discussão com os olhos enormes.

Oh, pelo jeito aquilo de tratava de algum tipo de tabu.

— Você não respondeu a pergunta. — Alexy insistiu, dando a volta no sofá para encarar Lysandre de frente — Tava com a Natalie, ou não? — questionou, como se fosse a própria namorada de Lysandre.
— Desde quando te devo satisfações? — ele respondeu, em um tom grosso, que não era típico dele.

Houve uma breve pausa dramática. Todos ficamos calados, e rígidos. Eu, que não sabia oque estava acontecendo, estava me sentindo tenso com o rumo da conversa.

— Você não ta entendendo Lys. — Alexy falou em um tom mais ameno, abaixando-se para sentar no tapete da sala. — Não to querendo puxar briga, to querendo evitar. — completou encarando Lysandre.

Lysandre relaxou os ombros, e respirou fundo, parecendo mais tranquilo . Armin voltou a sopa.

— Do que você ta falando Alexy? — Lysandre perguntou, em um tom cansado, passando a mão pelos cabelos.

— A Lucy fica chateada com essa sua situação com a Natalie. — ele falou delicadamente.
— Não tem situação nenhuma Alexy, eu e Natalie trabalhamos no mesmo ateliê, e precisamos conviver. Só isso. A Lucy sabe disso e nunca reclamou de nada. — Lysandre falou, olhando para o chão, como se estivesse desconfortável.
— Ela pode não falar, mas da pra perceber. — Alexy insistiu, agitando as mãos — O Castiel percebeu que ela fica desconfortável quando fala de você no ateliê. Fala pra ele Castiel. — completou, me encarando.

Escancarei a boca, perplexo, e completamente confuso. Agora os três pares de olhos na sala me encaravam esperando uma resposta. Alexy confiante, Armin confuso, e Lysandre ligeiramente irritado.

— Oque? — falei chocado — Eu? Não tenho nada com isso cara, não sei de nada. — me adiantei em falar, balançando a cabeça negativamente.
— Nem vem Castiel, ela conversou com você na cozinha hoje! Eu vi a cara que ela fez quando falou que o Lysandre provavelmente ia ficar mais tarde no ateliê e que por isso não daria tempo dela ver ele antes do plantão. — tagarelou, gesticulando.

Novamente, todos se calaram esperando eu falar alguma coisa. Lysandre tinha os olhos nervosos em cima de mim.

— Puta que pariu. — exclamei irritado, me levantando do sofá bruscamente — Eu tava em coma até algumas horas, não sei se vocês lembram. Eu não sei oque ta rolando. — completei, marchando até meu quarto sem dar tempo de alguém falar mais alguma coisa.

Entrei no meu quarto e bati a porta estressado. Claro que eu me lembrava da conversa com Lucy, eu lembrava realmente dela fazer uma cara estranha e pensativa quando falou do tal do ateliê, mas eu nem tinha me dado conta disso até o Alexy comentar. Eu nem sabia que Alexy estava prestando atenção na nossa conversa, tenha dó. E menos ainda tinha a obrigação de me meter no namoro do Lysandre. Não sou fiscal de namoro, e menos ainda, sou fiscal das expressões faciais da Lucy.

Tentando não me aborrecer ainda mais, peguei meu violão e fiquei trancado no quarto, fazendo alguns acordes, e pensando em algumas harmonias. Eu precisava de distrair, e estava com saudades da música, saudades de tocar para mim mesmo e me desconectar do mundo e das pessoas inúteis que nele vivem. E isso inclui me desconectar de mim mesmo. A música me faz viajar pra outro lugar, um lugar único e paralelo a realidade, onde as coisas podem ser moldadas por mim, de acordo as notas que eu toco.



–--

Acordei pela manhã assustado com o barulho da porta da sala batendo. Me sentei, sentindo as costas doerem. Eu dormi por cima das folhas das cifras, e com o violão quase em cima de mim, sem nem perceber.

Me levantei me esticando. Peguei uma toalha no meu guarda roupas, para tomar um banho. Sai do meu quarto e segui até o final do corredor, direto para o banheiro. Entrei em baixo da água, e quando comecei a passar o xampu, a falação começou.

Por estar no chuveiro, eu não estava entendendo muita coisa, mas pelas vozes parecia alguma discussão entre Lysandre e Lucy. Como não queria me meter no problema, apenas continuei no meu banho, tentando curtir a boa sensação de poder tomar um banho eu mesmo, depois de tanto tempo. Fechei o chuveiro e comecei a passar o condicionador no cabelo, e fui me ensaboar.

Mas, como toda alegria pra mim dura pouco, Lysandre saiu entrando banheiro a dentro, tentando fechar a porta ao mesmo tempo, oque obviamente não deu certo, já que Lucy estava em seus calcanhares, invadindo o banheiro também, largando a porta escancarada.

Parei no box, todo ensaboado, com o cabelo cheio de condicionador, chocado, esperando que eles percebessem que eu estava ali, e pelado.

Nunca foi um problema para mim e Lysandre a divisão do banheiro, por sermos amigos desde sempre, então não esquentamos a cabeça de consertar a tranca da porta do banheiro quando comprei o apartamento.

Mas agora... Era diferente, Lysandre tinha arrumado uma namorada séria, e ela estava dentro do banheiro, comigo pelado no box.


— Eu não acredito que você fez isso Lysandre King! — ela vociferou, parando de costas para o box, de braços cruzados, nas costas de Lysandre.

Me apressei em puxar a toalha, para me cobrir, pensando se eu estava mais chocado com o fato deles não estarem me vendo ali, ou com o fato de estar vendo Lucy, chamando Lysandre pelo sobrenome; Mulher quando chama o cara pelo sobrenome, pode ter certeza que ela muito puta, e estressada; E eu realmente não esperava ver Lucy desse jeito. Afinal ela aparentou ser uma pessoa tão equilibrada e calma, que imagina-la tão estressada, era algo impossível, mas... As pessoas nos surpreendem.

— Lucy, eu já falei pra você oque eu acho sobre isso. — ele falou de forma autoritária, colocando pasta na escova de dente.
— E isso te dá o direito de fazer oque você fez? — ela rebateu, com a voz alta.

Ela ainda estava de costas para mim, mas agora com as mãos nos quadris. Estava com a roupa branca hospitalar, o tênis de borracha branco, calça jeans branca, e uma blusa de alças branca.

— Eu sou seu namorado, tenho todo o direito. — ele respondeu com a voz um pouco abafada, pelo fato de estar escovando os dentes.
— Você não tem o direito de tomar decisões por mim Lysandre! Eu não preciso de um homem pra isso! Eu me sustento e resolvo meus problemas sozinha, você não tinha o direito de pegar minhas coisas do dormitório da faculdade e trazer pra cá, sem me avisar. — ela tagarelou, gesticulando nervosamente.

Ah. Uma mulher independente!
Chocante.
E mais chocante ainda uma mulher desse tipo com Lysandre; Logo ele, que é o rei do cavalheirismo e das normas antigas da moral e dos bons costumes.

Lysandre enxaguou a boca e trincou o maxilar.

— Você passa boa parte do tempo aqui Lucy... — ele falou, tentando soar casual e mostrar para ela a razão em seus atos, mas era claro que estava estressado .
— Eu passo boa parte do meu tempo no hospital, isso significa que eu devo me mudar pra lá? Se alguma pessoa pegar minhas coisas, sem me avisar e carregar pra lá , eu tenho que ficar feliz? — ela perguntou, cheia de ironia.
— Você e suas manias feministas, me impedem de fazer meu trabalho como namorado, ta ficando muito complicado isso! — ele desabafou elevando o tom da voz levemente, encarando-a de lado.
— Que feminismo oque! A questão toda aqui, é sua falta de respeito com as minhas escolhas! Um relacionamento não é feito só da sua decisão! Eu te disse que achava muito cedo vir morar junto contigo, e mesmo assim, você passou por cima disso e pediu pra Rosalya pra pegar minhas coisas no dormitório da faculdade, e trouxe tudo pra cá sem nem me avisar! Você não percebe o absurdo que isso é? — ela tagarelou, quase gritando, visivelmente ofendida.

Houve uma pausa dramática. Ele abaixou a cabeça, visivelmente transtornado, tentando se controlar, apertando as bordas do mármore da pia com força, e ela o encarava com o queixo erguido e as mãos nos quadris.

— Aquele dormitório é misto! Você acha que eu não sei do entra e sai de homem lá dia e noite? Não entendo porque você faz tanta questão de ficar lá, quando eu te ofereço um espaço maior e melhor aqui comigo ! Você é minha namorada, deve ficar comigo! — ele rebateu entre dentes, erguendo a cabeça.
— Então o problema é esse? Sua falta de confiança em mim? — ela perguntou, falando rapidamente sem dar espaço para ele responder — Antes de ser sua namorada, eu sou um ser humano independente e maior de idade, e posso muito bem decidir qual o lugar que eu devo, ou não ficar. — ela respondeu, revoltada.

Mais uma pausa dramática. Eu vi que a discussão não iria parar nem tão cedo, e já estava ficando com frio e completamente desconfortável de estar ali assistindo.

— Vocês poderiam me dar licença? — falei soando um tanto grosseiro, chamando atenção dos dois.

Eles me olharam completamente surpresos. Lysandre abaixou a cabeça, absolutamente constrangido, e Lucy bufou.

— Eu não quero atrapalhar vocês, mas preciso terminar meu banho... — completei, usando a ironia para tentar abafar meu constrangimento com a situação.

Lucy estalou a língua nos dentes, como se não se importasse com a situação, e rolou os olhos.

— Desculpa por te fazer assistir isso Castiel. — ela falou, em um tom casual, já saindo do banheiro — Mas vocês deveriam pôr logo uma tranca nesse banheiro. — completou, batendo a porta ao passar.

Lysandre respirou fundo, passando as mãos no rosto, completamente estressado.
Liguei o chuveiro, sem cerimônia, para continuar meu banho.

— Realmente, agora que temos uma mulher transitando pela casa, precisamos colocar uma tranca nessa porta. — comentei, prendendo o riso.



Depois de acelerar no banho e largar Lysandre por la, fui para quarto me troquei, e corri para cozinha para comer alguma coisa. E lá estava Lucy, tirando torradas no forno, passando café, e fazendo suco, enquanto lavava a louça. Ela parecia estar em uma explosão de energia, mesmo depois de ter ficado horas acordada trabalhando.

— Deixa que eu termino isso daí. — falei, invadindo a cozinha, sem saber realmente como eu conseguiria resolver tudo aquilo de uma só vez.
— Ta tudo bem, eu já o terminando. — ela falou, naquela mesmo tom casual e doce, que havia usado na noite anterior.

Parecia que a discussão com Lysandre havia acontecido há anos, e seu humor estava intacto novamente. Ou, ela não descontava a raiva nos outros, oque era algo bom.

— Você deve ta, hmm cansada né, então sai fora daí. — insisti, meio que sem jeito.
— Ah não, tudo bem mesmo. — ela sorriu, colocando as torradas no pote — Eu só tenho feito plantão de doze horas. — completou, colocando o café dentro da garrafa.

Tentei disfarçar que eu estava chocado, com o fato de uma pessoa trabalhar por doze horas em uma noite e ainda achar pouco; Então passei por trás dela para pegar a geleia na geladeira, e ela, ocupada fazendo mil coisas ao mesmo tempo acabou esbarrando sua, nada discreta... Hm, abundancia, em mim.

— Ah foi mal. — ela falou tranquilamente, lavando o tabuleiro que estavam as torradas.

Entrei na onda dela, e agi com naturalidade, afinal não era a primeira vez que uma garota batia com a bunda em mim... Mas era a primeira vez em seis meses...

Estava passando geleia na torrada, e ela colocou uma xícara de café com leite do meu lado, e nossos braços se encostaram sem querer. Me afastei pro lado automaticamente. Ela fingiu não perceber, e saiu da cozinha em silêncio.

Ótimo.

Sofri pra engolir as torradas devido a minha garganta sensível, mas o café com leite ajudou. Estava do jeito que eu gosto, com pouco açúcar.

Lysandre passou para sala, resmungando sobre ir para faculdade atrasado, procurando alguma coisa que ele não fazia a ideia de onde estava, e voltou correndo de volta para o quarto, indo procurar por la.

Me virei para a geladeira, afim de pegar mais leite para o café, e senti uma cutucada nas minhas costas. Não precisei olhar para ver que era Lucy, era o mesmo cheiro de sabonete da noite passada.

Antes que eu pudesse me virar, ela jogou umas folhas em cima da bancada, e saiu andando para a porta. Me virei rapidamente para perguntar oque diabos era aquilo, mas ela já estava respondendo.

— É a papelada que você vai precisar pra justificar as faltas na faculdade. Tomei a liberdade de pegar pra você. — ela falou, mostrando a ponta da língua.

Olhei as folhas em cima da bancada, e prendi o riso. Ah era uma benção, ela havia evitado de fazer eu voltar para aquele maldito hospital, lidar com malditas burocracias.

— A garota que não gostam que façam coisas por ela, fazendo coisas para os outros. — debochei, completamente sem graça com o ato atencioso dela.

Ela estava remexendo a bolsa, verificando as coisas na porta, assim como havia feito noite passada, então me olhou por cima, e rolou os olhos.

— Nós somos íntimos Castiel. — ela falou como se fosse óbvio.

Olhei para ela descrente, colocando mais leite no meu café. Eu gostava do jeito que ela falava meu nome. Parecia certo.

— Somos é? — perguntei descrente, e irônico, bebericando o café com leite.
— Castiel querido, oque eu vou te falar agora, é considerado algo anti ético, mas acho que preciso esclarecer isso entre nós... — ela falou, ajeitando a bolsa no ombro, e me peguei vidrado nela esperando para ver oque ela iria falar — Eu dei banho em você durante todos esses seis meses, e você mexia a mão quando ouvia minha voz... Nós, somos íntimos, você querendo ou não. — completou com naturalidade, dando uma piscadela no final.

A encarei de volta completamente constrangido com a informação. Puta merda, eu não havia pensado nisso! Como não havia pensado nisso?
Fiquei tão sem graça, que nenhuma das minhas respostas mordazes me vieram a mente, e eu só pude ficar calado, boquiaberto.

— E ta na hora de retocar a raiz desse cabelo. — ela riu, mexendo no celular — Desculpa ai, ruivinho. — falou enquanto saia, e bateu a porta.

Senti um sorriso se espalhar pelo rosto, descontrolado. Ela lembrava. Ela se lembrava de mim, no bar, na primeira vez que nos vimos... Ela sabia que era eu.

— Lucy! — Lysandre gritou do quarto, provavelmente havia ouvido a porta bater.

Alguns minutos depois, ele apareceu na sala, esbaforido, com a blusa amarrotada e a mochila nas costas, olhando para os lados.

— Ela já foi. — falei, lavando meu copo.
— Caralho. — Lysandre murmurou, em uma mistura de derrota e raiva.

Soltei uma risada, achando hilária a reação do meu amigo idiota.

— Pela hora, você já perdeu a primeira aula. — falei, olhando o relógio da sala — Então, relaxa, chega ai, toma o café da manhã, e a gente vai junto praquela' merda de faculdade. — completei, me escorando na bancada.

Meu amigo jogou a mochila em cima do sofá, e suspirou, indo comer alguma coisa, enquanto eu pensava que precisava comprar um celular novo, e como eu não sentia a menor falta do cigarro.

— Castiel... — Lysandre chamou da cozinha.

Olhei para ele. Ele estava passando geleia nas torradas, parecendo encantado.

— Eu nunca discuti com uma mulher desse jeito antes. — falou, parecendo muito confuso.
— Pra mim não é novidade, então... — resmunguei, desinteressado.
— Não, você não ta entendendo... Ela não quer que eu pague nada pra ela, e nem que eu faça nada pra ela. É confuso, me sinto meio inútil, mas ao mesmo tempo é revigorante saber que alguém ta comigo só pela minha presença. — tagarelou, parecendo incrédulo.

— Um relacionamento deveria ser isso mesmo, não? — perguntei retoricamente, encarando meu amigo.

Lysandre ficou calado por alguns segundos, e então sorriu.

— Ela é inteligente, independente, bem humorada, madura e prendada... Você sabia que essa geleia e essas torradas, foram feitas por ela? — ele comentou, com um sorriso idiota.


Fiquei calado, esperando o desenrolar da história. Querendo ver oque ele queria dizer por fim.
Ele veio até a sala, e parou ao meu lado com um copo de café puro, e o olhar distante e vidrado.

— Não sei oque fazer irmão. — ele confessou, quase murmurando. — Não sei como lidar com ela. É desgastante e difícil pra cacete. — completou, parecendo um idiota.
— Mulheres fazem isso com a gente mano. — falei, tentando deixa-lo mais confortável, dando dois tapinhas em suas costas.

Mas a verdade é que eu estava desconfortável. Não queria ficar ouvindo ele falar saber sobre ela, ao mesmo tempo que tinha noção que essa era minha obrigação de melhor amigo. Eu não podia largar ele falando sozinho, seria ingratidão... Mas ouvi-lo falar de Lucy, era estranho, porque eu achava-o um grande idiota, um babaca... Ele não sabia lidar com ela, mas eu saberia. Se fosse eu saberia. Era óbvio como lidar com ela. Lysandre não merecia estar com ela, eu merecia!

Resolvi prestar atenção no desabafo do meu amigo, pra não continuar com aqueles pensamentos psicóticos de fura olho. Mesmo que eu fosse sentir aquela inquietação, em ouvi-lo, eu iria ouvir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews para animar essa autora flopada? ;'D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fix me." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.