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Capítulo 4
Capítulo 3 — A Lista


Notas iniciais do capítulo

Olá.



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Os três ficaram parados, observando o homem. Galeno. Alice parecia querer confrontá-lo; Soul parecia querer questioná-lo; Lydia parecia com medo, apertava cada vez mais forte a mão de Alice.

Galeno os observava acariciando a leve barbicha do queixo.

— Vocês estão na minha lista, crianças. — o homem sorriu malicioso, olhando um por um. — Talvez sejam os primeiros nomes. Mas não os primeiros escolhidos.

Alice abriu a boca para dizer algo, mas logo a fechou, e em seguida reprimiu os lábios durante vagos instantes, e soltou uma risada.

— Alice, o que foi? — Lydia sussurrou, olhando de soslaio para a prima.

Alice pôs a mão na boca e gargalhou um pouco.

— É um cosplay, não é? Nossa, está muito bem feito, aprovado! — a menina apontou para as roupas do homem. — Não sabia que havia tantos leitores de Cemitério das Cinzas por essa cidade. Não sabia que era tão famosa!

Soul observou a ação de Alice, e ficou quieto. Lydia puxou Alice um pouco pra trás.

— Não sou um cosplay, crianças. — Galeno voltou a alisar a barba, e olhar um por um. — Sinto muito decepcioná-las. Se não tem medo de mim, aconselho começar a temer. Aliás, o medo é sempre um bom escudeiro.

O homem usou de uma voz áspera e penetrante. Parando seus olhos vermelhos em Alice, ele riu maldosamente.

— Principalmente você, loirinha. — ele deu dois passos até ela, Lydia apertou a mão da prima com mais força. — Não se faz piada dos outros assim, é desrespeito. Terá motivos para temer a mim garota.

A brava coragem de Alice vacilou, ela sentiu os olhos vermelhos de Galeno perfurando sua alma, e suas palavras tocaram como uma melodia de terror. Soul que observava extremamente intrigado caminhou em direção á Alice, parando ao seu lado e pegou sua mão. Os três estavam em frente ao homem estranho, de mãos dadas e braços colados.

— Está na hora de você ir embora. — Soul o olhou nos olhos como se não tivesse medo, e falou com certo quê de autoridade na voz. — Vá embora agora, senhor Withlock.

Galeno sorriu mostrando os dentes amarelados ao ouvir seu sobrenome.

— Uh, bravo, bravo, senhor Ashter — Galeno riu malignamente para Soul que sentiu o corpo tremer um pouco e Alice apertar sua mão. — Eu vou sim, belíssimas crianças, mas, obviamente, eu volto. Terão notícias minhas. Adeus.

Ele riu com os dentes sujos e arregalou brevemente os olhos vermelhos, e num aceno simples deu às costas para os adolescentes, andando devagar, deixando as vestes negras arrastarem pelo chão, até virar numa esquina e desaparecer. Assim que Galeno sumiu de vista, Alice largou as mãos de Lydia e Soul, virando-se de frente para os dois.

— Mas o que foi isso? — ela perguntou num sussurro ríspido. — Vamos ligar pra polícia agora mesmo.

 Alice sacou o celular, mas Soul o agarrou de sua mão.

— Não! — o rapaz apertou o celular da irmã. — Não, não, não vamos ligar.

Lydia puxou o celular da mão de Soul.

— É claro que vamos! — ela afirmou. — Fomos ameaçados por um cara estranho, Soul. Ele sabe nossos nomes. Onde estudamos. Isso é grave.

Soul pôs as mãos na cabeça e fechou os olhos com força, respirando fundo, bufou de raiva quando abriu os enormes olhos negros. Passou as mãos pelo rosto e começou a balançar a perna esquerda.

— Meninas, não. Está tudo sob o controle, ok? Ele é só um louco vestido de...

— Exatamente, Soul, um louco! — Alice cruzou os braços e bateu o pé.

— Não vamos chamar a polícia. — Soul falou baixo. — Não agora.

Lydia o olhou com incredulidade e riu debochada, depois respirou fundo algumas vezes.

— Ok, mas, definitivamente, não vamos contar isso aos seus pais. — ela afirmou, ajeitando a bolsa nos ombros e partindo em disparada em direção à sua casa.

**

Na entrada, um longo portão de barras de ferro coloridas num azul claro, com uma placa no alto escrito, esculpida e decorada em letras acinzentadas formando Clínica Psiquiátrica Westin Hills. Atrás do portão, era revelado um lugar bonito, com dois prédios altos – prédio A, que continha a primeira recepção, a sala dos médicos e enfermeiros e metade dos quartos; e prédio B, que contava com a segunda recepção, com a área dos funcionários de limpeza, zeladores, a outra metade dos quartos mais a solitária, quarto onde o paciente é isolado e sedado caso surte de forma incontrolável—, os prédios eram revestidos com paredes de vidro espelhado, e à deles havia frente um jardim vivo coberto de gramas bem aparadas, algumas árvores, várias flores diferentes, e bancos de madeira. Uma lagoa no canto do jardim abrigava pequenos peixes, e tinha alguns pacientes – os menos problemáticos e mais lidáveis – com roupas totalmente brancas: calças longas e blusas, sentados na beira da lagoa, e outros nos bancos de madeira, conversando, ou apenas olhando para o nada. O lugar era frio e silencioso. No interior do primeiro prédio, havia uma bela sala e arejada sala, com muitos sofás, poltronas, um belo tapete comprido cor bege estirado no chão, janelas longas com cortinas de cores claras assim como as paredes, algumas mesas de xadrez e outras com jogos de tabuleiro. No canto da sala de estar dos pacientes havia uma bancada, com duas mulheres de cabelos negros, com roupas de enfermeira, observando os pacientes na sala enquanto organizavam alguns remédios em bandejas, catalogando-os especificando qual era seu efeito e para quais pacientes seriam designados.

— Está quase no horário de colocá-los pros quartos. — Jane Muriel, uma das enfermeiras, olhou para o relógio de parede que marcava quase oito horas da noite. — E levar os remédios para os pacientes impossibilitados.

Impossibilitados era uma palavra-código desenvolvida entre os enfermeiros e médicos do local para se referirem àqueles pacientes que não conviviam bem entre os outros, que ainda não estavam aptos a andarem livremente pelos prédios da clínica, aqueles que gritavam de insanidade ainda presos à suas camas. Pacientes como Enzo Daniel Monroe.

Enzo estava em seu quarto, no prédio A, deitado de barriga pra cima em sua confortável cama hospitalar, com um cobertor grosso sobre seu corpo, de olhos fechados, cabeça doendo levemente. Abriu seus olhos vagarosamente e olhou para seu lado direto. Havia apenas uma parede branca. Olhou para o lado esquerdo. Outra parede branca. Olhou para o teto. Outro campo sólido da cor branca. Ele estava quase acostumado àquele quarto sem cor, silencioso e torturante. Já ia fazer cinco semanas que estava preso ali.

Olhou em frente e viu a porta branca de trinco prateado fecha, podia ver a luz do corredor transparecendo através dos feixes da passagem. Anonimato sentou-se na beirada da calma, estalou o pescoço e respirou fundo. Estava em abstinência, essa era verdade. Isso era bom e ruim, a mente do autor estava – pela primeira vez em anos – quase totalmente limpa, embora os surtos ainda fossem comuns, ela estava relativamente mais lúcido.

Levantou-se da cama, trajando roupas brancas e largas, se arrastou até a parede onde ficava a porta, e leu, pela décima vez, seu prontuário.

Enzo Daniel Monrie

44 anos

Diagnosticado com Esquizofrenia

Surtos psicóticos causados por um êxtase não identificado

Família não identificada

Dependente governamental com verbas próprias

Enzo acariciava seu prontuário, ficava ali por horas. Agora, pela primeira em muito tempo, sóbrio, ele conseguia distinguir as coisas. Conseguia se lembrar da noite em que fora arrastado para este lugar, consegue se lembrar de sua história, de seus comentários lindos que um dia existiram e que de repente evaporaram. Ele se lembrava de detalhes de sua vida dos quais não costumava pensar tanto, começou a ter lembranças mais profundas, e que lhe dava, no maior nível possível, raiva.

Enzo foi tirado de seus pensamentos quando ouviu um barulho na porta do quarto, e se viu sentado no chão frio, abraçando os joelhos. Levantou-se abruptamente do chão, deu alguns passos pra trás, agora conseguindo enxergar a figura que atravessava a porta. O escritor abriu um longo sorriso, e o homem que atravessava a porta a fechou, e assentiu para Anonimato.

— E então? — Enzo perguntou, numa voz carregada de ansiedade.

O homem piscou os olhos vermelhos, abriu um sorriso escárnio, falando numa voz rouca e arrastada.

— Tudo como o planejado, Mestre.

O sorriso de Enzo se apagou, sua face se tornou inexpressiva por uns instantes, mas logo se tornando inteiramente intrigante, em seguida, um sorriso maldoso surgiu em seus lábios finos.

— Você pode começar sua missão, Galeno. — Anonimato caminhou vagarosamente e parou em frente ao homem que invadiu seu quarto. — Você sabe o que fazer.

Galeno ficou sério, assentiu devagar como um robô, e pegou na maçaneta da porta.

— E o farei. — ele falou num tom baixo, levemente como um sussurro, girou a maçaneta fria e deixou o quarto.

Enzo sentou-se em sua cama, encarou a parede em sua frente. Sua mente borbulhava na esperança das coisas que aconteceriam dali em diante. Oh, sim, estava para acontecer o evento apocalíptico da vida de Enzo Monroe, e nossa, como ele amava aquilo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui ♥