Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 44
XLIII: Spit Up


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos.
Antes de começar quero comentar aqui alguns marcos históricos atingidos com esse capítulo.
Primeiro, que esta fanfic acabou de atingir a marca de cinco mil visualizações entre o capítulo passado e este. Bem, não dá pra ter muita noção de quantos leitores eu tenho na prática, contando os que me acompanham sempre que eu atualizo, os que estão acompanhando mas atrasados, os que começaram a ler mas pararam no meio... Mas suponho que já possa comemorar.
Outro ponto que este capítulo é marcante é por eu ter concluído meu caderno com ele. Sim, devo ter comentado em algum momento que passei a escrever à mão, para só depois digitar (o que me ajudou muito a melhorar a escrita). Terminar um caderno é uma sensação gratificante, poder saber que a ilustração do Ikazuchi que fiz na capa, já desbotada, vai poder descansar em algum canto no armário...
E terceiro ponto, que depois de um tempo voltei a receber comentários aqui no Nyah. Sei que estão atrasadas na leitura, mas deixo meus agradecimentos para a Tsu e para a Petra por terem se importado ao ponto de deixarem um oi por aqui.

Então, voltando para a história em si, espero que você não esteja muito perdido/a com os acontecimentos até o momento. Caso sinta necessidade, pode voltar para dar uma repassada em alguns capítulos, mas espero que não seja necessário.
O porquê está logo aqui neste capítulo, o qual promete amarrar boa parte das pontas soltas dessa história...



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— Que porra é essa?

A irritação de Larissa era facilmente justificável após ter os aposentos invadidos por um trio nada ortodoxo como aquele, composto por uma treinadora adolescente, um Gardevoir pouco usual e uma Lombre com um balde azul apoiado sobre a folha em sua cabeça.

— Você está devendo umas boas explicações! — Himiko vociferou, ignorando ter acabado de invadir a cabine da colega.

— Eu não, você é quem tem que se explicar, o que pensa que está fazendo arrombando a porta desse jeito?

— Você primeiro, Larissa! — Himiko insistiu. — Explica pra Rejane aqui porque você a abandonou daquele jeito!

— Isso é uma brincadeira, não é? — Larissa retrucou, desviando do balde que era atirado em sua direção pela pokémon. — Eu nunca faria uma coisa dessas!

— Mas você fez, não foi? Só não imaginava que ela pudesse te encontrar de novo…

— De onde você tirou essa ideia ridícula?

— Ela já me contou tudo, não precisa se fazer de desentendida. Até porque não foi só ela, não é? Você fez a mesma coisa com um Seviper…

Se Himiko ainda tinha alguma dúvida a respeito das acusações que atirava contra a colega, ela se esvaiu após a última menção; o modo com que Larissa arregalou os olhos ao final da frase lhe deu a certeza de que estava no caminho certo ao confrontá-la.

— Quê? — A coordenadora urrou, agarrando-se ao travesseiro.

— Você gosta muito de fingir, mas não engana ninguém. Me poupe das suas desculpas, até porque não é para mim que você tem que se explicar, é para ela!

Himiko encarou a garota duramente, sabendo que não conseguiria fazê-la falar, pelo menos não a verdade. Afinal, uma treinadora disposta a abandonar seu pokémon de modo tão grosseiro seria igualmente capaz de mentir para se safar daquela situação.

Mas, antes de qualquer resposta, notou quatro pokébolas flutuando a sua frente, saindo da bolsa de Larissa em direção ao canto oposto do quarto, fora do alcance dela.

— Só por segurança. — A fala, apesar de ter saído dos lábios de Himiko, pertencia ao Gardevoir, a se fazer pronunciar através dela, não sem um olhar de reprovação da treinadora.

— Vocês estão loucos! — Larissa bradou, levando uma das mãos ao pescoço. — Vocês não me conhecem, ou saberiam que eu nunca seria capaz de fazer mal a alguém!

— Eu tenho certeza que foi por isso que você se livrou da Rejane daquele jeito, fazendo parecer um acidente. Porque se você fosse capaz, certamente a teria matado! E por muito pouco não foi isso que aconteceu!

— Você não sabe de nada!

A resposta veio acompanhada do balde, tendo sido atirado de volta com a intenção de atingir Himiko, mas com sua trajetória alterada através da telecinesia de Futa.

— Você se acha inteligente… aliás, eu tenho que admitir que você é, mas o seu mal é achar que é mais esperta que os outros, que ninguém iria perceber!

A essa última frase, a treinadora cutucou o Gardevoir com o cotovelo, incomodada com a nova intromissão na conversa; não gostava nem um pouco da sensação de ser controlada por ele, um desconforto indescritível ao se perceber aprisionada dentro de seu próprio corpo.

Me desculpe, Himiko, mas eu preciso fazer isso ou ela vai escapar!

A resposta mentalizada pelo pokémon não lhe confortou muito; ela poderia tentar lutar contra o controle dele, ou mesmo chamá-lo de volta para a pokébola se realmente desejasse que ele não a usasse como um fantoche. Acabou resignando-se, permitindo que ele se manifestasse através dela, a julgar pelo tom que a conversa pedia.

— Eu me lembro bem de você em Mauville, naquele dia no ginásio. Eu sabia que você estava assustada, mas só agora percebo o porquê…

— Agora vai querer mudar de assunto?

— Você está assustada demais… tem tomado decisões precipitadas uma atrás da outra, uma bola de neve que saiu do seu controle desde o sumiço repentino do Wattson…

— O que uma coisa tem a ver com a outra?

— Tudo, afinal foi você que começou com isso. Pelo jeito como está pálida acho que não vai se lembrar de muita coisa, mas eu posso contar como eu penso que foi, me corrija se eu estiver errada…

Larissa suspirou, puxando o ar com força em uma tentativa de se recompor; Futa aproveitou a oportunidade para começar a falar através de sua treinadora:

— Primeiro de tudo que o Contest em Mauville era só uma desculpa. Afinal, você precisava ir atrás do Wattson como seu chefe deve ter lhe ordenado. Não me arrisco a dizer os motivos, mas não deve ter sido uma visita muito amigável, não é? Chantagem, talvez? Era só um velho cansado, não deveria ser difícil de arrancar alguma coisa dele… mas as aparências te enganaram, ele não era nenhum indefeso, sua única chance foi usar o Seviper para atacá-lo… uma péssima ideia, devo dizer. Mas você estava desesperada, e ele não era mais tão jovem… acabou morto. É, eu sei que você não queria ter feito isso, por vários motivos. Principalmente pelo Seviper, que estava fora de controle. Eles ficam assim após sentir o gosto de sangue, é da natureza deles. E era também a arma do crime. Foi por isso que você o deixou para trás, destruindo a pokébola assim que teve chance.

Um baque seco denunciou a surpresa de Rejane, a qual caiu sentada em choque com a revelação.

— Claro que a Rejane aqui não sabia de nada. Nenhum dos seus pokémon sabia, mas só ela se incomodou o suficiente com a ausência do Seviper. De tanto ela te incomodar, você achou por bem abandoná-la. Não queria ninguém te lembrando a respeito do crime. Não só você não sabia como lidar com o fato de ter matado alguém, como também precisava dar um jeito na situação e não queria ninguém te atrapalhando. Até porque a essa altura você já tinha um plano, iria forjar uma ameaça de morte contra Wattson e dizer que ele fugiu. Depois do que aconteceu em Rustboro, não iriam duvidar.

— Você estava assustada — continuou —, com medo de ser descoberta. E aí vem aquela ligação te mandando assumir o ginásio. Provavelmente a mesma pessoa que mandou você resolver as coisas com o Wattson, suponho. Era a oportunidade perfeita para você, poderia facilmente colocar a falsa ameaça de morte nas coisas dele e estaria tudo resolvido. Mas eu cheguei no ginásio antes de você colocar o plano em ação. Não tinha problema, afinal eram só dois adolescentes atrás de uma insígnia, então você seguiu com o papel de líder substituta e foi lutar conosco. Só que você percebeu que era uma armadilha do seu chefe desde o início e que ele tinha mandado aquele capanga para te matar. Tivemos sorte de ele ser um desastrado ou nenhum de nós estaria aqui agora…

— Para de falar merda! — Larissa vociferou.

— A besta aqui estava achando que era um acidente, mas você sabia do que se tratava. Aproveitou a confusão para entrar no escritório do Wattson terminar com seu plano, depois fugiu dali apressada. Você entendeu o risco que estava correndo, sabia que ninguém teria coragem de invadir o centro pokémon, e foi para lá que você fugiu, carregando as duas testemunhas do crime. O problema é que elas estavam mais interessadas do que você em saber o que tinha acabado de acontecer. Se livrou de um problema, só que arranjou outros dois… Foi então que você percebeu que precisava de ajuda, e pediu para o seu colega Diego terminar o serviço por você…

Himiko tremeu com a última frase, duvidando das palavras que saíam de sua boca. Não sabia se era pior estar descobrindo isso daquela forma, ou se estava mais assustada com o fato de Futa nunca ter comentado a respeito com ela.

— Apesar de tudo, conseguimos escapar, vivos, mas não ilesos. A Rejane foi testemunha da fuga. Claro que a essa altura você já tinha avisado a todos os outros para tomarem cuidado comigo e se livrarem de mim… Inclusive a Ravena, que já estava me esperando no ginásio de Petalburg quando cheguei… Mas para o azar dela eu não estava sozinha dessa vez, a polícia já estava mobilizada a fim de desmontar o esquema de vocês… Acabei servindo de isca, e ela terminou presa. E tenho certeza que você ficou sabendo disso na mesma noite, não duvido que tenha alguns da sua laia infiltrados na polícia que te vazaram essa informação.

— Você devia estar morta!

— É, eu sei disso. Você mesma fez questão de falar isso na noite seguinte, assim que cheguei de volta em Mauville. Foi aí que eu saquei que alguma coisa estava errada, porque você não teria como saber que eu estive em Petalburg. Mas você estava assustada demais para pensar, acabou falando mais do que devia. A essa altura eu já sabia sobre a Rejane e o Seviper, mas não tinha ligado eles a você. Se eu soubesse, teria te colocado na parede lá mesmo em vez de fugir…

— Então você já sabia?

— Aí é que está a parte mais engraçada, eu não sabia. Mas tinha motivos o suficiente para desconfiar. E você, quando viu que eu tinha escapado mais uma vez, correu e ligou para o Diego outra vez. Achou que ele me pegaria desprevenida em Fortree, como fui burra o bastante para te contar. E você imaginou que estaria tudo resolvido, porque ele nunca poderia falhar por duas vezes. Você até se assustou por ele ter deixado eu escapar na primeira oportunidade… E então você se depara comigo aqui no navio hoje. Está cada vez mais perdida, não poderia imaginar que eu estivesse viva. Recorre a uma medida desesperada, tenta me envenenar com uma ferroada de sua Roselia, o que só mostra que você nunca fez isso antes, ou saberia que não iria surtir muito efeito, porque as toxinas ficam acumuladas nos espinhos da cabeça e não nas mãos!

— É, eu realmente te subestimei. — Larissa anunciou, tomando uma posição mais ereta na cama. — Mas no final não vai fazer muita diferença…

A coordenadora não chegou a completar sua frase, tendo sido imobilizada pelos poderes de Futa antes de alcançar outra pokébola, oculta em um acessório que usava no cabelo; o objeto foi prontamente retirado dela, sendo colocado junto com as outras esferas.

— E por que não faria? — Himiko questionou. — Achou que eu não pensaria nessa possibilidade, principalmente depois de a Ravena ter feito a mesma coisa?

— Não vai fazer diferença, porque você não pode provar nada!

— Você acabou de confessar tudo na minha frente, como assim não tenho provas?

— É a sua palavra contra a minha. Acha que vão dar mais valor na palavra de uma treinadora qualquer, ou na da coordenadora-chefe de Lilycove?

— Na verdade, é a sua palavra contra a sua, Larissa. Eu pareço uma pessoa despreparada para você?

A um sinal do Gardevoir, foi revelada a presença de dois pokémon até então ocultos no cômodo, pouco atrás de Himiko e não percebidos nem mesmo por ela. O primeiro deles, não causando muita surpresa a ela, era Nolan, o Gengar que tanto a importunara desde a noite anterior. Seu papel ali era o de ocultar o seu acompanhante, sendo ele um Magnemite também reconhecido pela treinadora, tendo servido de companhia para ela quando de uma viagem ao fundo de uma van.

Era o pequeno acessório na cor negra, acoplado sobre o parafuso superior do pokémon metálico, que demonstrava o motivo de sua presença; o objeto, tal como um microfone, permitia que ele captasse e retransmitisse cada palavra dita naquele cômodo, tal como um gravador de voz o faria.

— Mas que filha da puta você é! — Larissa urrou novamente, derrotada. — Eu devia saber desde o início que você não era treinadora porra nenhuma! Deve ser da polícia, infiltrada esse tempo todo. Me enganou direitinho!

— Esse é o seu mal, Larissa, você pensa demais! Por isso acaba pensando besteiras e fazendo o que não deve!

— Merda! — Ela esbravejava, virando-se para baixo para não ter de encarar nenhum dos presentes. Doía ter a verdade jogada em sua cara, uma verdade que tanto tentara esconder. Encarar a Lombre ali sentada, incrédula com a sua capacidade de cometer tantos crimes, apenas fazia com que se sentisse pior, até mesmo por tê-la abandonado; sabia que ela era quem menos merecia passar por aquilo, mas na tentativa de proteger tanto a ela quanto a si própria, acabou fornecendo uma peça chave para que acabasse daquele jeito.

— A verdade sempre aparece. — Himiko comentou, finalmente liberada por Futa, que agora se concentrava somente em conter a criminosa, observando-a para que não fosse pego desprevenido. — Você não devia estar tão surpresa assim.

— Depois de tudo ainda vai ficar jogando na minha cara? — Larissa respondeu, a voz ligeiramente embargada, porém firme. — Eu sei de tudo o que eu fiz, não precisa ficar me provocando. Você já me pegou, então pelo menos deixa eu sofrer sozinha, tá legal?

A reação da coordenadora não foi a esperada. Himiko imaginava que ela fosse se revoltar com a situação, proferindo mais palavrões e tendo de ser contida fisicamente, ou talvez o oposto, fechando-se completamente e tentando bancar a vítima. O fato de ela manter-se relativamente neutra, aceitando a derrota sem se entregar às lágrimas, mostrava muito mais de sua personalidade do que a treinadora sequer poderia imaginar.

— Não devem demorar a chegar. — Nolan anunciou, certo tempo depois, seu breve sumiço tendo passado despercebido. — Vocês dois, bom trabalho!

Himiko não respondeu, imaginando não estar incluída na fala do pokémon fantasma. Mais provável que estivesse se referindo ao Magnemite ou à Lombre, o que não se atreveu a perguntar a respeito.

A informação do Gengar logo se mostrou verdadeira com a chegada de quatro pessoas uniformizadas, tal como o rapaz que a ajudara no momento da ferroada. Eram tripulantes do navio, nenhum deles da polícia ou algo do tipo. Futa entendeu sua deixa, retornando por conta própria para sua pokébola antes de a comitiva perceber sua presença.

— Você, venha comigo! — Um dos tripulantes segurou Himiko pelo braço com força o suficiente para lhe puxar, mas não o bastante para machucá-la. — Deixe que os outros cuidam do resto!

Sem opção, Himiko obedeceu; deu uma última olhada para Rejane, a qual sorriu de volta, como quem afirmava preferir ficar por ali para acompanhar a conclusão do caso.

A insegurança voltou a atingir a treinadora quando se viu dentro de outra cabine, afastada da confusão; o rapaz a lhe acompanhar fechando a porta, somente os dois naquele minúsculo cômodo.

— Sua louca! Tem noção do risco que estava correndo?

Himiko não respondeu, mas manteve o olhar firme no homem que lhe conduzira até ali. Apesar do modo com que ele a repreendia, não havia nenhum tom de ameaça em sua voz. Ao silêncio da garota, ele continuou:

— Se essa moça fez metade do que você a acusou ela poderia ter te matado ali mesmo enquanto você falava!

— E o que você sabe a respeito? — Himiko retrucou.

— Inocência sua usar um Magnemite para gravar a conversa dentro de um navio e achar que não estariam monitorando a frequência. Ouvimos tudo da cabine de comando!

A treinadora limitou-se a respirar fundo, sem ter certeza se essa parte estava incluída no plano executado pelo Gardevoir.

— Você teve muita sorte nessa, conseguimos chegar a tempo e já acionamos a polícia, eles vão esperá-la no porto… e eu no seu lugar ficaria aqui escondida!

— Você me faz parecer uma despreparada falando assim, mas vamos fazer do seu jeito então.

— Eu vou lá ver como estão as coisas, não vá tentar nenhuma gracinha até lá!

Ao bater da porta na saída do tripulante, Himiko teve um súbito desejo de ignorar o conselho recebido e verificar o que estava acontecendo. Sentia que havia algo de errado na maneira com que fora levada até lá, transformada em certeza quando ouviu o barulho de um cadeado se fechando pelo lado de fora.

Duas possibilidades passavam por sua mente, nenhuma delas satisfatória. A hipótese otimista era que sim, tudo o que o rapaz falara era verdade e que estavam dando um jeito na situação, e que só havia sido trancada na cabine para que pudesse prestar depoimentos na delegacia, repetindo todas as acusações, como sabia ser incapaz de fazer sozinha. A outra alternativa era que esses tripulantes estivessem tentando se livrar dela para ajudar Larissa.

Felizmente as notícias chegaram antes que Himiko pudesse se desesperar.

— Esses caras são bons mesmo! — Nolan comentou, atravessando a parede para se comunicar. — O primeiro deles usou o Magnemite para paralisá-la, outro já chegou com as algemas… Nem deixaram a outra abrir a boca!

— Ainda bem! Eu estava ficando preocupada!

— Pode ficar tranquila, eles estão levando tudo a sério! Depois te dou os detalhes!

E, com a saída repentina do Gengar, Himiko se viu enfim sozinha, em uma oportunidade ideal para resolver um problema que a muito lhe incomodava. Sentia inclusive que era esse o motivo de ter sido deixada ali pelo pokémon fantasma, até mais do que a necessidade dele de acompanhar a confusão.

Imaginando que teria um tempo aceitável sem ser incomodada, chamou outra vez o Gardevoir, que se fez manifestar imediatamente, sem esperar pelos questionamentos da treinadora:

— Desculpe, Himiko, você sabe que eu precisava fazer as coisas desse modo! — Futa explicava-se mentalmente. — Ela era um problema, tentou te matar e tentaria de novo quando pudesse!

— Agradeço pela ajuda, mas você sabe que o buraco é muito mais embaixo…

— É, eu já sei, agora você está pensando como eu descobri tudo aquilo… não foi difícil, estava tudo na nossa cara, foi só juntar os pontos e…

— Então por que não me alertou quando teve chance? Se você sabia de tudo isso, podia ter me falado mais cedo e me poupado de tantos problemas!

— Eu não tinha certeza de nada, queria que eu te assustasse à toa? Você deve ter ouvido quantas vezes eu enfatizei que não tinha conseguido ligar os fatos e que achava que eram duas pessoas diferentes…

— Mesmo assim, podia ter me alertado! Eu nunca ia imaginar que ela fosse capaz de…

— E você acha que eu imaginava? Só fui perceber tudo agora com essa ferroada… Sem contar que você também não colabora!

— Tá de brincadeira comigo? Eu não colaboro? Eu que fico escondendo as coisas de você?

— Eu nunca escondi nada que fosse minimamente importante, Himiko!

— Ah, é? Deixa eu contar aqui… — a treinadora levantou um dos braços, estendendo os dedos enquanto enumerava. — Tem você atacando os guardas em Petalburg, aquele teletransporte errado em Lilycove, essas conversinhas paralelas que você anda tendo com o Nolan… Isso sem contar uma tarde inteira em Fortree que você se recusa a falar a respeito, e tenho certeza que é por sua causa que eu não consigo me lembrar de nada!

— Pera lá, vai com calma aí! Estou só te protegendo, já te falei que tem coisas que é melhor não saber!

— Quer saber de uma coisa? — Himiko bufou. — Foda-se! Foda-se o que é melhor ou não, você vai me contar de uma vez o que aconteceu, ou então eu vou te mandar direto pro professor Birch!

— Você não tem coragem! Não adianta fazer essas ameaças vazias achando que valem de algo…

— Está duvidando de mim, ou só com medo que eu realmente faça isso? Porque eu não tenho problema nenhum em ficar longe de um pokémon que eu não posso mais confiar!

O Gardevoir não respondeu de imediato, analisando a treinadora. Ela se mostrava estranhamente decidida a seguir com esse plano, uma iniciativa com a qual não estava acostumado a lidar, com ela sempre agindo por impulso e não com a razão. Acabou cedendo.

— Está bem. Mas não diga que não foi para o seu bem que eu evitei falar nisso…

E, tal como vinha se preparando desde a ocasião, Futa começou a mostrar as lembranças daquele final de tarde, desde que ela saíra da escola de Rangers com as negativas a respeito de April; ocultou, porém, os momentos traumáticos dentro da caverna em que ela caíra. Nesta lembrança modificada, o pokémon fez questão de manipular as memórias mais impróprias, fazendo parecer com que o Gardevoir tenha conseguido se libertar durante as agressões, através dos gritos de dor da treinadora. Sabia que não era sensato mostrar os detalhes mais sórdidos, capazes de ativar todos os traumas mais profundos dos quais ela mesma se protegia, os quais poderiam fazer com que, mesmo na mais otimista das hipóteses, ela desistisse de sua jornada.

— Satisfeita agora? — Futa pontuou, forçando um sarcasmo em uma tentativa de que ela não desconfiasse do quanto ele estava preocupado com a treinadora.

— Não, eu não estou satisfeita. Porque do mesmo jeito que você escondeu isso de mim, pode estar escondendo muito mais!

— Calma lá, Himiko, você sabe tão bem quanto eu que as coisas não são assim, até porque você percebeu o que eu fiz e teria percebido se eu tivesse feito outras vezes!

— Quer saber? Não me convenceu. Principalmente pelo jeito que você me usou agora a pouco. Sei lá, parece até que você quer tomar o meu lugar desse jeito!

— Lá vem você com esse drama exagerado…

Um leve impacto denunciou a chegada no navio ao porto; já haviam percebido que estavam perdendo velocidade havia alguns minutos, o que evitou uma surpresa maior pelo fim da viagem. Era também um sinal para o encerramento da conversa, tendo em vista a iminente chegada da polícia.

— Façamos o seguinte então, Futa. Você fica na sua, eu fico na minha. Não se esqueça que a treinadora ainda sou eu, por isso a última palavra é minha. Estamos entendidos?

— Eu só quero que saiba que tudo o que faço é para o seu bem…

— Entendidos?

— Está bem…

— Ótimo. — Himiko concluiu, baixando a guarda. — E obrigada pela ajuda hoje, sei bem que as coisas seriam diferentes se você não tivesse interferido.

O Gardevoir não respondeu, limitando-se a voltar para a pokébola. Não foi difícil perceber o porquê, o barulho vindo do lado de fora denunciando que o cadeado estava sendo aberto. O tripulante que a trancara ali havia retornado, logo fazendo se anunciar.

— Espero que esteja tudo bem — comentou —, um dos policiais quer conversar com você.

Himiko tremeu, sabendo que não seria uma conversa tão amigável. Provavelmente seria interrogada, tendo a veracidade das palavras gravadas pelo Magnemite questionada pela polícia. Um depoimento, tendo partido de Futa, cujo qual não se recordava de metade.

E por pouco não teve o restante varrido de suas memórias ao se deparar com Looker lhe observando do lado de fora.


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Notas finais do capítulo

Desta vez eu faço questão de pedir os comentários de vocês, para saber a reação que tiveram com essas revelações.
Sim, estamos cada vez mais próximos do final, não a toa eu falei que pretendo terminar a história este ano (mesmo com essa minha demora eterna para atualizar. Se fosse nos velhos tempos acho que terminaríamos antes do aniversário da fanfic, mas...)

Notas do In-game:
Considerando que eu passei por ginásios no jogo, mas eles são irrelevantes para a fanfic nesse momento, vamos fazer de conta que essas verdades cuspidas na cara foram o sétimo ginásio. Com a diferença que a líder era do tipo fantasma e, por sorte, não tinha nada de muito ameaçador, deu pra lidar com todo mundo sem maiores sustos (e sem precisar correr riscos com Futa e Nolan)

Status do time:
Pokémon: 6
Futakosei (Gardevoir) Lv. 70; Bold, Synchronize.
Ikazuchi (Manectric), Lv.70, Serious, Lightning Rod
Nagrev (Charizard), Lv.71, Naive, Blaze
Rejane (Lombre), Lv.70, Bold, Swift Swim
Nolan (Gengar), Lv.70, Docile, Levitate
? (Swampert), Lv.70, Relaxed, Torrent

Mortes: 9 +0 = 9



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