No jantar Daniel não falou nem uma palavra. Cristoph e Julian conversavam baixo algo que Daniel não conseguia ouvir, pois estava um pouco afastado de todos. A rainha comia silenciosamente, apenas observando o comportamento de todos a mesa.

Daniel levantou o olhar e viu os olhos da mãe sobre ele. Ela sorriu timidamente e voltou a comer. Daniel pensou, queria que sua futura noiva fosse igual a sua mãe, pois a mesma era um exemplo de rainha e de mãe. Sempre respeitou as decisões de Julian e sempre o ajudou a fazer as escolhas certas para o povo e para o país. Era uma ótima mãe e sempre esteve presente na vida dos dois filhos, sempre os amou incondicionalmente.

Quando o jantar se deu por terminado o rei Julian acompanhou Daniel até o quarto e perguntou qual era a sua opinião sobre A Seleção.

– Acho que será uma ótima oportunidade para mim. Tenho certeza que encontrarei a esposa e a rainha ideal, mesmo que eu não a ame.

– Então anunciaremos A Seleção amanhã, no jornal.

Daniel assentiu, mas não falou nada. Ele achava que teria mais tempo para pensar sobre essa repentina mudança. Até ele mesmo se sentia mudado. Estava muito desanimado ultimamente, a obrigações de futuro rei tiraram dele todo o tempo livre.

Daniel sempre foi um jovem alegre e cheio de vida, mas depois que Alissa morreu tudo ficou fora de lugar. Cristoph costumava fazer todos rirem com sua alegria e ousadia, mas já não era a mesma pessoa, estava em uma profunda depressão por não superar a morte da noiva.

Talvez, A Seleção fosse uma oportunidade para os dois príncipes, os dois precisavam de algo novo. Daniel precisava conhecer o amor e Cristoph precisava desfrutar dele novamente.

Daniel aproveitou o tempo livre que tinha após o jantar para ler. Não combinava muito com ele, mas, de qualquer forma, ele seria obrigado a ler, seria o rei e teria várias horas de papelada por dia, então, por que não começar com um livro?

Pegou um livro antigo que falava sobre as castas e começou a foleá-lo. Tinha as explicações e funções de cada casta. Daniel nunca tinha se interessado muito por esse tipo de coisa, passava a maior parte do tempo praticando esportes e quando pegava algo para ler eram apenas livros de ficção.

O livro era dividido em três partes: Castas Superiores, Castas Medianas e Castas Inferiores. Daniel achou injusta a forma como aquilo estava dividido. Ele não se deu ao trabalho nem de olhar o autor para não sentir vontade de banir o Fulano para o raio que o parta.

A casta Um é composta por membros da família real, a casta de maior elite.

A casta Dois é composta por celebridades de todo tipo: cantores, atores, modelos, etc; soldados e empresários. Todos os que integram essa casta são ricos de berço e na maioria das vezes a única relação que tinham com integrantes das castas inferiores era apenas a de patrão com empregado.

A casta Três é composta por arquitetos, médicos, professores, escultores, funcionários importantes do governo etc. A maioria dos integrantes um dia já foram de outras castas e acabaram subindo na “pirâmide social” do reino.

A casta Quatro é composta por fazendeiros, comerciantes etc. E aqueles que não exerciam nenhuma das funções anteriores trabalham em fábricas para se sustentar.

A casta Cinco é a casta dos artistas de baixa renda como, cantores (diferente dos cantores da casta dois, esses não são tão famosos. Não ganham a vida fácil como os cantores-celebridades. Normalmente os cantores da casta cinco nascem com o dom de cantar.), músicos, pintores, dançarinos, etc. A casta cinco era mais envolvida com a parte musical. Grande parte dos seus integrantes já nascia com o dom herdado dos pais. Os cinco também tem o hábito de ajudar pessoas de castas inferiores as deles.

A casta Seis é composta de trabalhadores e carpinteiros. A situação é precária e eles sofrem por causa da falta de alimento. Trabalham a mesma quantidade de tempo dos trabalhadores da casta Quatro, mas recebem menos.

A casta Sete é composta apenas por trabalhadores, não têm função certa, só trabalham para sobreviver e recebem menos que os seis. São praticamente escravos da sociedade; quase mendigos.

A casta Oito é composta por órfãos, mendigos, deficientes mentais, etc. A grande maioria dos oito não trabalha, pois não tinham condições ou por não serem aceitos nas fábricas nem nas casas dos Dois. Eram sustentados, na maioria das vezes, pelos integrantes de outras castas e recebiam uma pequena cesta básica para sobreviverem. Eles moram em abrigos.

Daniel fechou o livro com força, estava se sentindo mal. Começou a se perguntar onde um oito estaria dormindo naquele momento enquanto ele estava envolto de lenções e travesseiros macios. Ele sabia que as castas inferiores viviam em situações precárias, mas nunca tinha parado para analisar, estava ocupado gastando seu tempo com algo que seu dinheiro pudesse comprar.

Ele começou a penar na Seleção. No final das contas A Seleção ajudaria em alguma coisa, pois as trinta e cinco garotas selecionadas subiriam de castas e poderiam ajudar suas famílias com a quantia mensal que ganhariam, principalmente se viessem de castas baixas.

Ele colocou o livro de volta na prateleira e voltou para a cama. Tentou dormir rapidamente, mas não conseguiu tirar da cabeça que no dia seguinte A Seleção seria anunciada para todas as garotas do reino.

Por uma parte seria melhor ter barulho em casa. Trinta e cinco garotas falando de maquiagem e beleza durante o dia, Daniel sorriu com o pensamento, e imaginar que uma delas seria sua noiva. Seria bom, só assim sua mãe teria mais companhia durante o dia e não ficaria sozinha no salão das mulheres.

Ele pensou que ter uma noiva seria melhor para o reino, ela certamente o ajudaria a fazer as escolhas certas para o reino. Esse pensamento o deixou ansioso e um pouco excitado sobre a Seleção, mas não tirou dele aquele enorme vestígio de insegurança.