Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 6
V: Reflect


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta, e agora com uma capa! Deu trabalho fazê-la, mas acho que valeu a pena.
Enquanto isso, Himiko está no Centro Pokémon de Petalburg. E pelo visto, seu pai já sabe que ela está por lá. Afinal, o que ela quer tanto falar com ele? O que tanto o passado de Himiko esconde?
Se quiser descobrir. só tem um jeito...



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Himiko não se lembrava dos detalhes após receber a caixa do entregador. Passara os últimos quinze minutos sentada, analisando o pacote sem abri-lo. Seu plano de fazer uma visita surpresa a seu pai no ginásio estava completamente frustrado. Devido a isso, tinha certeza de que não haveria como ela arrancar nenhuma informação dele.

Como ele ficou sabendo?

Inúmeras teorias começaram a passar pela sua mente. Talvez o Professor tenha entrado em contato com Norman, bastante provável considerando que era a filha deste que estava saindo em jornada. Ou então Natsumi ainda estava em contato com o ex-marido. Himiko não duvidava da última hipótese, pois acreditava que a mudança de endereço não fora nenhuma coincidência.

Mas logo a curiosidade tomou força. A garota queria saber o que diabos ele teria mandado a ela. Não era apenas uma carta, pelo tamanho da caixa, ainda que o pacote fosse bastante leve.

Ela abriu a embalagem, que continha uma grande quantidade de plástico protetor. Pelo menos isso explica o peso, pensou ela. A surpresa veio quando Himiko notou o que estava tão protegido.

Como ele…

Era uma pokédex, de último modelo. Exatamente como a enfermeira de Oldale havia descrito. Segundo a embalagem, havia informações sobre mais de 350 espécies de Pokémon, o que englobava todo o habitat de Hoenn.

A teoria de que Norman havia se comunicado com o professor ganhou força para Himiko. E pensar que eu estava falando com Birch ainda a pouco… porque eu não imaginei que isso poderia acontecer?

A garota só foi notar que havia um envelope junto com o pacote quando ele caiu no chão. Ela decidiu abrir a carta e ler o que estava escrito:

Esse canalha… Nem sequer citou…

Himiko se surpreendeu com a mensagem. A princípio, parecia uma carta comum, de um pai arrependido por ter abandonado a filha. Antes fosse só isso.

Não, ela tinha certeza que Norman estava tentando esconder alguma coisa. A treinadora sabia que não encontraria a pessoa que estava procurando, ainda mais agora que ele já havia escapado por entre seus dedos. Mas ela sabia que Norman não poderia fugir para sempre.

Himiko deixou um recado na recepção de que voltaria mais tarde naquele dia para pegar mais informações sobre o Sentret. Havia um local na cidade de Petalburg que ela não sairia sem fazer uma visita, ainda que fosse encontrar o local vazio.

Curiosamente, o ginásio de Petalburg não estava fechado como era de se esperar.

Assim que Himiko entrou, ela notou o grande saguão, que estava sendo usado como uma sala de aula improvisada naquele momento. Cerca de duas dezenas de crianças, na faixa entre cinco a oito anos, sentavam-se ao chão, enquanto uma mulher em sua meia-idade (e um vestuário bastante extravagante, pensou Himiko) falava sobre envenenamento.

— Por isso — dizia ela — vocês não devem se aproximar de Wurmples caso encontrem algum andando dentro de casa!

A professora fez um gesto com a mão, sinalizando para Himiko que ela poderia aguardar. A treinadora então se sentou próximo à porta, e sentiu-se relaxada com a voz monótona que ecoava pelo saguão. Ela percebeu que as crianças pareciam tão entediadas quanto ela, antes de se distrair por completo. Himiko estava em um estado de semi-sonolência quando a aula terminou.

— Você queria alguma coisa? — perguntou a professora, cutucando Himiko no ombro. Ela, em súbito, levantou-se do chão, como quem disfarçava estar cochilando.

— Eu… estou procurando o Norman, ele está por aqui?

— Infelizmente não… Ele viajou esta manhã para Ever Grande para uma reunião com a Elite dos Quatro… — Himiko começou a medir a professora com os olhos enquanto ela falava. Sua voz tenra contrastava com o seu porte físico. Tinha quase um metro e oitenta (descontando aí alguns centímetros do salto que usava), e seus ombros largos davam um ar masculino a sua fisionomia. A maquiagem destacada, junto a um collant vermelho com um laço gigante nas costas (que lembrava asas) era uma tentativa de dar um ar mais feminino, apesar de causar o efeito contrário na visão de Himiko, fazendo-a parecer uma drag queen.

— Que dia ele volta? — perguntou Himiko, sem rodeios.

— Ele não falou, mas imagino que até a semana que vem ele volta… aliás, posso te dar um conselho?

Himiko se surpreendeu com a atitude da professora. Concordou dando um resmungo.

— Norman é um dos líderes de ginásio mais fortes de Hoenn, e você pelo que vejo é apenas uma treinadora iniciante. Não acho que tenha chance contra ele.

— Qual o seu nome mesmo? — Himiko perguntou, enquanto pensava em como responder a altura. Não queria ser deseducada, ainda que a situação pedisse.

— Ravena.

— Então, Ravena… Não creio que deve ser de seu interesse, mas tenho assuntos particulares a tratar com ele que valem muito mais que uma batalha por insígnia.

Ravena tentou fazer uma cara de surpresa com a resposta de Himiko, mas não convenceu.

— Não precisa me tratar assim! Sua mãe não lhe deu bons modos?

Himiko respirou fundo. Decidiu por ficar calada.

— Como eu ia dizendo… você pode até esperar, mas duvido que ele te receba; ele não costuma nem conversar com treinadores iniciantes…

— E como você sabe que ele não vai me receber?

— Ele não tem paciência com crianças. Tanto é que ele me contratou para dar aulas para os novatos no lugar dele.

Himiko concordou. Podia não ter memórias recentes, mas sabia o pai que tinha. Decidiu mudar um pouco o tom da conversa.

— Ele mora aqui no ginásio mesmo, ou tem uma casa aqui?

— Olha, menina. — Ravena respondeu em um tom mais ácido. — Eu não sei nada da vida pessoal dele, não faz parte do meu trabalho.

— Mas ele mora sozinho? Já comentou alguma coisa sobre a família ou algo do tipo?

— Bem, ele nunca comentou nada, deve morar sozinho. Mas porque você quer saber disso?

— Assuntos pessoais, eu já disse… — Himiko não gostou do tom que a conversa tomava.

— Eu sei que não é da minha conta… — Ravena encarou a treinadora, com uma expressão talvez ameaçadora. — mas se você quer tanto falar com ele, comece a disputar pelas insígnias da liga.

— Hã?

— Ele é um líder de ginásio, não? Você pode desafiá-lo por uma insígnia, e ele não costuma recusar bons desafios…

Himiko continuava olhando para ela, sem saber o que dizer.

— Está vendo aquela porta ali? — Ravena indicou uma porta de correr do outro lado do saguão, enquanto andava até ela. Himiko seguiu-a até a porta, enquanto notava o quão estranha parecia ser a fechadura. Ela tinha cerca de trinta centímetros e um formato que lembrava um leme de barco com quatro pontas. Havia uma marca vazada em cada ponta do leme, além de uma no centro.

— Essas marcas aqui são referentes às cinco insígnias do oeste de Hoenn. — Ravena explicava. — A do centro é a insígnia daqui de Petalburg. E as outras quatro são dos ginásios de Rustboro, Dewford, Mauville e Lavaridge. — Ravena apontava cada uma delas enquanto falava o nome das cidades. — As insígnias funcionam como chaves para esta fechadura.

— E o que você quer dizer com isso?

— Digo que você pode entrar na sala dele a qualquer momento se você conseguir as quatro insígnias. Basta colocá-las na porta, e girar o leme para destrancá-la.

Himiko ficou intrigada com as possibilidades que se abriam. Por um lado, ela teria livre acesso à sala de Norman caso ele não retornasse ao ginásio, e tinha a possibilidade (ainda que remota) de encontrar alguma informação útil. Por outro, conseguir as insígnias daria bastante trabalho, sem contar o tempo de viagem.

Nem mesmo ela conseguia dizer o que a convencera de fato a aceitar a sugestão de Ravena. Talvez fosse o fato de Rustboro ser uma cidade bastante próxima de Petalburg, ou então o fato de que Norman havia mencionado a cidade em sua carta. O fato é que Himiko estava tão absorta em seus pensamentos que só voltou à realidade quando estava saindo do ginásio, visto que um garoto de cabelos loiro-esverdeados literalmente trombou com ela enquanto passava pela porta.

Deve ser meu karma, pensou Himiko ao ser levada ao chão.

— Mil perdões, me desculpe! — dizia o garoto. A voz entregava sua idade ainda precoce. Tinha no máximo quatorze anos, e seus cabelos acentuavam a palidez de seu rosto.

— Ora, se não é Wally! — Ravena parecia surpresa de encontrar o garoto. — Achei que já tivesse se mudado!

— Estou indo amanhã. — disse ele, imediatamente ignorando Himiko. — Eu queria me despedir antes de ir…

Himiko se levantava, analisando o garoto enquanto sentia de novo as dores da pancada que recebera na véspera. Ele era quase um palmo mais baixo que ela, além de bastante desengonçado, e sua aparência desleixada não ajudava. Mas o seu traço mais marcante era a pele bastante clara, quase fantasmagórica — A garota se perguntava se ele era assim mesmo, ou se ele estava doente.

— Espero que dê tudo certo em Verdanturf. — dizia Ravena

— Não mais do que eu, pode ter certeza… — Wally parecia animado, mas ao mesmo tempo triste com a mudança. — Uma pena que não conheço ninguém lá, vou acabar voltando a ser sozinho como sempre fui…

— Ora, vamos, você é uma pessoa bacana, tenho certeza que vai conhecer novos amigos por lá… — Ravena tentava animá-lo, apesar de que Himiko (que só agora conseguira ficar de pé novamente e começava a se distanciar do ginásio) percebia pelo tom da voz que ela não estava tão confiante quanto tentava parecer.

— Sabe, professora… — Wally respondeu, com a voz enfraquecendo. — Acho que eu preciso mesmo é de um Pokémon pra eu cuidar.

Himiko parou, sem se virar. Não estava prestando atenção de verdade na conversa, mas ao ouvir a última frase, algo lhe dizia que ela sabia qual seria a resposta da professora. E não deu outra.

— Desculpe, Wally. Você ainda não está em condições… Talvez quando você estiver melhor, mas hoje ainda não posso permitir…

Himiko teve um flashback. Passara por uma situação bastante semelhante havia cerca de quatro anos, quando ela fez o teste de admissão para novos treinadores em Johto. O professor responsável pela região havia elogiado bastante o desempenho dela na prova, mas havia considerado que ela não tinha o preparo mental necessário para se tornar uma treinadora, reprovando-a.

E agora ela via uma situação semelhante ocorrer diante de seus ouvidos. Ela resistiu ao impulso de se virar, e voltou a andar lentamente, ainda entristecida pela lembrança. Foi quando Wally passou chorando por ela.

Himiko, por impulso, cutucou o ombro do garoto enquanto ele passava. Wally virou-se, mostrando os olhos avermelhados e cheios de lágrimas. Ela sorriu de volta, e comentou:

— Olha, eu acabei de te conhecer, mas… se quiser desabafar com alguém…

— — —

Já passava do meio-dia. Himiko logo conseguira tirar as lágrimas do rosto de Wally com uma conversa. Os dois se encontravam sentados em um banco na praça central da cidade, enquanto contavam suas histórias de vida um para o outro.

— Eu sempre fui sozinho — dizia ele. — Tenho uma irmã, mas ela é doze anos mais velha que eu. Ela sempre teve a vida dela, e eu nunca tive com quem brincar… Foi por isso que meus pais me colocaram cedo para estudar, mas mesmo assim, sempre fui o excluído da turma, o fracote, o autista…

Himiko mais ouvia do que falava. Ela não se sentia preparada para falar sobre sua vida assim, ainda que ele estivesse se abrindo dessa forma.

— Foi de uns meses pra cá que comecei a me enturmar mais, sabe? — ele continuava — Quando a Ravena começou a dar aulas na nossa turma, ela tratou de me ajudar nisso. Ela me colocava pra fazer trabalhos em grupo, ficava em cima pra garantir que não iriam me ignorar… E fui mostrando pra eles que eu sempre fui normal, que eu não mordia… — ele sorriu fracamente ao dizer isso, pela primeira vez naquele dia.

— Você diz isso porque…

— Eu sempre fui assim, Himiko. — Wally continuou. — Eu tenho arritmia crônica desde que eu nasci; por isso sou franzino e pálido desse jeito. Meu tio sempre quis que eu me operasse, mas meus pais eram contra…

Himiko ficou em silêncio, pensativa. Tinha certeza que ele vivera muitas dificuldades.

— De anteontem pra cá, eu comecei a piorar… Eu não devia nem ter saído de casa, mas eu pulei a janela pra vir falar com a Ravena e agradecer. Meus pais devem estar preocupados comigo, viajamos amanhã para Verdanturf para a minha cirurgia… e vou acabar ficando por lá com meu tio até eu me recuperar…

Ele se emocionava ao dizer isso. Himiko olhou discretamente para sua mochila, aonde havia metade das pokébolas que recebera de Brendan. Decidiu tomar uma atitude.

— Wally… vem comigo! Eu vou te ajudar a capturar um Pokémon!


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Notas finais do capítulo

Estavam esperando por isso?
Não se preocupem, saibam que eu não dou ponto sem nó, então tirem suas conclusões.
Quem é Ravena? Porque ela se preocupou tanto com Himiko? Qual vai ser o papel de Wally no meio dessa história?
Ainda há muita água pra rolar debaixo dessa ponte. Então, não percam!

(off: porque o Nyah não permite editar a fonte do texto? Pelo menos dá pra escapar transformando a carta em imagem, mas... não é a mesma coisa.)

Notas do in-game: Nenhuma (precisava mesmo escrever isso?)



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