Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 26
XXV: Pursuit


Notas iniciais do capítulo

Demorei? Demorei.
Cinco semanas de novo... o que está acontecendo comigo?
Primeiro de tudo, provas finais na faculdade. Perdi mais do que uma semana com isso.
O restante foi entre planejamento, a postagem de duas oneshots (uma das quais, mais longa, me tomou certo tempo) e, é claro, o conteúdo pesado desse capítulo.
Qualquer coisa que eu falar a respeito dele é um spoiler, então não vou estragar a experiência de vocês. Apenas leiam.



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O cansaço decorrente da caminhada feita no dia anterior não necessariamente se traduziu em uma boa noite de sono. Himiko já se acostumava a não relaxar completamente, consequência dos vários pesadelos que teimavam a perturbá-la em seu descanso. E por conta da tragédia que se desencadeou na véspera ter sido mera consequência do que vira em de seus sonhos, ela decidiu que faria o que fosse possível para não adormecer profundamente. Mesmo que isso implicasse em não descansar. Não queria correr o risco de cometer um grave erro como havia feito na manhã anterior.

Não sentia que a ausência de relaxamento fosse um preço alto a pagar, pelo menos não até aquele momento, pela ansiedade que lhe mantinha em estado de alerta. Wally prometera lhe fazer uma visita ao centro Pokémon durante a manhã, tendo ou não conseguido a informação da qual ela dependia.

Uma resposta positiva dele lhe economizaria pelo menos três ou quatro dias de viagem. O percurso até Lavaridge era demasiadamente complicado, pelo qual teria de atravessar um caminho montanhoso, ou desviar dele por um trajeto ainda mais longo. Uma viagem que lhe custaria, com muita sorte, um dia e meio, tempo a ser contado em dobro por conta do retorno. Considerando os acontecimentos recentes, tempo demais.

Foi enquanto ela tomava seu café da manhã que Wally chegou. O garoto estava acompanhado de Percy; o Ralts se mostrava animado por caminhar com seu treinador fora da pokébola, sentimento esse que não era compartilhado por ele.

— Bom dia, Himiko. — cumprimentou o jovem com uma voz monótona. — Dormiu bem?

— Ah, oi, Wally! — ela, distraída, levou um instante para notar a presença do colega. — Acho que sim, podia ter sido pior… e você?

— Dormi bem sim, obrigado.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ela, notando a expressão do garoto.

— O tio Wagner não quis ajudar. — resmungou ele de volta. — Disse que é muito perigoso e que eu não devia me meter com essas coisas…

— Eu devia ter imaginado… Será que se eu falar com ele…

— Esquece. — interrompeu Wally. — Você não conhece ele…

Ela abaixou a cabeça, levando as mãos às têmporas pensando em uma saída. Não poderia falar abertamente sobre o assunto, por motivos óbvios. Tem que ter um jeito, não? Ele não pode ser a única pessoa na cidade que sabe sobre isso… Mas pra quem eu posso perguntar?

— Olha isso, Himiko!

Os pensamentos da garota se dispersaram após ela ver uma das manchetes do jornal que Wally buscara da mesa ao lado.

Explosão em ginásio termina em mortes.

A dupla, sem perder tempo, foi diretamente à página aonde se encontrava a reportagem completa, por menor que ela fosse.

Explosão na manhã de ontem… corpo não identificado… — Himiko passava os olhos pelo texto, procurando por alguma informação nova que lhe pudesse ser útil. — três Pokémon mortos… líder do ginásio não foi encontrado. É, não tem nada de interessante aqui.

— Nada que a gente não já soubesse, você quer dizer.

— É verdade…

A atenção dela passou para o caderno de anúncios que havia sido deixado de lado. Com sorte ela poderia encontrar algo a respeito do mercado negro. Tinha plena consciência de que não seria através de um anúncio feito de modo literal, mas isso era facilmente contornável pelo vendedor pelo uso das palavras adequadas.

O que, para sua sorte, não foi difícil de identificar na seção de oportunidades:

“Regularizamos cadastro negativo. Fitas e medalhas. Preço a combinar. 92333-7455”

— Achei!

— O quê? — perguntou Wally, surpreso.

— O vendedor. Dá uma olhada aqui…

— Eu não tenho como saber. Foi o tio Wagner que resolveu tudo pra mim…

— Entendo...

Os dois ficaram se encarando um tempo. Parecia muito fácil pra ser verdade. Tão fácil que dava pra desconfiar.

— Eu vou ligar. — decidiu ela, de súbito.

— Tem certeza de que vale a pena?

— Você ouviu tudo o que eu ouvi ontem, sabe que eu não tenho escolha…

— E se não for isso? Vai que é um golpe ou coisa do tipo…

— Eu tou pensando a mesma coisa… mas o que eu posso fazer? Esperar que seu tio mude de ideia e decida ajudar?

— Himiko… — ele apertou a mão dela. — Espero que saiba o que está fazendo…

— Entendo… Você tem todo o direito de se preocupar…

Não era uma decisão lá muito fácil para a garota; por mais que só houvesse uma opção que ela considerava possível, era uma decisão difícil de ser tomada. Justamente por isso, ela o faria enquanto sua coragem não se esvaísse.

— Eu vou indo então… Eu disse por meu tio que não ia demorar fora…

— Wally… tem como você voltar pra cá depois do almoço? Não quero ter que me despedir de você desse jeito, com pressa…

— Não vamos ficar tanto tempo longe, não é? — ele baixou a cabeça, tentando não chorar. — Eu tou tentando convencer ele a voltar pra Petalburg agora que estou recuperado, estou com saudades de casa, dos meus pais, das aulas com a Ravena… Nós vamos poder nos ver mais vezes…

Era incrível o otimismo de Wally mesmo em um momento como aquele. Himiko havia comentado com ele a respeito de Norman e do porquê lutava pelas insígnias, por mais que não tivesse citado a respeito de April. Ele, em sua inocência, acreditava que a jornada da garota estava chegando a seu fim… Quem me dera ter essa sorte…

— Ainda assim. Quero me despedir direito… Você pode fazer isso por mim?

Ele estendeu a mão, levantando apenas o dedo mindinho.

— Prometo fazer o possível pra vir. Mas você tem que prometer que não vai fazer nenhuma besteira.

— Eu prometo. — ela retribuiu o gesto, selando a promessa com o entrelaçar dos dedos antes de abraçá-lo.

— Até mais tarde então… — ele se despediu, instantes depois, deixando a colega sozinha com seu receio. Ela não queria ter de fazer as coisas daquele jeito, não se sentia bem pegando esse tipo de atalho. Ao mesmo tempo, o dia anterior lhe deixara claro que ela não tinha o direito da escolha.

A treinadora levou ainda alguns minutos pensando a respeito antes de finalmente sair do centro e procurar um telefone público para entrar em contato com o autor do anúncio. Mais difícil do que encontrar foi se convencer de que deveria ligar; sabia que a partir daquele momento não haveria mais volta. O medo de que algo desse errado não foi maior que a vontade de resolver logo a situação.

— Despachantes Ômega, Jared falando, bom dia.

— Bom dia. — respondeu ela, timidamente. — Liguei por conta do anúncio no jornal, referente a insígnias.

— Certo, certo. Alguma em específico?

— Sim, a de Lavaridge.

— Certo… — a voz mecânica do atendente lhe pareceu um pouco mais aguda naquele momento em específico. — Vou lhe encaminhar para o agente mais próximo. Ele vai lhe aguardar na entrada do Túnel Rusturf as onze. Procure pelo Diego.

— Entendido. — ela engoliu em seco. Que corra tudo bem.

— Apenas diga a ele que falou comigo e ele irá acertar os detalhes.

— Tudo bem.

— Posso lhe ajudar em algo mais?

— Não, somente isso, obrigada.

— Tenha um bom dia.

O fim da ligação trouxe um misto de ansiedade e alívio para a garota. Não lhe pareceu tão complicado quanto ela imaginava que seria, até pelo contrário. Ela apenas teria que encontrar o tal Diego, pagar pelos “serviços” e teria seu maior problema até então resolvido. Pouco mais de meia hora a separavam da insígnia, fazendo com que Himiko decidisse se dirigir até o local combinado.

Ela sabia que não sairia barato, imaginava ter de pagar duas ou três centenas de piastras para conseguir a insígnia, um dinheiro que ela não teria se não fosse pela bolsa recheada que conseguira quando de sua desventura na casa fantasma. Havia verificado o seu conteúdo na noite anterior, surpreendendo-se positivamente com a quantia de seiscentas e quarenta e seis piastras. Não havia nada além do dinheiro, não que fosse necessário. A quantia era considerável, mais que o dobro do salário pelo qual havia sido contratada para trabalhar por meio-período em Mahogany, antes de se mudar.

Himiko evitava de pensar nisso quando o túnel entrava em seu campo de visão. Era o tipo de lugar que chamava pouca atenção aos raros transeuntes, como se fosse uma mancha na reputação da cidade. A obra, situada na fronteira ao norte, fora projetada para ligar Verdanturf à rodovia 116, permitindo o deslocamento de veículos até a cidade de Rustboro. Por conta de protestos de ativistas pelos direitos Pokémon em defesa das espécies que lá vivem e da descoberta de um desvio de recursos em um escândalo envolvendo a prefeitura e a empreiteira contratada, o local ficou abandonado. O túnel inacabado acabou relegado enquanto abrigo para moradores de rua, além dos encontros escusos que porventura ocorriam, envolvendo ilegalidades em sua maioria.

Era o suficiente para dar uma sensação de incômodo à treinadora enquanto se aproximava. Por via das dúvidas, decidiu por convidar Futa a caminhar do seu lado. Não era tão improvável que ela corresse perigo em um local como aquele, apesar de que o horário era pouco propício para que alguém a abordasse. De qualquer modo, a presença de um Pokémon iria provavelmente desencorajar esse tipo de atitude, além de confortá-la enquanto aguardava a chegada de Diego. Ou assim ela pensava.

— Nós não estávamos indo pra Lavaridge? — perguntou o Kirlia. — Por que mudou de ideia?

— Quero ganhar tempo. Estou com um mau pressentimento.

— Achei que não tinha acreditado naquela baboseira de ontem…

— Não é pelo que ela disse, Futa. — Himiko suspirou. — Eu sei que alguma coisa não está certa… e eu não tou aguentando mais, sabe? Quero ir logo falar com ele e acabar com isso o quanto antes.

— Fique calma… Eu estou aqui com você, vou lhe acompanhar até o fim!

Ela apertou o braço do Pokémon, sem saber o que responder. A tensão era palpável de modo a se materializar por um calafrio sentido pela garota ao atravessar a entrada do túnel.

— Fique atenta, Himiko! — o Kirlia alertou com uma súbita mudança em seu tom. — Não acho que as coisas vão ser tão tranquilas.

— Por que acha isso?

— Instinto. Não sei, na verdade.

A treinadora olhou para o relógio do PokéNav. Dois minutos haviam se passado do horário combinado e não havia outro sinal de vida no local, que mais se assemelhava a uma caverna do que um túnel propriamente dito. Algumas vigas de concreto ajudavam a sustentar o arco de pedra, outras tantas se encontravam ao chão, sem uso. Uma escavadeira enferrujada se situava à distância que a visão da garota alcançava, um zumbido baixo parecia vir da direção, sendo o ruído que evitava que estivessem em um silêncio absoluto. Himiko suspeitava de que o dono dele fosse um Pokémon.

Sua preocupação aumentou no mesmo ritmo que a intensidade do ruído, agora mais facilmente identificável. Assemelhava-se a um rápido bater de asas, pouco compatível com o ambiente escurecido do túnel. O provável causador do zumbido provavelmente seria algum tipo de inseto e, considerando que estes vivem geralmente ao ar livre e em ambientes iluminados, foi o suficiente para deixar a dupla em estado de alerta.

No instante seguinte, uma forma humana se materializou da escuridão do túnel. O homem, alto e corpulento, trajava um sobretudo e calça brancos, levemente escurecidos pela poeira marrom que combinava com seus cabelos aparentemente castanho-claros. Um Pokémon o acompanhava, sendo obviamente o dono dos zumbidos. Possuindo listras amarelas e negras e olhos avermelhados, ele não precisava ser maior do que Futa nem possuir os ferrões em cada braço e no abdome para ser intimidador. Mesmo à distância, era fácil perceber que aquele Beedrill era uma espécie muito bem treinada e que não hesitaria em atacar quem fosse se assim recebesse uma ordem do rapaz.

— Quem é você e o que quer aqui? — perguntou ele, revelando uma voz grave e áspera.

— Você deve ser o Diego. O Jared me mandou aqui. — Himiko tentava disfarçar o medo, apesar de sua voz sair falhando da garganta.

— Então é você… — ele respondeu, logo se virando para o inseto que o acompanhava. — Calma, Katrina, eu resolvo isso.

— Está com a insígnia? — perguntou Himiko.

— Estou sim. — Diego parou a certa distância. — Ele lhe falou o preço?

— Não, ele me disse pra acertar com você. Quanto é?

— Oitocentos.

Himiko tremeu. O valor, absurdamente alto, era bem mais do que possuía, sem contar que era pelo menos três vezes mais do que estava disposta a pagar. A presença intimidadora do inseto e a necessidade da insígnia mudavam um pouco as coisas; ela estudava a situação, tentando encontrar uma saída.

— Eu falei que não valia a pena, Himiko… — Futa relembrou, tarde demais para fazer diferença.

— Seiscentos. — respondeu ela, com uma coragem que ela sabia não ter.

— Setecentos e fechamos negócio. — Diego respondeu rapidamente, sem se surpreender com a contraproposta.

— Seiscentos e cinquenta. É tudo o que tenho.

Diego encarou a garota, percebendo nela a insegurança. Fitou-a por quase um minuto antes de responder.

— Feito.

Ela finalmente soltou o ar de seus pulmões, finalmente livre da tensão. Caminhou até o rapaz, que também se aproximava, enquanto retirava a bolsa de dinheiro da mochila, não sem pegar as quatro piastras restantes no bolso. Não queria correr o risco de ele mudar de ideia, apesar de que ele já retirava a insígnia do estojo que carregava no sobretudo. O homem fez questão de contar o dinheiro na frente dela, o tilintar metálico das moedas batendo umas contra as outras parecia agravar a chateação dele pelo tempo perdido na conferência dos valores miúdos…

— Tudo certo. — ele entregou o pingente metálico para a garota com uma mão após guardar o dinheiro, a outra indo até o bolso da calça como quem procurava alguma coisa.

— Obrigada. — Ela encarava a insígnia com um sorriso no rosto, reconhecendo-a como o objeto que tanto precisava. Considerando o material de que era feito, a treinadora duvidava que fosse uma falsificação.

— Se precisar de alguma coisa, senhorita… — Diego estendia a mão, segurando um pequeno cartão.

— Himiko.

Ele levantou uma sobrancelha ao ouvir o nome, fato que passou despercebido a ela.

— Então, Himiko. Pode ligar direto para mim.

— Obrigada mais uma vez.

— Foi um prazer fazer negócios com você. — ele virou mais uma vez para a Beedrill. — Vamos, Katrina. Logo estaremos de folga por hoje.

Diego já havia dado as costas para Himiko quando ela se virou para a saída.

— Eu falei que estava tudo sob controle, Futa. — mentalizou ela.

— Continuo com uma sensação estranha. Acho que ainda não acabou.

— Eu sei que ainda está com medo, mas pode relaxar. Vamos voltar para…

Himiko não conseguiu completar a frase, vendo-se atirada para o lado por Futa. As cenas que se seguiram pareciam passar em câmera lenta, de modo que ela se lembraria dos detalhes com precisão pelos próximos dias. O zumbido com o qual se acostumara não mais apenas rompia o silêncio, como ameaçava romper também seus tímpanos.

— Futa!

O Pokémon psíquico flutuava a cerca de dois palmos do chão; uma aura rosada brilhava ao redor de seu corpo, a expressão de dor em seu rosto era um claro sinal de que ele fazia o possível para expulsar o ferrão da Beedrill que havia cravado em seu peito pela frente. Himiko sentia a mesma dor no peito, como se seus órgãos tentassem romper suas costelas; ela, mais do que o impacto por ter sida atirada ao lado por seu Pokémon, levou a garota ao chão.

Uma fração de segundo depois, ouviu-se um estampido enquanto a cabeça do Pokémon inseto era ejetada de seu corpo; o restante dele foi expelido no instante seguinte, ao mesmo tempo em que a aura desapareceu, levando o Kirlia ao chão pela força da gravidade.

Era impossível dizer se a dor física de Himiko havia passado ou se ela simplesmente a ignorava ao correr até o corpo desfalecido de seu Pokémon. Apenas agora ela entendia o que acontecera. Diego ordenara à Beedrill que atacasse. A ferroada teria causado a morte dela não fosse o reflexo de Futa, o qual sacrificara a si mesmo para protegê-la.

Não… Não ainda…

Himiko alcançou a pokébola. Seu topo estava avermelhado, sinalizando que o pior não havia acontecido.

Um buraco se abria no peito do Kirlia, resultado da perfuração pelo ferrão da Beedrill. Uma mancha negra crescia rapidamente, como uma cicatriz se fechando para evitar que os órgãos internos ficassem expostos. A garota não se atreveu a tocar a área ferida, apesar de segurar com força o braço de Futa, não sem arrepiar-se toda quando o fez, desejando que fosse apenas mais um de seus pesadelos…

Ainda havia esperança. Ela teria de chamá-lo de volta para a pokébola e correr para o centro Pokémon. Não havia tempo a perder.

Um jato de água em sua mão derrubou a esfera que segurava, impedindo que ela levasse o plano adiante.

— Tu tá ficando doida? Quer matar ele?

Ela olhou para a direção do ataque, esperando encontrar a dona da voz feminina que ouvira, encontrando apenas o Pokémon que a importunara durante a viagem da véspera. Não era o momento para ficar feliz em reencontrar a Lombre, que continuava a falar.

— Ataque-armadilha. Se ele entrar na pokébola vai morrer!

— Mas eu preciso levar ele…

— Leva no colo. Anda, antes que aquele cara volte!

Futa não era um exemplo de Pokémon leve. Carregar seus mais de vinte quilos para fora da caverna era uma coisa, porém atravessar a longa distância até o centro estava fora da sua alçada, ainda mais com a urgência que o momento pedia.

— Vem, me ajuda aqui!

A Lombre auxiliou Himiko a colocar o corpo de Futa sobre suas costas, de modo que ela pudesse correr com o Kirlia.

— Vem comigo!

— Vou atrasar ele. Corre pro centro!

Não era a claridade que lhe cegava à saída do túnel que iria lhe atrapalhar. Não seria a distância que lhe impediria de salvar a vida de seu Pokémon. Não sem ela usar tudo o que estivesse em seu alcance. Em um gesto rápido com o braço, ela alcançou uma das pokébolas em seu cinto. Não parou para ver qual delas, evitando que deixasse Futa escorregar de seus ombros.

Nagrev podia não entender como haviam chegado aquele ponto, mas entendeu rapidamente o perigo que corriam. Mesmo em sua forma evoluída enquanto Charmeleon, ainda não era grande o suficiente para carregar o Kirlia, sendo quase menor do que ele por consequência de sua evolução forçada.

— O que quer que eu faça?

— Não sei, qualquer coisa, me ajuda a pensar…

— O Nuri não consegue levar ele?

Himiko não se encontrava em condições de se sentir culpada. Deixara Nagrev e Ikazuchi de castigo em suas pokébolas pelos últimos dois dias, era claro que eles não sabiam sobre as mortes recentes. Não era o momento de remoer os acontecimentos da véspera, por mais que voltasse a ter um incômodo ao se lembrar; a preocupação dela naquele momento era impedir que mais uma morte acontecesse.

— Ele não tá mais com a gente, depois eu explico.

Nagrev alcançava o cinto de sua treinadora, liberando Ikazuchi. Ele, ao ser colocado a par da situação, revoltou-se de imediato.

— É só eu ficar de fora e o time começa a morrer! Aposto que o Monk também não está…

— Eu falei que explico depois, não é hora…

— Sabe do que é hora? — Kazu não fazia questão de esconder a raiva. — Que tal usar aquela pokébola que botaram na tua mochila? Pior do que tá não fica!

Himiko levou mais do que um instante para perceber que o Manectric se referia a Gérson. Não é como se ela não tivesse pensado na possibilidade de liberar ele; em especial por seu grande tamanho permitir que carregasse todo o time se assim desejasse. Porém, sendo Gyarados uma espécie aquática, seu único meio de se mover em terra era rastejando pelas ruas de Verdanturf, destruindo o que encontrasse pelo caminho, fazendo com que ele não fosse opção. A não ser…

Ela olhou para a rua vazia, sorrindo ao encontrar o que procurava.

— Kazu! Nagrev! Abram aquele bueiro, eu vou descer!

— Não é uma boa…

— Confia em mim, Kazu!

O Manectric usou sua eletricidade para levantar a tampa metálica que dava acesso à rede de esgoto. Não era uma opção limpa e segura, mas mesmo a ausência de uma escada ou uma maneira adequada para descer os vários metros não foi empecilho para a treinadora, que liberou Gérson através da entrada.

— O que é, porra!

O Gyarados levantava sua cabeça, olhando para o lado de fora da galeria subterrânea. Himiko sorriu com a possibilidade que se abria. Pela distância e considerando o comprimento do Pokémon, Himiko estimava a queda em talvez uns dez metros.

— Preciso chegar ao centro Pokémon! É urgente!

Ela estaria certa de que receberia uma resposta ainda mais grosseira do Pokémon aquático, porém sua expressão mudou quando viu o estado do Kirlia.

— Eu vou dar essa forra. Por ele.

Himiko colocou Futa ao chão para chamar os outros dois Pokémon de volta, enquanto estudava um meio de descer.

— Pode pular. Eu pego vocês.

É agora ou nunca. Abraçando o Kirlia pela frente, ela pulou, esperando ser pega no ar pelo Gyarados. Acabou prendendo a respiração na última hora, atingindo a água turva e poluída antes de ser colocada às costas da serpente marinha.

Ela teve medo de que seus eletrônicos parassem de funcionar, em especial o PokéNav, que seria de suma importância para que pudessem se guiar pelo esgoto. Felizmente a água não havia penetrado em sua mochila, de modo que continuavam em perfeito estado.

— Para a direita! — ordenou ela na primeira bifurcação.

Menos de dez minutos os separavam do centro Pokémon, pelos cálculos de Himiko ao consultar a rota que tomavam. Tempo mais que o suficiente para ela repensar todas as atitudes que tomara naquela manhã.

Mas talvez não o suficiente para evitar uma tragédia maior.


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Notas finais do capítulo

Notas do in-game:
Apesar de eu ter jogado pro espaço a progressão do jogo, essa situação foi real. Lembram de que eu coloquei no capítulo passado que eu não ocultaria nada que fosse relevante a respeito da vida e morte dos pokémon do time?
Pois bem: em uma das batalhas (não me lembro em qual rota exatamente, acredito que na 111), um Cooltrainer com um time de três pokémon. Após derrotar o segundo deles com o Futa, ele manda uma Beedrill, se não me engano lv.30. Considerando os atributos de cada um, fiz por bem de tirar o Futa de campo o quanto antes, colocando o Nagrev no lugar.
Resultado? Tomei um Pursuit na cara.
Desde então mudei as configurações do jogo de Set para Shift. Nunca mais quero passar por uma dessas...



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