Caravaneiros do Limbo escrita por GlauSimões


Capítulo 4
Too Little Heaven


Notas iniciais do capítulo

Venho trazer uma atualização para vocês meus leitores e hunters lindos!

Postagem em comemoração aos 10 anos de Sobrenatural ! Que venham mais dez, mais vinte...

Prefiro não desperdiçar o tempo de vocês com desculpas e justificativas pelo atraso infinito da atualização dessa fanfic. Tudo se resume em uma única palavra: faculdade.

É agoniante saber que tem leitores esperando pelo próximo capítulo e não conseguir concluir o capítulo tão rápido quanto você gostaria.

Enfim, aqui ele está! *-* Cheio de revelações e de vislumbres do que virá a seguir.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/616564/chapter/4

Conforme o efeito do sedativo terminava, os Lavigne e os Winchester despertavam exatamente na mesma ordem em que foram sedados, sendo assim, Vincent foi o primeiro a despertar. Dessa forma, caia sobre ele a responsabilidade de verificar se haviam sido seguidos por algum ser do Limbo e confrontá-lo, se necessário, ou ajudar seu pai a solucionar alguma eventual reação provocada pelo sedativo no momento de recobrar a consciência. Afinal, não havia outra pessoa melhor indicada para lidar com a substância do que o seu aperfeiçoador. Olívia seria a última a despertar, pois ela estava incumbida de proteger os Caravaneiros no processo de despertar, um dos estágios mais delicados e importantes da operação, pois o rastro de ozônio liberado pelo “salto” pode ceder informações a respeito da localização dos espíritos, uma vez que eles estão vivos, portanto, ligados ao corpo.

Vincent despertou e olhou a sua volta com atenção reduplicada: as luzes do ambiente estavam estáveis e a temperatura agradável. Eles estavam seguros.

— Como foi o passeio? — questionou Don.

— Algo está em desordem no Inferno. Felizmente, o demônio não percebeu nossa presença, pois ele já tinha um foco. Temos que ser mais cautelosos nas próximas viagens. — o químico referia-se ao fato de que demônios e outros seres que andam pelo Limbo percebem que os Caravaneiros não são fantasmas naturais. Uma vez que tal diferencial é notado, pode resultar em problemas, tal como uma vez eles se depararam com a livraria em plena desordem, com livros por todos os lados e folhas soltas dos volumes espalhados pelo chão, obra de um Daeva, um tipo de demônio que é visível na dimensão coexistente.

Dean abriu e fechou os olhos antes de despertar completamente. Ele ouviu vozes, mas elas diziam palavras sem sentido. Tudo ao redor girou por uns instantes e sentiu o estômago recontorcer. Pensou que colocaria seu último hambúrguer com bacon extra para fora. Sua visão estava um pouco borrada, mas quando recobrou o foco e os breves sintomas de mal estar abrandaram, percebeu Don quase debruçado sobre si perguntando: — Está tudo bem?

— Parece que meu estômago está virado do avesso, mas sim, estou bem.

— Não se preocupe, logo vai passar. Sentir um desconforto é uma reação recorrente em iniciantes, mas é a menor das preocupações, garoto. — falou Don em um tom amargo enquanto retirava o dispositivo intravenoso do braço do caçador.

O caçador detectou o sentido ambíguo naquelas palavras e deduziu que a família Lavigne passou por um episódio grave, o qual parecia estar relacionado com a substância. Dean olhou para Vincent, no entanto, o silêncio não foi rompido por um esclarecimento, mas sim por um pigarro de Sam que estava sentado no estofado parecendo um pouco mais pálido do que o normal.

— É tudo verdade. Os espíritos presos ao Limbo. A escassez de Ceifeiros. A atuação de Demônios. — comentou o Winchester caçula.

Diante do comentário do irmão, Dean saltou do estofado e atravessou o esconderijo subterrâneo com passos resolutos e urgentes numa atitude impulsiva e impensada. No entanto, sua corrida desenfreada foi interrompida quando Sam o alcançou e postou-se em sua frente segurando-o pelos ombros, impedindo seu avanço aos primeiros degraus da escada.

— Espere, Dean. Onde você vai? — questionou o caçador mais novo e também mais alto.

— Eu vou rastrear o Crowley, o que te parece? — respondeu Dean, ríspido, abrindo os braços no ar.

— Eu entendo que você queira capturar Crowley ou qualquer outro responsável por essa loucura. Eu também quero. Porém, de nada adianta atacá-lo se os Portões do Céu continuarem fechados. O mentor desse plano está apenas está utilizando o caos a seu favor. Mais cedo ou mais tarde, esses espíritos andarilhos recém chegados ao Limbo se tornarão vingativos ou violentos. É apenas uma questão de tempo. — o caçador apresentou sua idéia mais sensata e coerente.

Dean passou uma mão enfurecida por seu rosto em uma tentativa de organizar os pensamentos ferventes que rondavam sua mente, acompanhou o raciocínio do irmão e, por fim, concordou: — Faz sentido!

Foi inevitável não lembrar de Bobby insistindo em ajudá-los nas caçadas do outro lado do véu enquanto descobria e aprendia como utilizar seus poderes de fantasma. Com o passar do tempo, Bobby ficou com medo da potência de seus poderes e percebeu que se ele continuasse ligado aos irmãos e ao plano dos vivos através do cantil, ele se tornaria em uma das criaturas que costumava a caçar mais rápido do que pensava. Por isso, pediu que os Winchester dessem um fim àquele objeto, assim como fizeram com seus restos mortais. Dessa forma, ele poderia desfrutar um pouco do sossego que não teve desde quando descobriu a verdade sobre o aconteceu com Karen, sua amada esposa, e talvez, até mesmo reencontrá-la.

O diálogo foi interrompido com a aparição repentina de um anjo cambaleante e fraco. Vincent e Don, que estavam mais próximos do homem de sobretudo bege, impediram que ele sucumbisse ao chão. O rosto e a roupa de Castiel estavam sujos de sangue. Um filete rubro tracejava um caminho desde a boca até o pescoço, manchando o colarinho da camisa branca. Aquela era a segunda Graça roubada, porém ela estava definhando muito rápido e provocou uma reação auto-imune no organismo do receptáculo do anjo, afligindo-o e conferindo-lhe veias arroxeadas ramificadas no pescoço. Castiel estava morrendo de novo e sua casca estava sendo destruída.

— Cas! O que aconteceu? — os irmãos Winchester se aproximaram do amigo em passos urgentes.

— Hannah conseguiu estabelecer contato com o Céu através da Transcomunicação Instrumental. Os anjos que caíram após o fechamento dos Portões estão sendo atacados por espíritos: dois dos meus irmãos identificados estão ... internados em um manicômio sob o diagnóstico de esquizofrenia e... outros três estão em hospitais em quadro de anemia profunda. — o anjo ignorou a pergunta e despejou um breve relatório com visível dificuldade em inflar seus pulmões.

— Possíveis casos de Vampirismo. — sussurrou Olívia em um frágil fio de voz e três pares de olhos inquisidores e confusos pairaram sobre a pesquisadora.

— Vampirismo é um tipo obsessão violenta que se caracteriza pela atuação de um espírito obsessor que se alimenta da energia vital dos vivos. Os resultados são diversos, podemos implicar em diversas moléstias com repercussão orgânica, desde padecimentos atrozes até o surgimento de doenças. — Olívia explicou e um intenso silêncio se instalou no ambiente, o qual somente foi interrompido por um acesso de tosse do Anjo fatalmente debilitado.

Castiel mal suportava manter os olhos abertos e sua vida esvaíase rapidamente à medida que as veias ramificadas progrediam e subiam-lhe ao rosto. Os Lavigne e os Winchester estavam parados em frente ao anjo, com expressões endurecidas e preocupadas marcadas em seus semblantes. Os irmãos caçadores se entreolharam e o mais novo meneou negativamente a cabeça para o mais velho, desconsiderando qualquer ínfima e ilusória esperança de reversão da situação.

— Que droga, Cas! — Dean lastimou e uma profunda angústia soou em seu timbre.

A postura dos Winchester pouco indicava o desconforto que sentiam ao observar a fatídica realidade se desdobrar diante deles, no entanto, ambos despendiam demasiado esforço para esconder as nuances torturadas e derrotistas que oscilavam em suas feições. O sentimento de impotência e desespero eram canalizados e expressos de formas mais discretas: Sam baixou com incômodo o olhar, incapaz de encarar mais uma vez o amigo moribundo e pressionou os dentes repetidas vezes, enquanto Dean apertou as mãos em punhos ao ponto dos nós de seus dedos embranquecerem.

O manto do remorso pesava sobre os ombros dos caçadores e refletia nos olhos esverdeados de ambos, pois os Winchester pensavam que haviam feito tão pouco por Castiel quando ele mais precisava da ajuda deles na busca por sua Graça. Por isso, nenhum dos dois caçadores estava disposto a se despedir do único anjo e amigo que se dispôs a se rebelar aos seus superiores e semelhantes para ousar a lutar e proteger os humanos lado a lado dos remanescentes da amaldiçoada linhagem Winchester.

— Vamos colocá-lo ali em cima — Donald indicou um dos estofados.

Porém, antes que eles pudessem carregá-lo, uma luz azul-claro emanou dos olhos e boca do anjo e logo o envolveu por completo com intensidade. A energia atingiu seu ápice ao produzir um pequeno campo de força que se propagou pela extensão do abrigo secundário, estremecendo o ambiente e lançando o quinteto para trás.Quando todos se reergueram, Castiel havia sumido.

— O que foi isso? Ele morreu?! — inquiriu Vincent.

— Não. Isso foi outra coisa. — alertou Sam.

Os olhos agitaram-se sob as pálpebras cerradas indicando o retorno da consciência. Castiel os abriu e encarou uma luz branca que causava um incômodo em seus orbes azuis. O anjo sentiu-se despertar de um longo, profundo e reparador sono que lhe ofereceu uma melhor fluidez de raciocínio, possibilitando-o observar o lugar desconhecido. Castiel sentou-se no leito e avistou outros similares revestidos com lençóis brancos e distribuídos pelo espaço tal como em uma enfermaria. A maioria deles continha um ocupante em profundo sono ou despertando-se do estado comatoso.

O anjo percebeu que estava sem gravata e que os primeiros botões de sua camisa estavam abertos e logo se pôs a fechá-los. — Onde estou? — sua voz fluiu pela garganta sem que ele percebesse.

— Silêncio! — uma voz feminina o repreendeu. O timbre soou altivo e ao mesmo tempo fraterno. — Você ainda precisa de repouso, Castiel. Sua amiga veio até nós a tempo. — o anjo deixou-se guiar pela voz serena e avistou uma mulher de longos cabelos dourados distribuídos em cachos largos e de costas voltadas para si.

— Hannah. — constatou Castiel enquanto observava a anja fechar uma maleta cheia de frascos que abrigavam pequenos pontos luminosos.

— Sim. Ela é muito leal a você. Você tem sorte de tê-la ao seu lado. — a anja revelou seu rosto de traços finos e delicados, o qual continha uma expressão doce em conjunto com um par de olhos castanhos muito claros que transmitiam conforto e tranquilidade. — Meu nome é Sophia. — ela se aproximou de Castiel e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

— Que lugar é este? — Castiel perguntou a mulher ao perceber que ele trajava um jaleco alvo com um emblema bordado em azul celeste.

— Uma das bases celestes emergenciais e atualmente atua como um hospital. Temos trabalhado incessantemente desde os Portões do Céu foram fechados ao empenhar-nos a resgatar os espíritos em piores condições, aqueles que não aceitam a morte, catatônicos e até mesmo alguns que apresentam um grau de demência. Aqui eles recebem o tratamento e recuperação necessários. — Sophia explicou calmamente.

Castiel observou minuciosamente o cenário que se descortinava diante de si: havia outros anjos como Sophia, que davam assistência aos espíritos resgatados. Ali havia vários tipos de fantasmas: violentos, ecos da morte, vingativos, entre outros. Um deles a recém tinha desperto e estava tão dominado pela cólera que era preciso mais de um anjo para contê-lo, pois ele usava seu poder de telecinese para arremessar objetos naqueles que queriam lhe ajudar e berrava que precisava sair dali, pois tinha que resolver um assunto inacabado.

A fim de acalmá-lo e resgatá-lo do ciclo de emoções vis e destruidoras, ele foi contido e um dos Anjos posicionou-se a frente do espírito e estendeu os braços de forma que as palmas de suas mãos quase tocaram nas laterais da cabeça do espírito. Logo um ponto de luz alvo e intenso, o qual possuía propriedades tranquilizantes e curativas, emanou do centro das palmas das mãos do anjo.

— Apesar de nossos contínuos esforços, o nosso trabalho apenas socorre uma minúscula parcela dos espíritos desamparados, ainda assim, sabemos que nossas ações reacendem a chama da esperança no âmago deles. Porém, nossa unidade está muito próxima de chegar a sua capacidade total. — expôs Sophia ao contemplar o lugar que já adquiria características de uma enfermaria de guerra.

— Por que me trouxeram aqui? Estou ocupando um lugar de um pobre desgraçado! Eu estava ciente de meu derradeiro fim e o aceitei com serenidade. — os olhos atentos às informações recebidas, repentinamente receberam uma nuance mais grave e o tom de voz beirou uma reprimenda.

As palavras ásperas não assustaram Sophia e tampouco a ofenderam, os traços de um passageiro contentamento ondularam nas expressões da anja. — A sua voluntária rendição à morte é algo louvável e admirável. Até mesmo para nossa espécie, tenho que admitir. — ela e continuou: —­ Peço que se acalme! Você não está roubando a oportunidade de alguém. — Sophia esclareceu e as expressões rígidas que delineavam a face do anjo se atenuaram, dando espaço ao costumaz semblante de difícil leitura.

— Depois da massiva expulsão de nossos irmãos do Céu, nós passamos a atendê-los. Infelizmente, muitos dos anjos que caíram não sobreviveram à queda, os que resistiram foram perseguidos ou perderam suas Graças. Conforme o tempo passava, as baixas de anjos aumentavam de forma aritmética e suas Graças se direcionavam para cá. Desta forma, tivemos que adotar os procedimentos de renovação e remodelação de Graças.

— Renovação e remodelação?! — a surpresa e confusão de Castiel atingiu seu ápice.

Sophia riu graciosamente da reação do Anjo e clarificou: — Sim, Castiel. A Graça é pura energia divina. Essa energia é o acervo imperecível e renovável de todas as ideias e volições de Missões. Depois das Graças terem seus registros lidos e armazenados, elas são renovadas e remodeladas de acordo com o perfil e necessidades de seu novo portador. — a anja fez uma breve pausa e continuou: — Este processo não é praticável em todas as Graças, é lógico. Seria presunção da nossa parte poder renovar e remodelar Graças que uma vez pertenceram a serafins e arcanjos. Quanto mais elevado o posto, mais resistente e inflexível a Graça é. Ademais, não é nem um pouco prudente ceder tamanho poder para qualquer um. Por estes motivos, as Graças mais poderosas são mantidas no acervo para todo o sempre.

— Eu não sabia que isso era possível! — o anjo murmurou.

— A parca divulgação desse procedimento é proposital, somente o utilizamos quando há primordial necessidade, como foi o seu caso. Precisamos que você esteja em plena e perfeita condição para encontrar sua verdadeira Graça e continuar com sua Missão de abrir os Portões do Céu. — falou Sophia.

Missão. Aquela palavra retumbou na cabeça de Castiel como seu crânio fosse um sino. Apesar de se sentir revigorado, tal responsabilidade caia sobre si com um peso descomunal. Apesar de já ter ocupado o posto de líder em um passado muito longínquo, mais precisamente quando exerceu o cargo de Capitão da guarnição responsável por assistir e proteger a Terra, uma das muitas do Céu. O medo e a insegurança agitaram-se dentro de si.

— Você realmente pensa que está aqui por que Hannah suplicou? — Sophia interrompeu os pensamentos do anjo. — Você se subestima, Castiel. — ela o instigou e seus olhos absortos indicavam que havia regressado a uma dimensão inteiramente particular, onde tinha livre acesso às suas lembranças de um passado não muito distante.

Castiel era um anjo do Senhor tentando fazer o certo e, para fazê-lo, desde que a desordem se instalou no Céu devido à ausência de Deus e arcanjos, era preciso ter pensamento próprio e liberdade. No entanto, quando alguém os tem, não está livre de cometer erros, deslizes e até mesmo de sofrer manipulações.

O anjo sabia que seus irmãos lhe acusavam ser desobediente e traidor por vários de seus atos, entre estes, seu envolvimento com Metatron para o fechamento dos Portões do Céu, priorizar e proteger um humano que se tornou uma abominação, um demônio, em detrimento de sua família angelical, pelo crime de apropriar-se de Graças alheias e pela morte de milhares de sua espécie.

— Eu sei que qualquer coisa que eu faça não irá absolver os meus atos, mas... — o anjo comentou cabisbaixo. O eco dos acontecimentos passados ainda ressoavam pelos quatro cantos do Céu, porém, ele teria que encarar os desafios a frente como uma chance de se redimir.

— Eu ... eu não tenho a mínima idéia de como abrir os Portões do Céu. — desviou os olhos da anja profundamente incomodado com a própria ignorância de como solucionar o caos crescente e inimaginável que já assolava variadas dimensões.

— Recentemente foi feito um anúncio geral a respeito de uma operação de extração de informações sobre a abertura dos Portões. Presuma-se que isso envolva o nosso prisioneiro e realizador do feitiço de expulsão, Metatron. — revelou Sophia.

— Você sabe algo sobre essa operação? — inqueriu simplesmente o anjo. A suspicácia alcançou suas feições enquanto sua mente deduzia as técnicas escolhidas a serem empregadas no interrogatório.

— Infelizmente não. Os detalhes da operação em trâmite é mantido em alto sigilo devido alta importância das extrações e para evitar qualquer reação interna. No entanto, algumas parcas e vagas informações escoam dos limitados canais de comunicação. Entre elas, está a confirmação que os Guardiões dos Portões estão entre os expulsos do Céu devido ao feitiço. — explanou a anja com os olhos cor de mel repletos de novas expectativas.

●●●

Metatron experimentou uma ligeira e falsa sensação de liberdade além do antro em que ficaria encarcerado para todo o sempre, pelo menos esta era a pena decretada, porém não era o seu plano. Apesar da camisa de força o obrigar a manter os braços firmemente envoltos em si mesmo, durante o curto percurso até a sala de interrogatório, o ar que entrava e saia de seus pulmões parecia mais fresco e puro.

Uma mão pesada pousou sobre o ombro do Escriba freando seu avanço pelo corredor e o lembrou que não estava sozinho e que cada passo seu era seguido por um anjo agente penitenciário que disse : — Seu passeio termina aqui. O Escriba encarou uma porta de ferro em arco e ouviu o agente bater sobre a superfície metálica. — Aqui vamos nós. — zombou o anjo.

Assim que a porta pesada e rangedora foi aberta, observou-se que a única saída de entrada do local era vigiada e protegida por dois sentinelas .A sala era bem iluminada e que centro dela estavam uma poltrona paramentada com cintas de aço e seu inquiridor, que ostentava uma postura altiva e um semblante sério e concentrado. Outro anjo, visivelmente de patente inferior, estava posicionado ao lado da poltrona.

— Quem é você? Patrick Jane ou Cal Lightman? — Metatron perguntou ao inspetor soando mais divertido do que deveria em sua condição e percebendo que os anjos não acompanharam seu senso de humor, rolou os olhos nas órbitas. — Angela Anderson, então.

O agente penitenciário conduziu o anjo criminoso à poltrona e pressionou os ombros do mesmo para baixo, tencionando-o a sentar no assento duro. Em sequência o assistente soltou as amarras que uniam os braços de Metatron apenas para prendê-los com as cintas de aço, assim como os nos tornozelos. Os poucos segundos que o Escriba sentiu o sangue circular pelos braços corretamente, incitou uma sensação de alarde nos sentinelas, os quais , em plena prontidão, exibiram suas lâminas angelicais.

— Sempre tão suspeitosos. — comentou o Metatron ao vislumbrar o brilho metálico da arma letal a anjos.

— Cale-se! Fale apenas quando for solicitado. — o interrogador o repreendeu, informado sobre a índole facínora daquele que já foi o missivista direto de Deus.

A restrição rígida provocou um sorriso discreto, porém repleto de deleite, por debaixo da barba grisalha mais espessa do que de costume.

— Declaro abertos os trabalhos deste interrogatório. Toda e qualquer enunciação sua será registrada. — o inquiridor entrelaçou as mãos atrás das costas e começou a rodear o Escriba.

— Como abrimos os Portões do Céu? — a pergunta concisa soou atrás do interrogado.

— Oh, coitadinhos! — falso lamento antes de explodir não em uma risada qualquer, mas em uma gargalhada repleta de escárnio o fez sacolejar os ombros e corar a face a ponto de ameaçar arrancar algumas lágrimas de Metatron. O regozijo contido em um amplo sorriso exultante com visível esforço.— Essa realmente é a última carta da manga — Os poucos que sobraram na Cobertura não conseguem encontrar uma resposta, enquanto os que as caíram andam em círculos como baratas tontas. A queda realmente agravou severamente a demência, não? — empregou um conjunto de motejos afrontosos e cínicos. Os olhos esverdeados ainda marejados acompanharam o trajeto do inspetor quando ele voltou ao seu campo de visão.

— Pondere as suas palavras, Metatron. Não somos Castiel ou os Winchester que você pode manipular. Falando sobre jogos, você saberá quando o ocorrerá o xeque-mate. — o interrogador demonstrou sua superioridade.

— Se eu contar, arruinarei a epopéia que eu mesmo escrevi. Aquela que vocês conhecem e narra sobre como eu cerrei os Portões Perolados. — empregou seus argumentos evasivos em conjunto com motejos afrontosos e cínicos.

— A qual foi escrita à base de muito sangue, Metatron, e que condena os nossos irmãos a uma sina de conviver entre os humanos ou como um deles. — o inspetor apontou categoricamente.

— Um final feliz ao levar em consideração que se não tivesse tal desfecho, viveríamos em constantes guerras, não acha? — Com muita sorte, vocês até poderão tentar rascunhar um epílogo, mas exigirá muita tinta vermelha. — disse Metatron tranquilamente em plena e particular troça.

—Talvez. Eu sei que você se sente em vantagem por ser o único a conhecer reversão do feitiço, mas você não é o único capaz de elaborar uma reviravolta no enredo. — a afirmativa carregada de enfatismo ilustrou o vindouro curso que os anjos tencionavam delinear para o final daquele duelo. Bastou um sutil meneio de cabeça do inspetor para seu assistente abrir um estojo metálico e resgatou deste uma seringa hipodérmica.

— Está bem, está bem. Eu falo. Sete. Esta é a reposta. — Os olhos do interrogado, ligeiramente arregalados, refletiam uma surpresa ensaiada, porém não denotavam redenção alguma.

A subestimação do missivista perante as estratégias de seus interrogadores atenuou no instante em que sentiu a agulha fria e impiedosa transpassar a pele e ir além do músculo, causando uma dor aguda e concentrada, a qual se potencializou ao passo que os dedos do assistente puxaram o êmbolo. A sensação ter algo extraído de si era lenta e lancinante ao ponto da dor transfigurar o semblante de Metatron e eclodir em um urro que propagou pela sala. Seus olhos giraram nas órbitas atordoados antes de fixar o foco na essência fulgurante que preenchia uma diminuta porção do cilindro de vidro.

— Sete... — ele repetiu numa voz fraca e as palavras seguintes soaram como meros sibilos.

O inspetor o advertiu e o oprimiu: — Fale alto e claro! — o tom altivo e exigente ribombou nas paredes da sala.

— Sete... as sete maravilhas do mundo moderno, os Sete dias do Gênesis, as Sete trombetas, os Sete pecados capitais. — a articulação de cada palavra foi custosa e arrastada, porém sua fala não perdeu a conotação mística e poética.

— Sem mais respostas evasivas, Metatron. Revele a reversão do feitiço antes que eu perca a paciência e sua tagarelice faça você perder a graça. Literalmente. — o interrogador alertou antes de dirigir um olhar ao seu assistente em um comando mudo.

A punição por oferecer um falatório elusivo foi traduzida em uma nova intervenção de extração. Desta vez, o assistente subtraiu uma fração mais generosa da Graça do anjo celerado. A dor suprema o calou, forçando a suportar o próprio sofrimento que lhe alcançou os ossos, dificultando o inflar pleno e funcional dos pulmões.

— Seus idiotas incapazes de solucionar uma charada bíblica. A resposta está guardada a sete chaves. — a respiração densa o fazia aspirar algumas palavras, porém não eliminou o ultraje e desdém presentes na ponta de sua língua.

Assim que Metatron sentiu a agulha perfurar a carne novamente, cada um de seus músculos retesou pela terceira vez e ele experimentou as peculiares sensações de suar frio e o martelar desenfreado do coração em seu peito. Quando a seringa foi removida de seu pescoço e chegou ao alcance de seus olhos, sua essência angelical preenchia uma parcela de dois terços do corpo do dispositivo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por causa da demora da atualização, quero deixar claro que em nenhuma hipótese eu abandonarei essa fanfic! Ela ajuda a tornar minha vida mais alegre e colorida (!).

Me contem o que vocês pensam que pode acontecer. Algum palpite de como abrir os Portões? Metatron será uma ameaça?

Leitores fantasminhas, aqui não há motivos para se sentirem acuados, ao contrário, sempre serão muito bem acolhidos! :)