Survive escrita por Camila Reis


Capítulo 1
Primeira Derrota - The Grey


Notas iniciais do capítulo

Ooooi! Que bom que chegou até aqui! :3
A música do capítulo é "The Grey" de Icon for Hire(https://www.youtube.com/watch?v=nQtzSmv_9D4)
Boa Leitura!



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O sol estava se pondo. A escuridão se aproximava.

Mais uma noite de caçada prestes a começar.

Os olhos se abriram. Com cuidado, ela saiu do seu esconderijo. Estava viva. Viva.

Olhava ao redor. A pequena casinha onde se escondia havia sido arrombada. Armários abertos. Janelas escancaradas. A porta também aberta. Fumaça vinda de uma das outras casas.

Correndo, ela saiu da casa e olhou ao redor. Já havia anoitecido, e a casa ao seu lado estava em chamas. Demorou para perceber que metade da sua casa também já começava a incendiar.

Sangue e corpos para todo o lado. Alguns mantinham os olhos fechados, outros pareciam assustados. Mas todos estavam mortos.

Sua mente clareava aos poucos. Armários abertos, janelas escancaradas. Porta aberta.

Os humanos vieram com tudo. Descobriram seu esconderijo. O pensamento de que dormia serenamente enquanto seu refúgio era invadido e os outros Shikis que o habitavam eram mortos a fez estremecer.

Não. Como fomos descobertos? A entrada de Yamairi deveria estar bloqueada!

Era o fim. Mesmo que o fogo fosse contido, ela não poderia voltar para lá. Precisava ir embora de Sotoba o mais rápido possível.

Seus olhos varriam o local, procurando alguém familiar. Correu até os cadáveres de Shikis, todos amontoados e com estacas no coração. Era uma cena deprimente.

Seu estômago embrulhou, mas ela conteve o desejo de vomitar. Logo os humanos poderiam voltar. Ela não tinha muito tempo.

Ela encontrou quem desejava tanto ver. Mas teve vontade de gritar quando viu seu estado.

Adiantou-se na direção do cadáver, ajoelhando-se diante deste. A visão era horrível, mas ela não conseguia desviar o olhar.

O vestido negro da menina estava manchado de sangue. Os cabelos castanhos também ensanguentados. Uma estaca de madeira no peito. Os olhos fechados, como se ela estivesse dormindo.

Só que ela não iria acordar mais.

O grito ficou entalado na garganta. As lágrimas desciam pelo seu rosto.

— Não.. Não...A culpa é minha...Se eu soubesse que seria assim... Eu me tornei um monstro e te tornei um também. Imaginei que, por estarmos juntas novamente, você não se importaria. Como fui egoísta... - Ela escondeu o rosto com as mãos, em uma tentativa falha de conter os soluços - Você sempre foi mais que uma amiga para mim...Eu deveria ter dito isso à você antes, mas nunca tive coragem.

No fundo, ela esperava uma resposta. Um movimento talvez. Mas o silêncio ficou por ali, pesando sobre ela.

— Eu destruí seus sonhos. Te tornei um monstro. O que posso fazer para tentar me redimir?

Ela tentava perguntar mais para si mesma do que para a amiga, mas mesmo assim o silêncio a fez ter vontade de gritar. Então ela ouviu o crepitar das chamas. Uma ideia rapidamente lhe passou pela cabeça.

Quase podia ouvir a sua amiga sussurrar.

Cumpra sua promessa...

E de repente ela estava lá. Revivendo tudo.

***

— Lamento muito por...Você sabe. Sua mãe. - Nevava, e ela estava sentada na cama da amiga. O casaco negro não era o suficiente para aquecê-la.

— Está tudo bem - Ela sorriu, e ficou olhando pela janela a neve cair - Mamãe sempre dizia para o papai que gostaria de ter seu corpo queimado quando morresse. Ela alegava que sentia que, com o corpo queimado, o vínculo entre sua alma e seu corpo estaria quebrado e ela seria livre. Doido,né?

— Sim.

— Papai achou que fosse apenas brincadeira. Mas eu sentia que ela estava falando sério. Agora que ela morreu, ele se recusa a queimá-la. Seu maior desejo...Não vai se realizar.

O silêncio pairou sobre as duas, como uma camada fina de gelo.

— Mei... - Começou a amiga - Me promete que, quando eu morrer, você vai queimar o meu corpo?

— O quê? Mas sua morte está tão longe!

— Mesmo assim...Promete?

Ela ficou sem palavras. A boca se abriu, mas nada saiu de lá. Com dificuldade, ela disse:

— Prometo...Sim. Prometo.

***

O corpo dela se juntou às chamas, que cresciam mais e mais. Mei foi obrigada a se afastar. As lágrimas desciam pela face, formando uma trilha.

— Amo você... - Sussurrou.

Yamairi está em chamas!— berrou uma voz masculina, e Mei teve um sobressalto.

Já era tarde da noite, o céu negro totalmente estrelado. Há quanto tempo ela estava ali?

Aquilo não importava mais. Os humanos já haviam chegado.

Ela queria muito ficar ali. Misturar-se às chamas, morrer junto de sua amiga. Mas o instinto falou mais alto, e antes que alguém pudesse se aproximar, ela correu para a floresta, se misturando às árvores e à escuridão.

Em um momento, ela tropeçou e caiu, emitindo um ruído. Passos ao seu redor.

Tem alguém ali!— Berrou uma outra voz masculina.

É um Ressuscitado! Cuidado, eles enxergam bem à noite!

Ela se levantou, tirando as folhas e sujeira que se prenderam no jeans esfarrapado e na blusa sem mangas branca. Os tênis já estavam totalmente embarrados. Ela tornou a correr, dessa vez cuidando por onde pisava.

Já deveria estar longe e segura, era o que imaginava, até escorregar e descer rolando um barranco, caindo no meio de uma das estradas que levava até a saída de Sotoba. Luzes de lanternas caíram sobre ela.

— Um Ressuscitado! De onde surgiu? - Perguntou um jovem garoto.

— É a Mei! - Gritou um homem com roupas velhas e avental branco sujo de sangue - Eu fui o padrinho dela!

— Que me importa?! - Berrou um velho alto e barrigudo, careca e com a barba grisalha - Mei está morta! Isso daí é um demônio! - Ele ergueu uma estaca de madeira, junto de um martelo - Venha garotinha, não dificulte as coisas.

Era o fim. Talvez o desespero estivesse bem à mostra, pois o velho gargalhou.

— Que irônico! Uma assassina com medo da morte! - Ele se adiantou até ela, e ela não tinha nada mais para fazer, a não ser fugir. Os homens gritaram ordens como "Não deixem-na fugir!"

Ela corria como podia. O velho berrava ordens para os outros, e logo havia um pequeno grupo a perseguindo.

Os humanos a alcançaram rapidamente. Quando percebeu, estava cercada. Um deles segurava uma estaca e um martelo.

Mei exibiu as presas, esperando que isso os mantivesse longe, mas o que fez foi provocá-los ainda mais. Dois homens a seguraram por trás, a puxando.Ela se debateu, empurrando eles para longe. Quando tentou fugir, no entanto, um grandalhão careca a derrubou, e tornaram a segurá-la. Um deles segurou seu pulso direito.

O contato quente...Fazia quanto tempo que ela não sentia algo assim?

O homem que havia se identificado como seu padrinho já colocava a estaca por cima da blusa, no local onde estaria o coração. Ela se debateu, levantando-se e tentando mordê-lo, mas a bofetada que levou - dada pelo grandalhão - no rosto a fez cair novamente.

Seguraram seus braços e pernas com força, até mesmo a cabeça. Ela tentava fugir,mas não adiantava. Era inútil.

O padrinho segurava a estaca, o martelo alguns centímetros acima. Ele soluçou baixinho.

— Direi aos seus pais que você descansa em paz - então veio uma martelada. A dor era tão forte que a fez gritar, tentando levar as mãos na direção daquele que a matava. Queria fugir. Queria correr. Queria se livrar daquela dor.

Um.

Dois.

Três.

Ela sabia. Não se encontraria com sua amiga. Nunca mais veria suas fotos. Nunca mais se lembraria dela. Nunca mais ficaria cantando as músicas que elas compartilhavam juntas. Sua vida acabava ali.

Agora ela havia experimentado a mesma dor que sua amiga - só que ela realmente merecia aquilo. Era um monstro. Ressuscitou dos mortos para ajudar na carnificina. Transformou sua melhor amiga por egoísmo.

Algo dentro dela sabia - ela não descansaria em paz.

How cold have I become
I didn't want to
Loose you by what I'd done
Caught in the grey

(Quão frio eu me tornei
Eu não queria
Te perder pelo o que eu fiz
Preso ao Cinza)


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Notas finais do capítulo

Capítulo cheio de drama porque uma fic minha sem drama é como um avião sem asas .q Gostaram?Amaram?Odiaram?COMENTEM! Amanhã tem o segundo cap ;3
bjokas
~Cami



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